Monday, January 12, 2009

Ano novo, de novo!

Quando a gente chegou na praia, minha nova amiga abriu a bolsa pra mostrar o que tinha trazido pra gente. Dois cadernos. Duas canetas. A idéia era aproveitar o último dia do ano pra escrever as resoluções de ano novo. Pra ela, o ano de 2008 foi tumultuado - no mau sentido. Desilusões amorosas, alguns problemas de saúde, um estresse constante. 2009 tinha que ser diferente, começando pela virada. Aliás, essa é uma das coisas mais bonitas que o Brasil tem. A esperança. Acho que já postei aqui, mas aí vai de novo um pedaço desse poema de Carlos Drummond de Andrade:

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

"Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente…"

Na Austrália, ao contrário, não se comemora muito o ano novo. A grande festa é no dia 26 de janeiro, no Australia Day. No Réveillon as pessoas costumam ir pra festas. Na casa de amigos ou em baladas. Normalmente nessas épocas os clubs fazem pacotes especiais, open bar, o que é difícilimo de se ver por aqui. Portanto, ano novo acaba sendo só mais uma desculpa pra beber. E isso sem nenhum ritual especial. Nada de vestir uma cor específica, muito menos escolher lingerie.

O meu ano novo eu passei trabalhando, como deveria ter passado o Natal. Mas, com medo de ser mandada embora às 11h e pouco de novo, dessa vez tinha feito mil planos alternativos. Pra começar, no próprio dia 31 quando saí pra comprar a calcinha nova, acabei achando uns vestidos em promoção. Experimentei dois e não ficaram legais, quando coloquei na arara, vi um tamanho M, todo branco. Cinco dólares. Serviu perfeitamente. Por mais que o povo daque não use branco no ano novo, por $5 não tinha nem o que pensar. Levei o vestido na bolsa pro trabalho. Já tinha combinado com essa amiga, se terminasse cedo, trocava de roupa e ia com ela pra praia jogar rosas brancas a Iemanjá. Como o vestido tem um elástico embaixo, não ia nem ser ruim pra pular as minhas sete ondinhas.

Eu tinha deixado de trabalhar em um outro evento pra trabalhar na balada. Se ela estivesse cheia, seria mais divertido do que ficar de garçonete em um jantar. Se tivesse vazia, tinha amigos em mil outras festas pelo bairro. Um dos clubs era festa à fantasia, outra black tie, Las Vegas party, festa do pijama. Cada uma com uma temática diferente. O trem, que aquele dia funcionaria até as 6h, estava lotadíssimo e cheio de gente colorida, dando risada alto, usando roupas engraçadas ou simplesmente diferentes. O único que não tinha programado nada demais era o lugar onde eu trabalho, por isso não tava colocando muita fé. Mas ele encheu.

Como sempre acontece quando está movimentado, não percebi o tempo passar. Sentia meu celular vibrando no bolso, mas nem 5 minutos off eu consegui tirar pra retornar. De repente (ainda não acredito que por esse novo acordo de repente vai ser derrepente, adoro a expressão, junto é feio!), no momento em que servia quatro tequilas, o dj anunciou a contagem regressiva. É difícil descrever meu sentimento. Foi algo como "já? pô, aí... legal". Tava correndo muito pra esperar chegar até o zero. Faltando 7 segundos pra meia-noite voltei pros meus copinhos de shot. Vi meio de canto de olho meu gerente estourando uma caixinha com papeizinhos coloridos, cobrei as bebidas e fui pro próximo cliente. Uns cinco minutos depois, quando todos os glassies (galera responsável pelos copos, gelo e reposição de bebidas) estavam do lado de dentro do balcão, brindamos o ano novo com um shot de Galliano Amaretto (licor de vanilla) e voltamos pra correria.

Mais ou menos às duas da manhã, um pouco mais tranqüilo, eu e o bartender indiano quase trombamos ao tentar usar ao mesmo tempo a caixa registradora que ficava entre a minha área e a dele. Parei, dei uma respirada. Foi a primeira vez na noite em que consegui parar. A gente riu da correria e ganhei um aperto de mão de feliz ano novo. Dois, na verdade, porque depois também cumprimentamos o moço que esperava pra ser atendido e acompanhava a cena dando sorrindo. Já o abraço de feliz ano novo, só no final do shift, indo embora, ao me despedir do meu gerente - pelo menos foi em alguém do sexo oposto, como manda a tradição.

