Thursday, December 20, 2007

Que animal você quer ser em 2008?

Teste rápido

Pense em um animal. Agora, dê três características dele.

Faça isso mais uma vez, com outro bicho.

Agora, de novo.

Pronto?

(Aviso: se você é daqueles que gosta de testes de personalidade, realmente faça isso antes de continuar a ler, não toma muito tempo e daqui a duas frases o jogo perde totalmente a graça)


......

Segundo esse teste que fiz uma vez, os três animais representam, juntamente com suas qualidades e defeitos, como você se vê, como os outros te vêem e como você gostaria de ser.

Infelizmente depois que você faz a primeira vez e sabe a resposta é meio complicado fazer de novo. Quando acabar esse texto provavelmente vou refazer o meu, respondido há cerca de uns dez anos. O problema é que essa coisa do "quem você é" e afins fica no inconsciente e pode influenciar a resposta. Se você também faz o tipo meio confuso e já esqueceu a ordem do que significa cada um dos animais, pensar nisso pode fazer uma salada ainda maior. Por isso, mesmo que tenha decidido fazer só agora, abstraia as respostas.

Quanto mais diferentes forem as características usadas no primeiro e no segundo exemplo, mais legal a idéia. Isso só mostra que ninguém pode falar "eu sou...". A gente acha que é. Afinal, quem está mais certo sobre a sua personalidade: você mesmo ou os outros, que te vêem de fora, observam suas expressões, seus gestos mas não têm a menor idéia dos argumentos que permeiam cada uma de suas decisões?

Os textos desse blog refletem muito isso. Não é incomum uma Jones mandar pra outra os links e perguntar "o que você acha? Parece que estou muito...?" e daí o adjetivo varia de Jones para Jones. Lucy normalmente se preocupa em não parecer carente, deprimida, já que sua ironia nem sempre é evidente. Ariel, apesar da fama de durona, se apresenta como a pessoa mais romântica e apaixonada do mundo. Já eu constantemente pareço insensível. Talvez seja difícil pra quem só conhece uma faceta das Jones admitir isso, mas Lucy é muito forte, Ariel é super carinhosa, eu tenho meus momentos de fossa, Lana tem um lado sério e Lina é racional. Escrever o "Cuidado com seus desejos", por exemplo, foi uma tentativa de contraponto na minha seqüência de posts a la Sex and the City e, assim, amenizar esta imagem.

Por falar na série, tem outro teste que só comprova a teoria. "Quem é você em Sex and The City?" diz que sou Carrie e que meu lado cool disfarça minha insegurança. Verdade? Talvez. Mas é engraçado essa diferença de visão que temos da mesma pessoa e, principalmente, a visão que nós temos de nós mesmas. É lógico que a gente pode bater o pé e dizer que não, que os outros estão errados, mas a auto-análise é o primeiro passo pra nos tornarmos aquela pessoa que a gente pensa que é - e gosta. Por isso, continuando a série "Posts de final de ano", fica a pergunta do título: que animal você quer ser em 2008?

Monday, December 17, 2007

Tá na hora de escolher a calcinha

Escrever esse texto me dá até um arrepio. Clichê à parte, parece que foi ontem que Lucy mandou um e-mail desafiando todas as Jones a fazerem uma retrospectiva de 2006. Eram os primeiros meses do blog, a freqüência ainda era razoável e... nossa, é difícil demais comparar. Dois mil e sete foi um ano extremamente intenso. Essa certeza eu tive agora, ao reler meu próprio post, datado de 23 de dezembro. A lembrança da faculdade ainda era recente e o título, "o ano do pato", demonstrava que haviam sido 365 dias (completados depois) de pura experimentação. Nesse, ao contrário, intensidade foi a palavra marcante.

Intensidade essa dividida em três itens: trabalho, rugby e baladas. Se parar pra fazer uma auto-crítica, talvez pareça meio fútil. Mas acontece que os três elementos permearam todo o ano de 2007, em todas as áreas. E agora chega 2008, uma simples mudança de número que traz uma infinidade de novas esperanças, de novos planos. E correndo o risco de deixar - de novo - o meu texto grande demais, vou dar uma paradinha com um poema que adoro.

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez,
com outro número
e outra vontade de acreditar que,
daqui pra frente...
tudo vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade



Acho que ele resume bem tudo o que sinto. Desde pequena, aprendi que uma parte importante da virada é a reflexão, mesmo que superficial, do que aconteceu. Do que você fez, de bom, de ruim, de que tipo de pessoa está se tornando (idéia da eterna mutação). Do que você quis fazer e não conseguiu. Não fez porque mudou de planos, não se empenhou o suficiente ou não deu mesmo? Esses planos continuam para o ano seguinte? Quem marcou a sua vida nestes 365 ou 366 dias? Quando você lembra de tudo o que passou, quais os rostos que mais lhe vêm à mente? E com que sentimento?

Com base em tudo isso, traçava planos para o ano seguinte. Coisas que gostaria que acontecesse. Pequenos sonhos para o ano que está começando e que não necessariamente serão realizados. Mas é muito bom pensar que sim. Uma agenda inteira a ser preenchida. E com essas idéias na cabeça a gente cria ou participa de simpatias, rituais.

Na ceia, não pode ter nada que coma andando para trás, porque a vida vai andar pra trás junto. Galinha e porco estão proibidos. O melhor é peixe. Lentilha traz dinheiro, assim como a uva e a romã, mas essas duas só funcionam se comer de pé. Por falar em romã, não lembro direito quantos, mas sei que guardar alguns carocinhos da fruta dentro da carteira também era importante, assim como folhas de louro. Se você passar na praia, pule sete ondinhas. Cada uma pensando em um desejo. Na volta, ande para trás, não dê nunca as costas para o mar ou Iemanjá vai ficar brava. Ela, por sinal, recebe milhões de oferendas todo o ano e devolve para a terra aquelas cujos solicitantes não terão seus desejos atendidos. O resultado, infelizmente, são praias imundas no dia 1o, por isso, parei de jogar as rosas.

À meia-noite, a primeira pessoa a ser cumprimentada deve ser do sexo oposto. E a primeira vez que você entrar em casa tem que ser pela porta da frente e com o pé direito. Se quiser viajar, tire uma mala de dentro do armário e dê uma volta pela casa com ela.

As simpatias são divertidíssimas. É só você não se estressar demais em tentar cumpri-las e começar o ano brava - daí é melhor nem fazer. Uma não muito divulgada é de queimar defeitos - ou pecados. No último dia do ano você escreve o que você quer mudar em você mesma em um pedaço de papel. Cada defeito em um pedaço. Quando fiz, era meio gordinha e, assim como quem me ensinou a simpatia, escrevi "gordura" em um dos papéis. Mas também vale coisas mais complexas como insegurança, arrogância e por aí vai. Não há limite de papéis, mas sempre acho que quanto mais focado você for, mais fácil de atingir seus objetivos. Terminada a primeira parte, junte tudo em algum lugar e coloque fogo. A gente jogou na churrasqueira, mas hoje acho que seria muito mais legal queimar um a um, vendo tudo aquilo que te incomoda desaparecer devarzinho entre as chamas.

Sem defeitos, com a vida andando pra frente e feito um monte de planos, que venha o novo ano, guiado pela escolha certa da calcinha (texto abaixo).

Retrospectiva por cores

Entre todos os rituais de final de ano, um dos mais legais, exatamente por ser simples, é a escolha da roupa. A cor que escolhemos antes de sairmos de casa já mostra nosso ânimo. Não é à toa que às vezes você sai na rua e vê um monte de gente com a mesma cor que você. São pessoas que estão sob a mesma influência, mesmo humor, guiadas pelo tal inconsciente coletivo. Por isso, nada melhor do que na virada do ano você escolher qual cor vai predominar na sua vida nessa nova etapa.

Aqui no Brasil acostumamos a usar branco pedindo paz. Em outros países, o normal é o preto. Mas, debaixo da roupa, onde (quase) ninguém vê, cada um ostenta um desejo secreto. Um pedido delimitado por cores para o ano seguinte. O que você quer para 2008? Paz? Amor? Uma paixão? Prosperidade financeira? Saúde? Proteção? Às vezes, acontecimentos de final de ano podem distorcer sua visão do ano inteiro. Então, para descobrir o que faltou e fazer o pedido certo, nada melhor do que uma retrospectiva. A minha, vai aí embaixo:

Verde (saúde): No arraial do sítio, fizeram um altar pra imagem do Chrygor, mas melhor do que isso teria sido colocar uma bola de rugby ao lado das velas. Apesar de ainda não ter acontecido o milagre do nosso time fazer try em jogos oficiais, o poder da bola oval me fez por dias acordar às 6h da manhã pra correr no parque do Ibirapuera. Melhorei meu condicionamento físico. Fui pra academia e para treinos três vezes por semana. Participamos de três campeonatos, mais alguns amistosos, incluindo um de union. Passei da ponta para centro e terminei o ano jogando até mesmo de abertura, posição que faço toda a questão de devolver.

Amarelo (prosperidade): Se pelo esporte, virei secretária de Lucy, meses depois repeti a função no trabalho, como X-sistent. Tudo isso toma tempo e vicia. Me enfiei de cabeça no trabalho. Minha pulseira amarela caiu e eu não fui pra África. Em compensação, além do emprego de sempre, em que troquei os plantões de final de semana por serões constantes, foram frilas (de jornalismo e publicidade) e toda a infinidade de textos. Intensifiquei meu currículo como repórter. Cara de pau ao extremo, entrevistei até em italiano, que há anos não falava. Por um tempo, o blog também ficou agitado. Nessa brincadeira de querer abraçar o mundo, até pagamento em almoço ganhei.

Branco (paz): conceito relativo esse. Como bem definiu meu irmão, só duas pessoas nesse mundo conseguem me deixar nervosa. As duas, da família. E essa história de mudar de casa - e passar ainda menos tempo nela - acentuou as crises por um tempo. Depois, tudo resolvido. Nicks como "você não gosta dessa casa, né?" ou "é tudo culpa da parede" eram comuns no meu msn. Aliás, seria ótimo fazer uma retrospectiva só com base em nicks de msn. Fora do ambiente familiar, apesar deste ano não ter arrumado encrenca em balada (pelo menos não muita), nem apontado as pintas de meninos mal educados, confesso que tenho me irritado mais freqüentemente.

Preto (proteção): 2007 voltou a ser um ano de perdas. Perda, no singular, mas de grande importância e que mostrou o quanto é bom termos as pessoas queridas (amigos e família) sempre ao lado. O meu chaveiro de amuletos chegou ao fim quando o coração se desfez. O de olho grego, dado pela minha mãe, caiu inteiro e de uma vez - fato que tem se tornado comum entre as Jones.

Rosa e vermelho (amor e paixão): na área dos relacionamentos, uma intensidade diferente, houve alguns começos sem nenhum fim e um fim que não teve um começo de verdade.

Azul (tranqüilidade): nessa, a situação foi ainda pior e a cor azul terminou em déficit. A fama de baladeira se alastrou, juntamente com as olheiras que tomaram pouco a pouco conta do meu rosto. "Se me mato de trabalhar, me mato na diversão também". No começo do ano saí por escola de samba e ganhei o carnaval - mesmo que não tenha sido pela X-9. Em compensação, entrevistei o carnavalesco, simpaticíssimo. Fui pro meu sexto e último Juca como atleta, após dois anos como ex-aluna. Nas festas, até de menina-flor fomos, numa fantasia única, mesmo com chapéu roubado.

Na hora de pensar em tudo o que esse ano foi, bate uma certa tristeza, uma saudade antecipada de tudo o que 2007 foi e de tudo que ele poderia ter sido. Esse texto em si não tem muita razão de ser. Uma auto-reflexão publicada. No fim, serve como agenda, em que contamos tudo o que foi feito e tudo o que não foi feito. Vários textos que pensaram em ser escritos e nunca saíram do rascunho. Festa de um ano do próprio eraumavez, festa de um ano do rugby. Coisas que ficaram e que vão ter que ser compensadas no ano seguinte. Conclusão mesmo, não cheguei a nenhuma. Não lembro da cor usada nem do que pedi no ano passado. Mas acho que é até melhor assim. O legal é curtir as possibilidades naquele momento da passagem. Depois, se os pedidos foram realizados ou não, é insignificante. O que importa é que tenha sido um ano bom.

Wednesday, December 12, 2007

Monólogo inútil

Acho que ele tem namorada. Só pode né? Some, depois reaparece rapidamente e me liga pra gente sair só durante a semana. No aniversário, disse que não sabia se ia comemorar e me chamou pra sairmos outro dia só nós dois. Ou seja, mesmo que ele dê uma festa não vai me chamar. Não pode me apresentar. Se bem que se fosse comigo, também não ia apresentar pros meus amigos sem ter nada. Ah, que ridículo, apresenta, paga de namorandinho e na semana seguinte acaba. Nem se ele me chamasse eu iria. Pelo menos não nessa condição.

