Wednesday, July 30, 2008

São todos sacanas!?

Há séculos se discute o que torna os homens diferentes das mulheres. E o que fazer para diminuir essa diferença.
Nunca vi problema nisso. Pelo contrário. Graças a Deus que somos diferentes, porque se fossemos iguais, não haveria nada para ser complementado. A auto-suficiência soa tãããão chata.
O meu problema é outro, e esse eu nunca vi ninguém discutir. Porque até os homens mais bacanas são sacanas? Será que eles só são sacanas comigo, ou isso é do comportamento masculino?
Calma, antes de vocês começarem a listar um milhão de casos em que os meninos foram sacanas com as meninas, eu explico.
Não costumo me envolver com aquilo que muitas mulheres consideram o homem ideal: o cafajeste. Pelo contrário, gosto dos caras honestos e leais. Os que saem pra jogar bola, que viajam a trabalho, que vão pro bar com os amigos, mas nunca esquecem do respeito pela namorada. Nunca tive dúvidas com relação ao caráter deles.
Mesmo sendo honestos, atenciosos, carinhosos e bons caráteres, eles acabaram sendo sacanas comigo. No fim, eles acabam me magoando, me fazendo sofrer, me causando crises imensas, mesmo sem terem noção do que a atitude deles estava me causando.
Pra não prolongar muito texto, vou escolher só um exemplo.
E ele é inteligente, culto, interessante, carinhoso (quando quer), bonito, e tem aquela manha que derrete as mulheres (o tal Mr. Big de alguns textos atrás).
Por alguma razão inexplicável, acabamos nos envolvendo. Por razões mais do explicáveis, o nosso relacionamento estagnou. E chega uma hora que ou vai ou racha.
Decidimos (eu até estava me preparando pra isso, mas ele foi mais rápido) que o melhor era nos afastarmos – como um casal. Porque como amigos, nunca estivemos tão próximos. Eu, como sempre, concordei. Tenho esse problema sério, uma dificuldade absoluta de dizer não para as coisas que eles pedem. Não costumo dizer não para nada, mesmo que isso me incomode profundamente.
Mas o que distingue uma relação da outra?
Faço um esforço tremendo pra fingir que não sinto. Mas a verdade é que ele sabe que gosto dele, que tenho sentimentos. Quanto a ele, não posso dizer o mesmo. Aliás, o que posso dizer? Não tenho idéia.
Nunca mais fui à casa dele. Nunca mais fomos ao cinema. Nunca mais tivemos um jantar romântico. Por outro lado, continuamos nos vendo, nos falando quase que diariamente, trocando e-mails e mensagens, nos preocupando um com o outro. Quando por algum acaso estamos juntos, ele não hesita em me fazer um carinho, um cafuné, em me dar um beijo apertado (na bochecha).
Ele me provoca, e eu caio como uma patinha. Fico esperando a reação, a atitude. Fico esperando ele dizer que sente a minha falta, e que quer tentar de novo. Mas as palavras não vêm.
E tento superar isso, criar um milhão de pensamentos na minha cabeça que me afastem dele for good. Mas ele acaba com esse esforço imenso quando me dá um olhar carinhoso, um carinho mais intenso, um sorriso aberto, quando vem todo fofo me contar alguma coisa que aconteceu na sua vida.
Mas depois, o convite não vem, os carinhos não se prolongam, as situações não são discutidas. E a crise começa outra vez.
Talvez ele seja auto-suficiente de uma companheira e precise só de distrações temporárias. E nessa lista acho que sou a primeira. Nada de que eu me orgulhe.

Saturday, July 26, 2008

Estréia na balada

Era mesmo uma cena esquisita. Na hora que minha amiga chegou na porta do bar, eu estava com a câmera empunhada, tentando deixar a foto tão boa quanto a história. A modelo era minha outra amiga, que chegou junto comigo aqui na Austrália e que nesse momento, meio que contra a vontade, sustentava um periquito branco, uma cracatua, talvez, em cima da cabeça.

O bicho tentava se segurar no cabelo loiro enquanto ela, depois fui saber, só torcia pra que o passarinho não resolvesse transformá-la em seu banheiro particular.

A outra amiga, a morena, chegou, olhou aquilo, deu risada, mas desencanou de tentar entender. Ficou ali, parada no canto, conversando sobre qualquer outro assunto com as duas outras que vieram com ela, enquanto a ave era transportada pro meu ombro para mais uma foto; essa não tão legal.

O dono da passarinha (sim, ele garantiu que era fêmea e que era sua melhor amiga) era um cara quase gordo, meio sujo, loiro de cabelo enrolado e com seus 30 e muitos anos. Chegou ali, de repente, enquanto eu e minha amiga esperávamos o resto do grupo no local combinado, um dos vários bares do North Bridge, a Vila Olimpia - ou talvez Vila Madalena - da cidade.

