Friday, June 29, 2007

Touch no terceiro tempo

Olha, eu já tirei a saia, se colocar de volta, não jogo mais! A frase, que soa bem estranho quando tirada do contexto, foi dita durante um dos melhores terceiros tempos de que já participei. O jogo, importantíssimo para os meninos, valia a chance de disputar o quinto lugar. Também por isso, foi organizado um churrasco com muita cerveja pro pós-jogo (aliás, recentemente foi divulgada uma notícia de que médicos recomendam a cerveja para ajuda a hidratar. O rugby é muito esperto!).

O resultado, infelizmente, não foi o desejado. Mas, no melhor espírito rugbeer, a festa compensou. Eu, Lana Banger, a nossa quase Jones e meu novo companheiro de carona começamos o dia no churrasco de um dos meninos do time. Chegamos cedo e cedo fomos embora. Não que o clima não estivesse gostoso.
O sol e o calor nada típico de inverno junto com a conversa boa ao lado da churrasqueira já seriam suficientes prum post de dia perfeito. Mas tinha o jogo e, por mais que a gente ainda não tenha comprado os pompons vermelhos, a torcida é um compromisso quase que obrigatório.

Dizem que nos filmes sempre há aquele acontecimento que marca a mudança na tragetória da trama. Enquanto estávamos no prédio, o sol estava forte e Lana, de calça e blusa preta, é que achava que tinha feito a escolha errada de roupa. Pouco antes das 15h, meu amigo empresta um casaco pra uma das meninas, dando o indício da mudança.

Na saída do prédio, minha sandália estoura, me deixando descalça. A targetória inicial sofre mudanças pela parada no supermercado. Troca de sapato. Na chegada ao campo da USP, já descemos com frio e tal qual para um bando de desabrigadas, todo e qualquer pano servia para se cobrir. Agora, eu, de saia, mesmo que com casaco, é que lamentava a escolha infeliz.

Nosso time era mais alto, mais forte. Os jogadores estavam concentrados. A tática nipônica de estapear a cabeça dos companheiros de time trouxe uma motivação aos Reds, mas alguma coisa faltou e pra não ficar remoendo infelicidades, vamos passar direto pro terceiro tempo.

Várias eram as jogadoras do nosso time que foram assistir ao jogo. Afinal, a lei da reciprocidade vale e torna convivência tão grande que pouco a pouco os gêneros se confundem. Garotas passam a arrotar e homens já consideram meninas.

Dessa forma, o terceiro tempo, que normalmente só tem jogadores, foi tomado por quase uma dezena de garotas que bebem à vitória ou à derrota. Duas delas logo se apossaram do som, trocando um ritmo qualquer pelo funk, inofensivo. Por mais que as letras peçam algo mais pesado, as coreografias há um bom tempo deixaram de ter o apelo sexual e se tornaram simplesmente motivo de risada. Até o coach dançou junto e teve que mostrar a existência de cabelo debaixo do boné no momento em que a música, eloqüentemente, pedia "estrupa os careca".

Churrasco mesmo pouca gente viu. Mas a cerveja lotou o freezer e, mesmo com garrafa de 600 ml virando long neck, durou até mais de dez horas.

Na churrasqueira, o excesso de pessoas fez mesmo quem não estava bebendo ficar com calor. De repente, alguém vê três pessoas sozinhas no campo, ao lado. Foi o suficiente pra que um número x de pessoas trocassem o concreto pela grama e dançassem umas três músicas, já que, tirando Lana Banger, quem estava lá entendia muito mais de rugby do que de raves. Por isso, de algum lugar veio a idéia de jogar um touch. Enquanto nosso quase Jones foi buscar a bola, tirei correndo a sandália. Mas a música melhorou. "Depois dessa música, vai?". Coloquei a sandália de novo e fui até a churrasqueira. Algumas músicas depois... "vamos?" E lá vai a meia-dúzia de pessoas mas outra vez uma música mais empolgada adiou o começo do jogo. Na última tentativa, todos já estavam em campo. As meninas menos precavidas, como eu, descalças. Acreditando realmente que naquele momento a gente iria jogar, tiro minha saia pra jogar com o shorts que estava por baixo. Porém, mais uma música, mais uma parada. Nessa, algumas meninas subiram no balcão e dançaram cerca de... trinta segundos, até olharem pra baixo e perceberem a convulsão que causavam. Eu, embaixo, fiz a última tentativa de chamar as meninas que se diziam interessadas pra jogar. Uma delas me disse, possivelmente inocentemente, que só jogaria se fosse meninos contra meninas. Em vez de discutir que, por mais que ela estivesse bêbada, é muito difícil você confundir as pessoas do seu próprio time num touch, onde são duas linhas, uma contra a outra e não há os amontoados de pessoas como hucks e mauls, preferi avisar. "Eu já tirei a minha saia, se colocar de novo, não jogo mais".

