Friday, November 24, 2006

Conversas de pub e algumas definições


"Você quer seu nome naquela lousa?"
"Sim, eu quero!"
"Então vai ter que se esforçar mais"

***

Num bar escuro várias pessoas sentadas à mesa conversam bebendo cerveja. A maior parte não se conhece. São dois grupos diferentes. Um time veterano de rugby e um monte de meninas que recém começaram a praticar o esporte - as Jones, as quatro reunidas finalmente - mais um co-coach carioca.

Numa das laterais do bar, dois caras tocam blues. Gaita, voz e guitarra só. O suficiente para tornar o clima ainda mais gostoso. Em cima da mesa, uma jarra de dois litros de chopp está quase no final. Na lousa pendurada acima do bar, os nomes dos recordistas em beber chopp. É nesse momento que entra o diálogo transcrito no início do texto.

"Bebendo desse jeito é impossível de vc entrar na lousa. Agüenta mais? Então acaba esse primeiro".

O homem era um mala. Uma exceção naquela mesa. Mas depois de ter dito que queria entrar na lousa, mesmo que brincando, não podia voltar atrás. Sabia que ele só queria ver a gente bêbada - e ficou decepcionadíssimo ao perceber que a Lucy, que já tinha parado há algumas rodadas, estava bem longe de chegar nesse nível - porém, bebida paga a gente não recusa. Virei o copo e em cinco minutos veio outra jarra pro pessoal da 'Caisssper'.

Tínhamos combinado de ir ao pub pra assistir a final do Mundial feminino. Inglaterra e Nova Zelândia. Mas a gente chega no bar e está passando um jogo masculino. Quando acaba, desligam a TV. É tal a nossa insistência em pedir pro garçom colocar no jogo que chegou aos ouvidos do dono do bar que provavelmente jogávamos rugby. Simpaticíssimo, ele veio até nós, ofereceu uma jarra de chopp por conta do time de veteranos da mesa ao lado. Foi assim que conhecemos o famoso espírito de confraternização rugbeer do qual tanto ouvimos falar. De quebra, tiramos algumas conclusões em relação às posições do rugby. Só três na verdade, o que mostra que precisamos participar de muito mais jogos e confraternizações.

As definições

O moço chato lá de cima é o fly, ou abertura. Metódico, certinho, arrogante. É ele que começa a jogada e talvez por isso esse ar de capitão de time de futebol americano combine tão bem. É preciso no mínimo ser seguro de si. Por coincidência ou não, ele adorou a Lucy... que no nosso time de sevens, mais por capacidade de comando do que por arrogância, é a fly!

Também conhecemos um exemplar que fica num meio termo entre o chato e o leso. Peça essencial tanto para o ataque quanto para a defesa, este é o oitavo homem. Grande, sereno - talvez por causa da bebida sereno até demais - e rápido, o oitavo tem a função de definir a jogada. Numa conversa de bar ele seria aquele cara gente boa, com quem você pode conversar por horas, assuntos legais, mas sem emoções mais fortes. Todo oitavo precisa ter um mínimo de inteligência. Mas tudo isso estou falando por hipótese... sabe o lance da rapidez? Então, o oitavo em questão foi elevado a pilar conforme aumentou de peso... é aquela história, se não corre, derruba.

Por fim, o pilar!!! Classe essa à qual pertencem quase todas as meninas do nosso time, pelo menos espiritualmente. Pilar é aquela pessoa ogra, que não pensa muito, faz trapalhada à beça e acaba resolvendo as coisas pela força. Em exemplos dados no próprio pub, "pilar é o cara que vai pressionar o garçom porque a cerveja não tá chegando. É aquele que vai trocar o pneu do ônibus porque ninguém mais se oferece". Mas também é o mais divertido, o que mais fala besteira, o mais aéreo, perdido... aqui vai uma comparação. Só pra variar eu me perdi pra chegar o bar. Então, comentei que isso é uma atitude típica de pilar. O nosso amigo, bendito entre as mulheres, me corrigiu dizendo "você chegou, não chegou? Um pilar estaria procurando o caminho até agora". Exageros à parte, acho que uma boa definição prum pilar seria o Hagrid, do Harry Potter. Fofo à beça por sinal.

Bem, não entramos na lousa dos recordistas naquela noite. Como em toda competição, é preciso ter alguém controlando desde o primeiro copo e quando a gente viu a lusa já era tarde. Mas combinamos de voltar outro dia. Lana disse que o recorde feminino era de 16 chopps. Relativamente fácil. Principalmente se continuarmos treinando em terceiros tempos. Afinal... ainda falta descobrir a definição psicológica de hooker, meio-scrum, centro e ponta (pelo menos).