A primeira frase eu entendi. "Ah... eu sei, vai, pode falar! Eu sei que você (ou vocês) tá louca pra passar a mão no meu passarinho". Eu olhei, dei aquele suspiro meio risada pensando que eu realmente só atraio louco. Minha amiga olhou pra mim com aquela mesma cara de surpresa. E o cara continuou. Falou por uns 2, 3 minutos. Só parava de vez em quando, esperando uma reação, que não acontecia, já que a gente estava parada, só olhando e esperando o fim da história ou alguma frase compreensível, mas ele deve ter achado que eu tava simplesmente concordando. Por fim, ele pediu uma manifestação sobre tudo aquilo. Eu fiz aquela cara de "é, não rolou" e emendei com um "sorry, we didn't get it".

Em vez do cara ficar puto, ele abriu um sorriso daqueles de orelha a orelha e perguntou da onde a gente era. Brasileiras??? E fez algum outro comentário que a gente também não entendeu. Se ele não tivesse dançando praticamente, trocando o pé de apoio a cada dois segundos e cambaleando pra frente e pra trás, poderia ter ficado meio preocupado, mas ele foi o primeiro com quem não consegui conversar, então tá tudo ok. E já que papos normais não deram muito certo, ele começou a puxar assunto sobre a passarinha dele, cujo nome, se não me engano é Eagle. Se não for isso, é o mesmo nome de uma águia famosa. De toda forma, um tanto quanto paradoxo prum passarinho de menos de 20 centímetros de altura e que não machuca ninguém, mesmo sendo muito corajosa. Essas duas últimas afirmações, lógico, foram o dono que fez, eu só repito.

E pra mostrar que ela era boazinha, ele pediu pra minha amiga estender a mão. Ela, com medo, hesitou umas três vezes, então, ele, delicamente, agarrou o bicho e quase o amassou no ombro dela. Eu adorei a cena e peguei o celular pra tirar a foto. Ela me deu sua câmera e o cara, que gostou ainda mais da idéia, resolveu trocar o lugar da ave, pra dar uma foto mais legal. Foi nessa hora que minha amiga chegou. Conversamos mais um pouco com o cara e fomos embora. Ele chamou a gente pra ir prum bar e, depois de ter ficado meio bravo com a recusa, minha amiga disse que ele deveria dormir um pouco. "É, quem sabe amanhã", e foi beber mais um pouco. Dizem os boatos que Perth é cheio de loucos. Não sei se é verdade, mas esse foi meu primeiro.

Todas reunidas, fomos caçar um lugar pra ir. Nas redondezas, um monte de pubs. Em todos você entra de graça, mas ontem tava muito frio, chovendo e por isso ninguém sai. Uma professora disse que Perth é guiado pelo tempo. No frio, nada acontece, no verão, isso ferve. Não sei quanto a segunda parte, mas sobre o frio ela estava certa. Dez horas, passamos em três bares e os três vazios. Acabamos ficando em um com um ótimo aquecedor. A bebida da Austrália é o Lemon Limon Bittar. Algo tão alcóolico que você pode tomar uns 10 e continuar de pé, mas é bom. Tomei um só. Começou a banda, mas mesmo antes disso uma loira de vestido vermelho e um mega salto já tinha caído duas vezes no meio do salão e em todas as ocasiões foi acudida pelo moço que tava com ela. Segundo as meninas, esse é o normal. Australianas saem de micro vestido mesmo no frio. Bebem demais e nem sentem. Saem carregadas, tiram a roupa no meio da rua... mas tudo isso é só fofoca. Eu só vi a parte do beber demais mesmo.

Esperávamos dar umas dez horas pra gente trocar de bar. Em uma das músicas, eu e uma das meninas lembrávamos dos nossos tempos de show de rock todo mês, pelo menos. Ela na grade e eu lá no fundo, com os meninos, como sempre, no meio das rodinhas. Achei muita coincidência quando, uma meia hora depois desse assunto, a amiga loira (mais fácil diferenciar assim) me puxou pra longe da confusão. Só consegui ver um cara abaixado e correndo dando socos. Pensei... "nossa... rodinha aqui? E, depois de estar muito perto da mão fechada dele, saí de perto porque não tava mais na idade dessas coisas. Foi então, pela cara das pessoas, que entendi que era briga de verdade. Quer dizer, mais ou menos de verdade, né... porque com um soco daquele acho que não se consegue machucar ninguém. Seguranças, ele vai embora, se solta, volta pra tentar bater mais... aquela coisa de sempre. Mas foi a nossa desculpa pra dizer que tava na hora de mudar de bar.

O outro era um pub maior, também com música ao vivo. Na entrada, além deles checarem seu passaporte ou ID, carimbam um "ID checked" na seu pulso. Dizem que esse é o lugar onde vão os australianos mais sem noção, lesados mesmo. o que foi justificado pela criatura esquisita, loira e bêbada que veio dançar na nossa roda mas que foi logo dispensado.

Outra coisa bem diferente é o tamanho do decote da maioria das meninas; às vezes tão grande que o peito pula. Como resultado, freqüentemente elas tinham que arrumá-lo de volta no sutiã. Segundo minha amiga, a preocupação tão grande com a comissão de frente é pra compensar a falta de bunda. Não vou comentar... falar mal de mulher parece despeito.

