Sunday, August 29, 2010

Um tempinho pra você

No aeroporto de Presidente Prudente, sentados na lanchonete, os cinco trocavam lamúrias a respeito dos compromissos que tinham em São Paulo - e que corriam o risco de perder por causa daquele maldito atraso de vôo, que já durava mais de duas horas.

O meu, só pra variar, tinha a ver com o rugby. O jogo era às 13h, em São José, o que dava o tempo certinho da minha amiga me pegar às 12h em Cumbica e seguirmos direto pro campo, mas isso já era.

Entre os outros, uma das meninas ia pra praia com os amigos e namorado e se lamentava pelo meio final de semana já perdido. Outra, que trabalha para determinado candidato e acabou pagando 600 reais numa passagem alternativa, tinha até as 17h para entregar documentos importantes no TRE. O músico, por sua vez, era esperado em Santo André para fazer a canção de entrada no casamento de seu sobrinho - a cerimônia começava às 18h, mas antes ele ainda precisava ir de Guarulhos até Mogi das Cruzes, para pegar terno e família. Em resumo: todo mundo ferrado. Mas faltava uma. O grupo, então, olha para a última mulher, cuja astúcia e aparente fragilidade remontam a velhinha da Branca de Neve, alguns anos mais nova. "O meu único compromisso é comigo mesma" - disse, de cabeça erguida, mas em tom tranquilo e bem devagar, como de costume, para, em seguida, complementar que "esses são, na verdade, os compromissos mais importantes, não é mesmo?".

Eu ri, mas agora, pensando bem, tenho que concordar.

Para alguém que visa como principal qualidade uma boa conversa, a possibilidade de ficar num quarto pensando na vida, chorando, ouvindo músicas deprês é simplesmente impensável. Além disso, a ideia de uma existência analisada demais, dramatizada demais, soa, no mínimo, muito, mas muito chata. Por isso, acaba que meus únicos momentos de introspecção são dirigindo ou tomando banho. Desses, como a água não é um bem que eu desperdice sem peso na conscência, sobra o carro. Fechada dentro daquela caixinha de metal, sem ter com quem conversar, as ideias fluem.

Se dirigir e escrever fosse tão fácil quanto dirigir e se maquiar, ou dirigir e pintar a unha, esse blog estaria muito mais atualizado. Como não é, só aparece texto novo quando uma das Jones tem tempo livre ou entra em catarse, com um daqueles sentimentos fortes - bons ou ruins - que só assentam quando colocados no papel, fazendo do blog quase uma autoterapia.

Um exemplo é esse texto. Há meses tenho tentado me policiar pra escrever mais, retomar os relatos, mas o trabalho, o rugby e as saídas - cada vez mais esporádicas por conta dos dois primeiros - tornam a tarefa mais e mais difícil. Até que hoje, depois de um final de semana com mil contratempos, mesmo com site pra fazer, matéria pra terminar, unha, depilação, bar, decidi parar um pouquinho.

O objetivo não era falar de casos singulares de tristezas ou de felicidades (principais inspiradores de textos), mas da importância da gente se dar um tempinho pra resolver essas questões consigo mesmo e, assim, quem sabe, dar o pontapé para a retomada deste lugar tão querido.