Thursday, January 31, 2008

Quando o sentimento acaba

Incrível como um rosto que antes era tão querido hoje representa tão pouco. Aquele brilho no olho que parece querer entrar dentro de você, que te conhece tão bem, não recebe mais reciprocidade. Ao contrário, parece uma invasão, causa desconforto.

O toque meio sem jeito, as palavras de carinho, balbuciadas quase como pedindo licença - já que não há mais intimidade pra isso - continuam ali... no fundo, são os mesmos, poderiam ser confundidos com aqueles do começo da relação. Mas não. Alguma coisa dentro de você mudou. E o que antes provocava risos, alegria, hoje não é mais do que uma situação esquisita.

No lugar daqueles sentimentos há somente um vazio. Você lembra de tudo o que sentia, mas não consegue encontrar nem ao menos resquícios. O pouco que sobrou, se é que sobrou alguma coisa, traz um sentimento amargo, tal como aquele gostinho de chocolate que ficou horas na boca e em nada se parece mais com o doce original.

Ver a pessoa antes tão querida e não sentir mais vontade de pular em seus braços, trocar carinhos. Sentir até mesmo repulsa em imaginar essas cenas provoca um turbilhão de sentimentos diferentes dentro da gente, uma massa podre que queria arrancar de dentro do peito, uma angústia.

Como tudo aquilo pode ter sumido? Será que não foi de verdade? Duvidamos de nós mesmos, dos sentimentos que dizíamos ter pelo outro. Falsidade? Confusão? Coisa de momento.

As flores, antes favoritas, ganharam um significado ruim depois de terem ilustrado tantas voltas pós-briga. As orquídeas nunca mais serão as mesmas.

Talvez não seja mesmo culpa de ninguém. Simplesmente não deu. Mesmo assim, a falta desse sentimento nos deixa tristes. É como se gostar de alguém nos fizesse pessoas melhores. Por isso a dificuldade e a tristeza ao percebermos que realmente acabou.

Wednesday, January 30, 2008

Liberdade demais enlouquece

Dizem que a melhor (ou talvez única) forma de segurar um elefante é acostumá-lo desde pequeno às correntes. Se você mostra ao filhote que não adianta, que, por mais que ele tente, não vai conseguir fugir, ele uma hora cansa. O bicho cresce, mas não percebe que já pode estourar aquilo. Por maior que ele seja, não vai ser preciso aumentar os ferros proporcionalmente.

Em muitas famílias, a menina, principalmente, se comporta como um elefante. Quando pequena pede mil vezes pra sair, voltar às 5h, 6h da manhã, dormir fora de casa. Algumas estão tão acostumadas com a rédia curta dos pais que, com o tempo, acabam evitando pedir para não criar desentendimentos. "Eu sei que eles não vão deixar, então pra que vou arranjar briga à toa?".

Mulher e ainda por cima filha, neta mais velha, ou eu acostumava ou não saía. Acho que não preciso dizer o que aconteceu. O simples tema desse blog já mostra o caminho escolhido. Estourei as correntes, mas continuava com o resto dela amarrado na perna, como se fosse uma ligação simbólica com o circo.

No começo, minhas saídas eram só shows, durante ou no final da semana. Depois, baladas - todo final de semana, já que morava ali do lado, mas só de final de semana. A fama de baladeira se espalhou e os convites se multiplicaram. Amigas que não têm com quem sair já ligavam e os grupos foram aumentando. Ao entrar na faculdade, começar a trabalhar, o mundo social aumentou e teve semanas em que saí literalmente de terça a domingo.

Mas daí chega uma hora que cansa, as baladas sempre iguais, e chegou a fase de dar as próprias festas - pequenas reuniões em casa que chegaram a ter mais de 20 pessoas num apartamento que nem de longe era grande o suficiente pra isso. Essas comemorações duraram até meus pais, preocupados com a freqüência de uma ou outra pessoa mais estranha, darem um basta na brincadeira. Sim, porque em nenhum momento a relação pais-baladas foi tranqüila. Toda saída durante a semana na minha adolescência - e pós adolescência - resultava em um sermão atrás do outro, sob os argumentos de que não iria agüentar, precisava dormir, descansar, que desse jeito ia me matar. "Você sabe que a cada dia que você passa sem dormir você perde um ano da sua vida?"