Já de briga, o máximo foi um cara sendo carregado por um segurança e com mais dois acompanhando - o que foi um pouco de exagero, já que meio segurança já seria suficiente pra conter o pequeno encrenqueiro.

Se teve mais coisa, não sei. Em algumas das mil televisões do pub passava rugby. Em outras o tal footeball e numa única solitária, tênis. Amanhã faz um mês que não jogo. Terminou minha temporada com a final do campeonato paulista. Única partida em que acho que joguei bem. Olhava fascinada pras telinhas, mesmo sem entender o porquê de não existir rucks - o jogador caía, matava a bola no chão, o jogo recomeçava com uma saída simples. Mesmo scrum era difícil de se ver.

Voltamos pra casa um pouco antes da uma - penúltimo trem de final de semana. Nos vagões, um monte de australianas com micro vestidos e pernas de fora, extremamente bêbadas. Mais uma lenda que parece ser verdadeira.

Thursday, July 24, 2008

Os trens e o francês

Nos meus últimos meses no Brasil, minha mãe disse umas três vezes "que tristeza que é pegar ônibus de domingo", toda vez que via alguém no ponto de final de semana. E eis que no meu segundo dia em Perth, domingo, primeiro dia em que acordei aqui, eu peguei um trem, um ônibus, conheci minha escola, peguei o mesmo caminho de volta e depois de 15 minutos peguei mais dois trens pra ir e dois pra voltar da cidade vizinha onde um dos meus amigos está morando (isso sem contar as caminhadas). No final do dia, já me consideravam especialista nas timetables.

Há três tipos de trem em Perth. Pelo menos, três que peguei até agora, mas no folhetinho diz que tem muito mais. Um serve a todas as estações. Os outros dois só a algumas. A diferença está na letrinha que vem junto com o destino, mais ou menos com os Lapa T e Lapa H; República 5121 e República 5154 de São Paulo. Aqui, devo fugir fugir só do Arminale C, que não pára em Queenspark.

A técnica para pagar e simples e fácil de ser burlada, mas acho que ninguém pensa nisso, então eu também procuro não pensar. Ou você usa um cartão, meio a la bilhete único, ou compra tickets na hora, numa maquininha. O problema é que nem todas aceitam notas. Se você não tiver moeda ou o cartão de ônibus, não sei o que faz. Provavelmente entra sem pagar e só torce para que entre nessa estação que separa você da próxima maquininha não haja nenhum fiscal nos vagões (nem no ônibus nem no trem há qualquer tipo de catraca, no máximo um um cara controlando a entrada nas estações maiores).

Se a confiança é grande, a multa para quem a quebra é maior ainda. São cinquenta dólares australianos só para quem compra passe com desconto sem ter a carteirinha. Pra quem não tem bilhete, não tenho idéia de quanto seja.

No domingo, depois de ter conhecido minha escola com minha host mother (ou host big sister, como ela mais se parece), encontrei com minha amiga também recém-chegada e seu companheiro francês de homestay. No meio da viagem, vi o tal guardinha, cuja existência até então eu ignorava. Como eu e minha amiga tínhamos pagado passagem normal, não havia problema. Já o menino comprou de estudante e não levava a carteirinha - ou qualquer outro documento -, só, por sorte, vestia o blusão da universidade onde ele estudava inglês. O guarda entendeu, explicou que da próxima ele deveria comprar passe normal e foi embora. No fim, o inglês ruim do francês ajudou a embasar a tese de que ele não sabia o que tava fazendo.

A nossa intenção era chegar cedo pra ver o tal market de Fremantle, mas a gente chegou, demorou dois séculos até achar meu amigo num bar de comida asiática, conversamos um pouco, depois fomos comer no Hungry Jack - versão australiana pro Burger King. Um cara explicou que há alguma coisa, talvez alguma lei, que não permite o uso de nomes da monarquia em estabelecimentos comerciais. Eu relacionei direto com a monarquia britânica, a quem a Austrália responde, e desisti de descobrir se essa é a explicação verdadeira.

Depois de matar a gigantesca fome ao lado de um monte de adolescentes EMOtivos (eu juro que nunca vi na minha vida uma quantidade tão grande de crianças com cabelos lambidos e esquisitos, tachinhas, piercings, roupas pretas e acessórios coloridos juntas em um lugar supostamente neutro), uma família e um cara gordo, fomos encontrar o tal pub. Mas eu acho que tava tão feliz de ter comido que esqueci de prestar atenção no caminho. Como os outros dois conseguem ser tão ou mais desligados que eu, só percebemos que tínhamos andado demais depois de uns 15 minutos de caminhada. Dai a gente foi pra cima e pra baixo da rua algumas vezes, até que lembrei do final da explicação. Não era só virar às esquerda, também precisava virar de novo à esquerda no farol seguinte. Juntamos isso com algumas indicações coletadas na rua, chegamos até o tal bar.