A gente se conheceu num sábado. Ele me ligou na segunda. Tá interessado, né? Mas depois sumiu. Tinha o tal problema do TCC, mas não sei. Assim que acabaram as provas marcamos de sair, mas não deu certo. Problemas com trabalho. Isso acho que foi verdade. Ficamos conversando até as 20h e ele ainda estava no escritório. Daí eu que não atendi o telefone. Esqueci, de novo, dentro da bolsa. Coitado, ficou esperando. Ah, mas também... duvido que fosse dar certo. Já tava tarde. Então ele jogou alguma coisa como "durante a semana é complicado". Trabalho, trabalho, trabalho... ah, gente workaholic. Por que ele não é igual todo mundo que trabalha das 8h às 17h? Bom... meus happy hours nunca começam antes das 21h. Quase 12 horas por dia dentro de uma salinha. Daí, lógico que no final de semana tenho que sair, desestressar, não dá pra ficar esperando um convite em cima da hora. Se ele não acontece, vou ficar em casa, morgando? Ver Zorra Total é estar a um passo da decadência. No máximo, ouvir de fundo, sem prestar muita atenção, enquanto se arruma. Ficar em casa também pode ser, mas daí tem que ser um plano mais elaborado, filminho... enfim, tudo combinado com antecedência. Seria muito mais fácil ser uma mulher-namorada, acostumada a ter uma vida mais leve. Meu pai me disse outro dia que estou me acabando. Que exijo demais de mim mesma e que um dia o corpo vai cobrar. Pode ser, mas é melhor assim.

Pensando bem, acho que um dia eu comentei que pra mim era complicado de sábado e domingo, que era melhor durante a semana. Que bonitinho, ele lembrou! O problema é que nem todo mundo agüenta esse ritmo. Talvez aquilo fosse uma deixa pra gente combinar algo no sábado. É, acho que ele não tem namorada, ou ela ia estar viajando. Não, chega de paranóia. Eu, tonta, ouvi aquilo e não ofereci da gente sair no final de semana. Quem sabe da próxima. Mas, também, podia ele ter perguntado né? Se fosse comigo... ai... se fosse comigo eu ia ter certeza que eu tenho namorado.

Wednesday, November 14, 2007

Cuidado com seus desejos...

... eles podem se tornar realidade

"Ah, meninas, sabe que eu fico assim, olhando pra vocês desse jeito. Dá um aperto no coração. Eu me sinto um robozinho vendo uma criança chorar, sabe? 'Como que funciona isso?' Lógico que eu entendo que a gente sofre. Mas se o cara já falou que não vai mesmo ficar com você, pra que insistir? Juro que eu queria só uma vez sentir um pouquinho do que vocês estão sentindo. Assim podia entender e tentar ajudar melhor".

Esse discurso eu fiz inúmeras vezes, sempre que via alguma amiga - Jones ou não - triste pelo ex-ficante, namorado. Por isso, ao ouvir recentemente de um moço que "a verdade é que você se envolveu demais. Você, que sempre se disse tão bem resolvida, se envolveu em um nível maior do que eu", eu pensava, meio desacreditada, "nossa... é comigo".

Na hora, ainda argumentei "é, acho que estava a um passo de, por isso entrei em crise". Mas o fato é que é difícil assumir que ele estava certo. Sempre preguei, pra quem quisese ouvir, que a gente só sofre enquanto quer sofrer. Depois que cansa, passa. Fiquei meses, anos tentando convencer as outras disso. E ali estava eu, tendo que ouvir que tinha me envolvido mais do que o outro numa relação que já comecei sabendo que não teria futuro. E ao perceber, confesso que veio uma pontinha de felicidade em meio a tudo aquilo: não sou mesmo uma pessoa insensível, desapegada. Pelo menos não tão assim.

Já a conclusão do envolvimento é óbvia. A minha maior - única - reclamação no relacionamento era insegurança. E se a pessoa com quem eu estava tivesse demonstrado que estava tão ou mais envolvida do que eu, seria ridículo falar em insegurança. Como não estava... explodi o cômodo.

E não tem jeito, mulher é um bicho estranho, chato. Vê tudo, analisa como quer e tira as conclusões que lhe interessa, mesmo que seja um interesse quase psicótico, como acontece principalmente no começo das relações. Tudo é motivo para desespero. Se não responde mensagem é porque tá com outra ou tá de saco cheio do grude. Se, no meio de um churrasco com algumas mulheres que você não conhece, ele te dá um beijo carinhoso na testa em vez de um selinho é porque tá interessado em outra e não quer que ela saiba de vocês (se não for isso, por que estaria escondendo?). Uma simples crítica de uma amiga pode se tornar um possível motivo para acabar com tudo se vier do ficante. "Ah, não... ele tava me testando e eu não percebi. Pronto, já era. Quem mandou? Da próxima, vê se ouve sua mãe quando ela falar pra não comer com os cotovelos apoiados na mesa. Agora ele viu, te chamou a atenção e não quer mais nada contigo", e por aí vai.

Besteiras assim poluem o pensamento de quase todo o mulherio, provocando uma insegurança absurda. A diferença é que algumas colocam isso pra fora (as namoradas-esposas, normalmente) e outras (as namoradas-amantes) são orgulhosas demais pra isso. Admitir que está com problemas de auto-confiança e estragar a tarde do outro com isso não é uma opção, principalmente quando você não vê disposição dele em ter a chamada DR (discussão de relacionamento). Por isso, a gente vai agüentando, agüentando, até a hora que não agüenta mais. Nesse momento, ou você se prepara pro fim doloroso e devagar, ou sai enquanto é tempo. E daí chegamos ao ponto da fuga.

Apesar de eu falar que queria sentir um pouquinho daquilo que elas estavam sentindo, sei que a única responsável por aquilo era eu. Se só sofre quem quer, só se abre quem quer também. Por isso, bem-aventuradas Lucy. Ariel e Lina, que se doam por alguém sem medo de se estourar depois.

Acontece que ninguém gosta de se machucar. Eu mesma já fugi mais vezes. Dessa vez, com o apito do timer da bomba ecoando na minha cabeça que o meu período tinha acabado, me joguei no abismo que parecia mais confiável. Era possível que o tique-taque da bomba fosse falso, que estivesse somente na minha cabeça, mas quando falava da possível explosão, ninguém me corrigia. Logo, se ninguém nega, é porque o fato existe. Lá no meu inconsciente talvez tenha pensado vou pular. Talvez me machuque sozinha, sem porquê, mas a bomba tá pra explodir e se esperar vou ficar ainda mais angustiada. E tique-taque pára. O tempo acabou. São os segundos de silêncio final. Agora, é só esperar a explosão. O abismo está ali do lado e, apesar de desconhecido, pode representar uma chance de sobrevida. Pulei, com um peso enorme de deixar tudo aquilo pra trás.

Em antigas conversas com homens, percebi que nem sempre para eles esse raciocínio faz sentido. A maioria acha que o certo é pular mesmo, não porque está insegura, mas porque pode ser divertido. Outros, não conseguem entender alguém pirando o suficiente pra se matar desse jeito. Então, só me resta dizer que é por coisas assim que Telma e Louise são mulheres, e não homens. Se fossem do sexo masculino nao se jogariam no rio, mas sim iriam para o meio dos policiais, morrendo por tiros mas em busca de seus objetivos. Já no original, as duas amigas, ao não terem mais a certeza de que conseguiriam executar o plano, perdem o rumo e vão pro suicídio.

Outro problema é que, segundo o catolicismo, quem se mata não vai pro céu nem pro inferno. Fica ali, no limbo, esperando o juízo final. E ele vem. Na hora do acerto de contas, você tenta por horas se justificar, fazer o juiz entender seus motivos. Se precisa, até faz teste de sanidade mental pra mostrar que estava perturbada. Mas ele não entende. Diz que você perdeu o direito. A resposta não é de nem de longe a que você quer ouvir. Mas, quando um não quer, dois não ficam.

"Você me disse que agora eu teria duas opções: mostrar serviço ou pedir demissão. Agora está me demitindo é isso?"

"Sinto muito, eu achei que pudesse ficar com você depois de tudo, mas estava errado. Eu simplesmente não consigo."

Foi nesse momento que tudo fez sentido. Essa não era a resposta que eu queria, que eu esperava. Uma parte de mim dizia que só ia sair daquele lugar quando tudo se resolvesse. Imagina, como acabar tudo desse jeito? Não vai. A gente vai ficar aqui até você mudar de idéia. A outra, mais racional, só pensava em fugir. Não se pode forçar ninguém a gostar do outro, a ficar com o outro. Meus argumentos já tinham se esgotado, meus desejos já estavam à mostra, o que mais podia fazer? Mensagens de celular a gente bem que tenta, mas parece que depois de uma situação mais tensa todas mudam de conotação e só piora. Em parte, porque o espaço é muito pequeno pra colocar tudo (se meus textos são desse tamanho, imagine se eu consigo escrever tudo o que quero em 700 caracteres).

Infelizmente não tenho mais cinco anos pra vencer os outros pelo cansaço (sim, quando eu queria alguma coisa, eu era uma criança muito chata). Então, o que eu podia fazer? Esperar, talvez. Já tinha falado mais do que deveria. Cabia ao outro analisar tudo e ver se valia a pena recomeçar, direito dessa vez, ou não. Me veio, naquele instante a imagem das meninas dizendo que queriam mandar mensagens e eu reclamava que não podiam, não deviam, que isso só ia alongar ainda mais o possível desfecho. Não há nada pior que a impotência e ali eu não podia fazer nada. Fui embora, não pra casa porque, por mais que falar não fosse mudar em nada a situação (já estava tudo exposto. Eu só podia esperar a reação do outro) precisava colocar tudo pra fora. Então, tentando levar na brincadeira, fui falar com Lucy. "Amiga, lembra que eu falava que queria entender vocês? Eu consegui. Mas agora que entendi, tá bom já!"

Sunday, November 11, 2007

A esposa e a amante

Certa vez, uma pessoa me disse que eu tenho muito mais jeito para amante do que para namorada, esposa. Na mesma hora, questionei os motivos da frase e, como resposta, escuto a seguinte frase:

"Você não se apega. Não é fria, mas não se apega - ou pelo menos não aparenta. Namorada, esposa, normalmente dá showzinho, é mais insegura, carente, o que cansa, mas de vez em quando é bom. Já você, não."

Na época, considerei isso como um elogio. Quer dizer, na dúvida, achei que era mais uma coisa boa do que uma ruim. Hoje, já não tenho mais certeza se isso é realmente tão bom ou se ele continuaria certo.

Ontem, em uma conversa recente com Ariel, chegamos à conclusão que ninguém é 100% um tipo ou outro. Todas as mulheres somos amantes e esposas. Temos o nosso jeito principal mas, dependendo da situação, mês ou até dia - dada a inconstância do gênero feminino - a gente pende mais para um lado do que para o outro. Por isso, resolvi fazer uma lista, não de prós e contras, porque a classificação seria no mínimo polêmica, mas de diferenças entre esposas e amantes. Aqui vai:

Para a mulher-esposa todos os momentos são do casal. Por isso, nada de marcar compromissos sem ter falado com o outro primeiro. Não é incomum você ouvir um "ah, lógico, vou falar com Fulano" quando chama sua amiga-esposa pra sair. Já com a amante, o discurso é diferente. Se não tem nada marcado no dia, ela simplesmente aceita o convite. Depois, avisa ao outro "tal dia marquei de ir em tal lugar, quer ir?"

Sempre que não há nada combinado, a esposa volta do trabalho/faculdade direto pra casa, onde vai falar com ele antes de dormir, tranqüila. A amante, acostumada a agitação, se recusa a ir de casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Sai com amigos, vai ao shopping, cinema, o que for. E isso não significa de forma alguma que ela traia o parceiro; simplesmente acha que a vida tem que ter algo mais.

Mulheres esposas fazem o papel figurativo em festas. Ficam sempre ao lado do companheiro em questão, deixando-o mais confiante, trocando carinhos. Podem até beber e brincar, mas sua imagem não se dissocia por mais de um segundo do par. Podem estar um em cada ponta da sala, mas freqüentemente os olhares se cruzam. As amantes, por sua vez, se divertem com amigas, amigos. Dão liberdade ao parceiro e usufruem da mesma. Com isso, às vezes pecam por ficar longe demais do moço.

As mulheres esposas são as mais meninas. Femininas, sabem se portar e são admiradas como um exemplo de boas companheiras. São simpáticas e agradáveis com quem devem ser. As amantes, acostumadas a ficar no meio só de homens, às vezes se confundem com um deles. Bebem, jogam, brincam e riem de igual para igual.

Por participar das festas - e não só acompanhar - as amantes tendem a ser menos ciumentas. Porém, como a liberdade é para os dois, não é difícil que alguém ultrapasse a tênue linha das brincadeiras normais e desperte a insegurança alheia. Já as esposas vivem ao redor do seu homem. Apesar dele ser uma preocupação constante, ela está ali do lado, então não há porque ter medo.