Por mais velha que ficasse, as broncas continuavam. Ao mudar de apartamento, mais longe do trabalho e do roteiro de bares do que o outro, passei menos tempo em casa, o que foi motivo para diversas chantagens emocionais. "Você não gostou dessa nova casa, né?", "Ah, eu tenho que tirar essa parede vermelha do seu quarto. Não é à toa que você não pára quieta... esse vermelho deve emitir algumas vibrações diferentes"

Pra me fazer passar em casa depois do trabalho antes de sair de novo, minha mãe resolveu que não ia mais dar comida pra minha cachorra à noite. Se não quisesse que o bichinho passasse fome, que voltasse pra casa. O clima melhora e piora dependendo talvez dos astros, quem sabe do humor dos meus pais, da cotação do dólar... não dá pra explicar, mas conforme o mês está mais fácil ou mais difícil lidar com isso, como já devem ter percebidos todos que têm pais ditos normais.

Mas acontece que, pouco a pouco, eles resolveram ter uma qualidade de vida melhor. Barzinhos no final da tarde, as viagens nos finais de semana ficaram mais freqüentes e, graças a horários cada vez mais flexíveis, começaram as viagens também durante a semana. Foi com grande surpresa que, ao voltar pra casa um dia desses, ouvi da minha mãe, brava porque já passava das duas da manhã, que ela não iria para a praia no dia seguinte, mas pro sítio e que lá ia ficar pelas próximas duas semanas, mas que era lógico que eu não sabia disso porque não parava em casa. Ela, meu pai, minha avó (que passava férias com a gente) e minha cachorra. Todos fora. Em casa, só eu, meu irmão e os peixes do aquário.

Acho que poucas vezes fiquei tão perdida na vida. Não precisava mais voltar pra casa pra nada. Pros peixes era fácil de dar comida. Eu jogava aquelas plantinhas de manhã e de madrugada, alguém à noite e, se peixe realmente não dorme, o de madrugada não precisava ser sempre no mesmo horário. Como resultado, em nenhum dia voltei direto. Já que nem eu nem meu irmão cozinhamos, jantar era uma desculpa pra ir pro bar. Depois de um tempo, não agüentava mais comer sanduíche. Já no final de semana (nos dois finais de semana) São Pedro afogou meus planos e fez chover o dia todo. Acabei saindo só à noite. Meu irmão, se, ao contrário de mim, já não tinha muitas regras ("eu não tenho medo que teu irmão saia porque ele tem medo, já você é meio louca, vai pra tudo quanto é canto") ficou ainda pior. Mal nos vimos durante esse tempo todo.

Quinta-feira, véspera de feriado, os peixes já quase mortos e dentro de um aquário imundo de tanta comida, começou a melhor das maratonas. A idéia era primeiro ver um amigo tocar, depois encontrar meu grupo de faculdade no outro lado da cidade e, por fim, decidir se ia pra praia ou não. Por causa do trabalho, não consegui ver o show. Depois de usar a internet do McDonald's, fui direto pro bar, ver um povo que não encontrava há dois anos. Era meu dia de voltar a beber, então uma caipirinha e uma cerveja em comemoração. Chegando em casa, às 4h, arrumo a mala, durmo 1h30 e sigo pra encontrar Lucy.

Dois dias na praia, com aventuras dignas de Jones, e voltamos domingo cedo. O tempo bom que estava no litoral não tinha chegado a São Paulo, mas eu só descobri isso quando faltava meia hora pra alcançar a marginal. Meio deprimida de pensar em outro dia dentro de casa, vejo uma plaquinha que praticamente brilhava "Rio de Janeiro / Taubaté". Tava cedo ainda... 10h30 da manhã. Pegar a estrada rumo ao sítio significava encarar mais uma hora e meia de estrada (exatamente o que tinha rodado até então). Olhei mais uma vez pro céu e quando vi, estava no caminho oposto, sentido interior. Se meus pais tivessem em casa, provavelmente brigariam de eu pegar a estrada de novo, enfrentar o trânsito de volta de feriado à noite, cansada, ir e voltar no mesmo dia, dirigir mais de 6 horas no total. Mas a liberdade me deu saudades. Fui pro interior só pra ouvir "ah, só você pra fazer isso... mas, que bom que veio". No fim, o circo, as correntes viciam.