A festa era de Satã, não aquele vermelho, de cifrinho, mas um amigo do meu amigo, vindo da Arábia Saudita e que realmente tem esse nome. O moço acabou de se formar na escola e vai fazer uma faculdade na Austrália. Por isso, tava dando uma festa numa área reservada no lugar onde ele trabalha, um pub todo bonitinho com música ao vivo.

A gente chegou, passou pelo cara que tava fazendo som com voz e violão, entrou na área reservada. Lá dentro, meu amigo sambava com uma amiga. Comecei a dar risada. O dono da festa, cuja brancura já tinha sido descrita, me olhava com uma cara de quem é você? Não tive tempo de me apresentar.

Atrás de mim começava uma discussão entre o bartender e o amigo francês, que acabou de fazer 18 anos, é branquinho, sem barba, cheio de espinha na cara e que, assim como minha amiga, esqueceu o passaporte. Mas o bartender não quis saber dela ou de mim. No fim, já que a gente não ia ficar de qualquer jeito, ficamos um pouco frustradas por as pessoas nem cogitarem que a gente pudesse ser menor de idade. Acho que a gente tá mesmo ficando velha.

Por mais que tentássemos conversar, não teve jeito e fomos os três embora. Já na saída, fui apresentada rapidinho ao dono da festa e conversei na rua com meu amigo, que ficava entrando e saindo de trás de uma linha branca pintada na calçada e que delimitava a área do bar, já que tem uma lei na Austrália (sim, a Austrália é cheia de leis) que não permite que se beba nas ruas.

O menino bem que sugeriu dele ir embora sozinho, mas se a gente veio junto, a gente vai embora junto. E na volta, nova confusão.

Australiano é um povo bem simpático, agradável, mas diz a lenda que eles bebem muito. Nesse dia, descobri que não é lenda, principalmente quando tem jogo do futebol esquisito deles, um mix do nosso futebol com rugby e que eu achei chatíssimo, mas que o namorado da minha homestay, e aparentemente o país inteiro, adora.

A gente pegou o trem e sentou os três juntos. Um cara que estava ao lado do francês resolveu puxar assunto e perguntou, se matando de dar risada, o que ele fez no domingo. Ele, inocentemente, contou seu dia, começando pelo homework. O outro então começou a fazer gracinhas e piadinhas a respeito do menino novinho com duas garotas visivelmente mais velhas. Mudamos de lugar e, ao chegar na estação central, cada um tomou seu caminho.

Eu, que já me achava a mais entendida sobre os trens de Perth, perdi três saídas e o tempo de escrever esse texto inteiro (o que deve ter dado mais ou menos uma hora) pra perceber que nenhum ou quase nenhum trem que vai pra Armindale passa na minha estação e que o T que tanto aparece é de Thornile, destino alternativo da mesma linha, que sai de outra plataforma e que era a minha única opção pra chegar em casa.

Tuesday, July 22, 2008

Primeiro dia na escola, mas nao de aula

No primeiro dia todo mundo chega atrasado. E na minha folhinha, não tinha nem ao menos o horário de início das aulas. Dizia somente pra eu ir até o centro de estudos internacionais. E isso no dia 12 - sábado - e hoje era dia 21, segunda. Portanto, o compromisso com o horário, que já era pequeno, se tornou nulo.

Eram sete e vinte quando eu finalmente resolvi levantar. Hoje, acordei às 6h, ainda vítima do fuso horário.

Logo no primeiro dia, depois de muito passar frio, resolvi dormir. Não sei que horas eram, mas possivelmente umas 9h da noite, quando ainda tava assistindo tv com minha homestay e o namorado. Algumas horas depois, acordei no meio da noite com uma vontade imensa de fazer xixi. Então, não consegui mais dormir. Ouvi um passarinho cantando, aqui, atrás da minha janela. Em seguida, um avião passando. Depois de mais uns passarinhos, ouvi o apito do trem. Por fim, começou a clarear e eu perdi o sono de vez. À noite, antes das 22h, eu já tava podre. Daí, pra parar com isso, hoje fiquei enrolando até demais. Na hora de sair, minha homestay disse que tava atrasada. Eu disse que não sabia se estava hoje, mas que eu tô sempre atrasada. Ela ficou toda feliz. "Oh, so you are just like me!!!" e saiu correndo.

Já na escola, fui levada até uma sala onde tava terminando a apresentação do curso. Depois, prova: redação e entrevista. A entrevistadora adorou meu livro, como ela mesma chamou. E isso que eu nem escrevi tanto. Já na hora da entrevista, algumas engasgadas e, por isso, não sei em que nível estou. Conversamos por cerca de cinco minutos, uma falando mais rápido do que a outra. Ela pra me testar, ver até que ponto ia o meu entendimento, e eu porque é o normal mesmo.

Depois do coffee break com uns muffins de chocolate muito bons (o povo daqui adora muffins e eu adoro os muffins deles), fomos fazer um pequeno tour pelo campus. Fui liberada pouco depois do meio-dia e tinha combinado de me encontrar com minha amiga só às 5h da tarde. O celular dela tava sem bateria e a tomada do carregador não serve pra cá, então não tinha nem como desistir.

