Sunday, January 21, 2007

Pendências

Uma semana antes do Natal minha casa entrou em uma pequena reforma, que além de acabar com toda a minha rotina me provocou uma alergia forte. Essa, transformada em resfriado, me deixou uns bons dias em casa. O despertador, fiel companheiro de todas as manhãs, quebrou na mesma época e até hoje não me entendi direito com o do celular. Esses pequenos fatores se não foram os responsáveis foram a desculpa que precisava pra adiar o meu final e começo do ano.

A viagem

Apesar de ter conseguido folga de uma semana no trabalho, só três dias coincidiam com a dos outros. Por isso resolvi ir com uma amiga de ir pra Ubatuba. Pertinho, assim valia a pena ficar só do dia 30 ao 1o.

Por causa dessa correria de final de ano, só parei para decidir que ia de ônibus pra praia quatro dias antes da viagem. Nessa data já não tinha mais passagem e o jeito era ir até o terminal no próprio dia da viagem e esperar por ônibus extras. Na sexta, saí do trabalho, fui pro bar com uns amigos, voltei pra casa, fiz minha mala e fui pra rodoviária. Cheguei às 6h30 do sábado e só consegui passagem pras 12h15. Pra não ficar esperando todo esse tempo, orientada pelo moço do guichê, fiquei atrás dos motoristas dos ônibus que estavam saindo a fim de pegar um lugar mais cedo. Na terceira tentativa, às 8h, consegui subir.

Do feriado em si nada de extraordinário. A pousada chamava "Sossego do Surfista" e o nome é a melhor coisa dela. Os chalés que a gente alugou eram pequenas suítes com um beliche e uma cama de casal cada. Já os amigos da minha amiga e os amigos dos amigos da minha amiga são bem legais. Andávamos em cerca de quinze. Quanto à musica, o repertório foi um dos mais variados, passando do reggaezinho tocado no violão ao psy da útima balada do ano (que me fez pensar muito em Lana e seu Universo Paralelo). A meia-noite, ao contrário da Lina, passei de blusa branca, como em todos os anos, e biquini por baixo, já que Ubachuva honrou sua fama e branco na chuva não é legal.

Dizem que o que você faz no primeiro dia do ano você repete nos outros 360 e tantos. No meu primeiro dia do ano, depois de um banho de cachoeira e uma corrida de 5 minutos na praia - pra tentar criar um comportamento pró-rugby - voltamos pra São Paulo. Saí da cachoeira dizendo que tinha me energizado. Desde que voltei pra casa, há 3 semanas, continuo me energizando.

Também dizem que o número 7 é cabalístico. Pois no primeiro dia de 2007 demorei 7 horas pra chegar em casa.

Ano Novo

Voltando a São Paulo, as pendências continuavam. Por causa do despertador e da reforma não comprei a agenda - sempre escolhida a dedo. Não tendo despertador não acordei cedo um dia sequer pra ir à academia. Não tendo agenda, acordava (tarde) sem ter um plano definido e até decidir o que vou fazer não dava mais tempo de fazer quase nada. O carro continua funcionando graças ao conserto temporário. Afinal, como vou levá-lo pra arrumar se não tenho agenda pra saber se amanhã vou precisar dele? Não vou trocar meu presente de Natal porque tem mais coisas pra fazer a caminho do shopping e assim quando for já faço tudo junto, mas sem enumerar todas as coisas que preciso fazer acabo não fazendo nada.

Sim, com uma boa argumentação quase tudo é justificável. Mas pra não assumir que tudo era desculpa e já que estava enrolando demais pra começar esse ano, consegui um despertador e uma agenda (doada pela Lucy, o que facilitou meu trabalho já que presente a gente não escolhe) antes de escrever o primeiro texto do ano.

Nova pendência resolvida. Coincidência ou não, essa no dia 21, três vezes o cabalístico 7.

Thursday, January 11, 2007

Do dia que embarquei no jongo

Um pensamento. Minha amiga disse que faltou um pensamento. Para quem acredita que cada lugar, cada espaço tem seu dono, fazer uma viagem sem pedir licença a quem cuida das estradas já é sinal de mau agouro. Uma rezinha que seja. "Não se sai de casa sem um pensamento".

Uma voz doce canta ao fundo. Bela voz feminina entoa um samba triste, o pandeiro lhe acompanha em procissão. Aos poucos, outras vozes se unem a sua cantoria. E, num ritmado compasso de palmas ganham outra lira:

Viver e não tenha a vergonha de ser feliz Cantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendiz Ah meu Deus!, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será mas isso não impede que eu repita é bonita, é bonita e é bonita

E, numa parte, em seguida, que nem eu conhecia, me acordam do meu sono. Entre uma curva e outra, estrategicamente realizadas pelo nosso motorista, com passos de mestre-sala ao redor do quebrado segundo ônibus da excursão que fazia às horas de porta-bandeira, os meus colegas de viagem continuavam a cantar:

O que é, o que é, meu irmão Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo É uma gota é um tempo que nem dá um segundo Há quem fale que é um divino mistério profundo É o sopro do criador Numa atitude repleta de amor Você diz que é luta e prazer Ele diz que a vida e viver Ela diz que melhor é morrer pois amada não é..

Era como um prenúncio do que veríamos. O 11 Encontro de Jongueiros por fim e entremeios não aconteceu inteiramente no Quilombo São José, em Valença, por causa do barranco que invadiu o único acesso a região. Claro que era possível se aventurar à pé, mas com a garoinha que fazia, desde que saímos de Conservatória, não valia a pena se arriscar naquele breu. Por sorte, assim como nós, quatro grupos de jongueiros não conseguiram subir o morro e se aportaram no tímido clube da cidadezinha de St. Isabel para se apresentar. Afinal, descobri o que era o jongo, como era a dança africana que havia nos levada a embarcar nesta viagem e aí entendi o fascínio.

