Tuesday, February 26, 2008

Um desafio à lady

O princípio da lei de Murphy diz que se alguma coisa tiver qualquer chance de dar errado, ela vai dar errado. E ela é tão implacável que alguns engraçadinhos passaram a chamá-la de Lady Murphy, pra comparar com o possível sadismo das mulheres. Jogos sexistas à parte, é fato que a lei de murphy está irremediavelmente ligada a uma palavra do gênero feminimo: ironia.

Ironia não é sarcasmo. Sarcasmo, segundo o dicionário, é uma ironia melhorada, grosseira, na verdade. Em um aspecto muito pequeno, você tira sarro da pessoa para mostrar o quanto a idéia apresentada não é boa, por exemplo. A ironia, por sua vez, tem um sentido muito mais amplo de oposição, como dizer alguma coisa com a intenção de fazer outra ou planejar algo que depois terá tido um final totalmente diferente - a base para a lei de murphy.

É por causa dessa tal lei que só tem chovido nos dias em que há treino e normalmente no final do dia, porque como já choveu no domingo inteiro, tem que fazer aqueeele sol na segunda-feira.

Também por isso que a gente esquece o guarda-chuva justo nesses dias, por isso que quanto mais atrasada a gente está, mais tem trânsito na cidade, e parece que quanto mais a gente amaldiçoa isso, pior fica. Para tudo isso poderíamos dizer: "irônico. não?"

Apesar do meu recente - e espero eu, temporário - mau humor, confesso que sou daquelas chatas que conseguem ver lado positivo em tudo. Ontem, por exemplo, havia treino e era meu rodízio. Peguei o do meu irmão emprestado. Sem nada de gasolina. E eu já estava muito atrasada, como aliás, em toda segunda-feira. Na verdade, dava pra chegar no trabalho, mas não pra ir até o treino. Tinha duas opções: ir correndo pro trabalho e colocar gasolina saindo do trabalho ou ou passar no posto agora e ficar ainda mais atrasada.

Segundo a tal de de Murphy, se fosse direto pro trabalho, não ia conseguir sair na hora e ia chegar mais tarde ainda no treino. Já se fosse pro posto antes, ia ter algum problema no trabalho quando eu chegasse e no fim eu ia conseguir ir embora a hora que quisesse, só pra ficar com raiva, já que eu não teria precisado tomar a bronca de mais cedo.

Analisando as duas hipóteses, me deu um estalo que achei fantástico. Resolvi que ia jogar com Murphy a meu favor. Se eu passasse no posto antes ia chegar mais tarde e sair mais cedo... então, por que a dúvida? Trabalharia menos e ainda ia pro treino na hora. Bronca, todo mundo leva. Achei tudo aquilo lindo. A tal lady era bem possível que existisse mesmo e não era uma mulher perversa, mas simplesmente incompreendida. Quem soubesse argumentar com ela, como eu sabia, só iria se dar bem.

Fui pro posto, com calma. Ao chegar no trabalho, nenhuma bomba nem bronca. O único post que precisaria publicar estava pronto e eu, felicíssima por ter conseguido jogar com a lei a meu favor. Fui almoçar tarde porque tinha chegado tarde e, portanto, sem fome. Até então, tudo perfeito, minha teoria se comprovava. A lei elevada à lei dá um resultado bom pra mim.

Porém, ao chegar do almoço, meu chefe já estava lá havia algum tempo. Ele não viu que horas saí e portanto podia pensar que estava a não sei quantas horas na rua. Às 18h, pouco mais de duas horas depois de eu ter voltado do almoço, descubro que minha cachorra passou mal. Fiquei na dúvida se ia ao treino ou se passava em casa, via como ela está e aproveitava pra ir na aula de dança. Às 20h (horário que começava o treino), meu chefe me ligava pra contar que perdeu todo o material que seria publicado. Espero até as 21h, nada. Vou pra casa. Perdi o treino. Pra chegar na aula, que começava às 21h30, teria que passar em casa primeiro, ou seja, perdi a aula.

Contando com a lei de Murphy, cheguei tarde pra sair cedo e ficar muito brava por ter chegado atrasada à toa, mas acabei voltando ainda mais tarde. Se tudo fosse segundo a tal lei, eu teria sido flagrada quando cheguei ao trabalho, mas em compensação isso aconteceu quando voltava do almoço. Numa situação normal, estando o post pronto, publicaria cedo e embora cedo iria. Pela lei de Murphy, alguma coisa ia dar errado e eu sairia tarde, depois de publicar. Na versão final, tudo deu tão errado que, apesar de ter ficado até as 21h, o material só foi publicado no dia seguinte.

