Tuesday, September 21, 2010

Quando a realidade supera a ficção

Como diz Ariel, se nossa vida fosse um filme não seria tão louca. Isso vale para n episódios, mas, para exemplificar, vou me situar em uma determinada semana – a mesma semana mega estressante citada no último texto e que, naquele momento, tinha apenas começado.

No sábado, depois de perder o jogo, fui para casa e saí com Ariel e Lucy. Voltei de madrugada, com meu pai acordado, como de costume. Três horas depois de ter deitado, todo mundo acorda.

Meu irmão estava na delegacia. Tinha bebido, bateu carro, o motorista veio tirar satisfação. Pra não arranjar briga, fugiu. O cara foi atrás. Meu irmão bateu de novo, justo perto de um viaduto cheio de mendigos. A polícia, que tinha sido chamado pelo carro perseguidor, chegou, mas já era tarde. Ele, bêbado, já tinha saído do carro com os moradores de rua atrás. Tentou pular o muro, caiu no chão. Foi pra delegacia na viatura, recebendo pelo caminho três vezes maior do que o necessário o tratamento VIP reservado a delinquentes.

Quando chegamos na DP, o carro estava destruído por chutes e pontapés. O vidro de trás com um buraco do tamanho de uma bola de futebol e vários amassados enormes e profundos nos quatro cantos da lataria. Meu irmão, mancando, todo ralado e com um corte na mão, tinha acabado de voltar do IML, onde tirou o sangue que deve ajudá-lo a perder a carta. No Boletim de Ocorrência, “bateu depois de dirigir embriagado e nada mais".

No domingo, preferi nem sair. A bruxa está solta, disse meu pai, completando que quatro situações limite em dois anos (contando com minha tentativa frustrada de enfiar o carro debaixo de um caminhão há cerca de dois meses) não é para qualquer família.

Tentando resolver os problemas decorrentes, a semana passou. Demorada, comprida.
Na 5ª, enfim, chegou o dia do show. Victor e Leo, o primeiro dos novos sertanejos que conheci, fixação da minha amiga virginiana, comprado pela amiguinha loira do rugby há mais de quinze dias.

Para evitar fazer besteira, optamos todas pelo táxi. Na saída, a amiga mais velha ainda comentou o alívio que deve ser para os pais verem os filhos indo de táxi, sabendo que vão voltar seguros, sem o perigo da direção embriagada.

Como de costume, bebemos na pizzaria da esquina até pouco depois da meia-noite. Chegamos no início do show, nos perdemos e nos encontramos no final, no fumódromo, possivelmente único lugar onde era possível escutar o celular.

A quebra da trilha sonora marcou também a mudança de ritmo da história. O tal turning point, como diria uma ex-professora.

Cena clássica prévia a brigas, de repente todas as pessoas começam, cada uma a seu tempo a sair de um determinado ponto, olhando pra trás, se amontoando nas laterais do local. Porém, contrariando o que acontece nesses casos, nenhuma delas olhava assustada para o ponto em questão. Muito pelo contrário, as expressões eram quase de descrença, ou melhor, de desprezo.

Enquanto o segurança de 1,90m de altura dava uma chave de braço no infeliz, que nem podia ser visto dado o tamanho do moço que o segurava, o baixinho ali atrás dava pequenos pulinhos para socar o coitado por cima do cara de preto. Cena ridícula. Grande parte do fumódromo começa a reclamar. Afinal, “com o outro segurando até eu bato”.

E o moço tinha orgulho disso. A menina, junto com ele, em vez de se envergonhar, diz que ele bate com o outro segurando meeeesmo. Como é que se pode argumentar com alguém que assume ser frango? Enquanto discutia com a garota, levei um soco na testa do próprio cara - soco de menina, de um playboyzinho de duas décadas atrás que nem bater direito sabe. Se soubesse, teria sido mais fácil fazer alguma coisa, mas com um punho daquele, nem marca ficou. Mesmo assim, a vontade era voar pra cima. Enquanto tentava passar pelos três seguranças que "me protegiam" contra o pigmeu, veio outra tentativa de soco, dessa vez de menina de verdade, que de tão fina chamou minha amiga de puta rampeira. Rampeira, não sei, mas o adjetivo com certeza deixou minha amiga puta de verdade.

Fui pra fora, decidida a ir pra delegacia. O segurança do cara, que segurava o moço do começo, veio conversar e chorou junto comigo - eu, nervosa por causa da tpm, ele porque não consegue ver mulher chorando. Depois de muito, fui convencida pelo moço que apanhou - que, assim como um monte de outros que conheci recentemente, era tenente da polícia militar - a não fazer denúncia na hora, porque ia me cansar à toa. Mas, já que a viatura estava por ali, a balada tinha miado e eu estava nervosa demais pra dormir, minha amiga descolou uma carona até a casa dela, onde ficamos até as 7h, pra conseguir acalmar da noite agitada.

No banco de trás da blazer, minha amiga agarrava o braço do policial, que segurava uma arma em posição, apoiada na coxa direita. Quando, ainda no carro, contei da existência do trabuco, ela assustada, perguntou, já quase confirmando, se estava desengatilhado. "Imagina, tá na agulha! Isso daqui é um alvo ambulante", respondeu o moço, rindo. Era só o que me faltava. Naquele momento, já me imaginei no meio de um tiroteio, dentro de um carro de polícia. Pior do que o risco de ser atingida seria ter que explicar a história toda pros meus pais. Mesmo assim, chegamos ileasas.

No dia seguinte, depois de ir até uma delegacia para o tal BO, descobri que fazer denúncias fora de flagrante são mais complicadas do que parecem. Mesmo em delegacia da mulher, que só funciona de segunda a sexta em horário comercial, tem que ir à específica da região, sabendo nome e endereço do agressor. Acabei desencanando.

Em vez de passar meu feriado cultivando raiva contra o anão playboy, passeei, descansei, fiquei mais leve. Quando tive tempo, vi algumas das minhas séries favoritas: CSI, NCIS, Bones, Private Practice, Grey’s Anatomy e por aí vai – todas essas policiais ou de emergências médicas. Impossível como não relacionar. Aparentemente, a fronteira entre realidade e ficção está ficando tênue demais.