O relógio do ponto marcava 5h58 quando fui passar o cartão pra ir embora. Já estava claro na rua. Ganhei uma carona pra casa, dormi 2h30 e saí de novo pra outro trabalho, dessa vez garçonete no bar vip de uma corrida de cavalos, o Perth Racing, evento tradicional do dia 1 de janeiro.

O primeiro dia do ano acabou como qualquer outro, só um pouco mais corrido, afinal, tem que aproveitar a essa época, em que mais tem trabalho. Janeiro é muito devagar. De resto, é difícil fazer projeções, traçar planos mais concretos.

Não é à toa que, meio que inconscientemente, acabei dormindo na praia em vez de escrever no caderno trazido pela minha amiga. Desde o meio do ano, quando larguei o trabalho no Brasil tem acontecido uma série de mudanças. Tantas que às vezes é até difícil se adaptar. Foi a viagem pro outro lado do mundo, foi minha perna queimada (que só agora está relativamente normal), meu irmão que sofreu acidente, mudança pruma casa só minha com minha amiga, três mudanças de curso, um número praticamente incalculável de trabalhos diferentes, um monte de gente nova, de experiências novas, até o simples fato de ter me despedido da minha cachorra... tudo isso alterou substancialmente a minha vida nesses últimos meses, tanto que até o cabelo eu mudei de forma radical - sinal fortíssimo de renovação para as mulheres.

Portanto, por mais que eu adore essa perspectiva de ano novo, de coisas novas, acho que no momento eu estou no meu próprio redemoinho, mudando por mim mesma. Da mesma forma que o furacão atravessa um estado do país em direção ao outro, eu passei de 2008 para 2009. Não vou dizer que o ano não faz diferença. Muito pelo contrário, faz muita. Mas agora é só um fator a mais, uma mudança a mais. 2008 foi um ano tumultuado - no fim das contas, no bom sentido. Então, minha única projeção para 2009é que a vida continue assim, cheia de coisas novas. Que os problemas, se não puderem ser evitados, sejam remediáveis e que as coisas boas sejam cada vez mais freqüentes (freqüente com trema, aproveitando enquanto ainda posso usá-la).

Sunday, January 11, 2009

Um Natal para relembrar (de outro Natal)

Fim de noite do dia 25 de dezembro. Por fim, meu carro tinha voltado a funcionar. Eu já achava que essa história de ciclos era uma verdade irritante. Há dois anos, em 2006, tinha passado a minha véspera de Natal trabalhando e a meia-noite em si no carro, indo pra casa do meu avô. Essa véspera de Natal eu também passei trabalhando, como bartender numa balada - meu novo e possivelmente último emprego em Perth antes de mudar pra outra costa. A meia-noite em si passei no trem, a caminho de casa, já que o lugar estava mega vazio.

Desde que minha amiga soube que seria transferida de dezembro a janeiro para o sul, a principal preocupação (dela) era onde eu ia passar o Natal. Mas aqui ninguém tem família, então festa é que não faltou. Eu é que tinha preferido trabalhar. Pena que foi só por duas horas, mas sem grandes dramas. Esse ano parece que o Natal não aconteceu. Mandei presentes pra casa, tirei fotos com chapéu de ajudante de Papai Noel, a cidade estava - e quase um mês depois continua - enfeitada, mas os três fantasminhas de Charles Dickens não foram bater na minha porta e a data passou como outra qualquer.

O dia 25 passei com uma família australiana, família do namorado de uma amiga. Daí, tudo bem parecido com os brasileiros. Muita, mas muita comida. Carneiro, batata, salada, e não lembro mais o que. As sobremesas, por sua vez... Cheese Cake, Sticky Toffee Pudding, frutas e uma casinha de biscoito de gengibre com balas de goma e MMs da qual eu comi grande parte.

A tradição daqui é a bombom box. Parece um bombom enorme (eu fiquei aguada quando vi no supermercado), mas é vazio. Eles fazem parte da decoração da mesa de Natal, e ficam em cima de cada prato. Na hora de sentar, antes de comer, cada um pega o seu. Uma pessoa puxa um lado da embalagem, a outra puxa o outro. Faz um estalinho, estoura a embalagem. Dentro tem uma coroa de papel fininho, meio crepom, um brinquedinho tosco e uma piada sem graça. Mas pelo menos as fotos ficam bonitinhas quando todo mundo usa o chapéu, até eles rasgarem.

