Wednesday, November 14, 2007

Cuidado com seus desejos...

... eles podem se tornar realidade

"Ah, meninas, sabe que eu fico assim, olhando pra vocês desse jeito. Dá um aperto no coração. Eu me sinto um robozinho vendo uma criança chorar, sabe? 'Como que funciona isso?' Lógico que eu entendo que a gente sofre. Mas se o cara já falou que não vai mesmo ficar com você, pra que insistir? Juro que eu queria só uma vez sentir um pouquinho do que vocês estão sentindo. Assim podia entender e tentar ajudar melhor".

Esse discurso eu fiz inúmeras vezes, sempre que via alguma amiga - Jones ou não - triste pelo ex-ficante, namorado. Por isso, ao ouvir recentemente de um moço que "a verdade é que você se envolveu demais. Você, que sempre se disse tão bem resolvida, se envolveu em um nível maior do que eu", eu pensava, meio desacreditada, "nossa... é comigo".

Na hora, ainda argumentei "é, acho que estava a um passo de, por isso entrei em crise". Mas o fato é que é difícil assumir que ele estava certo. Sempre preguei, pra quem quisese ouvir, que a gente só sofre enquanto quer sofrer. Depois que cansa, passa. Fiquei meses, anos tentando convencer as outras disso. E ali estava eu, tendo que ouvir que tinha me envolvido mais do que o outro numa relação que já comecei sabendo que não teria futuro. E ao perceber, confesso que veio uma pontinha de felicidade em meio a tudo aquilo: não sou mesmo uma pessoa insensível, desapegada. Pelo menos não tão assim.

Já a conclusão do envolvimento é óbvia. A minha maior - única - reclamação no relacionamento era insegurança. E se a pessoa com quem eu estava tivesse demonstrado que estava tão ou mais envolvida do que eu, seria ridículo falar em insegurança. Como não estava... explodi o cômodo.

E não tem jeito, mulher é um bicho estranho, chato. Vê tudo, analisa como quer e tira as conclusões que lhe interessa, mesmo que seja um interesse quase psicótico, como acontece principalmente no começo das relações. Tudo é motivo para desespero. Se não responde mensagem é porque tá com outra ou tá de saco cheio do grude. Se, no meio de um churrasco com algumas mulheres que você não conhece, ele te dá um beijo carinhoso na testa em vez de um selinho é porque tá interessado em outra e não quer que ela saiba de vocês (se não for isso, por que estaria escondendo?). Uma simples crítica de uma amiga pode se tornar um possível motivo para acabar com tudo se vier do ficante. "Ah, não... ele tava me testando e eu não percebi. Pronto, já era. Quem mandou? Da próxima, vê se ouve sua mãe quando ela falar pra não comer com os cotovelos apoiados na mesa. Agora ele viu, te chamou a atenção e não quer mais nada contigo", e por aí vai.

Besteiras assim poluem o pensamento de quase todo o mulherio, provocando uma insegurança absurda. A diferença é que algumas colocam isso pra fora (as namoradas-esposas, normalmente) e outras (as namoradas-amantes) são orgulhosas demais pra isso. Admitir que está com problemas de auto-confiança e estragar a tarde do outro com isso não é uma opção, principalmente quando você não vê disposição dele em ter a chamada DR (discussão de relacionamento). Por isso, a gente vai agüentando, agüentando, até a hora que não agüenta mais. Nesse momento, ou você se prepara pro fim doloroso e devagar, ou sai enquanto é tempo. E daí chegamos ao ponto da fuga.

Apesar de eu falar que queria sentir um pouquinho daquilo que elas estavam sentindo, sei que a única responsável por aquilo era eu. Se só sofre quem quer, só se abre quem quer também. Por isso, bem-aventuradas Lucy. Ariel e Lina, que se doam por alguém sem medo de se estourar depois.