Monday, November 13, 2006

Atração irresistível

Tenho uma confessão a fazer. Possuo um caso, daqueles bem vagabundos. Poucos sabem da existência desse sentimento. Sempre fui de negar a relação, dizer que sair com ele é perda de tempo, mas inevitavelmente acabo em seus braços.

Nessa relação esquisita não há cobranças de nenhum dos lados. Tudo é feito através de flerte e entrega. Porém, como com todo boy toy, exclusividade é uma palavra que não existe. Além de sair comigo, ele flerta e envolve todas as minhas amigas - e amigos.

Não posso negar que os encontros com ele não sejam algo no mínimo revigorante. Às vezes apenas algumas horas juntos funcionam melhor do que massagens e sessões de relaxamento.

O vai e vem já dura anos. Baladeira convicta, sempre faço dos nossos encontros a última opção da noite. Mas trabalho e cansaço acabam sempre me deixando mais vulnerável.

Eu, que nunca fui de cancelar programas com amigos, nos últimos meses em pelo menos três ocasiões desisti de sair para ficar só com ele. Como em todo vício, a tentação está sempre presente e é preciso ser forte para resistir.

Nesse sábado, após algumas boas cervejas voltei para casa. Tomei banho e enquanto esperava o horário para sair de novo, ele veio falar comigo. Me chamou para mais um encontro. Eu, já meio tonta, nem tentei resistir. Fiz somente uma ressalva: 'só posso ficar meia hora'. Já tinha combinado de sair com Lana Banger, mas talvez esses trinta minutos me ajudassem a despertar.

Para ajudar a negar a relação, costumo estipular prazos máximos para esses encontros. Pena que dessa vez não aconteceu. Me entreguei aos braços de Hypnus e me deixei levar por Morpheus em um sono que durou mais de dez horas. Um absurdo para quem só dorme seis ou sete por noite.

Estava louca para dançar mas só consegui mais um sábado perdido. Uma ótima noite de sono, porém uma balada que não aconteceu.

Por que dormir é tão inevitável?

Friday, November 10, 2006

Metamorfoses ambulantes

Quantas pessoas conhecemos durante a vida? Pergunta difícil? Então espere pra ver. E não vale contar só grandes amigos, namoros, família. Estou falando de conhecer no sentido mai amplo da palavra. Vale até até mesmo aquele cara lindo que você só olhou passar mas que vai ficar por muito tempo na memória. "Será que um dia vou vê-lo de novo?" Mais ou menos no estilos de filmes - ou na recente propaganda da Claro - onde duas pessoas se encontram em vários locais distintos, ocasiões inpensadas, até que percebem que nasceram uma para a outra e vivem felizes para sempre.

Síndromes de Cinderela à parte (toda menina sonha em ser levada para longe montada num cavalo branco e ao lado de um príncipe encantado), cada pessoa que passa pela nossa vida deixa um pouco de si conosco. Pode ser expressões, como os mil significados de "fofo" que incorporei de Lucy Jones, alegria interminável da qual compartilho com Lana Banger ou uma empatia instantânea como a que senti por Lina. E pra ficar só no exemplo das Jones.

A cada vez que lembramos de determinado acontecimento ou pessoa e aquele sorriso ou no melhor dos casos a vontade absurda de começar a rir querem aparecer é como se a pessoa envolvida estivesse presente, fosse um pouco parte de nós.

Normalmente só costumamos dizer isso em ocasiões de perda "não se preocupe, vou estar sempre com você aí no seu coração". Mais uma cena piegas mas inevitavelmente emocionante, cena de filmes, em homenagem ao novo amigo cineasta e que adora encontrar essas imagens no blog. Enfim, o ponto em que quero chegar é que não são só as pessoas queridas que têm esse poder.

Uma vez, há uns bons anos, perdida como sempre, resolvi perguntar para uma moradora de rua se o ponto de ônibus mais perto ficava para a esquerda ou para direita da enorme Avenida Santo Amaro. A moça (outra expressão roubada de Lucy, já que a mulher tinha quase tantos cabelos brancos quanto negros) não deveria falar com alguém há muito tempo tal foi a felicidade e a obstinação com que me respondeu. Só faltou dizer, naquele linguajar meio enrolado, quantos passos demoraria para chegar até o ponto. Na verdade, ela pode até ter dito. Lembro que não entendi nada da explicação. Lembro também do hálito horrível de quem está há muito tempo sem comer ou escovar os dentes. Mas mais do que tudo, lembro do sorriso dela enquanto eu agradecia pela décima vez e ia para a direção que - acreditava - ela tinha indicado.

