Tuesday, August 28, 2007

O poder das escolhas

Sou indecisa por natureza. Desde criança, ficava mais de meia hora na banca de jornal para escolher apenas uma revistinha. Mônica, Cebolinha, Cascão ou Magali. Muitas opções pruma pessoa só.

Em compensação, depois que decido aprendi a não voltar atrás, não me arrepender. Justificativa pra ser cabeça dura, exemplificava com a imagem: "eu demorei seis meses pra escolher de que lado faria meu piercing. Imagina se toda vez que me olhasse no espelho pensasse 'ah e se eu tivesse feito do outro lado?'".

Por isso mesmo que demoro ainda mais pra tomar as tais decisões. Se sei que não vou me voltar atrás, tem que ser algo bem pensado. Pra decidir a cor dos vestidos pra festa foi um caos. Eu e Lucy... uma pior que a outra. Por fim, nossa quase Jones, mais impulsiva, foi toda de vermelho. Lucy, de peruca e pétalas rosa e vestido amarelo. Eu, de peruca e pétalas laranja e vestido azul. mas fofas.

Na hora da festa, novos problemas: o que beber? estou com vontade de cerveja, mas jurupinga é tãaao bom e demora tanto pra vir de novo pegar os copos, melhor escolher bem. Como a festa é open bar, facilita. Pego um de cada. Faço isso uma, duas, três vezes, pelo menos.

No fim, o cansaço de fim da festa, aumentado pelas escolhas não feitas, provoca um pequeno tombo. Mais uma das vezes que eu literalmente caio em festa (ou, como brincou minha mãe, saio embalada da balada). De lembrança, um joelho e uma perna bastante ralados. Qual deles? O esquerdo, mas isso eu não precisei escolher. Como conversava com Lucy um dia antes, o cansaço simplifica as coisas, a gente não pensa, só faz, e, em alguns casos, paga o preço depois.

Fomos umas bonecas

No meio da pista, Lucy dançava com a cabeça enfiada dentro da fantasia. Estava como uma própria flor, acomodada dentro do vaso vermelho. Já eu há muito tinha deixado de ser a boneca. No fim da festa, o pancake já tinha saído, o chapéu de pétalas laranjas caía a todo instante e por isso eu tambteém tirava a peruca para recompor o visual.

Em todo caso, valeu. Até agora é difícil acreditar que fizemos tudo aquilo sozinhas.

E tudo foi tão rápido, em apenas três dias. Na quarta à noite entramos em crise.

- Do que vamos na festa deste ano?
- Não sei. Pensa em algum desenho animado
(...)
- E se a gte fosse de menina-flor?
- Ah, Lucy, não lembro desse
- Tá, então vamos pensar em outro.... ah, Patty. Tudo mundo lembra da boneca
- É, eu sei. Na hora achei que você estava falando de desenhos e eu não conheço nenhum desenho de menina-flor. Já a boneca eu tinha.
- Então vamos?
- Vamos!

Respondi já pensando "não vai dar certo". A gente de vestido, flor na cabeça e vaso escondido andando pela festa. Não ia dar. Mas deu!

Do nada, aquele estalo. Vou para o paint, faço o desenho, mando pra Lucy, cujas idéias bateram perfeitamente. No dia seguinte fomos às compras.

12 metros de tecidos; três sombreros; 15 placas de EVA; um rolo de plástico verde; seis bambolês; muito pancake; fitas e rendas para criarmos três meninas-flor, com produçõ e tecnologia própria. Eu, Lucy e nossa quase-Jones fizemos vestidos mais vasos mais chapéus em apenas dez horas. A única ajuda, apesar de essencial, foi no manejo da máquina de costura.

Meninos, se vocês quiserem fiquem à vontade para falar da festa fantasia em si, tanto por posts quanto por comentários. Eu estou feliz falando só das nossas fantasias.

Thursday, August 16, 2007

A luta pra chegar no 8

Não é que eu não me importo com as pessoas... acho que eu simplesmente sou aérea demais para demonstrar. Além do que, essa coisa de se abrir às emoções caaaansa...

Quando Lucy disse que buscava algum evento que a tivesse feito ficar "desse jeito" eu respondi imediatamente: "o meu motivo é fácil, a mídia", o que provocou gargalhadas dos dois lados. Mas, pensando bem, por mais que todas as minhas heroínas da infância sejam mulheres independentes, seguras e até insensíveis (é só pensar na maioria dos desenhos dos anos 80), isso tem mais a ver comigo do que com os personagens que tanto admirava.