As amantes não entendem como as esposas conseguem ser tão submissas. As esposas não admitem como alguém pode ser tão fútil. Por fim, esposas são as namoradas perfeitas. Amantes, as mais companheiras.

A gente até tenta, mas não dá pra fazer uma ficar no lugar da outra.

Conheço várias esposas que, antes de encontrarem seu par ideal já se depararam com alguém que, para dar certo, foram obrigadas a ser mais espirituosas. A situação cansa quando ela percebe que, por mais que tente ficar numa boa, a atenção dos outros nunca vai ocupar o espaço da dispensada pelo ser amado.

Da mesma forma, forçar uma amante a ser discreta e caseira é o mesmo que colocar um ipê dentro de uma sala de estar. Ela vai se sentindo presa, insegura, murcha. Então, ou morre ou explode o cômodo.

Tuesday, October 30, 2007

Relações modernas

- Alô?
- Oi, é a Patty, tudo bem? Tá pronto?
- Oi!... sim!... como faremos?
- Bom... a rua aqui é meio movimentada, difícil de parar, mas tem um posto na frente, conhece? Quer se encontrar lá?
- Sei sim, pode ser
- Tá, então tou indo pra lá
- Ah, na volta, você me deixa?
- Hum... tá, lógico... deixo... o problema é que... você deve tar exausto né? não deve querer ficar mais um minuto aí...
- Não, por quê? Não tá pronta? Posso esperar
- Ah, que ótimo. 8h30 no posto, pode ser?
- Não posso tomar meu banho primeiro, daí te encontro?
- Nossa, perfeito. Como que a gente faz? Você me liga?
- Não, termina suas coisas aí. Quando acabar, me liga que eu saio

...

Depois de desligar o telefone, assinei o cheque que daria para ele em seguida.

Não, apesar da conversa ter sido exatamente assim, ela não fazia parte dos últimos acertos de um encontro. Esta fui eu conversando com o mecânico do meu carro (que até então nunca tinha visto) pra que ele viesse trazer meu bichinho de volta.

Quem manda trabalhar até tarde? À noite, as coisas mais esquisitas, como a conversa acima, acabam parecendo normais, ou pelo menos aceitáveis. Talvez por isso o blog tenha esse nome.

Wednesday, October 17, 2007

E se eu for o homem da sua vida?

Esse post eu enrolo pra escrever há muito, muito tempo, mas toda vez que surge uma ocasião eu escrevo um rascunho, não termino e o momento passa. Antes que isso aconteça de novo, aí vai ele, desta vez, como resposta ao relato de Lucy sobre a expectativa ou não de casamento

Quem me disse a frase acima, do título, foi um amigo, ou melhor, um conhecido de longa data. Vizinho de uma amiga de colégio, o moço e eu nunca tivemos nada em comum, mas há muitos anos ele insistentemente demonstra certo interesse, sempre repelido. Em um desses momentos, via msn, já que há muito deixei de encontrá-lo, ele joga: "como você sabe que não vai dar certo? A gente nunca tentou. E se eu for o homem da sua vida? Vai perder a chance de descobrir?" Perdi e, confesso, sem nenhum peso na consciência.

Com tantas pessoas no mundo, já imaginou testar cada uma delas pra saber se é o homem da sua vida? Impossível. Então, se você conhece ele já há algum tempo, não sente atração nenhuma, vocês têm interesses diferentes e não conseguem conversar por mais de meia hora, definitivamente vocês não nasceram um pro outro.

Da mesma forma, você pode ser apaixonada pelo cara, ter vontade de acordar e dormir ao lado dele, só admirando, mas se ele não gosta de você, ou não te respeita, ele não é o homem da sua vida. E não adianta vir com essa de a pessoa certa no momento errado. Se ela é o tudo o que você sempre sonhou, mas não pra esse momento, não adianta mandá-la esperar. Vocês simplesmente não são um para o outro.

As pessoas mudam. Às vezes continuam no mesmo rumo, às vezes divergem. Aquele ex-namorado com quem você pensava em passar o resto da vida, hoje, pode não ter mais nada em comum contigo. E, mesmo que você não sonhasse em morrer ao lado dele, depois de um tempo vem aquele sentimento "nossa, como eu pude agüentar tanto tempo?" Simples, na época tudo era diferente. Então, será possível apostar que daqui a um tempo, quando você estiver pronta pra assumir a pessoa hoje rejeitada, ela estará igual?

Acho que, ao contrário, da maioria das meninas, pouco alimentei a tal síndrome de Cinderela, de achar que existe one guy, and just one guy, que vai te fazer feliz para sempre. Racional ao extremo, acho que prefiro acreditar que, com um pouco de amor-próprio, sentimentos sinceros pelo outro, quando ele existe, e princípios básicos de boa convivência são suficientes pra fazer a gente feliz.

Tuesday, September 25, 2007

O dia em que Lucy incorporou a pilar

Trânsito pesado às 20h horas em São Paulo. Eu, de carro, tinha acabado de pegar Lucy na Cidade Jardim, esquina com a Faria Lima. Descemos em direção à Marginal Pinheiros. Próximo à saída do túnel, a pista fica única. Eu, que ia pegar a próxima saída, já fico à direita. Como fui descobrir depois, talvez à direita demais. O trânsito pára, eu paro. De repente... pof! A traseira do lado direito do carro abaixa. Olho pra Lucy, que ensaia a risada. Tento sair uma vez, duas, o carro morre.

Lucy abre a porta e diz "bom, acho que se a gente empurrar dá". Eu olho pra minha amiga loira, cujo avatar é uma criança de chiquinhas e penso "tá o carro vai ter que sair". Lucy desce, analisa e dá a sentença: "ih, amiga, você caiu no bueiro. Liga o pisca pra gente ver o que faz".

Se o carro está no bueiro, perto da guia, ele não vai sair com o carro indo pra frente, mas se eu girar a direção, quem sabe vai. Liguei o pisca, tento mais uma, duas, três vezes. Nada. O pneu canta, exala cheiro de borracha queimada, a fumaça sobe e o carro no máximo dá um tranco insignificante.

Começa a primeira buzina. Lucy, do lado de fora, me pede pra ligar o pisca, mas, apesar dela não ver, o pisca já estava ligado. "Ah, então manda ele à merda. Cara chato."

À medida que eu saio do carro pelo lado do passageiro, no pequenino espaço que a caçamba de lixo da calçada me deixou para abrir a porta, o moço do carro ao lado resolve perceber que ele também consegue passar e vai embora.

Ao chegar atrás do carro, vejo o problema: quando a roda de trás do meu carro ficou em cima do bueiro, a grade quebrou e roda afundou, muito. Não ia conseguir sair dali. Mil pensamentos passam pela minha cabeça. Lembrei do post de Lucy "a chave, o celular e o bueiro", ou algo assim, e pensei "onde estão os meninos pra levantar o carro?" Lembrei da minha época de reportagens trash e de quando fui mandada tirar foto de um táxi ali perto, na Faria Lima, quando o asfalto cedeu e engoliu totalmente um dos pneus. Então, pensei "ah, que graça, agora é comigo". Graças à insistência da feliz Lucy de que deveríamos empurrar, também lembrei de quando bati eu carro em plena Avenida Palista e metade do time feminino de basquete, que estava a bordo, já uniformizado, desceu para empurrar. Por fim, após os 10 segundos em que tudo isso passou pela minha cabeça, cheguei à conclusão "ah, que saco, tenho que ligar pro seguro, mas eu não sei o número, vou ter que ligar pros meus pa... na verdade, de que adianta seguro? Aqui é pista única, fechada pelo meu carro. O guincho nunca ia conseguir chegar."

Olho de novo pro buraco... as pedrinhas do começo ainda faziam uma rampa, já a parte da frente impossível passar. "Lucy, será que não dá pra sair de ré?" "É parece, mas eu preferia tentar empurrar". Chega um ônibus. Lucy me avisa, já prevendo que esse não passa pelo meu lado. Seria o caos completo. Eu entro no carro. Ela faz sinal pro ônibus parar antes que não haja mais espaço nem pra eu dar ré e também entra.

Dou ré. O carro sai. Viro o máximo possível para a esquerda, primeira, enfim, saímos. Do lado de fora, olhando pela minha janela do passageiro, motorista e cobrador do ônibus só esperavam a empreitada não dar certo para tentarem levantar o veículo. Não sei se ia dar certo. Tão magrinhos os dois.

Já na marginal, mais tranqüila, me junto a Lucy na gargalhada. "Só com a gente que acontece essas coisas mesmo, né?" "hahaha, é só com a gente. Mas sabe que fiquei frustrada? Não, eu gostei de ter tirado o carro, mas foi..." "muito fácil?" "é... foi muito fácil. Eu já tava pronta pra empurrar o carro e nem precisou" "é, mas não ia ser só empurrar. Íamos ter que levantar o carro. Nossa, a gente podia ter usado o macaco né?" "É, eu pensei nisso" "Pensou?" "Pensei... mas não ia ter graça. Pensei se eu falar, a gente vai usar o macaco e vai acabar rápido. Vamos tentar empurrar primeiro" "hahahaha, ok".

Coincidência ou não, no dia em que Lucy não vê a luz do pisca aceso e só pensa em resolver as coisas do jeito mais ogro possível, foi justo o lado dela que afundou. Dois dias depois de jogar como fullback, para desmentir a fama de frágil, Lucy virou pilar.

Tuesday, September 18, 2007

Uma questão de ponto de vista

Como ninguém se dispôs a escrever um post sobre uma das festas mais legais dos últimos tempos, eu faço trabalho sujo.

Estamos muito acostumadas a freqüentar festas de faculdade então, entrar numa festa que não está completamente povoada por pirralhos é sensacional. Tinham pessoas bem fantasiadas de 20 e poucos, 30 poucos, e até uns gatos pingados de 40 e 50 poucos... Divertidíssimo ver tiozinhos de fantasia no meio de uma balada open bar, hehe.

Enfim, na verdade queria falar sobre um assunto específico. O bafuá do vesgo que não era vesgo. Ou talvez fosse. Mas a gente nunca vai descobrir.

Em certa altura da noite, as Jones que compareceram estavam devidamente alegradas, dançando e desfilando pelo salão. De repente, um mocinho bem interessante, por sinal, começa a demonstrar o interesse. Alto, com tudo no lugar, cabelos curtinhos e cacheados e... olhos claros.

E calhou de ser bem a Jones que, segundo a definição de uma das irmãs, "não fica, e sim namora na balada".

Pois é, ela nem queria não. Tava mesmo era ficar se divertindo com as amigas. Mas com umas doses de alegria a mais, o mocinho não teve muita dificuldade de convencê-la que a noite podia ser divertida pagando de namoradinha. Ele nem beijava bem, nem era super inteligente, e não era mais nenhum menino (já tinha 2.8). Mas não dá pra negar. Foi divertido mesmo.

Muitos e muitos beijos mais tarde, ela olhou pra ele e, com alguns graus de sobriedade a mais, e um pouco de luz externa, teve a sensação de que o menino era levemente estrábico.

Que coisa! Como já tava um bom par de horas com ele, não ia larga-lo assim do nada, apesar que era melhor não desconfiar que ela era capaz de fazer isso. Ops, mas no momento seguinte ele não parecia estrábico. Ok, ok, talvez o grau de sobriedade ainda estivesse baixo, perto do grau de alegria consumido, hehe.

Ela passou o resto da noite em duas funções: tentar convence-lo a deixa-la voltar para as amigas (qual é a graça de não comentar a dúvida!?) e tentando, claro, descobrir se ele tinha o tal desvio visual, ou era só uma ilusão.

Sunday, September 16, 2007

As xícaras desbeiçadas

Na minha casa, mamãe costuma comprar um conjunto novo de xícaras toda vez que as antigas se quebram. São muitas pessoas em casa e isto acontece. É uma beleza. Todas novinhas são usadas para servir café às visitas quando elas aparecem. Entretanto, com passar do tempo, as xícaras lascam na borda, quebram um pedacinho aqui e um acolá, enfim quando bem gastas vão para o lixo. Descobri recentemente que algumas pessoas são como xícaras desbeiçadas.

Ultimamente, com tanto tempo extra, estive pensando muito no meu passado, no que já aconteceu, nas pessoas que conheci, etc. Estava sempre pensando em criar um post para quebrar meu silêncio nesse blog, mas não tinha uma idéia boa. Até que bolei esta teoria sobre as pessoas que eram lindas porcelanas e por fim nos magoaram de alguma forma, lascaram um pedacinho de si. Elas não deixaram de ser xícaras bonitas, mas você já não serve mais para as visitas porque não importa que ninguém perceba, você sabe que ela está desbeiçada. Então, você toma café, ainda mantém a xícara perto de ti, porém a xícara jamais voltará ser a mesma. Uma questão simples de confiança que se perdeu. Não tem mais jeito, quando alguém quebra aquele laço que os unia nunca mais se volta. Vive-se naquele tempo suspenso em que se espera a repetição do mesmo erro não importa quantas desculpas se ouça. Um dia quem sabe, compra-se um conjunto novo.

Por aí, divagando...