Sunday, January 20, 2008

A vida como num conto de fadas

"A gente tá saindo todo dia, há mais de uma semana e, por mais que eu peça, ele ainda não pegou meu telefone e nem me deu o dele";

"Ele sempre fala que quer marcar alguma coisa, mas nunca passa disso, ou, quando liga, é em cima da hora. Que que ele acha? Que eu tenho que ficar com a agenda aberta, esperando?";

"Se é pra ficar com outras na minha frente, por que continua me dando esperanças?";

"Eu juro que tento, mas não consigo ficar sem ligar. Daí a gente sai, fica junto e no dia seguinte ele volta a ignorar minhas ligações";

"Ele liga, manda mensagem, diz que é de mim que ele gosta, mas não larga a namorada de jeito nenhum";

"Sim, ele é um idiota, mas o que posso fazer? Eu gosto dele";

"Eu sei que é errado, que vou me machucar depois, mas no momento ele tá me fazendo bem"

Essas são só algumas críticas. Daria pra fazer um post inteiro só com citações recentes, mas daí não teria fim mas só lamentos.

Segundo a dona da última frase, não existem mais príncipes encantados hoje em dia. Segundo uma outra amiga, o príncipe encantado é simplesmente "alguém que me trate com respeito e que goste de mim".

Péssimo pensar que todos os sonhos de infância com o cara ideal tenham se restringido a isso. Pior ainda é pensar que nem mesmo alguém que goste da gente e que nos respeite não está tão fácil de encontrar.

Pelo menos uma vez eu queria ouvir: "ah, conheci um cara novo. Tão legal. Educado. Solteiro. Não espera até a última hora pra me convidar pra sair. Me dá segurança. Começamos a ficar há pouco tempo e já conheci alguns de seus amigos".

Dessa forma, poderia ficar só feliz por minhas amigas. Em vez disso, cada história desperta uma nova rodada de preocupação e, às vezes, broncas. Se bem que mesmo essas têm ficado menos constantes. Ser cabeça dura não é um privilégio das Jones. O mulherio em geral costuma adorar dar com a cabeça na parede. Então, em vez de falar com as portas, a gente acaba desistindo e simplesmente fica perto, esperando pra ajudar quando a casa cair.

E é engraçado como a gente se sujeita a isso. Um dia uma pessoa me perguntou qual era o meu problema. "Por que (mil elogios depois), você deve ter algum problema para estar solteira". Não soube responder, lógico, e, algum tempo depois, um amigo me disse que deveria ter respondido "o problema são os homens, não eu". Adorei a resposta, mas não acredito que seja verdade. Pensando bem, o problema acho que está nas nossas escolhas. O tipo de pessoa de quem gostamos, os valores que mais prezamos, além da aceitação do tipo de comportamento acima.

Pegar um cachorrinho e depois descobrir que ele tá doente é um risco, não tem muito o que fazer. Agora, se você vê que o bicho tá com o pêlo todo falhado, comido e mesmo assim resolve ficar com ele, não do quê reclamar. Essa atitude até poderia ser chamada de idiotice, mas acontece que "ah, ele é tão bonitinho" que acaba valendo a pena arranjar a tal sarna pra se coçar. E quem já não fez isso?

Mesmo que seja com a pretensa desculpa de não se envolver, para deixarmos de ficar sozinhas, permanecer com quem gostamos ou mesmo esquecer alguém tão ruim quanto (ou até mesmo pior) a gente aceita sair com tipos não tão legais. Além do que, mulher tem esse costume horrível de achar que vai consertar os homens (se é que existe alguma coisa a ser consertado).

Sempre me recusei a concordar que "homem é tudo filho da puta", mas confesso que ultimamente tem sido cada vez mais difícil defender a raça. Não que eles não tenham culpa. Têm sim, e muita. Mas a gente também não pode se eximir da nossa. Acontece, que se ele é galinha, é porque tem mulher que deixa. Se ele chifra, alguém foi conivente. Se você hoje é a outra, amanhã pode ser a chifrada. Às vezes, mesmo quando a gente parece que encontra alguém, aparece uma bruxa, tão perversa quanto a medusa do mar, espreitando para tentar roubar o príncipe alheio.

Mesmo sem perceber, a gente de vez em quando se torna a vilã de uma história. Depois, reclama que homem não presta, mas a verdade é que nós contribuimos pra esse tipo de comportamento, pro fim dos contos de fada.

Thursday, January 10, 2008

This is so last year

Sabe aquele poema que postei recentemente (post "Tá na hora de escolher a calcinha"), de Carlos Drummond, que fala sobre a renovação, virada de ano e tal? Acho que deveria tê-lo guardado para colocar no começo do ano.

A gente costuma terminar dezembro com mil planos, faz inúmeras promessas, mas confesso que tinha me esquecido de uma parte: é frustrante chegar dia 2 e perceber que tudo continua a mesma coisa. Apesar de estar com um ânimo novo pra mudar os rumos, a realidade continua a mesma e dá uma preguiiiça pensar no trabalho que vai dar pra alterar tudo isso.