A questão é a seguinte: mudar de humor demanda um esforço muito grande. As pessoas, por definição, buscam a felicidade. Então, em estado natural, é mais fácil você ver uma pessoa feliz do que brava. Para ela ter mudado de humor, algo aconteceu. E no caso de uma pessoa teimosa, não existe aquela coisa de ficar brava por cinco minutos e depois passar. Às vezes, você não agüenta mais o clima ruim, mas nunca que vai dar o braço a torcer. Voltar ao normal significa que o motivo pra você ter ficado daquele jeito não foi tão forte e que, portanto, você que estava errada em ter se exaltado. Enfim, hipóteses inadmissíveis.

Durante anos eu passei por isso. Não admitia que era teimosa. Simplesmente era justa. Se eu estava certa, não tinha porque ceder e, não, isso não era teimosia. Até que uma época, não lembro quando ao certo, assumi que sou uma taurina de verdade, daquelas que dá cabeçada até depois da porta ter caído, e comecei a administrar o meu próprio humor.

Uma das coisas mais gosto é argumentar e, portanto, sei que se entrar numa discussão e a vitória não for minha, vou ficar brava e vai me doer muito dar o braço a torcer. Na verdade, mesmo se eu ganhar ainda vou ficar com aquele orgulho me corroendo, louca pra contar pra alguém como "acabei" com tal pessoa. Mas, graças aos céus, isso é passado. Depois de - assim como Lucy - perder alguns amigos por palavras duras demais (embora as minhas fossem de verdade), passei a evitar discussões desnecessárias e só entro em conversas que sejam filosóficas demais para ter certo e errado. Nas outras, ouço, pontuo, mas não abraço mais pontos de vistas que pouco vão mudar minha vida. Discutir cansa. Cansa você ficar brava e cansa mais ainda voltar a ficar feliz, então vamos cortar etapas.

O problema é com isso a gente fica mais insensível... como 'ficar triste dá trabalho', nem penso em me abalar a não ser que seja por algo importante e mantenho meu (bom) humor natural e constante, sem picos de alegria e tristeza. Deixo de brigar, mas também deixo de dizer que gosto. Por fim, deixo de ver que, de vez em quando, as pessoas precisam de um pouco mais de atenção, por mais meloso que isso seja.

O lado bom de tudo isso, e talvez o real motivo destes post, é que melhorar é possível. Depois uma bronca, passei a colocar um "você quer ir?" quando respondo às amigas que, sim, já sei o que vou fazer no final de semana - o convite, pra mim, sempre esteve implícito, elas que não entendiam. Ainda não é suficiente, mas, segundo a minha eterna despreocupação, já é um começo.

Sunday, August 05, 2007

Meu Pan especial

“Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia.
Tudo passa, tudo sempre passará.”

Ok, não sou a maior fã de Lulu Santos, pra não dizer que o odeio. Mas foi exatamente essa música que ficou na minha cabeça desde que voltei pra casa.

E por quê?

Nem foi a viagem em que passei mais tempo longe de casa, nem foi a que fiquei mais sozinha, isolada do mundo. Afinal de contas foram apenas 40 minutos na ponte aérea, 50 centavos de roaming por ligação, em um mês e meio.

Não tive the time of my life, nem encontrei o amor da minha vida. Não enfiei o pé-na-jaca, acho que posso contar nos dedos os copos de caipiroska que tomei (nenhuma gostosa), e não beijei ninguém, nenhuma alma. Como diria a minha mãe, não por falta de pretendentes, hehe, e apesar de me sentir muuuito carente.

Ai, então por que essa viagem foi tão especial? Por que tanta coisa mudou na minha vida?

Porque realizei um sonho. Porque pela primeira vez trabalhei em um grande evento esportivo. O Pan passa longe de ser o maior, ou o mais importante, e sei que estava lá porque foi aqui no Brasil. Mas foi o primeiro, o MEU primeiro. Sei que fiz tudo direitinho, que gostaram do meu trabalho. Apesar da sensação de que poderia ter feito muito mais, de que poderia ter feito diferente. Acho que sempre vou sentir isso. Não tem problema, foi maravilhoso, inesquecível.