No fim, a única coisa coerente é que eu realmente não precisava ter colocado gasolina antes de chegar ao trabalho, já que saí tão tarde que não tinha mais pressa pra nada. O resultado, então, mudou. A lei de murphy elevada à lei de murphy dá qualquer coisa esquisita e confusa, diferente do diferente, e que não é boa pra ninguém.

Monday, February 25, 2008

Pane no HD, lapso da memória

Lembro que quando estava no colégio me impressionei quando um menino tinha me tido que o computador dele tinha um gigabite de HD (o chamado disco rígido do computador), o que significa mil megabites, ou seja, um milhão de quilobites (kb), que nem ao menos é a menor unidade de medida da informação dos computadores - mas menos do que isso a gente nem conta, seria quase como centésimos de Real. A questão, voltando, é... meus Deus, pra que tudo isso? Eu tinha apenas algumas dezenas de megas e já me sentia uma pessoa mais do que feliz. Naquela época ainda não existia mp3, câmera digital era uma raridade, os jogos eram mais simples (lembro da sensação que era Full Throttle) e os computadores, por sua vez, não precisavam de tanto espaço.

Hoje, até o email tem um giga - dois, na verdade - e os equipamentos demandam cada vez mais recursos. Um amigo, pra comprar uma placa de vídeo realmente boa, resolveu primeiro comprar o game mais pesado que existe no mercado, para em seguida comprar a placa que o suportasse. Certeza de boa compra, por mais que - até então - ele não precisasse de tudo isso. Agora, viciou no joguinho, que a princípio ele nem queria.

O computador vira um companheiro e ganha a personalidade do dono. Acho lindo quando vou usar o micro de alguém e vejo os favoritos todos organizados, em pastas. A área de trabalho só com os itens que se tem uso constante. Meus documentos, minhas imagens, minhas músicas, tudo em perfeita ordem. Normalmente esse tipo de pessoa é organizado também longe da telinha.

Já... eu (pra não entrar naquela de "pessoas como eu", simplesmente pra dividir a culpa com desconhecidos) não posso ser considerada um primor de organização nem no meu quarto, que dirá com um monte de dados dentro de uma caixinha. De vez em quando eu faço uma limpa no meu armário. Dôo as roupas que não quero mais, reorganizo as gavetas, passo a guardar blusas enroladinhas e divididas por cor. Também de vez em quando eu limpo os links salvos, deleto arquivos desnecessários, organizo pastas de fotos, músicas e textos. Nenhuma das duas arrumações dura mais do que seis meses. Porém, meu guarda-roupa nunca explodiu de tanta coisa e nem meu computador ficou por muito tempo com arquivos inúteis. Isso, aliado ao fato de eu não ter a menor paciência pra baixar músicas e muito menos vídeos na internet, fez com que meus arquivos, mesmo acumulados ao longo dos anos não ocupassem um espaço muito grande.

Outra coisa que me ajudou a ser mais... desapegada - com os arquivos, e não com as roupas - é a minha vocação natural para tester. Segundo meu pai, que trabalha com desenvolvimento, pra ter certeza de que o programa está perfeito, é só dá-lo na minha mão. Se ele tiver qualquer defeito que seja eu descubro em menos de cinco minutos. Lógico que não do jeito convencional, mas dando pau no bicho mesmo. A minha adolescência, quando trabalhava com ele, foi repleta de telas pretas de DOS com um quadradinho em vermelho escrito "ERROR BASE" com um número em seguida. O problema é que eu não quebrava só os programas desenvolvidos por ele. De alguma forma, que até hoje eu não sei, já cheguei a ter mais de mil vírus no meu computador, que infectaram uma quantidade não sei quantas vezes maior de arquivos, o que prova que eu e as máquinas nunca demos muito certo. Era uma relação constante, intensa, mas cheia de altos e baixos. E eis que no meio do ano passado troquei meu computador antigo por um que já veio com o maldito windows vista basic, que é mais confuso, pesado, não me deixa abrir mais de três programas de uma vez e, pior de tudo, não é compatível com o joystick que uso pro emulador do super nintendo. Só que isso eu só fui descobrir quando estava tudo instalado.