Amigo secreto também tem, sob o nome de Secret Santa. Mas pelo menos na família onde eu estava, foi tudo mais simples. As pessoas escreveram o que gostariam de ganhar e em determinado momento, houve a troca de presentes. Cada um procurou o seu par e "oi, tá aqui o seu presente, eu sou seu amigo secreto". Nada de discurso, adivinhar quem é a pessoa... se não fosse pela dona da casa ter feito confusão e colocado duas vezes o nome dela e nenhuma o do filho, ninguém teria dado risada (num milagre de Natal, a irmã dele, por concidência, viu o mesmo cd que o moço tinha pedido, e comprou pro aniversário dele, que era um dia antes, então nem sem presente ele ficou). Outro ponto alto foi o kit retirement, que todos os filhos deram pro dono de casa, recém-aposentado. Vara de pesca, camiseta, livro, brinquedo... tudo dentro de uma mala. O problema é que a maioria das coisas era só emprestada pra brincadeira, nem sempre com o consentimento dos donos, o que fez um dos moços protestar indignado ao ver sua camisa nova dentro do tal kit.

Como em todo bom Natal, lá naquele tinha uma velhinha simpática, com quem conversei por muito tempo. Ela até foi me mostrar a casa dela, the nana house ou algo assim. É a casa dela, dentro da casa deles. Quarto, sala, banheiro, cozinha separados por uma porta no fim do corredor.

No fim do dia, depois da minha dose de desprendimento de ter dado o meu chapéu de duende pras crianças da casa, fui com o carro alugado (o mesmo da viagem, já que por dez minutos tinha pego a agência fechada) pra Fremantle, dar feliz natal pros meninos. Parei o carro, vi que tinha dois quarteirões ainda. Tentei sair com ele, não consegui. Meia hora depois, meu amigo fuçando no motor, nada. Resolvi desencanar e tomar uma cerveja. Quem sabe mais tarde ele resolvesse sozinho. Foi assim todo o final de semana. Descontados uma ou outra confusão, dirigir do lado contrário tinha sido fácil. O problema foi a seta, também do outro lado, o que me fez perder a conta de quantas vezes eu liguei o pára-brisa por engano. Outro problema era que o carro, apesar de só com 4800 km, nem sempre ligava de primeira. Tentava uma, duas vezes, de repente ele funcionava. Então achei que ele só precisava de um tempinho. Uma hora depois, me despedi e fui preparada pra tentar de novo e chamar o seguro.

Há dois anos, no mesmo Natal de 2006 eu fiquei da meia-noite às 3h da manhã com o mecânico na frente do trabalho pra conseguir fazer meu carro funcionar. Por sorte, dessa vez funcionou sozinho. Voltei pra casa dos meninos, deixei o carro na garagem compartilhada com o vizinho. Mais uma cerveja, mais uma hora. Fui embora torcendo pro carro funcionar. Nada. Meu amigo perguntou se algum segredo. Eu não sabia de nada. Em todo caso, por instrução dele, tentei ligar pisando no freio. Em seguida, na embreagem. E daí ligou. Desligada que sou, não lembrei da mulher da agência me dizendo que tinha que pisar na embreagem pra ele funcionar. Também não percebi que durante os últimos 3 dias o carro só ligou quando pisava na embreagem. Acontece que na primeira tentativa, tranquila, tentava sair no ponto morto e nada. Na segunda ou terceira, já estressada e pronta pra forçar o motor, colocava a primeira, pisava na embreagem e o carro ligava. Temperamental era eu e não o carro.

Por fim, fiquei satisfeita ao perceber que a vida não é feita de tantos ciclos. Ou então até é, afinal, naquele Natal o problema também era o segredo. Tinha acabado a pilha do chaveirinho que libera a injeção eletrônica - mesmo mecanismo da embreagem. Em todo caso, é sempre bom perceber que a gente pode aprender com os erros. Dessa vez, meu amigo descobriu o segredo antes de um novo mico com a seguradora. Não fui bem eu, mas tá valendo. Quem sabe da próxima.

Thursday, January 08, 2009

Torta de frango

Vocês assistiram à Fuga das Galinhas? Me sinto trabalhando no filme. É impressionante como as pessoas mudam o comportamento pelos motivos mais mesquinhos do mundo. Como o pretenso poder vira arrogância e as pessoas em volta viram cocozinhos. E passam a ser tratados como tal.

Poder tanto hierárquico, cargos de chefia etc, como o mais comum aqui, um lugar em que as pessoas aparecem no vídeo, causado pela inflamento constante do ego.

Pois é... Aquela história de que você conhece a pessoa de verdade quando dá poder não poderia ser mais verdadeira. E a minha paciência não poderia ser menor.

Aqui as pessoas entram galinhas e saem tortas de frango.
Argh!!!