Para quem não sabe, parte do meu nome - Marie - foi escolhida em homenagem a uma grande heroína dos quadrinhos e principalmente dos desenhos animados. Dentre suas diversas características, Anne Marie, conhecida como Rogue ou Vampira não pode se aproximar das pessoas, pois suga-lhes a energia vital.

Acredito que todos temos essa maldição. Entretanto, em vez de sugarmos somente, absorvemos e doamos experiências, hábitos, alegrias e tristezas. Somos altamente influenciados uns pelos outros. Por isso não é raro quando ver alguém chorando e sofrer aquele aperto no peito sem nem saber porquê. Ou então ouvir uma gargalhada e - ah, como gosto desse som - sentir o dia todo se iluminar.

Adoro pessoas. Adoro conhecê-las. Por mais que a conversa seja de cinco minutos, sempre há uma característica que você leva junto contigo. A mesma pessoa poderá seguir n caminhos durante a vida dependendo do contato que ela tiver com a sociedade. Essa é a graça do jogo e por isso acho muito bom conhecer o máximo de gente possível. Dos mais diversos tipos. Quando tinha cinco anos me minha mãe me colocou no balé - perdição total -, quem ia me imaginar no rugby???

Thursday, November 09, 2006

"Dreher"

(O alter ego de Lana, em uma TPM fora de época, ligou pra ela hoje e resolveu desabafar...)

É duro olhar em volta e perceber o quanto vida passou rápido... E mais que isso: se deparar com um vazio no peito deixado por todos aqueles que passaram e foram importantes para seu crescimento pessoal ou simplesmente tatuaram um negócio do lado esquerdo, impossível esquecer.

É uma pena que essas pessoas tenham desaparecido, como se nada tivesse acontecido; e num movimento circular mega viciado, novas pessoas vêm e vão numa rapidez alucinante.

É fato que crescer envolve tudo isso... será que eu sou a única desesperada por ver pessoas escorrerem pelas mãos como a água da torneira, de cada manhã?

A sorte é que curti cada momento intensamente... mas será que tudo foi tão intenso assim?

Se tudo é apenas um vai e vem desenfreado, eu não deveria acreditar em amor eterno, família, amizade verdadeira, realização profissional entre outras coisas certinhas da sociedade... Mas como é difícil!

É complicado correr contra a conrrente e desejar, mais que um amante, um amigo pra vida inteira e fazer de tudo para que se viva de acordo com ideais lúdicos de confiança, fidelidade (e não possessividade), ajuda mútua e um mundo cheio de gliter. Um vida dúbia entre esses dois paralelos faz parar o tempo, perder amigos e dá uma solidão quase sempre angustiante...

Não quero me afogar num copo de cerveja.
Me dá logo um DREHER pra encarar a realidade.

Sunday, November 05, 2006

Divagações na Metrópole - 10 minutos no metrô

Naquela tarde típica de primavera para o proletariado paulista (leia-se metrô abarrotado, com pessoas e objetos ensopados, resmungando "Ai, essa chuva... o tempo estava bom até agora tarde! Vai entender esse tempo mauluco, meu deus..."), ela olhava ao redor e tentava decifrar a personalidade daquelas pessoas que a comprimiam contra a porta. Afinal, tem gente que é tão sabida, que olha nos olhos e fala "Você é de câncer, acertei? ". Mas com toda a sua cultura de botequim sobre horóscopos e essas coisas mais sensitivas, as coisas mais absurdas passaram por aquela cabecinha de vinte e poucos anos. E olha que essa idade não costuma ter um mentalidade tão fértil...

"Humm... esse cara é estilosinho: tatuado, converse no pé, mochila nas costas, alargador, mas com uma roupa bonitinha de trabalhar... No mínimo deve trampar como designer ou em alguma dessas empresas de informática e , com certeza, tá escutando rock. Ele não tem cara de EMO, então... deve ta escutando essas coisinhas novas britânicas. Pena que ele é baixinho e a mega aliança prateada na mão direita, tá reluzindo mais que uma dourada na mão esquerda: esse aí namora, pelo menos, há uns 2 anos...."

O trem abre as portas na estação seguinte e é impressionante como as pessoas se adaptam áquele estágio de inércia induzido. O tal do garoto comprometido, faz mil e uma acrobacias para que uma menina esbaforida, bem mais baixa e volumosa que ele, se encaixe naquele emaranhado de mãos, braços, pernas, peitos, bundas grandes, mochilas, sacolas e cheiros de todos os tipos...