Wednesday, September 12, 2007

Sentido contrário

Enquanto estou me preparando para o glorioso show da Isabella Taviani, no final de outubro no Via Funchal, tenho ouvido muito as músicas da cantora carioca.

A Isabella é uma dessas lésbicas maravilhosas com um vozeirão. Simplesmente amo as músicas dela. Intensas, poderosas, enfim, me apaixonei na primeira vez em que ouvi.

Mas ela fala muito do sofrimento. E talvez por isso eu me identifique tanto. Calma gente, não to fazendo drama não, mas não há como negar que nesse tema eu sou especialista.

E aproveitando tudo o que vem passando na minha cabeça ultimamente, e que algumas Jones sabem muito bem, vou deixar vocês com uma música que tem tudo a ver. E, como não posso dedica-la a uma pessoa, porque não tenho quem mereça, dedico a todo mundo que passa por aqui, nas profundezas do fundo do mar do blog. Cantada, a música é ainda mais maravilhosa.


Tudo o que eu queria agora era um beijo seu.
Molhado como quase sempre estão os olhos meus.
Deitar nos teus ombros e dormir em paz,
Será que é pedir demais.
Cadê você, amor?
Sozinha agora estou, de novo.

Tudo o que eu queria agora era o seu calor.
Colar teu corpo junto ao meu e detonar o cobertor.
Contraditório.
Tua pele quente me faz tremer.
Cadê você, amor?
Por que não vem me ver?

E aí, o que é que eu faço com essa falta que você me faz?
A hora nesse quarto parece andar pra trás.
Mas quando estou com você,
O tempo voa,
Voa, o tempo voa.

Tuesday, September 11, 2007

A nova escola

"Ei, pára de encarar. O cara vai ficar bravo"
"Ah, imagina, como ele vai saber? Não é pra cara dele que eu tô olhando"

Dizem que a necessidade promove grandes avanços. Os espartanos saíam pelo mundo provendo saques e escravização, mas não porque nasceram assim. A falta de terra para plantar fez com que eles decidissem. Ou a gente procura comida em outro lugar ou morre de fome. Saíram.

A mesma coisa acontece séculos depois, com algumas diferenças. Tenho amigos que, quando estão dirigindo, não páram para que nenhuma mulher bonita atravesse a rua. O argumento é que essas são muito metidas e que não parar ajuda a diminuir a arrogância. Mas, mesmo sem dar bola, mulher já sofre andando na rua. É assobio, cantada chata. Imagine se ela desse um sorrisinho feliz a todo instante.

É 8 ou 80. Quando saímos dando risada sozinha pela rua, vira e mexe tem alguém que resolve exteriorizar das piores formas o quanto gostou da felicidade alheia. Já se vc está de cara fechada, é metida, chata ou simplesmente "nem tudo isso".

As meninas pra quem meu amigo pára na rua dão um sorriso enorme para ouvir o mesmo elogio. Elas também deixaram Esparta para sobreviver. E conseguiram. Há muitos homens que assumem gostar de mulher feia, mais dedicadas, no mínimo. Da mesma forma, há várias meninas que preferem os feios por serem mais fiéis. Mas, mais do que eles, há um grupo que a cada dia mais conquista o seu lugar ao sol: os homossexuais ou gays.

O preconceito ainda existente em alguns setores (no esporte, por exemplo) bate de frente com eventos como a passeata do orgulho gay. A espontaneidade é marca das baladas características e o mulherio, sempre tão acostumado a aparecer nas festinhas tradicionais, fica apagado em meio a tanta e energia. Em matéria de diversão, eles dão aula.

Exemplo prático: num lugar ao longe, uma garota e dois rapazes conversam. Ela, interessada no primeiro, o chamou pra uma festa, onde o amigo estava junto a tantos outros. No momento em que ele chega é interesse à primeira vista. Não dela, que esse era antigo, mas do amigo, que adorou o rapaz e já foi se jogando.

A garota, tal como uma da família Jones, fica confusa e não sabe o que fazer. Ainda não tinha nada com o outro. Planejava, mas não tinha. O amigo não sabe disso e talvez também não se importasse. À medida que o tempo passa, mais a situação fica tensa. Seria quase impossível frear a investida. Se o outro quisesse, era. Mas o outro não quer.

A festa termina. O que chegou por último volta frustrado. Ela volta angustiada e confusa. O amigo volta mais radiante do que nunca. Não conseguiu o queria, mas se divertiu muito.

Briga entre grupos? Não, um simples convite à evolução. Antropofagia: assimilar as características positivas do outro. Difícil, mas a gente tenta. A prova éramos eu e Lana tentando imitar o gingado de alguns meninos no carvanal deste ano. Pelo menos no rebolado, mulata já era.

Friday, September 07, 2007

Ah...Os sonhos!

Sonho é uma coisa muito maluca mesmo. Os meus então. Eu não consigo saber se o que acontece comigo é normal, ou se eu sou um ser, digamos, diferente do padrão. Acho que sonhar mesmo eu sonho todo dia. Mas muito deles não consigo lembrar. Noites e noites seguidas sem nenhuma dica. De repente, em uma noite, eu me lembro de quatros sonhos seguidos. E com detalhes.
Numa dessas noites agitadas eu tive um desses sonhos que valem registro. Nada faz sentido. Mas, acreditem se quiserem, algumas amigas encontraram a tal mensagem que os sonhos nos trazem.
O primeiro atentado terrorista brasileiro. E como se trata de um país de terceiro mundo, óbvio, não foi um boeing entrando no prédio. Foi um teco-teco mesmo, desses bem pequenos. Ele tava carregando uma arma de destruição em massa x e, ao mesmo tempo em que pilotava, conferia o orkut em seu laptop, que estava sentadinho em seu colo. De repente, um novo scrap, uma ameaça. Se ele não liberasse a arma que carregava sobre um shopping center x, algo de muito, mas muuuuito ruim ia acontecer. E ele liberou.
Aí eu tenho um branco. Lembro do que estava acontecendo, da poeira, fogaréu, gritos, escombros, apesar de não estar lá. Mas, por algum motivo que, obviamente, eu não tenho idéia, fiquei sabendo que meu ex estava naquele shopping, naquela hora. Óbvio, fui salvá-lo. E o meu sonho acabou! Ou apaguei esse trecho da memória, mas apaguei mesmo!
Claro que eu sei que o salvei, mas não lembro como.
Foi um pesadelo com todos os elementos: gente morrendo, atentado terrorista, destroços e até ex-namorado. Não que ele seja um pesadelo, apesar de ter feito, e de vez em quando insistir em querer me fazer mal. Mas não quero mais sonhar com ele. Ainda mais sonhar em salvá-lo. As minhas amigas dizem que isso foi uma mensagem. Mais uma vez, eu o salvei!
Mas prefiro pensar que não. Que, na verdade, eu faço muito mais falta na vida dele, do que ele na minha.

Tuesday, August 28, 2007

O poder das escolhas

Sou indecisa por natureza. Desde criança, ficava mais de meia hora na banca de jornal para escolher apenas uma revistinha. Mônica, Cebolinha, Cascão ou Magali. Muitas opções pruma pessoa só.

Em compensação, depois que decido aprendi a não voltar atrás, não me arrepender. Justificativa pra ser cabeça dura, exemplificava com a imagem: "eu demorei seis meses pra escolher de que lado faria meu piercing. Imagina se toda vez que me olhasse no espelho pensasse 'ah e se eu tivesse feito do outro lado?'".

Por isso mesmo que demoro ainda mais pra tomar as tais decisões. Se sei que não vou me voltar atrás, tem que ser algo bem pensado. Pra decidir a cor dos vestidos pra festa foi um caos. Eu e Lucy... uma pior que a outra. Por fim, nossa quase Jones, mais impulsiva, foi toda de vermelho. Lucy, de peruca e pétalas rosa e vestido amarelo. Eu, de peruca e pétalas laranja e vestido azul. mas fofas.

Na hora da festa, novos problemas: o que beber? estou com vontade de cerveja, mas jurupinga é tãaao bom e demora tanto pra vir de novo pegar os copos, melhor escolher bem. Como a festa é open bar, facilita. Pego um de cada. Faço isso uma, duas, três vezes, pelo menos.

No fim, o cansaço de fim da festa, aumentado pelas escolhas não feitas, provoca um pequeno tombo. Mais uma das vezes que eu literalmente caio em festa (ou, como brincou minha mãe, saio embalada da balada). De lembrança, um joelho e uma perna bastante ralados. Qual deles? O esquerdo, mas isso eu não precisei escolher. Como conversava com Lucy um dia antes, o cansaço simplifica as coisas, a gente não pensa, só faz, e, em alguns casos, paga o preço depois.

Fomos umas bonecas

No meio da pista, Lucy dançava com a cabeça enfiada dentro da fantasia. Estava como uma própria flor, acomodada dentro do vaso vermelho. Já eu há muito tinha deixado de ser a boneca. No fim da festa, o pancake já tinha saído, o chapéu de pétalas laranjas caía a todo instante e por isso eu tambteém tirava a peruca para recompor o visual.

Em todo caso, valeu. Até agora é difícil acreditar que fizemos tudo aquilo sozinhas.

E tudo foi tão rápido, em apenas três dias. Na quarta à noite entramos em crise.

- Do que vamos na festa deste ano?
- Não sei. Pensa em algum desenho animado
(...)
- E se a gte fosse de menina-flor?
- Ah, Lucy, não lembro desse
- Tá, então vamos pensar em outro.... ah, Patty. Tudo mundo lembra da boneca
- É, eu sei. Na hora achei que você estava falando de desenhos e eu não conheço nenhum desenho de menina-flor. Já a boneca eu tinha.
- Então vamos?
- Vamos!

Respondi já pensando "não vai dar certo". A gente de vestido, flor na cabeça e vaso escondido andando pela festa. Não ia dar. Mas deu!

Do nada, aquele estalo. Vou para o paint, faço o desenho, mando pra Lucy, cujas idéias bateram perfeitamente. No dia seguinte fomos às compras.

12 metros de tecidos; três sombreros; 15 placas de EVA; um rolo de plástico verde; seis bambolês; muito pancake; fitas e rendas para criarmos três meninas-flor, com produçõ e tecnologia própria. Eu, Lucy e nossa quase-Jones fizemos vestidos mais vasos mais chapéus em apenas dez horas. A única ajuda, apesar de essencial, foi no manejo da máquina de costura.

Meninos, se vocês quiserem fiquem à vontade para falar da festa fantasia em si, tanto por posts quanto por comentários. Eu estou feliz falando só das nossas fantasias.

Thursday, August 16, 2007

A luta pra chegar no 8

Não é que eu não me importo com as pessoas... acho que eu simplesmente sou aérea demais para demonstrar. Além do que, essa coisa de se abrir às emoções caaaansa...

Quando Lucy disse que buscava algum evento que a tivesse feito ficar "desse jeito" eu respondi imediatamente: "o meu motivo é fácil, a mídia", o que provocou gargalhadas dos dois lados. Mas, pensando bem, por mais que todas as minhas heroínas da infância sejam mulheres independentes, seguras e até insensíveis (é só pensar na maioria dos desenhos dos anos 80), isso tem mais a ver comigo do que com os personagens que tanto admirava.

A questão é a seguinte: mudar de humor demanda um esforço muito grande. As pessoas, por definição, buscam a felicidade. Então, em estado natural, é mais fácil você ver uma pessoa feliz do que brava. Para ela ter mudado de humor, algo aconteceu. E no caso de uma pessoa teimosa, não existe aquela coisa de ficar brava por cinco minutos e depois passar. Às vezes, você não agüenta mais o clima ruim, mas nunca que vai dar o braço a torcer. Voltar ao normal significa que o motivo pra você ter ficado daquele jeito não foi tão forte e que, portanto, você que estava errada em ter se exaltado. Enfim, hipóteses inadmissíveis.

Durante anos eu passei por isso. Não admitia que era teimosa. Simplesmente era justa. Se eu estava certa, não tinha porque ceder e, não, isso não era teimosia. Até que uma época, não lembro quando ao certo, assumi que sou uma taurina de verdade, daquelas que dá cabeçada até depois da porta ter caído, e comecei a administrar o meu próprio humor.

Uma das coisas mais gosto é argumentar e, portanto, sei que se entrar numa discussão e a vitória não for minha, vou ficar brava e vai me doer muito dar o braço a torcer. Na verdade, mesmo se eu ganhar ainda vou ficar com aquele orgulho me corroendo, louca pra contar pra alguém como "acabei" com tal pessoa. Mas, graças aos céus, isso é passado. Depois de - assim como Lucy - perder alguns amigos por palavras duras demais (embora as minhas fossem de verdade), passei a evitar discussões desnecessárias e só entro em conversas que sejam filosóficas demais para ter certo e errado. Nas outras, ouço, pontuo, mas não abraço mais pontos de vistas que pouco vão mudar minha vida. Discutir cansa. Cansa você ficar brava e cansa mais ainda voltar a ficar feliz, então vamos cortar etapas.