Como minha casa fica a uns 10 minutos de caminhada do trem e o trem demora mais uns 15 minutos em média pra passar, resolvi enrolar pela cidade. Logo que saí da estação fui até o centro de informações pra turista e perguntei sobre algum café com acesso a internet. O cara me indicou um lugar, mostrou no mapinha, me deu esse mapinha, mas eu me perdi do mesmo jeito.

O centro de Perth é muito cheio e muito movimentado. Parece mesmo o centro de são Paulo, só é menor. E daí, como tava perdida, passei a perguntar por qualquer internet cafe. De indicação em indicação, rodei mais de duas horas com a mala do note no ombro. Meu pé tava doendo, eu já tava xingando todo asiático que via pela rua (só na minha escola tem milhões deles, ou adolescentes com aquele monte de tranqueira tecnológica ou caras mais velhos querendo cidadania, tipo um cozinheiro malasiano que eu conheci), toda lan house pra que me mandavam e todo restaurante chinês ou coreano ou tailandês que tem a cada esquina em um dos bairros daqui. Até que resolvi entrar em outro centro de informações para turistas. No andar debaixo, não tinha ninguém. Subi e lá a japinha (essa do Japão mesmo, que eu perguntei) disse que toooodo o centro da cidade tem internet grátis. Ela mesma tava usando internet banda larga, mas não pagava por ela.

Eu fiquei indignada de ter rodado tanto à toa, contei a história pra menina, simpaticissima, por sinal, peguei uma cadeira e testei na hora, pra ter certeza. Entrou!!! Mas daí precisava fazer um cadastro rápido, eu desisti. Preferi voltar até o shopping e comer alguma coisa em qualquer café, já que todos eram internet cafe e nem sabiam disso. Voltei, achei um café bonitinho, paguei 17 dólares por um sanduíche no croissant, um muffin e um chocolate quente, mas tava feliz. Tentei acessar e não entrou. Depois de três tentativas, todas frustradas, apareceu o aviso de falta de bateria. Fiquei puta, desliguei o bicho, coloquei na mala e comecei a pensar o que faria nas duas ou três horas que faltavam pra encontrar minha amiga.

Eu não aguentava mais andar, e enquanto pensava em demorar o máximo possível pra terminar a metade do chocolate quente e do muffin que faltavam, vi a mochila cor de rosa dela entrando no shopping, ali bem na minha frente. Eu pensei em gritar, mas ela tava muito longe e eu dentro do café. Então, virei a metade do copo que faltava de uma vez só, agarrei o resto do doce e saí correndo, esbarrando nas pessoas e derrubando meu guardanapo. Consegui encontrar com ela, que não teve aula hoje e estava rodando desde as 9h da manhã. Já tinha conhecido todas as lojas do shopping, ido até Fremantle de trem e voltado e por fim estava em dúvida se pegava o trem de novo ou se comprava um livro.

Durante as duas que tivemos antes das lojas fecharem (ou seja, se a gente se encontrasse às 17h não íamos conseguir fazer nada), a gente passou na farmácia duas vezes, uma pra cada uma, comprou um adaptador e um transformador de energia pra ela; comparamos os celulares e por fim compramos um, igualzinho, já que é o único que pega Skype.

Enquanto a gente conversava e fazia graça com a câmera do celular, descansando na pracinha, chegou uma menina perguntando se a gente tava procurando emprego. Eu dei risada e disse que ouvi que era fácil encontrar emprego em Perth, mas que nunca pensei que alguém fosse me abordar perguntando se eu tava procurando. Mas o emprego não era tão legal. A princípio, achei que fosse. Ela trabalha pruma agência ligada ao Greenpeace, mas você tem que parar as pessoas no shopping e pedir dinheiro. Se você consegue, ganha uma comissão. Além do fato de eu detestar arrecadar dinheiro, se estivesse doando pra uma instituição, não ia querer que a pessoa que veio me procurar ficasse com uma parte do que estou doando, então desanimei antes mesmo de saber que meu horário de escola impossibilitava a brincadeira.

Conversei mais um pouco com minha amiga e voltei pra casa. Combinamos de nos encontrar na quarta-feira só. Ela só tem dois dias de aula e amanhã é o mais pesado dele. Já eu estou louca pra entrar na internet e habilitar meu brinquedo novo, daí falo de graça a qualquer momento com todo mundo, já que eu percebi que internet sem fio banda larga é um pouco mais complicado.

A caminho da Australia

Ao desembarcarmos em Joanesburgo, a primeira tentativa foi a de fazer um city tour. Algumas pessoas já tinham avisado que a capital da África do Sul também é conhecida por ser a cidade com a maior incidência de estupros do mundo, mas ficar dez horas no aeroporto era um pouco demais. Alem disso, se fosse com um táxi do aeroporto não devia ter problema.

Fomos até o guichê da South African Airlines e, depois de alguma confusão para fazer o check-in da conexão, perguntamos da possibilidade de conhecer a cidade. "Mas o que é que vocês querem fazer lá fora?". Depois da explicação, a mulher da companhia disse que tudo bem da gente sair, mas que não era pra falar com ninguem, "nem olhem pro lado, vão direto para o ponto de informações".