"Nossa, que cara de mau! Ela deve trabalhar em alguma coisa ligada á vendas ou cobrança ali no centro e não deve achar que trabalho traz realização profissional, só dinheiro e encheção de saco dos patrões. Com certeza ela sabe todos os seus direitos trabalhistas e deve colocar no pau qualquer empresa que se meta a besta com ela.Aliás, acho até que os engraçadinhos e engraçadinhas com ela não têm vez... Mas será que essa calça grudada, esse cinto grande e essa blusa decotadissima e sufocante não colaboram pro seu mau humor? Acho que nem o brinco de dançarina do ventre e faixa colorida no cabelo alegram a tornam mais simpática..."

Na outra parada, o vagão continuaria no mesmo estado, se um casal não se entrelaçasse e ocupasse o mínimo de espaço que ainda restava diante da porta. "Uhhh, amor... conseguimos - smack na boca - Me abraça mais um pouquinho que a gente fica bem", disse o homem para a mulher.

" É, o amor deve ser realmente lindo e superar todos os obstáculos. A menos que eles tenham se conhecido por essas bandas e nesssas mesmas condições... E não é que eles combinam?! Tá certo que o desastre na cama é quase previsível: ela não parece ser nem um pouco sexy e tem uma certa aprência de sujinha. Não como os hippies da paulista, mas uma sujeira natural. Ele, sem a menor pinta de comedor nem de come quieto. É até estranho imaginar que um dia ele tenha sido punheteiro! Huum.. pensando melhor, ele tem cara daqueles caras de chat... e ela também! É fato: se encontraram num shopping um dia desses, depois de teclarem numa sala por aí, e viram que têm várias coisas em comum e se apaixonaram... inclusive se sintonizaram na horizontal. Que sejam felizes!"

A viagem da garota continua aperdatíssima e cada vez mais sufocante. Ela já não sabe mais se está se sustentando nos próprios pés ou alguém está fazendo isso por ela. Numa inspeção rápida e minuciosa, ela percebe...

"Putz, onde eu vim me meter! Tudo bem que não tinha tanto lugar pra ir, mas ficar embaixo dos braços de um gordinho com pizzas na camisa, ninguém merece!Ainda bem que meu poder de abstração das coisas e meu mp3 são maiores que tudo... O cara deve ser bancário e tem orgulho de mostrar que trabalha no Banco do Brasil, exibindo crachá e bolsa personalizada, além da camisa azul e amarela. Deve ser gente boa, mas a respiração ofegante e aquele olharzinho "sou tímido, mas se mexer comigo eu topo tudo" poderiam acabar com qualquer amizade. Aliás, ele não tem cara de muitos amigos. Parece bem caseiro, do tipo que tem família pequena e amigos ecléticos que entendem o dance como sinônimo de música eletrônica e o sertnejo como redenção em qualquer casório. Ai, é melhor eu tentar ir um pouco mais pra frente..."


Já diz o velho ditado que coração de mãe, sempre cabe mais um. Couberam mais quatro... e daqueles filhos bem barulhentos e desalmados...

"Como é possível! Esses daí são daqueles que querem aparecer á qualquer custo. Já chegam empurrando, gritando e ai de quem olhar torto pra eles. É capaz de cuspirem em alguém! A camiseta surradaa , o cabelo molhado e o perfume a la AVANÇO não negam um dia duro de trabalho em alguma fábrica da região. Mas isso não diminuiu o bom humor:têm piadas e frases feitas na ponta da língua. Aposto que para cada dia da semana devem resmungar algo diferente! Mulher...eita bicho bão, eles devem pensar. É lógico que baranga eles expulsam com alguma musiquinha brincalhona. Mas eles mal sabem falar direito... Devem ganhar pouco, só que têm família pra cuidar lá no fim da cidade. Engraçado como eles não demonstram se importar com isso! Eles é que estão certos... já estão prontos para um cerveja no bar e o trabalho no dia seguinte..."

ESTAÇÃO SÉ... ACESSO Á LINHA 1, AZUL. DESEMBARQUE PELO LADO ESQUERDO DO TREM.

Em questão de segundos o garoto do rock, a menina mau humorada, o casal enlaçado, o gordinho franzino e os "quatro felizes do jeito que sou" são expulsos do vagão, como acontece em parto normal. A tal da garota, que divagou pela vida de pessoas tão diferentes, com toda sua educação, tenta não empurrrar ninguém. Impossível... o máximo que conseguiu fazer foi olhar para os outros, dar aquela risadinha de "isso não muda nunca e é um absurdo", ajeitar sua roupa, mudar a música do mp3 e se preparar psicologicamente para conhecer tipos mais diferentes na nova jornada que ainda a aguardava.

Mas dessa vez seriam uns 10 minutos a mais de desconforto!