O problema é com isso a gente fica mais insensível... como 'ficar triste dá trabalho', nem penso em me abalar a não ser que seja por algo importante e mantenho meu (bom) humor natural e constante, sem picos de alegria e tristeza. Deixo de brigar, mas também deixo de dizer que gosto. Por fim, deixo de ver que, de vez em quando, as pessoas precisam de um pouco mais de atenção, por mais meloso que isso seja.

O lado bom de tudo isso, e talvez o real motivo destes post, é que melhorar é possível. Depois uma bronca, passei a colocar um "você quer ir?" quando respondo às amigas que, sim, já sei o que vou fazer no final de semana - o convite, pra mim, sempre esteve implícito, elas que não entendiam. Ainda não é suficiente, mas, segundo a minha eterna despreocupação, já é um começo.

Sunday, August 05, 2007

Meu Pan especial

“Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia.
Tudo passa, tudo sempre passará.”

Ok, não sou a maior fã de Lulu Santos, pra não dizer que o odeio. Mas foi exatamente essa música que ficou na minha cabeça desde que voltei pra casa.

E por quê?

Nem foi a viagem em que passei mais tempo longe de casa, nem foi a que fiquei mais sozinha, isolada do mundo. Afinal de contas foram apenas 40 minutos na ponte aérea, 50 centavos de roaming por ligação, em um mês e meio.

Não tive the time of my life, nem encontrei o amor da minha vida. Não enfiei o pé-na-jaca, acho que posso contar nos dedos os copos de caipiroska que tomei (nenhuma gostosa), e não beijei ninguém, nenhuma alma. Como diria a minha mãe, não por falta de pretendentes, hehe, e apesar de me sentir muuuito carente.

Ai, então por que essa viagem foi tão especial? Por que tanta coisa mudou na minha vida?

Porque realizei um sonho. Porque pela primeira vez trabalhei em um grande evento esportivo. O Pan passa longe de ser o maior, ou o mais importante, e sei que estava lá porque foi aqui no Brasil. Mas foi o primeiro, o MEU primeiro. Sei que fiz tudo direitinho, que gostaram do meu trabalho. Apesar da sensação de que poderia ter feito muito mais, de que poderia ter feito diferente. Acho que sempre vou sentir isso. Não tem problema, foi maravilhoso, inesquecível.

E a vida pessoal então. Um belo dia, no meio do Pan, acordei e percebi que não tava me fazendo falta. Fiquei tão ocupada trabalhando que não pensei, não senti, não lembrei. Então decidi: chega! Não quero nem preciso. Quero sim alguém que saiba o que quer e que seja maduro.

Quero sorriso fácil, suspiros profundos, mente leve, abraços apertados e beijos eternos. Ih, acho que já posso me apaixonar de novo.

Quem diria. Tudo passa, tudo sempre passará. Até pro meu coração

Thursday, August 02, 2007

O belo que só quem não enxerga vê

"Você nem vai lembrar de mim amanhã, né?"
"hahaha, olha é possível"

Não era nem pela quantidade de bebida ingerida, muito menos por tentativa de me fazer de superior que disse aquilo. Lembrar do rosto, do nome das pessoas é uma tarefa cada vez mais difícil.

Excesso de informações, a tal síndrome do mundo moderno (em que você tem acesso a tantas coisas que acha que não sabe nada e, pior ainda, não registra quase nada). Só isso já seria desculpa mais que suficiente para pessoas... esquecidas, digamos.

Mas há ainda tem o fator "pé no chão". Pessoas ditas avoadas têm seu lado positivo, se estressam menos e por isso estão menos sujeitas a morrerem numa briga de trânsito. Em compensação, são potenciais vítimas de atropelamentos e de serem taxadas como metidas, mal educadas e afins.

Por indicação de Lucy, que compartilha desse problema, entrei no grupo "Metida não, míope", do orkut. Mas quem dera todas as pessoas que conheço fossem minhas amigas virtuais e soubessem dessa minha comunidade. Infelizmente, quem chegou nesse nível de interesse é porque já me conhece e não vai ficar bravo se eu passar reto. Ao contrário, esses amigos até se divertem. Esperam passar bem perto pra dar um grito bem no ouvido; agarram o braço ou simplesmente ficam pulando na sua frente, agitando os braços - e comentando com quem estiver do lado "aposto que nem assim ela vai ver".

Cumprimentar é um assunto muito complicado. Além de ver as pessoas, você precisa decidir como vai abordá-las, principalmente em relações de trabalho.

Para e-mails, criei uma regrinha: no fim da página, antes da assinatura, começo com "abçs". Se a pessoa mudar para "bjs", mudo também, assim não passo nem por dada nem por mal educada.

Hoje, voltando do almoço, vi (acho que vi) um dos meninos de outro setor que só encontrei ao vivo umas duas ou três vezes, mas com quem freqüentemente tenho que falar por e-mail, e que, por isso, já passou do para "bjs". Vi o moço, parei, pensei "eu conheço ou não conheço?"... não cheguei a nenhuma conclusão. A pessoa ficou me encarando, mas como eu estava de óculos de sol, não sei se percebeu que olhava de volta ou não. No fim, falei um oi, séria, quase inaldível. Se era, eu falei, ele que não ouviu. Se não era, foi tão baixo que ele nem deve ter ouvido. Chega a ser ridículo você mandar beijos pra uma pessoa que você nem lembra o rosto, mas enfim, acontece.

Pra evitar esse tipo de problema, criei uma terceira regra, porém, como se percebe, não é 100% eficaz. Sempre que conheço uma pessoa tento relacionar o rosto e o nome dela com alguma coisa, normalmente alguém já conhecido. O problema é que se você conseguiu lembrar de uma pessoa porque ela parece com outra, isso significa que o rosto é comum e provavelmente haverão outros também parecidos.

Numa festa chamei um menino de longe, apresentei minha amiga, puxei conversa, ficamos muito tempo conversando, ele meio desconfortável, até que me pergunta "ah, legal, e você, quem é?" Nessa de não lembrar rostos, confundi o menino com um amigo, que estava no mesmo lugar. Argumentei por um bom tempo que ele era sim meu amigo, que só podia estar brincando comigo, até que, de repente, eis que o próprio chega, os dois vestidos do mesmo jeito. Aponto pra um, aponto pra outro... "também, olha só... um igual ao outro... parece espelho". Tanto tentei me justificar que o moço recém-conhecido ficou bravo, virou as costas e foi embora. Meu amigo, por ser meu amigo, só deu risada.

Frase do astrólogo Oscar Quiroga, muito mal reproduzida pro mim, já que lembro só vagamente: as pessoas parecem ficar bravas quando percebem que suas idéias e seus comportamentos não são únicos, mas não admitem o quanto é belo estarmos todos sob a mesma sintonia.

Tuesday, July 17, 2007

A viagem, o arraial e o final de semana

Em "As Crônicas de Nárnia" (filme, já que ando bem relapsa) não importa o tempo que você fique dentro do guarda-roupas, tudo continua da mesma forma do lado de fora. Tão inacreditável quanto um reino de faunos e leões falantes são algumas viagens em grupos grandes, rápidas, intensas e bem difíceis de organizar.

Por mais que se queira acreditar que é verdade e que vai acontecer, por todo momento duvidamos que aquela zona vai dar certo. E, para que isso aconteça, as pessoas se transformam, no melhor estilo "O que acontece no arraial fica no arraial". Quem sempre reclama para acordar antes das 9 horas nos sábados pula da cama quando ainda está escuro. Pessoas que se dizem sérias supreendem a todos numa versão bem mais relaxada. Sete horas da manhã, tendo ou não dormido, todos estão na estrada. Cantando, brincando.

Alguns levam a incorporação ao extremo. Lucy, talvez influenciada pelas chiquinhas, parecia uma criança com meio corpo para fora do carro, no meio da estrada, só para conseguir fotos "de todos os carrinhos, um atrás do outro. Olha que fofo!" Para isso, quanto maior a curva melhor e a serra, com árvores dos dois lados e pista única foi o cenário perfeito.

Na chegada, as bandeirinhas rapidamente colocadas na churrasqueira deram o clima julhino. Logo depois, todos alojados, o modelito São Paulo foi trocado pelo biquini. Mesmo que não tivesse, todos (e todas) cairiam na água do mesmo jeito. Churrasco pouca gente viu. A cerveja, ao contrário, quase não teve tempo de gelar.

Um altar feito na varanda homegeava o novo ídolo pagão: Crigor, do Exalta Samba, (ou ex-Exalta Samba... vai saber. Aliás, era Exalta Samba?). Menos de 48 horas depois ele honraria a devoção dos adoradores de São Francisco (a cachaça), realizando o primeiro milagre: fazer uma criança parar de chorar só com sua imagem.

O primeiro dia causou pequenos estragos. Alguns passaram mal, outros quatro desmaiaram na piscina e muitos precisaram de comprimidos contra dor de cabeça, causada, logicamente, pelo excesso de sol - e só por isso.

À noite, a seção lúdica aumenta. Nova troca de figurino. Dessa vez, roupa de gala caipira. Era dia de casamento. A brincadeira foi crescendo a tal ponto que foi criada toda uma trama complexa. Meio a la Shakespeare Apaixonado, onde nem sempre homens representam personagens masculinos e vice-versa, minha filha, Lucy, se engraçava com um velho endinheirado, representado espetacularmente por Lana Banger. O pai, recém-chegado, estava bravo porque a menina não sabe escolher catchup e encorajava o romance. Já o par de Lana, apesar de ser do gênero masculino, encarnou uma velha senhora que dava mais medo do que Maria Bonita, mulher de Lampião.

Apesar de - até onde se sabe - ninguém do grupo ser afeito a relações homossexuais, os noivos também não eram o que se pode se chamar de um casal tradicional. A dona das bodas, que se trocou sozinha, mas que teve toda a ajuda das amigas na hora da maquiagem, é o segunda linha do time masculino. A união, consagrada com um beijo cuja veracidade deixou muita gente desconfiada, foi com um possível companheiro de posição, mas que jogava em outro time.

Quadrilha, roda de samba em volta da fogueira, funk, falshback, volta olímpica com uma tocha improvisada - em homenagem ao Pan recém-começado. O grupo de 17 pessoas demorou pra cansar. Quando isso aconteceu, colchonetes, edredons e cadeiras. Tudo isso para tornar a espera pelo nascer do dia - que ninguém chegou a ver - o mais confortável possível.

Algumas horas de sono somente. Ao acordar, resta somente pouco tempo de universo paralelo (num plágio explícito ao tão sonhado reveillón de Lana). Para um melhor aproveitamento, os grupos se desfazem, caronas mudam de carros.

Metade do grupo foi embora cedo. O outro preferiu adiar um pouco mais a volta à realidade. Afinal, como disseram muitos, "fazer o que em São Paulo?".

Depois de jogos de truco, buraco e futebol (esse último só pela TV), rumamos de volta. Essa rejeição à rotina fez com que algumas mães se desesperassem, ligando pras amigas das rebentas. Em um ato extremo, um celular atravessa as janelas, de um carro a outro, em plena Dutra. Na devolução, o receio de quebrar o brinquedo alheio promoveu uma parada estratégica na mesma rodovia. Vale ressaltar que no momento não havia nem sombra de carro ou caminhão a caminho. "É, você é louca, não burra".

Ao voltar para a casa e perceber que o quarto continua desarrumado da mesma forma que você deixou, vem aquele sentimento de que a viagem não passou de um sonho. A certeza de que aconteceu vem em difentes momentos: ao receber as fotos, ouvir os relatos (incluindo os de acontecimentos que, por algum motivo, você esqueceu ou não viu) e, no pior deles, arrumar o despertador para o dia seguinte. Diferentemente do filme, só parece que o tempo não passou.

Friday, June 29, 2007

Touch no terceiro tempo

Olha, eu já tirei a saia, se colocar de volta, não jogo mais! A frase, que soa bem estranho quando tirada do contexto, foi dita durante um dos melhores terceiros tempos de que já participei. O jogo, importantíssimo para os meninos, valia a chance de disputar o quinto lugar. Também por isso, foi organizado um churrasco com muita cerveja pro pós-jogo (aliás, recentemente foi divulgada uma notícia de que médicos recomendam a cerveja para ajuda a hidratar. O rugby é muito esperto!).

O resultado, infelizmente, não foi o desejado. Mas, no melhor espírito rugbeer, a festa compensou. Eu, Lana Banger, a nossa quase Jones e meu novo companheiro de carona começamos o dia no churrasco de um dos meninos do time. Chegamos cedo e cedo fomos embora. Não que o clima não estivesse gostoso.
O sol e o calor nada típico de inverno junto com a conversa boa ao lado da churrasqueira já seriam suficientes prum post de dia perfeito. Mas tinha o jogo e, por mais que a gente ainda não tenha comprado os pompons vermelhos, a torcida é um compromisso quase que obrigatório.