Depois de seis meses enrolando, resolvi fazer o tal backup para colocar o windows xp, azulzinho, simples de mexer, compatível com meu jogo, uma graça. Na primeira tentativa, não havia espaço suficiente pra todos os arquivos no disco que me foi emprestado. Na segunda, eu mandei copiar, colar. Meia hora depois, desconecto e começa a formatação. Na verdade, eu estava tão preocupada em achar as milhares de coisas que precisaria em outros site para concluir o processo que nem pensei em conferir. Quando já estava tudo pronto, percebo que nenhum dos meus arquivos está onde deveria.

Mais de 6 gigas!!! Sim, pouco em comparação ao que a maioria das pessoas tem, mas eram os meus seis gigas, fotos, textos, músicas. O melhor de tudo que já passou pelo meu login e que sobreviveu a inúmeras seleções ao longo dos anos. Algumas coisas estavam lá desde a época do colegial. Uma década de memórias perdidas em apenas alguns minutos. Como tudo já havia sido reinstalado, não havia nem mesmo a possibilidade de recuperar os dados. Fiquei desolada.

Tinha coisa importante?

Não sabia o que responder. Ah, depende... o que é importante? Tinham meus textos, mas a maioria foi publicada também na internet. Tinham fotos, mas algumas eu posso conseguir com amigos, com o resto da família. Eu mesma, faz tempo que não tiro... as músicas são irrelevantes... alguns arquivos de cursos, mas isso ok... talvez nunca fosse olhar de novo mesmo. Não sei. É tanta coisa e ao mesmo tempo é nada. É currículo, é... não sei - da última vez que tive problema desses jurei que nunca mais ia usar outlook na vida. Tinha perdido emails importantíssimos, muito mais porque eu gostava deles do que porque era realmente importantes - Realmente não sei. Melhor não pensar... depois eu vejo isso.

De repente, um grito no outro canto da casa. Por sorte, o primeiro backup, feito em agosto, quando troquei de computador, continuava no tal hd. Meu pai, mais preocupado do que eu, talvez pensando nos não sei quantos mil gigas que ele não pode perder de jeito algum, se compadeceu da filha avoada e estava procurando. Até que achou. Em vez de seis gigas perdidos, agora era apenas um e meio.

Voltei a pensar... o que é esse um e meio? O que é que eu posso ter feito em seis meses? Fotos. Do Natal talvez meu irmão tenha. Se não tiver, minha tia tem e não eram fotos tão importantes. Foi o primeiro sem meu avô, mas isso não é coisa de se lembrar. Se ainda fosse o último com ele, talvez. As de ano novo e carnaval os outros têm cópia, posso pegar de volta. O que mais eu fiz nesses últimos seis meses? Um bilhão e meio de bites que podem ser tanta coisa, mas que também podem não ser nada. É possível que esta história estivesse contada em pequenos fascículos, dentro do HD. Ele, se foi, a memória se deteriora. A minha, não a do computador. Então, como eu não lembro, melhor acreditar que não era nada.

Wednesday, February 20, 2008

A tal da TPM

Enquanto comia aquela mistura estranha - gelatina de uva, leite condensado e sucrilhos - só conseguia pensar "meu deus, mulher... coitado do pai do teu filho. Se em dias relativamente normais você já é assim, imagina quando tiver realmente com desequilíbrio hormonal". Mas a dor na consciência não durava muito, não. Por mais incrível que pareça, aquilo era bom e ajudava em cheio na ansiedade causada pela tal TPM. Pelo menos, era nisso que eu acreditava.

O processo por trás dessas três letrinhas é simples. O corpo da mulher tem como intuito básico a reprodução. Por isso, nos primeiros 14 dias ele direciona grande parte dos seus esforços para deixar a pele, o cabelo, tudo mais bonito. Nesse período é dever da criatura em questão usar desses artifícios para arranjar alguém que a fecunde. Já nos 14 dias seguintes, a preocupação é com o possível feto. No final dos 28, o organismo tira a prova se sua dona teve ou não a capacidade de engravidar e, em caso negativo, joga tudo o que não foi usado fora para começar de novo.

A TPM inicia no instante em que o nosso corpo se preocupa mais com a criança que não existe do que com nós mesmas, mas normalmente só é percebida nos últimos dias, quando o déficit de hormônios está no seu maior nível. É nessa hora que a gente sente aquele vazio no peito, uma vontade fazer alguma coisa que nem mesmo sabemos o quê. É como se faltasse alguma coisa.

