Tuesday, April 01, 2008

Do you trust me?

Uma das qualidades mais importantes nas pessoas é a confiança. Se Jasmine não acreditasse em Aladin, eles nunca teriam dado aquele passeio fantástico de tapete pela noite de Bagdá. Se você não confia na pessoa com quem está, não se entrega, o relacionamento não é metade do que poderia ser. Mas é complicado se abrir, se entregar, ser sincero consigo mesmo e com os outros.

Inconscientemente já nos enganamos. A gente não tem tempo para parar e pensar nas decisões diárias. E nessas, você não sabe mais o que é verdade e o que você gostaria que fosse. Toma decisões baseadas no que acredita ser verdade e tudo vira uma bola de neve. De repente, vem aquele sentimento de vazio. O que eu estou fazendo com a minha vida é uma questão constante. Do que eu gosto de verdade, do que eu me acostumei a gostar ou do que eu nem gosto mais e ainda não percebi? Crises de identidade são mais normais do que deveriam.

Segundo alguns, elas acontecem porque as pessoas mentem tanto que acabam acreditando na mentira. Eu vou além. Acho que acreditar na mentira é uma necessidade. Se você a todo momento se lembrar que está mentindo, como conseguir viver? Como vai conseguir olhar no rosto das pessoas, se olhar no espelho? Por isso, às vezes é melhor acreditar na própria mentira. Assim não tem que enfrentar as conseqüências nem mesmo sua consciência.

Mas, como sempre, existe o outro lado. O meu problema é que mentir, omitir, dá muito trabalho. É preciso pensar antes de falar, lembrar da versão inventada, não cometer erros. Por isso, acho que o melhor é evitar a fadiga e a sujeira na aura e contar tudo de uma vez. O estresse é maior, mas não dura pra sempre.

Além do que, esse joguinho de meias-verdades é cansativo pros dois. Pro que mente e pro que escuta, que tem que ficar preocupado, tentando tirar a verdade o tempo todo.

Isso costuma acontecer de vez em quando, no dia-a-dia, mas é mil vezes acentuado em uma determinada época do ano. Inventada na França não sei em que século para pegar os que se atrapalhavam com a mudança de calendário (o ano novo deixou de ser comemorado na última semana de março para ficar como é hoje), a tradição do primeiro de abril consiste em contar mentiras para os amigos.

"Terminei o meu namoro", "voltei com meu ex", "seu pai sofreu um acidente", "vou te dar um cachorro de presente". Ah, quantas vezes eu já caí - e ainda caio - nessas brincadeiras no mínimo bobas (se bem que, pelo menos são bobas. Se me chamassem pruma festa de réveillon que não existe eu ia ficar muito, mas muito frustada).

Depois, fico na dúvida... é melhor acreditar de cara, mesmo correndo o risco de ouvir um irritante "pri-mei-ro-de-a-briiiil", ou me cansar fazendo todas as perguntas possíveis e imagináveis até ter certeza que é não verdade? Pra completar, sempre tem aqueles sem graça que resolvem fazer anúncios (verdadeiros) justo no dia da mentira, com o único intuito de tumultuar ainda mais a vida das pessoas.

Tanto desperdício de energia! É tão bom poder conversar com os outros, acreditando neles, sem a presença de um diabinho atrás da orelha lembrando o tempo todo o calendário...

Ano que vem acho que tomo um remédio e passo o primeiro de abril inteiro dormindo. Se bem que, eu, 24 horas dormindo, nem que não fosse dia da mentira alguém ia acreditar.