E a vida pessoal então. Um belo dia, no meio do Pan, acordei e percebi que não tava me fazendo falta. Fiquei tão ocupada trabalhando que não pensei, não senti, não lembrei. Então decidi: chega! Não quero nem preciso. Quero sim alguém que saiba o que quer e que seja maduro.

Quero sorriso fácil, suspiros profundos, mente leve, abraços apertados e beijos eternos. Ih, acho que já posso me apaixonar de novo.

Quem diria. Tudo passa, tudo sempre passará. Até pro meu coração

Thursday, August 02, 2007

O belo que só quem não enxerga vê

"Você nem vai lembrar de mim amanhã, né?"
"hahaha, olha é possível"

Não era nem pela quantidade de bebida ingerida, muito menos por tentativa de me fazer de superior que disse aquilo. Lembrar do rosto, do nome das pessoas é uma tarefa cada vez mais difícil.

Excesso de informações, a tal síndrome do mundo moderno (em que você tem acesso a tantas coisas que acha que não sabe nada e, pior ainda, não registra quase nada). Só isso já seria desculpa mais que suficiente para pessoas... esquecidas, digamos.

Mas há ainda tem o fator "pé no chão". Pessoas ditas avoadas têm seu lado positivo, se estressam menos e por isso estão menos sujeitas a morrerem numa briga de trânsito. Em compensação, são potenciais vítimas de atropelamentos e de serem taxadas como metidas, mal educadas e afins.

Por indicação de Lucy, que compartilha desse problema, entrei no grupo "Metida não, míope", do orkut. Mas quem dera todas as pessoas que conheço fossem minhas amigas virtuais e soubessem dessa minha comunidade. Infelizmente, quem chegou nesse nível de interesse é porque já me conhece e não vai ficar bravo se eu passar reto. Ao contrário, esses amigos até se divertem. Esperam passar bem perto pra dar um grito bem no ouvido; agarram o braço ou simplesmente ficam pulando na sua frente, agitando os braços - e comentando com quem estiver do lado "aposto que nem assim ela vai ver".

Cumprimentar é um assunto muito complicado. Além de ver as pessoas, você precisa decidir como vai abordá-las, principalmente em relações de trabalho.

Para e-mails, criei uma regrinha: no fim da página, antes da assinatura, começo com "abçs". Se a pessoa mudar para "bjs", mudo também, assim não passo nem por dada nem por mal educada.

Hoje, voltando do almoço, vi (acho que vi) um dos meninos de outro setor que só encontrei ao vivo umas duas ou três vezes, mas com quem freqüentemente tenho que falar por e-mail, e que, por isso, já passou do para "bjs". Vi o moço, parei, pensei "eu conheço ou não conheço?"... não cheguei a nenhuma conclusão. A pessoa ficou me encarando, mas como eu estava de óculos de sol, não sei se percebeu que olhava de volta ou não. No fim, falei um oi, séria, quase inaldível. Se era, eu falei, ele que não ouviu. Se não era, foi tão baixo que ele nem deve ter ouvido. Chega a ser ridículo você mandar beijos pra uma pessoa que você nem lembra o rosto, mas enfim, acontece.

Pra evitar esse tipo de problema, criei uma terceira regra, porém, como se percebe, não é 100% eficaz. Sempre que conheço uma pessoa tento relacionar o rosto e o nome dela com alguma coisa, normalmente alguém já conhecido. O problema é que se você conseguiu lembrar de uma pessoa porque ela parece com outra, isso significa que o rosto é comum e provavelmente haverão outros também parecidos.

Numa festa chamei um menino de longe, apresentei minha amiga, puxei conversa, ficamos muito tempo conversando, ele meio desconfortável, até que me pergunta "ah, legal, e você, quem é?" Nessa de não lembrar rostos, confundi o menino com um amigo, que estava no mesmo lugar. Argumentei por um bom tempo que ele era sim meu amigo, que só podia estar brincando comigo, até que, de repente, eis que o próprio chega, os dois vestidos do mesmo jeito. Aponto pra um, aponto pra outro... "também, olha só... um igual ao outro... parece espelho". Tanto tentei me justificar que o moço recém-conhecido ficou bravo, virou as costas e foi embora. Meu amigo, por ser meu amigo, só deu risada.

Frase do astrólogo Oscar Quiroga, muito mal reproduzida pro mim, já que lembro só vagamente: as pessoas parecem ficar bravas quando percebem que suas idéias e seus comportamentos não são únicos, mas não admitem o quanto é belo estarmos todos sob a mesma sintonia.