Apesar de não ter sido por causa da minha intimada, deu certo. Jogamos um touch estranho, com pessoas desconhecidas e mais gente assistindo do que em campo. Nosso pilar, que não largou a garrafa de cerveja nem pra passar a bola, logo desistiu de jogar e virou juiz. A divisão dos times foi alterada freqüentemente, toda vez que um scrum era formado, para que meninos ficassem contra meninas. E as meninas ganharam! Todas as vezes.

No fim, uma sucessão de hakas, que passou do tradicional do All Blacks a uma adaptação performática da música Acerere, do Rouge. Na volta pra churrasqueira, mais dança, mais risada, mais cerveja. Até que tudo fica quieto. O som acaba, começa a caça aos amigos desgarrados e termina o terceiro tempo. Pelo menos nisso a gente foi campeão.

Saturday, June 02, 2007

Enfim, o aniversário!

Dizem que inferno astral é um mês antes do seu aniversário. Acho que o meu se confundiu e veio depois. Há quase 30 dias enrolo para concluir e postar esse texto, mas agora vai. Aos meus amigos queridos que me mandaram scrap de aniversário, não se sintam rejeitados. Antes de apagar as velinhas de novo eu juro que respondo um a um.

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Na hora de elaborar o convite, atrasado como tem sido a maioria das coisas ultimamente, veio a dúvida: duas festas, como fazer para que as duas sejam legais e a divisão não fique estranha? Toda vez em que fiz mais de uma comemoração, como no ano em que foram quatro, sempre tinha aquela que era a mais legal. Por isso, já tinha resolvido fazer uma festa só, no sábado. O problema é que, como meu irmão resolveu tocar na véspera, não podia deixar passar a oportunidade.

Para resolver, até pensei em chamar metade para sexta e metade para o sábado, mas esse meu estilo laissez faire (como bem escreveu um amigo), ou simplesmente desencanado, me impede de tomar decisões pelos outros. No fim, o email ficou desse jeito, variando um pouco conforme o grupo:

"Meninos, eis que meu aniversário chega outra vez. Por isso, tenho mais uma desculpa pra ver meus amigos tão queridos, juntamente com seus amigos, acompanhantes e afins (resumindo, levem quem vcs quiserem). Neste ano vão ser duas festas:

Dia 4, sexta-feira, é o aquecimento, com parabéns só a partir da meia-noite, no Riveira Bar. Lá será mais fácil de conversar e vocês podem conhecer o In Flow (banda do meu irmão, que toca rock nacional, mais voltado a Barão Vermelho do que a CPM).

Dia 5, sábado, é a festa oficial, ao som de pop/samba rock e dj, no Café Folclore. A comemoração será em conjunto com mais 3 amigas"

A diversidade de gêneros musicais e de ambiente também ajudou a criar duas festas totalmente distintas. Nos dois dias estavam presentes somente Lucy e a minha eterna companheira de parabéns, um dia mais velha e com quem há muitos anos comemoro o aniversário junto.