Dizem que nos filmes sempre há aquele acontecimento que marca a mudança na tragetória da trama. Enquanto estávamos no prédio, o sol estava forte e Lana, de calça e blusa preta, é que achava que tinha feito a escolha errada de roupa. Pouco antes das 15h, meu amigo empresta um casaco pra uma das meninas, dando o indício da mudança.

Na saída do prédio, minha sandália estoura, me deixando descalça. A targetória inicial sofre mudanças pela parada no supermercado. Troca de sapato. Na chegada ao campo da USP, já descemos com frio e tal qual para um bando de desabrigadas, todo e qualquer pano servia para se cobrir. Agora, eu, de saia, mesmo que com casaco, é que lamentava a escolha infeliz.

Nosso time era mais alto, mais forte. Os jogadores estavam concentrados. A tática nipônica de estapear a cabeça dos companheiros de time trouxe uma motivação aos Reds, mas alguma coisa faltou e pra não ficar remoendo infelicidades, vamos passar direto pro terceiro tempo.

Várias eram as jogadoras do nosso time que foram assistir ao jogo. Afinal, a lei da reciprocidade vale e torna convivência tão grande que pouco a pouco os gêneros se confundem. Garotas passam a arrotar e homens já consideram meninas.

Dessa forma, o terceiro tempo, que normalmente só tem jogadores, foi tomado por quase uma dezena de garotas que bebem à vitória ou à derrota. Duas delas logo se apossaram do som, trocando um ritmo qualquer pelo funk, inofensivo. Por mais que as letras peçam algo mais pesado, as coreografias há um bom tempo deixaram de ter o apelo sexual e se tornaram simplesmente motivo de risada. Até o coach dançou junto e teve que mostrar a existência de cabelo debaixo do boné no momento em que a música, eloqüentemente, pedia "estrupa os careca".

Churrasco mesmo pouca gente viu. Mas a cerveja lotou o freezer e, mesmo com garrafa de 600 ml virando long neck, durou até mais de dez horas.

Na churrasqueira, o excesso de pessoas fez mesmo quem não estava bebendo ficar com calor. De repente, alguém vê três pessoas sozinhas no campo, ao lado. Foi o suficiente pra que um número x de pessoas trocassem o concreto pela grama e dançassem umas três músicas, já que, tirando Lana Banger, quem estava lá entendia muito mais de rugby do que de raves. Por isso, de algum lugar veio a idéia de jogar um touch. Enquanto nosso quase Jones foi buscar a bola, tirei correndo a sandália. Mas a música melhorou. "Depois dessa música, vai?". Coloquei a sandália de novo e fui até a churrasqueira. Algumas músicas depois... "vamos?" E lá vai a meia-dúzia de pessoas mas outra vez uma música mais empolgada adiou o começo do jogo. Na última tentativa, todos já estavam em campo. As meninas menos precavidas, como eu, descalças. Acreditando realmente que naquele momento a gente iria jogar, tiro minha saia pra jogar com o shorts que estava por baixo. Porém, mais uma música, mais uma parada. Nessa, algumas meninas subiram no balcão e dançaram cerca de... trinta segundos, até olharem pra baixo e perceberem a convulsão que causavam. Eu, embaixo, fiz a última tentativa de chamar as meninas que se diziam interessadas pra jogar. Uma delas me disse, possivelmente inocentemente, que só jogaria se fosse meninos contra meninas. Em vez de discutir que, por mais que ela estivesse bêbada, é muito difícil você confundir as pessoas do seu próprio time num touch, onde são duas linhas, uma contra a outra e não há os amontoados de pessoas como hucks e mauls, preferi avisar. "Eu já tirei a minha saia, se colocar de novo, não jogo mais".

Apesar de não ter sido por causa da minha intimada, deu certo. Jogamos um touch estranho, com pessoas desconhecidas e mais gente assistindo do que em campo. Nosso pilar, que não largou a garrafa de cerveja nem pra passar a bola, logo desistiu de jogar e virou juiz. A divisão dos times foi alterada freqüentemente, toda vez que um scrum era formado, para que meninos ficassem contra meninas. E as meninas ganharam! Todas as vezes.

No fim, uma sucessão de hakas, que passou do tradicional do All Blacks a uma adaptação performática da música Acerere, do Rouge. Na volta pra churrasqueira, mais dança, mais risada, mais cerveja. Até que tudo fica quieto. O som acaba, começa a caça aos amigos desgarrados e termina o terceiro tempo. Pelo menos nisso a gente foi campeão.

Saturday, June 02, 2007

Enfim, o aniversário!

Dizem que inferno astral é um mês antes do seu aniversário. Acho que o meu se confundiu e veio depois. Há quase 30 dias enrolo para concluir e postar esse texto, mas agora vai. Aos meus amigos queridos que me mandaram scrap de aniversário, não se sintam rejeitados. Antes de apagar as velinhas de novo eu juro que respondo um a um.

****

Na hora de elaborar o convite, atrasado como tem sido a maioria das coisas ultimamente, veio a dúvida: duas festas, como fazer para que as duas sejam legais e a divisão não fique estranha? Toda vez em que fiz mais de uma comemoração, como no ano em que foram quatro, sempre tinha aquela que era a mais legal. Por isso, já tinha resolvido fazer uma festa só, no sábado. O problema é que, como meu irmão resolveu tocar na véspera, não podia deixar passar a oportunidade.

Para resolver, até pensei em chamar metade para sexta e metade para o sábado, mas esse meu estilo laissez faire (como bem escreveu um amigo), ou simplesmente desencanado, me impede de tomar decisões pelos outros. No fim, o email ficou desse jeito, variando um pouco conforme o grupo:

"Meninos, eis que meu aniversário chega outra vez. Por isso, tenho mais uma desculpa pra ver meus amigos tão queridos, juntamente com seus amigos, acompanhantes e afins (resumindo, levem quem vcs quiserem). Neste ano vão ser duas festas:

Dia 4, sexta-feira, é o aquecimento, com parabéns só a partir da meia-noite, no Riveira Bar. Lá será mais fácil de conversar e vocês podem conhecer o In Flow (banda do meu irmão, que toca rock nacional, mais voltado a Barão Vermelho do que a CPM).

Dia 5, sábado, é a festa oficial, ao som de pop/samba rock e dj, no Café Folclore. A comemoração será em conjunto com mais 3 amigas"

A diversidade de gêneros musicais e de ambiente também ajudou a criar duas festas totalmente distintas. Nos dois dias estavam presentes somente Lucy e a minha eterna companheira de parabéns, um dia mais velha e com quem há muitos anos comemoro o aniversário junto.

Apesar de ter acontecido em um bar, a festa de sexta-feira parecia aquela coisa de família, todos reunidos num almoço de domingo. Amigos de longa data que nem precisavam ser apresentados a papai e mamãe, que aproveitaram o show do meu irmão para cantar parabéns com a rebenta mais velha. Meus tios e minha prima também passaram para ver a grande evolução da banda In Flow. Aliás, uma das boas coisas de estar mais velha é poder reunir pacificamente família e amigos, sem aquele mal estar adolescente. Quando meu pai passou reto por mim no dia do meu aniversário para dar os parabéns para minha amiga (já que nem tinha percebido que era quase uma da manhã), a mesa inteira deu risada e concordou quando alguém disse "É, a gente percebe que é de família".

E esse clima sossegado tomou conta da maior parte da noite. Antes das 2h, cantamos parabéns com velinhas rosa e branca, para combinar com os 24 anos. Em seguida, alguns foram embora e veio o show. Enquanto esperava o pagamento do cachê e a retirada dos instrumentos, passei a madrugada conversando com um dos amigos mais sinceros que existe - mesmo que ele ache que ser sincero seja meio gay. Na hora de ir embora, pra mostrar que não mudei nada com a nova idade, derrubei o bolo em cima do meu amigo, por sorte - e por pouco - só no ombro. Entretanto, meu irmão parece que não ligou e acabou com o doce logo em seguida.

Entre colocar os pés em casa, dormir e sair para o treino de basquete não perdi mais que 3 horas. Cheguei atrasada, o treino atrasou mais ainda, mas deu para tirar um pouco da ferrugem e ainda ir para o rugby. Na maratona, eu e Lucy invictas. Ariel começou dos boxes, no treino de basquete, e Lina só deu uma voltinha na pista, passando pelo Villa Lobos. Como presente de aniversário, um elogio do coach ao time feminino, que melhorou a linha, e um montinho, que graças ao céus não teve muita adesão. Depois de um rápido pit stop com cheiro de terceiro tempo, fui para casa para a maratona da família: almoço com os pais e visita à outra aniversariante (em uma mesma família, três fazem aniversário no mesmo dia).

Parte 2

Chegando em casa, mais duas horas de sono. Levanto, escolho uma roupa e vou para a festa, onde minhas duas amigas aniversariantes (a do dia anterior e a nossa quase-Jones) já me esperavam junto com Lucy e Ariel. Às 22h, o bar estava vazio. A banda começava a tocar pop rock e não havia a menor indicação de que a noite ia ser tão boa. Lucy, depois da festa, até comentou "Achei que tivesse mais pessoas conhecidas, mas era só a gente de sempre", com alguns bons acréscimos, é verdade, mas mesmo assim a gente fez uma zona.

Nossos queridos pilares chegaram cedo e cedo foram embora. O coitado atropelou uma moto e agora o ânimo diminui. Lana, acompanhada do nosso querido "ponta-1o,2ocentro-fullback-abertura", chegou logo depois. Em seguida, vieram os amigos dele. Um deles que, inclusive, comemorou o aniversário conosco. Minha maninha, que eu tanto adoro, também esteve presente empolgadíssima como sempre.

Na mesa, um drink verde passava de mão e mão seguido de uma careta. A mistura de tequila, leite condensado, abacaxi e curaçau blue resultou em algo com "gosto de festa de criança", como bem resumiu a pilar. "Pra variar", como diria Lucy, eu gostei da bebida.

Sabe aquela coisa que você experimenta a primeira vez e acha estranho, mas já que está ali você experimenta de novo e de novo até que gosta? Bem, essa é a Micareta.

O troca-troca de lugares para conversar foi o estopim para que logo as pessoas fossem em direção à pista. Durante o intervalo da banda, nossa rodinha tomou conta da frente do palco e, quando os músicos voltaram, lá continuamos. O parabéns que não foi cantado pela banda do meu irmão - já que ninguém se dispôs a tirar - teve no Café Folclore uma versão em ritmo de samba!

Ao longo da noite a empolgação foi aumentando em proporções gigantescas. Tackles eram dados no meio da pista e até o vocalista da banda perdeu a compostura, e precisou segurar a risada, quando viu a bundada delicada entre duas das aniversariantes.

Uma pequena pausa para champagne e parabéns com bolos de chocolate e velinha sem número, só com a imagem de quatro princesas (Branca de Neve, Bela Adormecida, Cinderela e Bela) para quatro garotas - e também para um garoto, que acabou assoprando as preferidas da Disney sozinho, logo em seguida.

Na volta, dançamos até o chão e pulamos quaase até o teto. A noite só acabou quando apagaram as luzes e desligaram o som. Se fosse um pouquinho mais tarde nem isso teria feito diferença, pois já estava quase claro e a nossa voz havia tempos estava mais alta que a música do dj - para comprovar, um vídeo, por sorte bem escondido, com algumas pessoas cantando e dançando funk no palquinho.

Na hora de pegar as coisas, descubro que perdi meu celular, deixado displiscentemente em cima da mesa, antes cheia, agora vazia. Lógico que poderia fazer mais uma daquelas relações complexas envolvendo aniversário, mudança de idade, perda de telefone, alteração na forma de ver o mundo e se comunicar com os outros... mas acho que a explicação mais simples é que tenho muito mais a aprender com a minha versão masculina do que simplesmente dançar forró, apesar dele e do amigo aniversariante terem me proporcionado uma evolução enorme. "Só falta o básico", bem disse Lana Banger.