Acontece que ninguém gosta de se machucar. Eu mesma já fugi mais vezes. Dessa vez, com o apito do timer da bomba ecoando na minha cabeça que o meu período tinha acabado, me joguei no abismo que parecia mais confiável. Era possível que o tique-taque da bomba fosse falso, que estivesse somente na minha cabeça, mas quando falava da possível explosão, ninguém me corrigia. Logo, se ninguém nega, é porque o fato existe. Lá no meu inconsciente talvez tenha pensado vou pular. Talvez me machuque sozinha, sem porquê, mas a bomba tá pra explodir e se esperar vou ficar ainda mais angustiada. E tique-taque pára. O tempo acabou. São os segundos de silêncio final. Agora, é só esperar a explosão. O abismo está ali do lado e, apesar de desconhecido, pode representar uma chance de sobrevida. Pulei, com um peso enorme de deixar tudo aquilo pra trás.

Em antigas conversas com homens, percebi que nem sempre para eles esse raciocínio faz sentido. A maioria acha que o certo é pular mesmo, não porque está insegura, mas porque pode ser divertido. Outros, não conseguem entender alguém pirando o suficiente pra se matar desse jeito. Então, só me resta dizer que é por coisas assim que Telma e Louise são mulheres, e não homens. Se fossem do sexo masculino nao se jogariam no rio, mas sim iriam para o meio dos policiais, morrendo por tiros mas em busca de seus objetivos. Já no original, as duas amigas, ao não terem mais a certeza de que conseguiriam executar o plano, perdem o rumo e vão pro suicídio.

Outro problema é que, segundo o catolicismo, quem se mata não vai pro céu nem pro inferno. Fica ali, no limbo, esperando o juízo final. E ele vem. Na hora do acerto de contas, você tenta por horas se justificar, fazer o juiz entender seus motivos. Se precisa, até faz teste de sanidade mental pra mostrar que estava perturbada. Mas ele não entende. Diz que você perdeu o direito. A resposta não é de nem de longe a que você quer ouvir. Mas, quando um não quer, dois não ficam.

"Você me disse que agora eu teria duas opções: mostrar serviço ou pedir demissão. Agora está me demitindo é isso?"

"Sinto muito, eu achei que pudesse ficar com você depois de tudo, mas estava errado. Eu simplesmente não consigo."

Foi nesse momento que tudo fez sentido. Essa não era a resposta que eu queria, que eu esperava. Uma parte de mim dizia que só ia sair daquele lugar quando tudo se resolvesse. Imagina, como acabar tudo desse jeito? Não vai. A gente vai ficar aqui até você mudar de idéia. A outra, mais racional, só pensava em fugir. Não se pode forçar ninguém a gostar do outro, a ficar com o outro. Meus argumentos já tinham se esgotado, meus desejos já estavam à mostra, o que mais podia fazer? Mensagens de celular a gente bem que tenta, mas parece que depois de uma situação mais tensa todas mudam de conotação e só piora. Em parte, porque o espaço é muito pequeno pra colocar tudo (se meus textos são desse tamanho, imagine se eu consigo escrever tudo o que quero em 700 caracteres).

Infelizmente não tenho mais cinco anos pra vencer os outros pelo cansaço (sim, quando eu queria alguma coisa, eu era uma criança muito chata). Então, o que eu podia fazer? Esperar, talvez. Já tinha falado mais do que deveria. Cabia ao outro analisar tudo e ver se valia a pena recomeçar, direito dessa vez, ou não. Me veio, naquele instante a imagem das meninas dizendo que queriam mandar mensagens e eu reclamava que não podiam, não deviam, que isso só ia alongar ainda mais o possível desfecho. Não há nada pior que a impotência e ali eu não podia fazer nada. Fui embora, não pra casa porque, por mais que falar não fosse mudar em nada a situação (já estava tudo exposto. Eu só podia esperar a reação do outro) precisava colocar tudo pra fora. Então, tentando levar na brincadeira, fui falar com Lucy. "Amiga, lembra que eu falava que queria entender vocês? Eu consegui. Mas agora que entendi, tá bom já!"