A gente foi, mas fomos barradas na saída porque não tínhamos o visto pra África do Sul. Daí, enquanto pegamos a fila de novo, parou um cara atrás da gente falando português. Cara de surfista, gente boa daquele estilo quase folgado. Brasileiro, lógico. O menino foi se apresentando e eu fui lembrando do meu primo mais velho. Mesmo nome, ambos surfistas, passaram dois anos na Austrália, voltaram pro Brasil e foram moram em Florianópolis. Os dois não conseguiram o emprego que queriam e estão voltando pra Austrália; ele pra tentar ficar, meu primo só pra fazer um dinheiro.

Adotamos o cara, que tava viajando sozinho e que foi de grande ajuda. Ele que me incentivou a pagar um dos grandes micos da minha vida... dormir no meio do aeroporto, bem ao estilo "Terminal", o filme com Tom Hanks.

Durante a viagem, a minha amiga tava empolgadíssima, não queria dormir nesse avião, porque assim ficava cansada, dormia no seguinte e chegava já acostumada com o fuso. A gente conversou bastante, mas o que me deixou mesmo acordada foram os dois filmes do avião. O primeiro - que eu mais gostei - sobre uma menina, interpretada por Christina Ricci, que foi amaldiçoada com um nariz de porco. O feitiço só ia ser quebrado se ela se casasse, então os pais ficam caçando um pretendente. Filme estranho, mas muito bom. O segundo era sobre uma casa aparentemente amaldiçoada e seres fantásticos, como fadas, javalis falantes e bichos nojentos que soltavam gosmas verdes quando morriam. Por causa desses dois, cheguei exausta na Africa do Sul.

No aeroporto, a primeira coisa que vi pra vender foi uma camisa da seleção brasileira de futebol. Em seguida, uma havaiana com a bandeira do Brasil. Mas o que mais me encantou e eu quase comprei foi um bonequinho de pelúcia do antílope mascote do Spingbox, time sulafricano de rugby e atual campeão mundial (depois soube que no dia seguinte teria um jogo deles contra os wallabees, da Austrália, o que tornaria mais engraçado eu entrar no país com o rival deles debaixo do braço). Mas como em aeroporto tudo é estupidamente mais caro, não quis fazer as contas de quanto era o bicho.

Outra coisa que chamou a atenção foi uma máquina de massagem com água. A pessoa deita na maca, eles colocam a máquina por cima, que tem um plástico embaixo e jogam jatos de água nesse plástico, ou seja, em você, mas sem te molhar. A impressão de quem vê de fora é que tem uma pessoa sufocada dentro do plástico, já que não dá pra perceber que ela está solta embaixo da engenhoca.

Eu e Cris chegamos à conclusão que gostamos da África do Sul só pelo estilos deles. Todas as mulheres t^em desenhos nos cabelos, um diferente do outro. Os homens são todos estilosos (o que é legal só pra ver... eu não gostaria que meu namorado usasse um terno e uma calça dourados como vi um cara usando). Mesmo as coisas da companhia aérea, como negocinho pra tapar os olhos, cobertor e afins, eram desenhadas com um monte de formas geométricas e bem coloridas. Lina ia amar.

Mesmo assim, meia hora no aeroporto e eu já tava exausta, quase dormindo em pé e com uma dor de cabeça absurda. No aeroporto inteiro tinha somente um lugar pra entrar na internet. Sem atendente, você tinha que entrar no site e comprar o acesso pra uma semana inteira via cartão de crédito. Desisti.

Fui até a farmácia do aeroporto e comprei uma aspirina efervecente por 33 Raids, o que é cerca de seis dólares. Então foi que o menino me incentivou a dormir nas cadeiras vazias de uma parte mais isolada do aeroporto. Dormi um pouco e fomos comer alguma coisa. Depois da comida, voltamos pro mesmo lugar, dormi de novo, dessa vez mais pesado. O menino também dormiu. J'a minha amiga continuava pilhada, devorando o livro do Garfield que meu pai deu de presente ou andando de um lado pro outro. Foi comprar 'agua, comida, o que precisasse. Quando acordei de novo, a dor de cabeça tinha passado. Fomos ver o horário e descobrimos que o vôo tinha atrasado duas horas. Alguém lembrou de um sofá aparentemente hiper confortável no mesmo restaurante que tínhamos comido. Dez minutos depois e já estávamos os três dormindo de novo. O sofá ficava no final do andar, protegido por um vidro. Depois disso vinham as escadas rolantes. Várias vezes eu abri os olhos e vi alguém que descia a escada olhando pra gente e dando risada.

