Wednesday, February 21, 2007

"eu vou a pé pelas ruas da cidade"

Aos poucos o batuque dos 75 tambores femininos chamou o público para o início da festa. Passava das dez quando os fogos de atifício marcaram a saída da rua major Quedinho, no centro de São Paulo, do grupo afro Ilú Obá de Min, parte de uma ONG que busca preservar e divulgar a cultura negra no Brasil. Com a temática para o carnaval 2007 de Panteão dos Orixás, a bateria tinha a sua frente cada uma das divindades cultuadas pelo candomblé com uma novidade a mais neste bloco de rua. Equilibrados sobre pernas de pau, o grande patrono do grupo, o guerreiro Xangô, era seguido por Oxalá e Iansã, que iam cantando e dançando para que todo o cortejo os visse. Foram cantados todos os pontos do candomblé. Cada orixá tem o seu e normalmente quando ele é tocado, os filhos daquele santo entram em transe. Mas, a festa não era num terreiro e sim no meio da Coronel Xavier de Toledo, onde o povo parava o trânsito e o carnaval pedia passagem, por isso o representante de Xangô não se fez de rogado quando seu ponto foi entoado e com as tochas que estavam em sua mãos cuspiu fogo para as pessoas conhecerem a força do guerreiro. Achei a maior graça de dançar no meio da rua porque era tudo muito espontâneo o que evocava um estranho senso de liberdade. Tanto que, de repente, quando precisaram, lá estava a gente se juntando ao cordão de segurança para dar espaço aos integrantes do grupo. A polícia se manteve presente o tempo inteiro, mas longe. Quando a batucada chegou ao auge na Igreja do Rosário, Irmandade dos Negros, era uma da manhã. O nosso grupo decidiu prosseguir o papo pela madrugada numa padoca assistindo ao desfile das Escolas de Samba. Para o intuito decidimos caminhar até o Bexiga, conhecidissimo como o berço do samba em São Paulo. No sábado, a cena se repetiu em outra parte da cidade. Agora, era a Fradique Coutinho, na Vila Madalena, que ouvia uma multidão espantar os frequentadores dos bares naquela noite chuvosa ao som de maracatu. Isso mesmo, os batuques dos meninos fantasiados, porque não, de meninas, com vestidos e blusinhas rosas, era batucada das boas. Depois do percurso que incluiu uma passada pela Mourato Coelho e Aspicuelta, o pessoal foi parar numa balada para escutar um DJ muito louco tocar Gil e logo em seguida Jamiroquai. O começo de noite logo ganhou a madrugada.

Thursday, February 15, 2007

O batismo

Esse texto já vem sendo prometido por mim, uma quase-jones, há alguns meses. A mesma desculpa me fez adia-lo: tempo, ou melhor, a falta dele.

Nesse meu batismo, nada melhor do que começar pela apresentação.
Sou Ariel Jones. Sim, Ariel por causa da Pequena Sereia, minha princesa favorita; que vem da Disney, meu lugar favorito no mundo inteiro - Só fala mal quem nunca foi!!! E acreditem, isso já diz muito sobre mim.

E já que o ano está começando, nada melhor do que cumprir uma das muitas promessas de ano novo, e escrever um texto para o blog as Jones.

Ano novo, vida nova. É o que costumam dizer e que eu estou fazendo um tremendo esforço para acreditar. Não que 2006 tenha sido um ano ruim. Fui contratada no lugar onde queria trabalhar, e trabalhei muito muito muito, tive uma formatura inesquecível, trabalhei muito muito muito, consegui passar um diazinho no Juca, trabalhei muito muito muito, teve Copa do Mundo na Alemanha, Mundial de Ginástica em São Paulo (sim, vi Marian Dragulescu e Elena Zamolodchikova de pertinho) e tantos outros momentos especiais.

E outros tantos momentos de tristeza. Quanto tempo é necessário para deixar de amar uma pessoa? Quanto tempo precisamos para superar a perda de um grande amor? Quanto tempo ainda mais haverá de sofrimento?

Como escrever sobre isso não alivia para o meu lado, vou começar a cumprir outra resolução de ano novo: não pensar para não sofrer.
Esse é o único e doloroso caminho que tenho para chegar lá.

E daí é que vem mais uma promessa. Por milhares de motivos passei
muito menos tempo do que gostaria com as minhas amigas. Mas quem
diabos é melhor do que elas para alegrar a minha vida e amortecer
esse longo caminho?

Um exemplo? Acabo de receber um horóscopo via e-mail, da minha
amiga Lucy Jones:
LEÃO - Vários planetas incentivam o amor, siga o coração,
apaixone-se e inaugure uma nova era na vida íntima ... Mudanças no
estilo de vida incluirão novas atividades no cotidiano (e viva o
rugby!).

Mesmo sem perceber, ela me ajuda... Todas me ajudam muito. E nada,
excesso de trabalho, cansaço, Jogos Pan-americanos e até mesmo um
novo Eric (para quem não conhece, é o príncipe encantado da Ariel)
irá me afastar delas.