Lucy me disse recentemente ter ouvido de uma amiga que ela estava numa fase única, em que pode levar a vida dela pra onde quisesse, começar do zero, sem amarras. Ela percebeu que é verdade e talvez tenha ganhado um pouco de ânimo com a constatação. Um ano inteiro em branco a ser escrito. Já no meu caso, é horrível chegar em São Paulo ainda com o cabelo duro de Cidra derramada, depois de 19 horas de viagem, e perceber que o trabalho continuava o mesmo, apesar de um ambiente diferenciado, que as pendências de 2007 (pendências, também segundo Lucy, é uma palavra que faz a gente se sentir muito adulto) também continuavam as mesmas. Os problemas que a gente escuta, as conversinhas, os casos mal resolvidos. Todos esses foram levados para 2008, tais como cachorros que levam suas pulgas consigo quando mudam de casa.

Esse ano, como já contei pra muita gente, não fiz promessa alguma, pois assim não preciso cumprir. Aliás, depois daquele show de "eu conheço simpatias" dado em posts recentes, me rebelei, mesmo que inconscientemente, e a única simpatia que fiz foi pular 9 ondinhas (sete pra mim e mais duas, que me atrapalhei na hora de fazer os pedidos e cedi para um amigo que preferiu não molhar os pés). Mas essa história, junto com algumas outras aventuras de Patty e Lina no ano novo, fica pra depois.

Se você faz uma promessa, deve ter determinação para levá-la ao fim, senão não tem por que prometer. Determinação, pra mim, pode ser tanto uma virtude quanto um vício. E a minha, de tão forte, fica bem nesse meio termo. Quando decido que vou fazer alguma coisa, não páro até conseguir. Bato a cabeça no muro quantas vezes forem necessárias, até o concreto cair ou, por um motivo qualquer, eu achar que não vale mais a pena. Normalmente, esse motivo é o tempo. Se demorou muito pra dar certo, perde a graça. Um exemplo são os exercícios da academia (que recomecei). O pior deles é a esteira. Não tem fim! Você não vê um fim... correr tem todo aquele charme de ser um esporte que tá na modinha, as pessoas vão a parques uniformizadas, mas... você tá correndo por quê? A pergunta é tão sem resposta que virou slogan do Nike 10. Mas precisa, eu corro. No começo, até acho divertido. Depois, canso e quando não vejo mais sentido, páro e desisto.

E mesmo que hoje não me arrependa, confesso que fiquei um pouco frustrada quando desisti de alguns dos meus planos feitos no ano passado. São coisas que perderam o sentido, importância, ou que simplesmente foram preteridas por algo novo, mais interessante, que mudou o rumo das coisas. Lucy, por sinal, (amiga, essa é a terceira vez que te cito nesse texto, acho que você tá fazendo mais falta do que imaginava rs) costuma dizer que toda escolha implica em uma perda. Frase dura, mas real. E para não ter que desistir de nada neste ano, me frustrar de novo, em vez das tais promessas, fiz desejos bem genéricos. Sete desejos para sete ondas. Mas daí também vem a escolha. O que você deseja para esse ano? Mudar ou continuar a mesma coisa? Eu não tinha percebido até descer daquele ônibus no dia 2, ainda de shorts e uma quase frente única - "quase uma Charlie's Angel", me comparou Lina, já que os trajes e a pele morena em nada combinavam com o dia frio que fazia aqui - mas não fazer planos é decidir que está bom como estava antes e que assim vai continuar.

No dia seguinte, conversando com um amigo querido, que disse não estar se sentindo em 2008, que tá tudo muito igual ainda, notei que a minha situação estava a mesma e que não tinha mudanças em vista. Simplesmente porque tinha só desejos. Muitos desejos, alguns até contraditórios.

No Natal, algumas mães têm o costume de fazer os filhos darem os brinquedos parados, já que ganharam novos. Senão, o armário fica cheio e não se aproveita nem um nem outro. Acho que é essa a idéia. Na hora de fazer novos desejos, na praia, esqueci de jogar alguns fora. Antigos se confundiam com novos e tudo aquilo só trazia uma frase para minha cabeça: this is so last year. Por fim, vieram algumas ações de ano novo e, consequentemente, desejos antigos foram jogados fora ou, pelo menos, encaixotados lá no fundo do sótão, de onde, quem sabe, um dia voltem, quem sabe, não.