No segundo avião, vi só um filme e passei o resto da viagem ouvindo música, uma rádio de classic rock e outra de anos 80, principalmente de trilhas de filmes, o que me fez lembrar muito de Lana. Na verdade, eu deveria me sentar em uma cadeira com mais espa'co pras pernas, ainda por causa da queimadura, mas nao deu no primeiro aviao, muito menos no segundo, quando sentei em uma cadeira e minha amiga em outra. Mesmo assim, me senti tão em casa com as músicas que cheguei mais tranquila ainda em Perth, nem liguei muito pra perna. Liguei pra minha homestay, conferi que ela estava mesmo em casa e fui pra lá de táxi. Ela e o cachorro me receberam extremamente bem!

Saturday, July 12, 2008

A sanidade sem sair pra rua

Lucy me diz que essa minha fase em casa a faz lembrar constantemente do filme 28 Dias, com a Sandra Bullock, que coincidentemente eu adoro.

Na trama, que ainda não vi, a protagonista tem que ficar por quatro semanas em uma clínica de reabilitação e fica repetindo que é um ser humano e que um ser humano tem que conseguir ficar sozinha dentro de um quarto sem enlouquecer.

A minha pretensão é menor. Tenho certeza que só de ficar em um quarto com um monte de gente eu enlouqueceria e que só de ficar sozinha numa casa enorme eu enlouqueceria; nem precisava juntar os dois.

Na verdade, nesse exato momento eu tento me convencer que ficar dois finais de semana sem sair de casa já não são suficientes para me fazer surtar.

Pouco mais de dez da noite e eu controlava aquele desejo tentando simplesmente não pensar nele. Saí durante a tarde e apenas quatro quarteirões conseguiram me deixar cansada, ou melhor, sentindo um pouco.

A cicatrização está melhor, então aquela dor que me consumia na quinta-feira quase já não existe. Mesmo assim, ontem preferi ficar em casa. O médico foi enfático ao dizer que se eu andar muito, vaza hemoglobina. Se vazar hemoglobina, o ferro das células mancha a minha pele. E mancha de ferro não sai. Então, melhor eu também não sair.

Ontem nem reclamei muito. Os programas disponíveis não eram aquilo que mais gostaria de fazer, mesmo em dias saudáveis. O templo do rock só costuma ter graça com uma boa dose de veneno, senão estressa, e meu principal parceiro de Butantã está a milhares de quilômetros.

Outra opção seria um barzinho simples, com conversa boa e gente divertida, mas o frio e a impossibilidade de dirigir tornaram essa escolha menos atraente. Me contentei em ir prum bar com meus pais, frango a passarinho e batata frita com milk shake, bem criança.

Hoje, pelo contrário, bati perna razoavelmente. Apesar de ter me cansado só com aqueles quatro quarteirões, depois ainda saí de novo e até paramos o carro em vaga de deficientes, o que faz todo sentido nesse caso.

De volta, troquei os curativos, tirei nova foto da perna sem pele (prometi que só termino essa seqüência quando tiverem sumido todas as manchas) e entrei no msn. No fundo, sabia que mesmo que me chamassem não deveria sair, mas não custa matar o tempo.

Duas horas na internet, várias fotos distribuídas, todo mundo vai embora, eu fico. Minha mãe pergunta se minha perna dói e em seguida dá risada. Se doesse pelo menos um pouco, não ficava com tanta vontade de sair.

Apesar de tudo, a razão ainda comanda. Eu até poderia ligar, mas se recebesse o convite, seria sensato sair? E se não saísse, pra que dar sinal de vida?

Quase entrei em crise duas vezes ao ter que escolher uma roupa simples. A bota aperta a perna, a calça não passa por causa das ataduras e nenhuma blusa ou sapato combina com uma calça de malha fria. O que faria então se tivesse que me arrumar de verdade?

Já estava me contentando em desistir da rua quando o telefone toca. A bolsa, como sempre, tá lá longe e a música pára antes de atender o aparelho. O número, privado. Vou entender isso como um sinal.

Hoje deveria ser minha última balada de sábado, mas pelo jeito não era mesmo dia de sair. Como consolo, algum martírio está chegando ao fim. Essa é a minha última chance de não ver Zorra Total. Com toda certeza, algumas horas desse programa são suficientes para deixar qualquer um louco.

Thursday, July 10, 2008

Patty's on fire

Na escola, aprendi que a dor é uma maneira do corpo dizer que alguma coisa está errada e que, por isso, você tem que tomar alguma providência. Enquanto tá com dor é que nao tá tudo ok. A mesma coisa acontece com o choro. As lágrimas são uma forma do nosso organismo lidar com as emoções com as quais não consegue expressar. Por isso, apesar de não chorar com freqüência, acho que de vez em quando é necessário - e benéfico.

No caso da dor, se for mesmo isso, devo confessar que meu corpo é um tanto quanto prolixo, pra não dizer burro. Já faz mais de 48 horas que essa dor maldita não passa. Eu entendo que minha pele está se recuperando, mas eu já fui medicada, já estou em repouso e as pontadas continuam. É só ficar de pé - não precisa nem fazer força - que parece que minha panturrilha está sendo dilacerada de dentro pra fora. Como conseqüência, eu, que sempre me considerei a pior pessoa do mundo pra ficar doente, agora passo as tardes deitada no sofá ou na cama com as pernas pra cima. E tudo isso a uma semana da viagem.