Friday, June 01, 2007

Superação

"Alguém se habilita a falar sobre superação?"
Não pude recusar a sugestão da Patty Mary Jones, minha irmãzinha querida.
Além do mais estou em dívida com o blog, só escrevi um único texto. E nesse tempo aconteceram tantas coisas.
E de pensar que tudo isso começou do fim.
No fim do meu relacionamento com a pessoa que mais amei na vida (amor de homem/mulher, não de mãe/filha). Para ele, uma decisão nossa. Para mim, completamente dele. Simplesmente não agüentou barra e foi pelo caminho mais simples. Ou vai dizer que é mais fácil resolver um grande problema do que simplesmente eliminá-lo?
Os homens são muito mais fãs da praticidade. Se não funciona, o caminho é dar um tempo. Eu, pelo menos, nunca desisto de nada. Tenho essa visão ridícula e romântica de que, quando se ama de verdade, sempre há uma solução.
Lembranças, sonhos, desejos, carências, tristezas profundas e a crença de que o nosso lugar não era longe um do outro. Acho que é por isso que sofri tanto e por tanto tempo. Mas quando as pessoas deixam de se amar, elas também deixam de se preocupar com as palavras ou gestos. Magoar o outro não incomoda tanto, passa a ser uma espécie de diversão voyerista do sofrimento alheio. E um bom remédio para o ego. O que afasta cada vez mais um do outro.
A gente ter se conhecido na hora errada? O caminho é dar um tempo até a hora certa chegar? O momento certo é a gente que faz.
Mas como esse texto é para falar de superação e não de sofrimento, eis meu turning point.
É um trecho de uma música da Cássia Eller. "Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre, sempre acaba". E ela tava certa. Amigos, família, todos falam. Mas é a gente, sozinha, que se dá conta de que a esperança só existe se ela for alimentada. E que a decisão de alimentá-la é completamente pessoal.
E não é que o sol volta a iluminar nossos dias?!
De repente as lágrimas secam. De repente cai a ficha de que a vida é muito curta para gastá-la sofrendo, e que tem tantas coisas boas pra gente descobrir, tantos sentimentos... Simplesmente não podemos perder tempo com sofrimentos.
E tudo volta a ser simples, as pequenas coisas voltam a trazer o sorriso, as pessoas queridas, aquelas que a gente sabe que nunca vão nos deixar, são ainda mais queridas. Que bem faz a vida!
Um abraço carinhoso de um amigo já é suficiente para percebermos que não estamos abandonadas no mundo.
No primeiro olhar do sexo oposto, dúvida, insegurança, até um pouco de vergonha. "Ah, acho que estou enferrujada". Mas como é bom correspondê-lo.
E depois de tanto tempo, um beijo, um abraço, um carinho...
A vida é boa demais para sofrermos tanto.

Friday, May 11, 2007

Aprendendo com a girafa

Uma das perguntas que mais me fizeram - e até hoje fazem - é "você gosta de ser alta?". E sim!!! Eu adoro ser alta. Apesar de todos aqueles poréns, como encontrar homens também altos ou sapatos número 40, acho que nunca cheguei a criticar essa parte do meu código genético.

Quando era mais nova, confesso que não era tão confiante. Não usava salto alto e ainda acolhi o pedido de mamãe de jogar vôlei, "que é mais bonito. Você já é alta. Vai jogar basquete e ficar mais grande ainda". Lógico que ela tava falando só porque nunca viu graça nas pessoas se batendo e correndo de um lado pro outro pra acertar a cestinha, mas pedido de mãe, principalmente quando se tem 13 anos, a gente não discute (pode até não aceitar, mas nunca discute).

A questão é que só fui voltar a treinar basquete no 3o ano da faculdade. Até então, minhas idas e vindas com o volei não foram suficientes nem pra que eu aprendesse a sacar (já que descobri que a partir de uma certa idade "sacar por cima" se torna redundante).

Hoje, apesar de ainda me considerar uma vaca, amigável e avoada, e não uma girafa, a meu ver, com um ego absurdo apesar da sua esquisitice (questão levantada naqueles jogos de "com que bicho você se parece"), já ostentei por um bom tempo um namorado um pouquinho mais baixo (o que foi uma das maiores provas à minha auto-estima), dentro meus sapatos de salto alto tenho um de salto fino de mais de 8 centímetros, que usei pra sair correndo junto com Lucy no meio na formatura desse ano, adoro a posição de pivô e, mesmo quando ando com amigas bem mais baixas, dificilmente lembro dessa diferença.

Hoje, entretanto, foi um dia em que percebi o mal que podem fazer alguns centímetros. Com o dia de folga, fui ao banco no meio de The OC. Pensei, em menos de 15 minutos volto. Entrei na agência para fazer o depósito. Uma, duas, três vezes deu erro no auto-atendimento por causa de um código bancário, um tal de OP que tive que chamar a funcionária para descobrir.

Além disso, havia o problema do teclado bancário. Talvez o motivo do banco tê-lo colocado em posição inversa à do telefone seja por segurança. Talvez tenha sido por estupidez. Para piorar, tem aquele telhadinho que fica em cima do teclado. A tampinha usada para que as pessoas que ficam atrás na fila não enxerguem os números digitados me ajudou ainda mais a parecer uma asna - dessa vez, nem vaca, nem girafa - em frente ao computador.

Por causa da inclinação, para conseguir enxergar, toda vez tinha que dar uma leve agaixadinha. E como a cada erro por causa do OP a minha vontade de fazer tudo direitinho diminuía, no final, já fazia tudo correndo e errava ainda mais. Os erros foram tantos ao ponto de provocar a entrada em manutenção de uma das máquinas.

Quando troquei de terminal, acho que finalmente tinha me acostumado à localização esquisita das teclas. Cerca de 10 minutos depois de ter começado a primeira transação (o normal é uns 30 segundos), fiz meu depósito, respirei e fui embora, cabeça erguida, fingindo, para todos os efeitos, que a culpa era do outro computador. Afinal, mais importante que aprender a andar de salto é não descer nunca mais dele.

Saturday, April 28, 2007

Que graça tem o círculo?

de volta ao blog

Já faz muito tempo que enrolo pra escrever de novo. E olha que não posso nem reclamar de falta de tempo. Nesses... provavelmente meses que fiquei longe do Era Uma Vez até falta de internet teve no trabalho - e se tratando de um site de notícias isso siginifica que fiquei sem ter o que fazer. Também não posso reclamar de falta de baladas. Elas existiram. Só eram... perfeitinhas demais.

Eu, Lana ou Lucy já escrevemos uma vez sobre a balada perfeita. Mas quem leu o texto deve se lembrar que ela foi perfeita: 1 - porque conhecemos jogadores de rugby (e percebemos que era o destino nos chamando pro jogo) 2 - porque acabamos em uma outra balada ainda mais louca que a primeira 3 - porque nada foi como o planejado. Essa é a graça de tudo. Com baladas, amores, histórias em geral.

Li no orkut de um amigo, na parte de relacionamentos, que a mulher ideal para ele é uma mulher imperfeita. Comecei a dar muita risada e achei aquilo "lindo", como diria Lucy. Agora, explicando esse título bem estranho, vai uma analogia mais esquisita ainda, daquelas que eu devia ter vergonha na cara e editar enquanto ainda é tempo, mas que se eu não postasse ia ficar com aquilo na cabeça, então além de escrever, quase desenho.

O círculo é a figura geométrica mais perfeita que existe, inteiramente proporcional. Porém, não encaixa em nenhuma outra. Enquanto losangos, trapézios e afins se unem em suas arestas, o círculo se basta. Para isso é só lembrar do Tangram, aquele jogo japonês de montar desenhos com sete figuras geométricas, sendo que nenhuma delas é um círculo. Acho que não é preciso me alongar muito mais. A experiência própria fala por si só - não sei quanto aos homens, mas qualquer menina com mais de 10 anos já percebeu e tem alguma história para contar de quando um defeitinho ou outro chega até a ser um charme.

Agora, voltando ao assunto principal, a balada funciona do mesmo jeito. Nesses meses todos fui junto com várias Jones no desfile da Mocidade, encontros na casa da nossa querida pilar, uma festa à fantasia, um lugar onde o flashback contagia pessoas de 25 a 50 anos, botecos mais tranqüilos, agitados e muito mais. Todas muito boas mas sem algo de diferente pra se contar (com raras exceções, como roteiro de carnaval que fiz com a Lana, mas esse passou a época).

Mas então eis que na quarta-feira pré-Páscoa Lana (sempre Lana rsrs) me chama pra uma balada de psy, coisa que há muito tempo não ia. Já na fila conheço uma das personagens da época de faculdade, uma figura cujo filme favorito é o de um homem que passeia pelo centro da Terra dentro de uma bolha, se alimentando da árvore da vida. Pra piorar (ou melhorar) essa teoria não é só somente obra de admiração. Anos antes da tal obra-prima cinematográfica ser lançada, ele mesmo já tinha escrito um livro inteiro sobre a existência da tal planta miraculosa, que parece feita de bolo de capuccino.

Depois de muito tempo na porta, meia double catuaba e música boa ajudaram a trazer de volta a empolgação. A aula de psy de Lana Banger então, maravilhosa. Nunca tinha reparado a existência de barulhos de morcegos e de risadinhas escondidos no dark psy e... no outro que eu não sei o nome.

Em certo momento a perspectiva muda. Impressão ou não, já começava a achar que as pessoas não eram tão alternativas (o tal "povo de corrente" que nossa amiga tanto abomina também marcou presença). Até que, de repente, bebendo um líquido quase tão brilhante quando as faixas fluorescentes que decoravam o lugar, aparece a segunda figura da noite.

Empolgadíssimo, o cara grande e desengolçado dançava levantando o joelho até o peito. Em um dos momentos passou a imitar uma locomotiva, puxando a cordinha e tudo. Não é demais relembrar que isso acontecia dentro de uma casa noturna da Vila Olimpia. Mas a felicidade dele era tanta que até as duas Jones entraram na brincadeira - queria ver receber um tackle correndo com os joelhos levantados daquele jeito.

Como era apenas quarta-feira, fomos embora cedo. Pela mesma porta em que saíamos, outras pessoas entravam. E a balada que estava longe de ser perfeita se tornou memorável, tão especial quanto aquela mancha de tinta toda torta, que em nada se parece com uma bolinha perfeita, mas que em momentos de distração a gente fica horas admirando, tentando relacionar com uma estrela, um palhaço, ou qualquer outro objeto conhecido.

Wednesday, February 21, 2007

"eu vou a pé pelas ruas da cidade"

Aos poucos o batuque dos 75 tambores femininos chamou o público para o início da festa. Passava das dez quando os fogos de atifício marcaram a saída da rua major Quedinho, no centro de São Paulo, do grupo afro Ilú Obá de Min, parte de uma ONG que busca preservar e divulgar a cultura negra no Brasil. Com a temática para o carnaval 2007 de Panteão dos Orixás, a bateria tinha a sua frente cada uma das divindades cultuadas pelo candomblé com uma novidade a mais neste bloco de rua. Equilibrados sobre pernas de pau, o grande patrono do grupo, o guerreiro Xangô, era seguido por Oxalá e Iansã, que iam cantando e dançando para que todo o cortejo os visse. Foram cantados todos os pontos do candomblé. Cada orixá tem o seu e normalmente quando ele é tocado, os filhos daquele santo entram em transe. Mas, a festa não era num terreiro e sim no meio da Coronel Xavier de Toledo, onde o povo parava o trânsito e o carnaval pedia passagem, por isso o representante de Xangô não se fez de rogado quando seu ponto foi entoado e com as tochas que estavam em sua mãos cuspiu fogo para as pessoas conhecerem a força do guerreiro. Achei a maior graça de dançar no meio da rua porque era tudo muito espontâneo o que evocava um estranho senso de liberdade. Tanto que, de repente, quando precisaram, lá estava a gente se juntando ao cordão de segurança para dar espaço aos integrantes do grupo. A polícia se manteve presente o tempo inteiro, mas longe. Quando a batucada chegou ao auge na Igreja do Rosário, Irmandade dos Negros, era uma da manhã. O nosso grupo decidiu prosseguir o papo pela madrugada numa padoca assistindo ao desfile das Escolas de Samba. Para o intuito decidimos caminhar até o Bexiga, conhecidissimo como o berço do samba em São Paulo. No sábado, a cena se repetiu em outra parte da cidade. Agora, era a Fradique Coutinho, na Vila Madalena, que ouvia uma multidão espantar os frequentadores dos bares naquela noite chuvosa ao som de maracatu. Isso mesmo, os batuques dos meninos fantasiados, porque não, de meninas, com vestidos e blusinhas rosas, era batucada das boas. Depois do percurso que incluiu uma passada pela Mourato Coelho e Aspicuelta, o pessoal foi parar numa balada para escutar um DJ muito louco tocar Gil e logo em seguida Jamiroquai. O começo de noite logo ganhou a madrugada.

Thursday, February 15, 2007

O batismo

Esse texto já vem sendo prometido por mim, uma quase-jones, há alguns meses. A mesma desculpa me fez adia-lo: tempo, ou melhor, a falta dele.

Nesse meu batismo, nada melhor do que começar pela apresentação.
Sou Ariel Jones. Sim, Ariel por causa da Pequena Sereia, minha princesa favorita; que vem da Disney, meu lugar favorito no mundo inteiro - Só fala mal quem nunca foi!!! E acreditem, isso já diz muito sobre mim.

E já que o ano está começando, nada melhor do que cumprir uma das muitas promessas de ano novo, e escrever um texto para o blog as Jones.

Ano novo, vida nova. É o que costumam dizer e que eu estou fazendo um tremendo esforço para acreditar. Não que 2006 tenha sido um ano ruim. Fui contratada no lugar onde queria trabalhar, e trabalhei muito muito muito, tive uma formatura inesquecível, trabalhei muito muito muito, consegui passar um diazinho no Juca, trabalhei muito muito muito, teve Copa do Mundo na Alemanha, Mundial de Ginástica em São Paulo (sim, vi Marian Dragulescu e Elena Zamolodchikova de pertinho) e tantos outros momentos especiais.

E outros tantos momentos de tristeza. Quanto tempo é necessário para deixar de amar uma pessoa? Quanto tempo precisamos para superar a perda de um grande amor? Quanto tempo ainda mais haverá de sofrimento?