Apesar de ter acontecido em um bar, a festa de sexta-feira parecia aquela coisa de família, todos reunidos num almoço de domingo. Amigos de longa data que nem precisavam ser apresentados a papai e mamãe, que aproveitaram o show do meu irmão para cantar parabéns com a rebenta mais velha. Meus tios e minha prima também passaram para ver a grande evolução da banda In Flow. Aliás, uma das boas coisas de estar mais velha é poder reunir pacificamente família e amigos, sem aquele mal estar adolescente. Quando meu pai passou reto por mim no dia do meu aniversário para dar os parabéns para minha amiga (já que nem tinha percebido que era quase uma da manhã), a mesa inteira deu risada e concordou quando alguém disse "É, a gente percebe que é de família".

E esse clima sossegado tomou conta da maior parte da noite. Antes das 2h, cantamos parabéns com velinhas rosa e branca, para combinar com os 24 anos. Em seguida, alguns foram embora e veio o show. Enquanto esperava o pagamento do cachê e a retirada dos instrumentos, passei a madrugada conversando com um dos amigos mais sinceros que existe - mesmo que ele ache que ser sincero seja meio gay. Na hora de ir embora, pra mostrar que não mudei nada com a nova idade, derrubei o bolo em cima do meu amigo, por sorte - e por pouco - só no ombro. Entretanto, meu irmão parece que não ligou e acabou com o doce logo em seguida.

Entre colocar os pés em casa, dormir e sair para o treino de basquete não perdi mais que 3 horas. Cheguei atrasada, o treino atrasou mais ainda, mas deu para tirar um pouco da ferrugem e ainda ir para o rugby. Na maratona, eu e Lucy invictas. Ariel começou dos boxes, no treino de basquete, e Lina só deu uma voltinha na pista, passando pelo Villa Lobos. Como presente de aniversário, um elogio do coach ao time feminino, que melhorou a linha, e um montinho, que graças ao céus não teve muita adesão. Depois de um rápido pit stop com cheiro de terceiro tempo, fui para casa para a maratona da família: almoço com os pais e visita à outra aniversariante (em uma mesma família, três fazem aniversário no mesmo dia).

Parte 2

Chegando em casa, mais duas horas de sono. Levanto, escolho uma roupa e vou para a festa, onde minhas duas amigas aniversariantes (a do dia anterior e a nossa quase-Jones) já me esperavam junto com Lucy e Ariel. Às 22h, o bar estava vazio. A banda começava a tocar pop rock e não havia a menor indicação de que a noite ia ser tão boa. Lucy, depois da festa, até comentou "Achei que tivesse mais pessoas conhecidas, mas era só a gente de sempre", com alguns bons acréscimos, é verdade, mas mesmo assim a gente fez uma zona.

Nossos queridos pilares chegaram cedo e cedo foram embora. O coitado atropelou uma moto e agora o ânimo diminui. Lana, acompanhada do nosso querido "ponta-1o,2ocentro-fullback-abertura", chegou logo depois. Em seguida, vieram os amigos dele. Um deles que, inclusive, comemorou o aniversário conosco. Minha maninha, que eu tanto adoro, também esteve presente empolgadíssima como sempre.

Na mesa, um drink verde passava de mão e mão seguido de uma careta. A mistura de tequila, leite condensado, abacaxi e curaçau blue resultou em algo com "gosto de festa de criança", como bem resumiu a pilar. "Pra variar", como diria Lucy, eu gostei da bebida.

Sabe aquela coisa que você experimenta a primeira vez e acha estranho, mas já que está ali você experimenta de novo e de novo até que gosta? Bem, essa é a Micareta.

O troca-troca de lugares para conversar foi o estopim para que logo as pessoas fossem em direção à pista. Durante o intervalo da banda, nossa rodinha tomou conta da frente do palco e, quando os músicos voltaram, lá continuamos. O parabéns que não foi cantado pela banda do meu irmão - já que ninguém se dispôs a tirar - teve no Café Folclore uma versão em ritmo de samba!

Ao longo da noite a empolgação foi aumentando em proporções gigantescas. Tackles eram dados no meio da pista e até o vocalista da banda perdeu a compostura, e precisou segurar a risada, quando viu a bundada delicada entre duas das aniversariantes.