E assim chega ao fim esse meu primeiro texto, tão sem rumo como
está a minha vida.

Mas sobrevivi ao meu batismo, e acho que agora já posso ser
considerada uma legitima Jones!


Sunday, February 04, 2007

À procura de um herói

Texto que já estava pronto há um bom tempo, esperando pelo post-estréia de nossa nipoJones, que também já está pronto, e em breve aparecerá nesse site

***

A semana seguinte ao dia 12 de janeiro foi marcada pelo acidente conhecido como o buraco da Marginal. Enquanto equipes de 30 bombeiros cada se revezavam debaixo da terra para tentar resgatar as vítimas, dezenas de jornalistas ficavam de plantão nas escadarias da estação CPTM de trem à espera de notícias.

Por três dias eu estive entre eles. E como notícias não são só o que está acontecendo neste momento aproximadamente às 16h o pessoal da redação me liga pedindo que encontrasse um personagem em especial: o operador que estava trabalhando no alto da grua (espécie de guindaste) que quase caiu no buraco na hora do acidente. Como a direção do consórcio tinha instruído os funcionários a ter o menor contato com a imprensa, pedir ajuda ao assessor era inútil e o jeito era ver se um dos operários sabia pelo menos o nome do moço que viu todo o acidente de cima e por pouco não foi mais uma vítima.

Saí feliz do cercadinho feito para jornalistas, uma espécie de chiqueirinho para crianças delimitado por faixas da CET, e fui esperar a passagem de operários da Via Amarela, já que o lugar onde eles ficam é bem afastado, permitido somente para funcionários. O problema é que ele saíam muito pouco. A troca de turno, conforme descobri depois, tinha acontecido há cerca de duas horas. Mesmo assim consegui conversar com mais de uma dezena deles. Meio receosos, apesar de nem todos conversarem numa boa, tive alguns bons papos. O único problema é que não achei um que estivesse trabalhando no dia do acidente.

A Via Amarela possui 26 frentes de trabalho divididas em todo o trecho a ser construído do metrô. Com o acidente todas foram enviadas à estação Pinheiros, o que tornou minha busca ainda mais difícil. Não bastava só falar com os operários, tinha que ser o operário do setor certo. Como a oferta de operários era pouca, mesmo que não soubessem nada, continuava conversando com os que estavam por lá. Quase uma Maria Concreteira, se é que esse termo existe. Com um deles o papo durou mais de meia hora. O seu nome é F***.

No final do meu plantão, encontrei com ele de novo. Já cansada, pergunto brincando: "Poxa, F***, nada de descobrir o nome pra mim?" Já tinha pedido outras vezes, mas ele não sabia e nem pensava em se expor tentando descobrir. Por isso, mais uma vez, deu uma risada meio tímida e negou. Mas talvez incentivado pelo amigo que estava do lado, resolveu em segredo me ajudar.

Cinco minutos depois estava no telefone com o pessoal do trabalho quando F*** passa na minha frente sem nem olhar pro lado. Em seguida, o amigo passa e me diz entre dentes: "vai atrás dele que ele vai te dar o nome. Mas disfarça". Empolgadíssima, desliguei o telefone e saí correndo atrás de F***. Já eram quase 10h da noite, o lugar estava bem menos movimentado e muito escuro. F*** se escondeu atrás da tenda da CET onde não havia ninguém e eu fui atrás - o que depois ia me render uma bela bronca da minha mãe, que ficou toda preocupada com o que pudesse ter acontecido.

Muito sério, ele me entrega um papel dobrado sem nem olhar direito pro meu rosto e me diz baixo e muito rápido "olha, não fui eu quem te deu. Lê e queima depois". Ainda fui me justificar "ah, imagina, eu falei com tanta gente, ninguém nem vai imaginar que você", mas antes de eu terminar a frase ele já estava longe. Abro o cartão toda feliz, mas quando olho...

"Ricardo"

Só "Ricardo". Sem nome, apelido, nada. Com aquele quantidade imensa de operários o que eu ia fazer com o primeiro nome só? Quase saí correndo atrás de F***, mas ele ja estava longe, disfarçando, como se tivesse cometido o maor dos crimes. Liguei de volta para a redação e contei a super descoberta, que provocou muitos risos do outro lado da linha.

Mais de quatro horas conversando com todos os operários que vi pela frente, um super esquema de entrega de informações para ter só o primeiro nome. E se ainda fosse Wandcleison, Iarlei... até poderia ser. Mas Ricardo?

Dois dias depois saiu no Estadão uma entrevista com o moço da grua, que não chama Ricardo, mas revezava na grua com ele. Por isso a confusão. Dizem que ficou muito boa, eu ainda não li. E ao contrário do que tinham me dito (que ele estava de licença depois do susto), o operador da grua continuava trabalhando após ter descido mais de nove metros com o equipamento super inclinado, carregando não sei quantos quilos de areia nas costas. "Um verdadeiro herói" segundo quem leu a entrevista.