Tamandaré
Guaratinguetá
Piquete
Serrinha

Aos olhos atentos da matriarca, cada um deles exibia a força de suas cores e gingado enquanto a platéia inesperada daquele pequeno clube se apertava para observá-los. Do lado de fora da roda, arrisquei alguns passos, errei outros, mas no meio da história sobre o som dos atabaques me rendi e estava numa espécie de transe que não sei bem explicar. Empresto palavras do autor moçambicano Mia Couto em O Outro Pé da sereia.

A brasileira afastou-se das outras e, conservando o mesmo ritmo, foi rodopiando pelo pátio, ao compasso das batidas no almofariz. Foi acelerando o passo, deixando-se possuir pela dança. Sambava? Os pés ligeiros desconheciam o voltear do corpo. Aos poucos ela estava penetrando no território dos sonhos.

Quando a festa acabou, fomos todos ao único boteco da região. Pedimos para o senhor abrir as portas, nos servir uma cerveja, era madrugada, mas queríamos mais zunzunzun.. Ali, ao lado da mesa de sinuca, nosso amigo de viagem puxava o samba junto com um pessoal animado daquele município perdido de St.Isabel, no Rio de Janeiro. Eu e minha amiga, entre um copo cheio dali e de cá, tentávamos ainda aprender a dançar o jongo enquanto a madrugada avançava.

Friday, January 05, 2007

Babilônia Brasileira

Eu não aguentava mais contar as horas, os minutos para iniciar a correria (para muitos, a loucura) do meu começo de ano.
Cheguei ao aeroporto com mais de 5 horas de antecedência, para não correr o risco de overbooking ou qualquer pau que pudesse acontecer no sistema aéreo. Vi muuuuuuuitas pessoas das mais diferentes espécies, encontrei amigos, famosos, comi coxinha, bebi suco de uva, fui ao banheiro duas vezes, meus pais foram embora, um cara que eu pagava pau (num programa da MTV ) sentou do meu lado, comprei palavra cruzada, ouvi MP3 e pronto, chegou o grande momento.
Depois de uma viagem mais que tranquila, ao lado de um casal nojentinho (mas simpático) que iria pra Costa do Sauípe, desembarquei de mala e cuia em Salvador, com minhas trancinhas e a maior pinta de sujinha
- Moço, eu cheguei. Que horas sai o bus para o Universo Paralello?
- Olá, moça... vamos sair ás duas horas, horário aqui da Bahia.

Ou seja, tive que esperar, pelo menos, mais uma hora para embarcar naquele ônibus gelado.

- Gente, só pra avisar, prenderam um onibus que vinha de Góiás e outro de Minas... Por favor, que estiver com aquelas coisinhas ilicitas, coloque no bagageiro. Lá ninguém revista e todos podemos seguir viagem em paz. Não precisa ter vergonha... eu, você, ele... todos já fizemos isso.

OK. Tudo escondido, seguimos, rumo ao paraíso, escutando algo bizarro para situação: o motorista firmou suas raízes com 3 CDS inteiros ( e repetidos) do Lapada na Rachada.

Passaram-se 5 demoradas horas até chegarmos no local. O mexicano que estava atrás de mim não estava entendendo nada, só dava risada de tudo que falávamos... ainda mais quando viu que, para chegarmos até lá, deveríamos pegar um pau-de-arara, aqueles caminhões que transportam bóias-frias, animais, etc... Experiência única! Mas deu aquele charme...

Malas revistadas, pulserinha e roteiro na mão : "Bem-vindo ao Universo Paralello, fique á vontade". E fiquei.

Localizei a barraca pela sinalização de bandeiras nas árvores. Mas o espírito de comunidade era tamanha, que tinham duas pessoas estranhas dormindo nela... "Não liga não, são os vizinhos", disse minha prima.

Ligar? To nem aí... vamo pra pista! Até lá, uns 2 km (fácil,fácil), mas que era diminuido pela quantidade de atrações que tinha pelo caminho...Simplesmente mágico!

Todos os meus dias foram de pura festa, desde ás 4h30 da matina (também, com aquele sol...), conhecendo muitas pessoas master diferentes, sem dormir, praia, som, dança, bebidas, coisinhas.... Encontrei meus amigos, conheci mais amigas(os) e uma família nada convencional. Nos programamos para passar o ano novo todos juntos, numa mesma vibe.

Detalhe para a família: a mãe alucinada e empolgdíssima, mas mega responsável; o filho, pentelho, sabe tudo e que cuida dos adultos; o tio, uma bicha, velha, e promíscua(como ele ficou conhecido... hahahaha) e o priminho mais velho, gay que serve ao exército. Todos de Brasília...

Bom, pulando uma graaaande parte de detalhes, a hora da virada(e as seguintes)... ai, ai ai... foram sensacionais! FOI A MELHOR PASSAGEM DE ANO DA MINHA VIDA!

Tudo como eu sempre sonhei: com os meus djs preferidos e experimentando a melhor sensação de tooodos os tempos!Nunca ninguém vai saber (não, entender é mais apropriado) o que aconteceu das 00h00 ás 18h00 do dia 01/01/07, quando tive que deixar aquele lugar .... sem palavras.

Teve gente que achou que os anteriores estavam melhores. Só lamento não ter ido neles...
Até a precariedade dos banheiros foi esquecida!

Se meu ano inteiro for assim, cheio de energia e com aquela inesquecível sensação, eu não quero mais nada!