No fundo, falta. Faltam hormônios, mas a aparência é de que falta atenção, sentimento, reconhecimento, carinho e até mesmo um objetivo na vida. Basta qualquer fato mais relevante - como o fim do relacionamento entre os mocinhos da novela ou o nascimento de um jacaré, exibido no National Geographic - para que o olho se encha de lágrimas. A gente pensa "tadinhos" ou "ah, que lindo"! Mas só pensa, porque a garganta está travada demais para emitir qualquer som.

Por outro lado, comentários até mesmo sutis de outras pessoas significam agressões sem tamanho. Em resposta, tem mulher que chora, tem mulher que explode. E como explode. Há algum tempo, a TPM deixou de ser um mito. Mulheres que cometeram crimes passionais já tiveram a pena reduzida ao provarem que estavam nesse período complicado.

No trabalho, a sensibilidade tanto pode ser um fato positivo quanto negativo, já que, por conta dela, a mulher tende a ser mais instável. Regras de beleza e boa forma ajudam nessa tendência de ficarmos cada vez mais frias, racionais. Todos os dias há aquela preocupação em manter o peso, se controlar emocionalmente, ser profissional, não dar escândalos por besteira. Enfim... esquecer todo o nosso lado "menininha". Até que, por apenas uma semana, menos até, a gente se dá o direto de surtar, chorar, gritar.

Beber muita água, fazer exercícios, tudo isso ajuda, mas com toda certeza a melhor forma de diminuir os sintomas é se matar de tanto comer chocolate, sorvete, gelatina com leite condensado, manga com doce de leite - coisas que só fazem sentido em picos de ansiedade. O vazio existencial é curado com milhares de calorias.

Se é sempre a falta de hormônios ou se já virou costume, não importa. A questão é que a TPM se tornou a chance do mundo feminino se libertar daquele monte de regras que nos impomos. É o nosso corpo que arranjou uma desculpa pra gente ser mais humana.