Como escrever sobre isso não alivia para o meu lado, vou começar a cumprir outra resolução de ano novo: não pensar para não sofrer.
Esse é o único e doloroso caminho que tenho para chegar lá.

E daí é que vem mais uma promessa. Por milhares de motivos passei
muito menos tempo do que gostaria com as minhas amigas. Mas quem
diabos é melhor do que elas para alegrar a minha vida e amortecer
esse longo caminho?

Um exemplo? Acabo de receber um horóscopo via e-mail, da minha
amiga Lucy Jones:
LEÃO - Vários planetas incentivam o amor, siga o coração,
apaixone-se e inaugure uma nova era na vida íntima ... Mudanças no
estilo de vida incluirão novas atividades no cotidiano (e viva o
rugby!).

Mesmo sem perceber, ela me ajuda... Todas me ajudam muito. E nada,
excesso de trabalho, cansaço, Jogos Pan-americanos e até mesmo um
novo Eric (para quem não conhece, é o príncipe encantado da Ariel)
irá me afastar delas.

E assim chega ao fim esse meu primeiro texto, tão sem rumo como
está a minha vida.

Mas sobrevivi ao meu batismo, e acho que agora já posso ser
considerada uma legitima Jones!


Sunday, February 04, 2007

À procura de um herói

Texto que já estava pronto há um bom tempo, esperando pelo post-estréia de nossa nipoJones, que também já está pronto, e em breve aparecerá nesse site

***

A semana seguinte ao dia 12 de janeiro foi marcada pelo acidente conhecido como o buraco da Marginal. Enquanto equipes de 30 bombeiros cada se revezavam debaixo da terra para tentar resgatar as vítimas, dezenas de jornalistas ficavam de plantão nas escadarias da estação CPTM de trem à espera de notícias.

Por três dias eu estive entre eles. E como notícias não são só o que está acontecendo neste momento aproximadamente às 16h o pessoal da redação me liga pedindo que encontrasse um personagem em especial: o operador que estava trabalhando no alto da grua (espécie de guindaste) que quase caiu no buraco na hora do acidente. Como a direção do consórcio tinha instruído os funcionários a ter o menor contato com a imprensa, pedir ajuda ao assessor era inútil e o jeito era ver se um dos operários sabia pelo menos o nome do moço que viu todo o acidente de cima e por pouco não foi mais uma vítima.

Saí feliz do cercadinho feito para jornalistas, uma espécie de chiqueirinho para crianças delimitado por faixas da CET, e fui esperar a passagem de operários da Via Amarela, já que o lugar onde eles ficam é bem afastado, permitido somente para funcionários. O problema é que ele saíam muito pouco. A troca de turno, conforme descobri depois, tinha acontecido há cerca de duas horas. Mesmo assim consegui conversar com mais de uma dezena deles. Meio receosos, apesar de nem todos conversarem numa boa, tive alguns bons papos. O único problema é que não achei um que estivesse trabalhando no dia do acidente.

A Via Amarela possui 26 frentes de trabalho divididas em todo o trecho a ser construído do metrô. Com o acidente todas foram enviadas à estação Pinheiros, o que tornou minha busca ainda mais difícil. Não bastava só falar com os operários, tinha que ser o operário do setor certo. Como a oferta de operários era pouca, mesmo que não soubessem nada, continuava conversando com os que estavam por lá. Quase uma Maria Concreteira, se é que esse termo existe. Com um deles o papo durou mais de meia hora. O seu nome é F***.

No final do meu plantão, encontrei com ele de novo. Já cansada, pergunto brincando: "Poxa, F***, nada de descobrir o nome pra mim?" Já tinha pedido outras vezes, mas ele não sabia e nem pensava em se expor tentando descobrir. Por isso, mais uma vez, deu uma risada meio tímida e negou. Mas talvez incentivado pelo amigo que estava do lado, resolveu em segredo me ajudar.

Cinco minutos depois estava no telefone com o pessoal do trabalho quando F*** passa na minha frente sem nem olhar pro lado. Em seguida, o amigo passa e me diz entre dentes: "vai atrás dele que ele vai te dar o nome. Mas disfarça". Empolgadíssima, desliguei o telefone e saí correndo atrás de F***. Já eram quase 10h da noite, o lugar estava bem menos movimentado e muito escuro. F*** se escondeu atrás da tenda da CET onde não havia ninguém e eu fui atrás - o que depois ia me render uma bela bronca da minha mãe, que ficou toda preocupada com o que pudesse ter acontecido.

Muito sério, ele me entrega um papel dobrado sem nem olhar direito pro meu rosto e me diz baixo e muito rápido "olha, não fui eu quem te deu. Lê e queima depois". Ainda fui me justificar "ah, imagina, eu falei com tanta gente, ninguém nem vai imaginar que você", mas antes de eu terminar a frase ele já estava longe. Abro o cartão toda feliz, mas quando olho...

"Ricardo"

Só "Ricardo". Sem nome, apelido, nada. Com aquele quantidade imensa de operários o que eu ia fazer com o primeiro nome só? Quase saí correndo atrás de F***, mas ele ja estava longe, disfarçando, como se tivesse cometido o maor dos crimes. Liguei de volta para a redação e contei a super descoberta, que provocou muitos risos do outro lado da linha.

Mais de quatro horas conversando com todos os operários que vi pela frente, um super esquema de entrega de informações para ter só o primeiro nome. E se ainda fosse Wandcleison, Iarlei... até poderia ser. Mas Ricardo?

Dois dias depois saiu no Estadão uma entrevista com o moço da grua, que não chama Ricardo, mas revezava na grua com ele. Por isso a confusão. Dizem que ficou muito boa, eu ainda não li. E ao contrário do que tinham me dito (que ele estava de licença depois do susto), o operador da grua continuava trabalhando após ter descido mais de nove metros com o equipamento super inclinado, carregando não sei quantos quilos de areia nas costas. "Um verdadeiro herói" segundo quem leu a entrevista.

Sunday, January 21, 2007

Pendências

Uma semana antes do Natal minha casa entrou em uma pequena reforma, que além de acabar com toda a minha rotina me provocou uma alergia forte. Essa, transformada em resfriado, me deixou uns bons dias em casa. O despertador, fiel companheiro de todas as manhãs, quebrou na mesma época e até hoje não me entendi direito com o do celular. Esses pequenos fatores se não foram os responsáveis foram a desculpa que precisava pra adiar o meu final e começo do ano.

A viagem

Apesar de ter conseguido folga de uma semana no trabalho, só três dias coincidiam com a dos outros. Por isso resolvi ir com uma amiga de ir pra Ubatuba. Pertinho, assim valia a pena ficar só do dia 30 ao 1o.

Por causa dessa correria de final de ano, só parei para decidir que ia de ônibus pra praia quatro dias antes da viagem. Nessa data já não tinha mais passagem e o jeito era ir até o terminal no próprio dia da viagem e esperar por ônibus extras. Na sexta, saí do trabalho, fui pro bar com uns amigos, voltei pra casa, fiz minha mala e fui pra rodoviária. Cheguei às 6h30 do sábado e só consegui passagem pras 12h15. Pra não ficar esperando todo esse tempo, orientada pelo moço do guichê, fiquei atrás dos motoristas dos ônibus que estavam saindo a fim de pegar um lugar mais cedo. Na terceira tentativa, às 8h, consegui subir.

Do feriado em si nada de extraordinário. A pousada chamava "Sossego do Surfista" e o nome é a melhor coisa dela. Os chalés que a gente alugou eram pequenas suítes com um beliche e uma cama de casal cada. Já os amigos da minha amiga e os amigos dos amigos da minha amiga são bem legais. Andávamos em cerca de quinze. Quanto à musica, o repertório foi um dos mais variados, passando do reggaezinho tocado no violão ao psy da útima balada do ano (que me fez pensar muito em Lana e seu Universo Paralelo). A meia-noite, ao contrário da Lina, passei de blusa branca, como em todos os anos, e biquini por baixo, já que Ubachuva honrou sua fama e branco na chuva não é legal.

Dizem que o que você faz no primeiro dia do ano você repete nos outros 360 e tantos. No meu primeiro dia do ano, depois de um banho de cachoeira e uma corrida de 5 minutos na praia - pra tentar criar um comportamento pró-rugby - voltamos pra São Paulo. Saí da cachoeira dizendo que tinha me energizado. Desde que voltei pra casa, há 3 semanas, continuo me energizando.

Também dizem que o número 7 é cabalístico. Pois no primeiro dia de 2007 demorei 7 horas pra chegar em casa.

Ano Novo

Voltando a São Paulo, as pendências continuavam. Por causa do despertador e da reforma não comprei a agenda - sempre escolhida a dedo. Não tendo despertador não acordei cedo um dia sequer pra ir à academia. Não tendo agenda, acordava (tarde) sem ter um plano definido e até decidir o que vou fazer não dava mais tempo de fazer quase nada. O carro continua funcionando graças ao conserto temporário. Afinal, como vou levá-lo pra arrumar se não tenho agenda pra saber se amanhã vou precisar dele? Não vou trocar meu presente de Natal porque tem mais coisas pra fazer a caminho do shopping e assim quando for já faço tudo junto, mas sem enumerar todas as coisas que preciso fazer acabo não fazendo nada.

Sim, com uma boa argumentação quase tudo é justificável. Mas pra não assumir que tudo era desculpa e já que estava enrolando demais pra começar esse ano, consegui um despertador e uma agenda (doada pela Lucy, o que facilitou meu trabalho já que presente a gente não escolhe) antes de escrever o primeiro texto do ano.

Nova pendência resolvida. Coincidência ou não, essa no dia 21, três vezes o cabalístico 7.

Thursday, January 11, 2007

Do dia que embarquei no jongo

Um pensamento. Minha amiga disse que faltou um pensamento. Para quem acredita que cada lugar, cada espaço tem seu dono, fazer uma viagem sem pedir licença a quem cuida das estradas já é sinal de mau agouro. Uma rezinha que seja. "Não se sai de casa sem um pensamento".

Uma voz doce canta ao fundo. Bela voz feminina entoa um samba triste, o pandeiro lhe acompanha em procissão. Aos poucos, outras vozes se unem a sua cantoria. E, num ritmado compasso de palmas ganham outra lira:

Viver e não tenha a vergonha de ser feliz Cantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendiz Ah meu Deus!, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será mas isso não impede que eu repita é bonita, é bonita e é bonita

E, numa parte, em seguida, que nem eu conhecia, me acordam do meu sono. Entre uma curva e outra, estrategicamente realizadas pelo nosso motorista, com passos de mestre-sala ao redor do quebrado segundo ônibus da excursão que fazia às horas de porta-bandeira, os meus colegas de viagem continuavam a cantar:

O que é, o que é, meu irmão Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo É uma gota é um tempo que nem dá um segundo Há quem fale que é um divino mistério profundo É o sopro do criador Numa atitude repleta de amor Você diz que é luta e prazer Ele diz que a vida e viver Ela diz que melhor é morrer pois amada não é..

Era como um prenúncio do que veríamos. O 11 Encontro de Jongueiros por fim e entremeios não aconteceu inteiramente no Quilombo São José, em Valença, por causa do barranco que invadiu o único acesso a região. Claro que era possível se aventurar à pé, mas com a garoinha que fazia, desde que saímos de Conservatória, não valia a pena se arriscar naquele breu. Por sorte, assim como nós, quatro grupos de jongueiros não conseguiram subir o morro e se aportaram no tímido clube da cidadezinha de St. Isabel para se apresentar. Afinal, descobri o que era o jongo, como era a dança africana que havia nos levada a embarcar nesta viagem e aí entendi o fascínio.

Tamandaré
Guaratinguetá
Piquete
Serrinha

Aos olhos atentos da matriarca, cada um deles exibia a força de suas cores e gingado enquanto a platéia inesperada daquele pequeno clube se apertava para observá-los. Do lado de fora da roda, arrisquei alguns passos, errei outros, mas no meio da história sobre o som dos atabaques me rendi e estava numa espécie de transe que não sei bem explicar. Empresto palavras do autor moçambicano Mia Couto em O Outro Pé da sereia.

A brasileira afastou-se das outras e, conservando o mesmo ritmo, foi rodopiando pelo pátio, ao compasso das batidas no almofariz. Foi acelerando o passo, deixando-se possuir pela dança. Sambava? Os pés ligeiros desconheciam o voltear do corpo. Aos poucos ela estava penetrando no território dos sonhos.

Quando a festa acabou, fomos todos ao único boteco da região. Pedimos para o senhor abrir as portas, nos servir uma cerveja, era madrugada, mas queríamos mais zunzunzun.. Ali, ao lado da mesa de sinuca, nosso amigo de viagem puxava o samba junto com um pessoal animado daquele município perdido de St.Isabel, no Rio de Janeiro. Eu e minha amiga, entre um copo cheio dali e de cá, tentávamos ainda aprender a dançar o jongo enquanto a madrugada avançava.