Um pouco de bebida a mais e um pouco de juízo a menos fizeram com que um amigo colocasse fogo na minha perna enquanto tentava acender a fogueira de festa julina. Ironia ou não, em vez de apagar o facho ou o fogo no rabo pra ficar tranqüila, foi preciso que eu pegasse fogo para então sossegar.

A festa em questão tinha lista fechada. Seria minha despedida, rumo ao país dos cangurus. A princípio, reuniria amigos e família e, portanto, só chamei pessoas de quem realmente gosto muito. Amigos queridos, daqueles com quem me sinto em casa, e de quem vou sentir muita falta quando estiver longe. No fim, não poderia ter escolhido melhor.

A explosão em si foi muito rápida. Estávamos todos comendo, quando aceitei o oferecimento do meu irmão de acender a fogueira no meu lugar. Foi ele e foi um amigo. Não sei como, uma lata de tinner foi parar na mão do moleque. Ele jogava o combustível, o fogo subia e desaparecia com a mesma rapidez. Preocupada, cheguei perto pra tentar ajudar. Porém, o álcool consumido por nós durante a tarde na sueca anulou o pretenso conhecimento adquirido no Exército. Numa última esguichada, o tinner passou por cima da fogueira e levou o fogo pra mim e pro meu irmão - nele, com menos gravidade.

Na hora, só vi minha perna pegando fogo, mas nos poucos passos até a borda da piscina ele cedeu. O cheiro de cabelo queimado e os fios chamuscados só foram percebidos depois. Fiquei puta, agarrei a lata da mão do menino e saí xingando, arrancando casaco e pantufa, enquanto seguia para o quarto onde as meninas dormiam para pedir um hidratante emprestado. Acordei as garotas meio como um furacão e a partir daí parei de ser a responsável pelos meus atos.

É de conhecimento mais do que público que eu não sou a pessoa que mais aceita ajuda nesse mundo. Gosto de sustentar a fama de auto-suficiente. Mas, dessa vez, parecia uma criança sendo levada pra cima e pra baixo, obedecendo as instruções daquele grupo de amigas-irmãs.

Primeiro lavei a perna. Em seguida, fiquei sentada, tentando me acalmar enquanto as meninas me faziam compressas com toalhas molhadas. O choro que não saiu já foi suficiente pra deixar Ariel preocupada. Em algum momento que não lembro qual, tomei um banho pra tentar tirar o cheiro de queimado do cabelo, o que não funcionou.

Lucy, mal havia saído da cama, já sacou o celular e conseguiu instruções do que fazer em casos de queimaduras. Outro amigo, assim que descobriu o nome da pomada receitada, pegou a chave e correu em direção em direção ao carro, só perguntando ao léu se alguém queria ir junto. Pra mim, que só via a movimentação, ainda confusa, tudo aquilo parecia um balé ensaiado, com pessoas correndo em todas as direções, cada uma com seu papel.

Na volta, como o creme não fazia efeito, fui quase arrastada para o hospital. Os 40 quilômetros mais a confusão para chegar até o lugar me mostraram que a preocupação alheia tinha fundamento. A pele ardia tanto que foi preciso o ar frio do carro para acalmar os arrepios.

Chegando lá, enquanto andava de vestidinho vermelho e ceroulas de festa junina pelo pronto-socorro, doentes, médicos e enfermeiras olhavam com espanto para minhas pernas. Um médico sarcástico mas muito simpático começou o atendimento, que uma enfermeira extremamente cuidadosa completou, com soro e mil remédios diretamente na veia.

A mesma atenção eu recebi dois dias depois, aqui em São Paulo, na ala de queimados do HC. Enquanto conversava com o médico, a enfermeira se divertia arrancando bolhas e pele necrosada.

Apesar da insistência de Ariel e de outra amiga, essa de infância, voltamos pro sítio e não para São Paulo depois do primeiro atendimento. O clima ruim já havia tomado conta das pessoas que continuavam na casa e das que tinham acabado de chegar. A festa julina se resumiu à comida e à fogueira, acendida depois e deixada de canto, como que de castigo.

No dia seguinte, por insistência do padre fajuto que chegou trazendo Lana, fizemos o tal arraial, com casamento, damas de honra, Bíblia de viagem à Disney e tentativa de Queen para trilha nupcial. A quadrilha deixou tudo mais ameno. Até mesmo piadinhas com minha perna foram aparecendo.

Antes, pensava em fazer uma despedida para todo mundo, assim comemorava com um final de semana inteiro para os mais próximos e um tchau geral para os outros. No fim, o acaso fez com que essa fosse o veradeiro e único evento. Apesar da fama de festeira, só pude dar oportunidade para os amigos mais queridos me darem tchau. Os que aproveitaram a chance acabaram mostrando que mereciam o convite. Esse blog já fez diversas odes à amizade, mas acho que nunca é demais. Se amigos são irmãos que a gente escolhe, esse final de semana me mostrou que minha mãe social era bem da assanhada. Ainda bem.