Monday, January 05, 2009

Muito mico pra pouca praia

Mudar de país normalmente significa uma redescoberta. A comida tem que mudar já nem tudo se encontra aqui; a fruta até tem a mesma, mas custa caro e o sabor é diferente, a roupa tem outro estilo (a das australianas é larga na cintura e apertada na coxa, o que obiviamente não funciona pra mim e minhas pernas delicadas). Sendo assim, então por que não começar do zero e se reiventar?

É com esse pensamento que, dando risada, encarei a faca enorme pra cortar limões em fatias no meu primeiro dia no bar. Foi com esse pensamento que me permiti ser prendada. Tento cozinhar, lavo minha roupa e carrego três pratos com comida de uma vez com perfeição (um em cada mão e um último no antebraço). Por fim, foi com esse pensamento que eu quase aceitei desistir da barraca e pagar 150 dólares a mais pra ficar no caravan park (um trailerzinho fixo, que funciona como um chalé).

A gente já estava há mais de uma hora tentando montar aquela barraca enorme, que minha nova amiga tinha pego emprestada. Ela tentou montar em casa e não acabou. Daí foi me mostrar até onde tinha ido, mas não rolou muita melhora. Os pauzinhos não ficavam direito, pareciam menores do que deveriam e tinha alguma coisa de errada com a a tenda. Como estava escurecendo, cedi. Em último caso a gente dormia no carro.

Nós duas não nos conhecíamos muito bem. Nos apresentamos um dia procurando emprego, marcamos de sair algumas vezes, mas só nos encontramos uma ou outra vez na baladinha brasileira. Como ela estava com 4 dias de folga, me chamou pra viajar. Como eu também estava, aceitei. Ainda mais agora com minha roommate longe. Combinamos na 5a, demos certeza no sábado, alugamos carro, decidimos a cidade e saímos na 2a. O camping mesmo, só quando chegamos lá. Não deu tempo pra nada. Eu não sabia que ela se estressava. Ela não sabia que eu sou teimosa.

No fim, tudo certo, nenhuma briga. Mas pra não causar mais estresse e tentar evoluir espiritualmente, cogitava desistir da barraca antes que ficasse tarde demais. "Eu não preciso ser assim, eu posso desistir das coisas", repetia comigo mesmo, me recusando a acreditar. Foi aí que os meninos apareceram. Um loiro, cara de australiano do interior, meio chucro, cabelo raspado na lateral com um tufo atrás, uns 17 anos. O outro da mesma idade, moreno, simpático. Os dois viviam na região, sul do estado mais deserto da Austrália. O sotaque então, fortíssimo. Mas a gente conseguiu entendê-los o suficiente pra aceitar a ajuda. Minha amiga ainda ficou meio reticente. Não era possível que eles conseguissem montar antes de escurecer de vez. Eu só estava feliz de não ficar com aquela marca de impotência na testa. Tudo bem que eu não montei, mas a idéia de pagar a mais por que não consegui era frustrante.

Passei um tempinho analisando a bola de rugby que eles deixaram no chão. "Reds" - aparentemente, o nome do time daqui. Pensava em como a vida é feita de coincidências, já que com aquele bando de homens olhando, foram justo os que brincavam com a bola de rubgy que vieram nos ajudar e o nome então... Daí lembrei do moleque da recepção, zuando que com toda certeza teria algum homem forte pra nos ajudar caso a gente não conseguisse montar a barraca. No fim, olha quem foram os nossos homens fortes... de nada adiantou escolher o camping porque era uma praia de surf (e surfistas).

De repente, olhei pro pano no chão e levei um susto. A cor não era a mesma. Eles estavam montando outra coisa. Ou melhor, eles estavam montando a coisa certa. Chamei minha amiga. Meio desacreditada, meio com vergonha, mostrei o erro. O que a gente estava montando não era a barraca, era a cobertura dela!

Sim, mesmo com sete Jucas nas costas eu tive a capacidade de perder uma hora e meia da minha vida tentando montar a cobertura da barraca! Não é a toa que nunca ia dar certo. Minha amiga, que foi quem começou a montar, disse que nao tinha nem reparado naquela parte dentro da sacola.

Antes de começarem, os meninos disseram, meio timidos, que montariam em 20 minutos. Fizeram em 5. No fim, os cerca de quinze caras que assistiam a mim e minha amiga pelos últimos 90 minutos sem levantar a bunda da cadeira desmontável por outro motivo se não pegar outra cerveja, bateram palmas. Um xingamento foi a única coisa que me ocorreu naquele momento.