Sunday, November 11, 2007

A esposa e a amante

Certa vez, uma pessoa me disse que eu tenho muito mais jeito para amante do que para namorada, esposa. Na mesma hora, questionei os motivos da frase e, como resposta, escuto a seguinte frase:

"Você não se apega. Não é fria, mas não se apega - ou pelo menos não aparenta. Namorada, esposa, normalmente dá showzinho, é mais insegura, carente, o que cansa, mas de vez em quando é bom. Já você, não."

Na época, considerei isso como um elogio. Quer dizer, na dúvida, achei que era mais uma coisa boa do que uma ruim. Hoje, já não tenho mais certeza se isso é realmente tão bom ou se ele continuaria certo.

Ontem, em uma conversa recente com Ariel, chegamos à conclusão que ninguém é 100% um tipo ou outro. Todas as mulheres somos amantes e esposas. Temos o nosso jeito principal mas, dependendo da situação, mês ou até dia - dada a inconstância do gênero feminino - a gente pende mais para um lado do que para o outro. Por isso, resolvi fazer uma lista, não de prós e contras, porque a classificação seria no mínimo polêmica, mas de diferenças entre esposas e amantes. Aqui vai:

Para a mulher-esposa todos os momentos são do casal. Por isso, nada de marcar compromissos sem ter falado com o outro primeiro. Não é incomum você ouvir um "ah, lógico, vou falar com Fulano" quando chama sua amiga-esposa pra sair. Já com a amante, o discurso é diferente. Se não tem nada marcado no dia, ela simplesmente aceita o convite. Depois, avisa ao outro "tal dia marquei de ir em tal lugar, quer ir?"

Sempre que não há nada combinado, a esposa volta do trabalho/faculdade direto pra casa, onde vai falar com ele antes de dormir, tranqüila. A amante, acostumada a agitação, se recusa a ir de casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Sai com amigos, vai ao shopping, cinema, o que for. E isso não significa de forma alguma que ela traia o parceiro; simplesmente acha que a vida tem que ter algo mais.

Mulheres esposas fazem o papel figurativo em festas. Ficam sempre ao lado do companheiro em questão, deixando-o mais confiante, trocando carinhos. Podem até beber e brincar, mas sua imagem não se dissocia por mais de um segundo do par. Podem estar um em cada ponta da sala, mas freqüentemente os olhares se cruzam. As amantes, por sua vez, se divertem com amigas, amigos. Dão liberdade ao parceiro e usufruem da mesma. Com isso, às vezes pecam por ficar longe demais do moço.

As mulheres esposas são as mais meninas. Femininas, sabem se portar e são admiradas como um exemplo de boas companheiras. São simpáticas e agradáveis com quem devem ser. As amantes, acostumadas a ficar no meio só de homens, às vezes se confundem com um deles. Bebem, jogam, brincam e riem de igual para igual.

Por participar das festas - e não só acompanhar - as amantes tendem a ser menos ciumentas. Porém, como a liberdade é para os dois, não é difícil que alguém ultrapasse a tênue linha das brincadeiras normais e desperte a insegurança alheia. Já as esposas vivem ao redor do seu homem. Apesar dele ser uma preocupação constante, ela está ali do lado, então não há porque ter medo.

As amantes não entendem como as esposas conseguem ser tão submissas. As esposas não admitem como alguém pode ser tão fútil. Por fim, esposas são as namoradas perfeitas. Amantes, as mais companheiras.

A gente até tenta, mas não dá pra fazer uma ficar no lugar da outra.

Conheço várias esposas que, antes de encontrarem seu par ideal já se depararam com alguém que, para dar certo, foram obrigadas a ser mais espirituosas. A situação cansa quando ela percebe que, por mais que tente ficar numa boa, a atenção dos outros nunca vai ocupar o espaço da dispensada pelo ser amado.

Da mesma forma, forçar uma amante a ser discreta e caseira é o mesmo que colocar um ipê dentro de uma sala de estar. Ela vai se sentindo presa, insegura, murcha. Então, ou morre ou explode o cômodo.