Uma pequena pausa para champagne e parabéns com bolos de chocolate e velinha sem número, só com a imagem de quatro princesas (Branca de Neve, Bela Adormecida, Cinderela e Bela) para quatro garotas - e também para um garoto, que acabou assoprando as preferidas da Disney sozinho, logo em seguida.

Na volta, dançamos até o chão e pulamos quaase até o teto. A noite só acabou quando apagaram as luzes e desligaram o som. Se fosse um pouquinho mais tarde nem isso teria feito diferença, pois já estava quase claro e a nossa voz havia tempos estava mais alta que a música do dj - para comprovar, um vídeo, por sorte bem escondido, com algumas pessoas cantando e dançando funk no palquinho.

Na hora de pegar as coisas, descubro que perdi meu celular, deixado displiscentemente em cima da mesa, antes cheia, agora vazia. Lógico que poderia fazer mais uma daquelas relações complexas envolvendo aniversário, mudança de idade, perda de telefone, alteração na forma de ver o mundo e se comunicar com os outros... mas acho que a explicação mais simples é que tenho muito mais a aprender com a minha versão masculina do que simplesmente dançar forró, apesar dele e do amigo aniversariante terem me proporcionado uma evolução enorme. "Só falta o básico", bem disse Lana Banger.

Friday, June 01, 2007

Superação

"Alguém se habilita a falar sobre superação?"
Não pude recusar a sugestão da Patty Mary Jones, minha irmãzinha querida.
Além do mais estou em dívida com o blog, só escrevi um único texto. E nesse tempo aconteceram tantas coisas.
E de pensar que tudo isso começou do fim.
No fim do meu relacionamento com a pessoa que mais amei na vida (amor de homem/mulher, não de mãe/filha). Para ele, uma decisão nossa. Para mim, completamente dele. Simplesmente não agüentou barra e foi pelo caminho mais simples. Ou vai dizer que é mais fácil resolver um grande problema do que simplesmente eliminá-lo?
Os homens são muito mais fãs da praticidade. Se não funciona, o caminho é dar um tempo. Eu, pelo menos, nunca desisto de nada. Tenho essa visão ridícula e romântica de que, quando se ama de verdade, sempre há uma solução.
Lembranças, sonhos, desejos, carências, tristezas profundas e a crença de que o nosso lugar não era longe um do outro. Acho que é por isso que sofri tanto e por tanto tempo. Mas quando as pessoas deixam de se amar, elas também deixam de se preocupar com as palavras ou gestos. Magoar o outro não incomoda tanto, passa a ser uma espécie de diversão voyerista do sofrimento alheio. E um bom remédio para o ego. O que afasta cada vez mais um do outro.
A gente ter se conhecido na hora errada? O caminho é dar um tempo até a hora certa chegar? O momento certo é a gente que faz.
Mas como esse texto é para falar de superação e não de sofrimento, eis meu turning point.
É um trecho de uma música da Cássia Eller. "Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre, sempre acaba". E ela tava certa. Amigos, família, todos falam. Mas é a gente, sozinha, que se dá conta de que a esperança só existe se ela for alimentada. E que a decisão de alimentá-la é completamente pessoal.
E não é que o sol volta a iluminar nossos dias?!
De repente as lágrimas secam. De repente cai a ficha de que a vida é muito curta para gastá-la sofrendo, e que tem tantas coisas boas pra gente descobrir, tantos sentimentos... Simplesmente não podemos perder tempo com sofrimentos.
E tudo volta a ser simples, as pequenas coisas voltam a trazer o sorriso, as pessoas queridas, aquelas que a gente sabe que nunca vão nos deixar, são ainda mais queridas. Que bem faz a vida!
Um abraço carinhoso de um amigo já é suficiente para percebermos que não estamos abandonadas no mundo.
No primeiro olhar do sexo oposto, dúvida, insegurança, até um pouco de vergonha. "Ah, acho que estou enferrujada". Mas como é bom correspondê-lo.
E depois de tanto tempo, um beijo, um abraço, um carinho...
A vida é boa demais para sofrermos tanto.