Thursday, June 23, 2011

True love

Este post está fadado a acontecer já há algum tempo... Mas despedidas, festas e provas me impediram de fazê-lo antes.

Antes de uma amiga cruzar o mundo para fazer MBA, reunimo-nos, o trio inseparável do colegial, para um chá de despedida. Na conversa, homens... claro! Uma do grupo acabara de conhecer um candidato a crush e a outra, como podemos dizer, em uma fase atípica - ou nova - pós dispensada meio traumática. Assim, discutiam elas entre ser "desinteressada" ou se jogar de uma vez.

Claro, não houve nenhum veredicto, mas ficou uma pergunta no ar - um tanto filosófica, devo dizer -, será que é possível realmente amar alguém ou sempre nos apaixonamos pela idéia que fazemos das pessoas?

Será que é possível realmente conhecer alguém? Eu posso falar por mim... há muitas coisas sobre mim que acredito que nem mesmo pessoas muito próximas saibam. Eu mesma não saberia responder muitas perguntas sobre meus irmãos... e quem pode dizer que não os amo?

Acredito que todos temos filtros. A criação, as experiências... tudo muda um pouco a maneira como vemos o mundo. Então, esses filtros também funcionam em relação às pessoas que vemos, eles vão ditar o que selecionamos da realidade para formar o nosso conceito sobre aquela pessoa. O que significa que raramente vemos o todo.

Quando a discussão abrange relacionamentos românticos a coisa fica ainda mais insana. Em relacionamentos, há mais aparências do que nas amizades, mais tabus e menos reflexões sem sentido...

Então, será que é possível conhecer realmente alguém? É possível amar sem conhecer? E, usando o super clichê, por quantas pessoas você colocaria sua mão no fogo?

Wednesday, June 22, 2011

Alegoria de mim mesma

Era uma vez uma menina, talvez já não tão menina, que gostava de abraçar o mundo. Em casa, entrava, e, enquanto era recepcionada pelo cachorro, dava, sem olhar, um leve empurrão na porta que tinha acabado de atravessar. De propósito ou não, ela empurrava mas não fechava e a passagem para o corredor permanecia encostada até que outra pessoa da família resolvesse completar o serviço. O que isso significa? Possivelmente uma grande incapacidade de fazer escolhas.

Apesar do que diz Lucy, de que cada opção implica em uma renúncia, a menina preferia ignorar a física e só adicionava elementos à sua rotina de 48 horas diárias, se virando em mil para não abrir mão de nada. Além da amiga, seu pai também dizia “quem faz de tudo não faz nada direito”, mas a menina não ouvia.

O mundo que ela juntava com tanto gosto só crescia e pouco a pouco se tornou impossível segurá-lo, dada a circunferência e o peso da massa de objetos, pessoas e atividades reunidos.

Para não deixar nada cair, ela apertou cada vez mais seu mundarel de coisas, segurando tão forte que ele explodiu e, ao explodir, o que era um globo aumentou de tamanho e se transformou em uma grande cuba, oca, que logo foi preenchida com pequenas representações do que ela mais gostava, tal qual uma enorme piscina de bolinhas.

Eram bolas de rugby, amigos de time, colegas e livros da faculdade de Letras, amigas da faculdade de jornalismo, pessoas queridas que vieram da infância e outras que vieram do trabalho, família, um cachorro novo, mocinhos do passado e do presente, um curso de História em Quadrinhos, uma atividade de enduro a pé, um mochilão de um mês, uma bicicleta meio largada e até um treinamento para a brigada de incêndio. Tanta coisa que deixaria qualquer um tonto e, muito embora fossem só espécimes sensacionais – na maioria das vezes, pelo menos – o excesso de informação fez com que o mundo da menina ficasse descontinuado, espalhado, absorto naquele caos de coisas divertidas.

Durante a explosão, alguns objetos se perderam, como as aulas de ballet ou de windsurf (pagos, mas nunca feitos). Outros, apesar de estarem dentro da cuba, ficaram distantes.

Como se descobriu depois, as bolinhas têm o mesmo efeito de uma areia movediça. Por mais que se mexa é impossível sair do lugar. E a menina, que no começo tentou em vão dominar sua própria rotina, desistiu e se acostumou a fazer suas atividades tão queridas de vez em quando somente. "O que para der, maravilha. O que não der, bom também". Afinal, chega uma hora que nem Hiro Nakamura aguenta conciliar tudo no varal do tempo.

Isso continuou por quase seis meses, mas eis que até o caos virou rotina e ela, cansada de fazer malabarismos com uma amarra de ferro em cada braço, mergulhou fundo e quebrou a parede já trincada da enorme tigela. Era uma saída, mas talvez não uma solução.

Tal como Alice, a menina e seu mundarel de coisas foram caindo, caindo, caiiiiindo... assim como ela, que caiu no sono. Quando acordou, estava deitada no chão, em grama verde e céu azul pintado de lápis de cor. Os ícones, representando suas coisas tão queridas, jogados. Alguns pertinho - porque ela fez questão de segurar junto ao peito na descida - outros, tão longe que mal dava pra ver.

Era hora de recomeçar. Começar a catar todos os elementos e assim, como em qualquer arrumação de começo de ano, separar o que fica, o que é lixo e o que pode ser doado ou reciclado.

Alguns desses trechos, só para ajudar, ela teria de fazer a pé. O carro, representado pela carteira de motorista com excesso de pontuação, se perdeu no meio do caminho e não se tem ideia de quando volta.

No começo do percurso, que poderia muito bem ser de tijolinhos dourados, ela vê no chão um jornal, com o horóscopo do período: “ótima fase para reflexão; aproveite para decidir o que quer priorizar daqui pra frente" e pensa, "é, bem-vinda ao retorno de Saturno”.