Friday, February 15, 2008

Pau-a-pique e pé-de-barro

O carnaval já passou, mas as lembranças ficam. Fui acampar no interior mineiro. Ok, eu sei. Acampar no meio do mato, sem energia elétrica... Tudo isso soa meio estranho pra quem me conhece. Mas devia isso para uma pessoa muito querida e, apesar choque cultural, sobraram histórias pra contar. E a cachoeira era maravilhosa. Então valeu à pena!
A balada era uma casa de pau-a-pique no meio do nada. Pra chegar lá, do camping onde estávamos, precisava pegar uma estrada de terra mal iluminada (nos trechos em que havia alguma iluminação).
Pra completar o clima roots, ela estava infestada de hippies e nativos, e tocava forró.
A primeira vez me causou tantos traumas que, no caminho de volta, pela tal estradinha de terra com mais duas meninas, prometi pra mim mesma que não voltaria lá.
Mas como não podemos botar a mão no fogo por nada que prometemos no carnaval, acabei voltando. Dois dias mais tarde em um Gol quadradinho com mais oito pessoas!!!
Fui convencida pelos primos da minha amiga que haviam recém chegado. Imaginei que, em uma turma grande, acabaria me distraindo.
Pasmem! Havia uma cantora de MPB, parece que sobrinha da dona do local, com uma bela voz. Dei o braço a torcer, dancei e me diverti. Mas desanimei quando acabou o show e ela anunciou que em breve a banda de forró tomaria seu lugar.
Pois mal havia sentado e a namorada de um dos primos veio me chamar, porque um amigo seu queria me conhecer. Na hora não sei se fiquei mais pasma de pensar que alguém realmente acreditava que eu me levantaria de lá pra ir até ele, e não o contrário, ou se era porque fiquei imaginando quem ainda se prestava ao serviço de pedir pra alguém “agitar uma mina”.
Não levantei. Algumas músicas mais tarde ele apareceu. Um cidadão grande, de uns 30 e poucos anos e da largura de um armário. Tava meio grandinho pra pedir pra agitarem qualquer coisa, né? Pois bem. Estava sentada ao lado de uma caixa de som e ele queria que fosse conversar com ele do lado de fora da casinha.
Apesar de ter dito que não levantaria, ele insistiu dizendo que eu não o ouviria bem. Cansei! “Com todo respeito, não levanto daqui nem pra dançar com meus amigos, não vejo porque levantaria pra conversar com você. Se quiser, converso aqui, estou te ouvindo bem”. Ele se irritou, porque depois que falei isso, levantou e acompanhado de um gesto agressivo com os braços gritou que eu ficasse lá então. Hehe, mas não era exatamente isso que eu queria? Na hora pensei que o cara fosse me bater e que de longe esse seria o episódio mais bizarro da noite. Ledo engano!
Já no fim da balado um cidadão nativo (nascido naquele fim de mundo, onde as pessoas ainda devem se assustar com antena parabólica), trinta e poucos anos, cabelos enroladinhos e regatiiiinha, começou a me olhar. Percebi e, como sempre, ignorei!
Pouco tempo depois, seu amigo que era uma espécie de César Cielo depois da febre amarela, e que olhava pra mulheres da maneira mais nojenta que já vi na vida, de longe começou a fazer gestos com os dedos indicadores de que eu e seu amigo deveríamos ficar juntos. Na hora fiz que não, assim nem teria o trabalho de dispensá-lo. Que nada, o cara veio me tirar pra dançar forró. Agradeci mas disse que não dançava. Só que ele insistiu.
“ Hoje é seu dia de sorte, porque eu sou professor de forró”. O pior, falava isso com orgulho. Como não tinha/tenho interesse em aprender, disse que não queria. E ele já profetizou o que seria minha noite. “Não acha que desisti. Daqui a pouco volto”.
Pois voltou. E repeti que não queria. E essa história se repetiu por várias vezes durante a noite, intercalada com sermões sobre eu não querer fazer amigos, e sobre eu não poder ir para não sei onde, no Espírito Santo, porque lá só tocava forró. Valeu a dica, pra eu nunca por os pés por lá mesmo!
O amigo, o tal que parecia uma cópia mal feita do César Cielo, começou a dizer que ele deveria tentar falar em Mandarim, já que “ a japonesinha não estava entendendo o que ele tava falando”. Ai ai ai.
“Ô pé-de-barro do caramba, Mandarim se fala na China. E a China e Japão são dois países diferentes. Incrível, né?”, respondi, com o ar mais prepotente que consegui encontrar.
Meu humor, que já não estava lá em seus melhores dias, acabou de acabar com a demonstração de ignorância capiau.
E o cidadão pareceu gostar da brincadeira de me irritar, porque não parou.
Quando voltou a perturbar, decidi perguntar quantos anos tinha. Ele se assustou e disse que não fazia diferença. “Ué, você não queria conversar comigo? To tentando conversar com você”, disse ironicamente.
“Tenho , 35, e você?”
“Tenho 12 a menos”
“Mas você quer que eu faça conta?”
Aaaaaai, nem preciso falar que a conversa encerrou e fiquei com vontade de dizer que, com aquela idade, ele já devia, no mínimo, ter aprendido a chegar em uma mulher.
Pouco tempo depois, levantei pra comprar uma coca-cola e ele, literalmente, pulou na minha frente e segurou meu braço. Fui seca:
“Tira a pata! Amigão, desencosta agora”.
“Calma, só quero dançar com você”.
“Olha aqui, não to entendendo porque você tá me enchendo o saco, mas se você quiser me irritar, vai ser pior pra você. Quem ta pagando o mico na frente dos amigos, de ficar tomando bota da mesma pessoa a noite inteira é você”, disse e passei.
Mas ele não desistiu. Ao mesmo tempo em que ouvia seus argumentos pela enésima vez, outro cidadão se prestou dizer que seu amigo queria me beijar. Foi a gota d´água! Desabafei irônica:
“Ah, que maravilha, vamos formar uma fila logo pra beijar a menina que veio de São Paulo, vamos pegar senha. Afinal de contas, achei minha boca no lixo mesmo, sabe? Então, todos os nativos, todo mundo que quiser me beijar, fiquem à vontade. Francamente, é assim que funciona nesse fim de mundo?”
Metade da balada caiu na risada e a outra metade ficou com os olhos arregalados. Acho que ninguém esperava essa reação. Que ótimo, afinal de contas, ia acabar a chateação. Que nada!
Já no finalzinho da balada, ele sentou em um banquinho atrás do meu e começou a roçar o pé no meu. Que nojo! Na hora chamei um dos primos, que já nem sabia mais onde estava, e abracei-o.
O cidadão pegou o bando e saiu do lugar. Por um tempo eles ficaram parados na entrada, e eu temi que estivessem esperando pra me bater. Do jeito que os primos da minha amiga estavam, eles não conseguiriam levantar um dedo pra me defender, ia ter de me virar sozinha. Depois de alguns momentos de tensão, o carro chegou e eles foram embora. Fim de noite, carona no bom e velho Gol quadrado, que estranhamente parecia mais confortável. Voltei pra barraca cansada, irritada, mas rindo do que havia acontecido e imaginando o que seria do resto do meu feriado.