Pros nossos heróis, prometemos uma cerveja na tarde seguinte, mas pra fugir do frio que passamos na primeira noite, bebemos duas garrafas de vinho e mas não vimos mais os tais.

Na volta pra cidade, 2 dias depois, mais uma pra contar. Meu celular não pegava e minha roomate, a la minha mãe, ligou pra todos os nossos conhecidos tentando me encontrar, com medo de que alguma coisa tivesse acontecido.

Os meninos de Fremantle foram em casa à 1h da manhã. Lá encontraram o namorado da minha amiga que foi fazer a mesma coisa. No carro, um monte de indianos esperava a carona pra casa. Por fim, meus amigos conseguiram o número de uma menina que tinha o telefone de outra que tinha o telefone da minha companheira de viagem. Foi no celular dela que minha amiga conseguiu me encontrar. Seria vergonhoso, mas vai ver já acostumei.

O clima muda e a cidade não continua a mesma

Não vá embora antes do final do ano; Perth é uma cidade no inverno e outra no verão. Isso era o que as pessoas me diziam desde que cheguei na Austrália, normalmente depois de me perguntarem se eu estava achando o lugar muito parado.

O calor em Perth costuma chegar em outubro. Em dezembro, a temperatura freqüentemente ultrapassa os 40 graus. Nesse ano, demorou pra vir o tal calor, mas ele veio. E junto com ele um monte de gente na rua e de eventos na cidade. A primeira mostra foi em outubro, ainda sem calor, quando a cidade se movimentou por dois acontecimentos esportivos. O primeiro deles, Red Bull Air Race, in Perth. O segundo, no outro lado um pouco mais ao sul do país, a Melbourne Cup.

Perth é uma das etapas mundiais da corrida de aviões. Por semanas vários outdoors anunciavam a competição. Durante todo o dia, aviões faziam um de cada vez um monte de acrobacias em um circuito em cima do Swan River, rio que limita o centro de Perth. Quem quisesse, pagava a entrada pra ver tudo de pertinho, mas a maioria preferiu dar só uma olhadinha, por uma meia hora, sentada, de longe, de graça, do outro lado do rio.

O outro evento, Melbourne Cup, é uma corrida de cavalos que atrai milhares de pessoas todos os anos. Os torcedores, ou apostadores, vão vestidos a caráter. Homens com terno e chapeuzinho de gangster e mulheres de vestido de festa e chapéus ou arranjos enormes na cabeça. A diferença é que a tradição não se restringe ao jóquei. No dia da Melbourne Cup, as pessoas vão trabalhar com essa espécie de fantasia e se reúnem em bares ou restaurantes na hora do almoço para assistir às corridas, que ao todo não duram mais do que duas horas. O bolão é feito entre amigos, mas os restaurantes ajudam com um prêmios para o melhor chapéu. Depois disso, algumas pessoas voltam pro trabalho, mas a maioria mata o resto do dia bebendo no bar em questão, o que faz do evento quase um feriado nacional.

Mais do que o jogo em si, australiano gosta do ambiente, tanto que outro esporte famosíssimo é o criquet (versão profissional da nossa brincadeira de Taco). Existem três modalidades de criquet. Na mais longa delas, Austrália e África do Sul passaram cinco dias entre Natal e ano novo, de 4a a domingo, das 11h às 18h aproximadamente, fazendo uma mesma partida. Se fosse no Brasil, nunca que um jogo desses atrairia gente. Aqui, as pessoas pagaram ingresso e encheram o estádio pra assistir sentados na grama ou na cadeirinha à disputa interminável - que terminou com vitória sul-africana.

Por fim, verão também é música, shows e festivais. Cada suburb (o que pode ser entendido como bairro ou cidade) tem o seu festival. Normalmente isso significa lojas abertas até mais tarde, palcos com showzinhos e alguns desfiles de carros alegóricos, o que lembra bem vagamente as escolas de samba de cidades do interior. Todos os festivais têm a presença de uma escola de samba supostamente brasileira, já que australianos cada vez mais se identificam com o samba, e passistas que acabam a fama de que brasileiras são as mais bonitas do mundo.

Como verão também é época de férias escolares, o centro da cidade vira praticamente um show de talentos. Crianças ocupam o calçadão do shopping e cantam, tocam flauta de sopro, violino, dançam, fazem embixadinhas. Tudo pra ganhar algum dinheiro. À noite, as ruas lotadas completam a mudança. Mesmo por que com o sol se pondo às 9h da noite e um calor de mais de 20 graus não dá pra ficar em casa.