Thursday, August 02, 2007

O belo que só quem não enxerga vê

"Você nem vai lembrar de mim amanhã, né?"
"hahaha, olha é possível"

Não era nem pela quantidade de bebida ingerida, muito menos por tentativa de me fazer de superior que disse aquilo. Lembrar do rosto, do nome das pessoas é uma tarefa cada vez mais difícil.

Excesso de informações, a tal síndrome do mundo moderno (em que você tem acesso a tantas coisas que acha que não sabe nada e, pior ainda, não registra quase nada). Só isso já seria desculpa mais que suficiente para pessoas... esquecidas, digamos.

Mas há ainda tem o fator "pé no chão". Pessoas ditas avoadas têm seu lado positivo, se estressam menos e por isso estão menos sujeitas a morrerem numa briga de trânsito. Em compensação, são potenciais vítimas de atropelamentos e de serem taxadas como metidas, mal educadas e afins.

Por indicação de Lucy, que compartilha desse problema, entrei no grupo "Metida não, míope", do orkut. Mas quem dera todas as pessoas que conheço fossem minhas amigas virtuais e soubessem dessa minha comunidade. Infelizmente, quem chegou nesse nível de interesse é porque já me conhece e não vai ficar bravo se eu passar reto. Ao contrário, esses amigos até se divertem. Esperam passar bem perto pra dar um grito bem no ouvido; agarram o braço ou simplesmente ficam pulando na sua frente, agitando os braços - e comentando com quem estiver do lado "aposto que nem assim ela vai ver".

Cumprimentar é um assunto muito complicado. Além de ver as pessoas, você precisa decidir como vai abordá-las, principalmente em relações de trabalho.

Para e-mails, criei uma regrinha: no fim da página, antes da assinatura, começo com "abçs". Se a pessoa mudar para "bjs", mudo também, assim não passo nem por dada nem por mal educada.

Hoje, voltando do almoço, vi (acho que vi) um dos meninos de outro setor que só encontrei ao vivo umas duas ou três vezes, mas com quem freqüentemente tenho que falar por e-mail, e que, por isso, já passou do para "bjs". Vi o moço, parei, pensei "eu conheço ou não conheço?"... não cheguei a nenhuma conclusão. A pessoa ficou me encarando, mas como eu estava de óculos de sol, não sei se percebeu que olhava de volta ou não. No fim, falei um oi, séria, quase inaldível. Se era, eu falei, ele que não ouviu. Se não era, foi tão baixo que ele nem deve ter ouvido. Chega a ser ridículo você mandar beijos pra uma pessoa que você nem lembra o rosto, mas enfim, acontece.

Pra evitar esse tipo de problema, criei uma terceira regra, porém, como se percebe, não é 100% eficaz. Sempre que conheço uma pessoa tento relacionar o rosto e o nome dela com alguma coisa, normalmente alguém já conhecido. O problema é que se você conseguiu lembrar de uma pessoa porque ela parece com outra, isso significa que o rosto é comum e provavelmente haverão outros também parecidos.

Numa festa chamei um menino de longe, apresentei minha amiga, puxei conversa, ficamos muito tempo conversando, ele meio desconfortável, até que me pergunta "ah, legal, e você, quem é?" Nessa de não lembrar rostos, confundi o menino com um amigo, que estava no mesmo lugar. Argumentei por um bom tempo que ele era sim meu amigo, que só podia estar brincando comigo, até que, de repente, eis que o próprio chega, os dois vestidos do mesmo jeito. Aponto pra um, aponto pra outro... "também, olha só... um igual ao outro... parece espelho". Tanto tentei me justificar que o moço recém-conhecido ficou bravo, virou as costas e foi embora. Meu amigo, por ser meu amigo, só deu risada.

Frase do astrólogo Oscar Quiroga, muito mal reproduzida pro mim, já que lembro só vagamente: as pessoas parecem ficar bravas quando percebem que suas idéias e seus comportamentos não são únicos, mas não admitem o quanto é belo estarmos todos sob a mesma sintonia.

4 comments:

Lucy Jones said...

Hahahaha

Esse post é muito a sua cara... pra não dizer a nossa cara! Puxa, fico me sentindo super mal depois que percebo que passei reto por alguém que eu conheço (e gosto, né? Se não gosto... pra quê me preocupar em cumprimentar?).

Ruim também é quando a gente acha que uma pessoa é um conhecido e não é. Fico olhando pra ter certeza e o cara acha que eu tô paquerando... horrível!

enfim... adorei!

bjos

Ariel Jones said...

Que delícia Patty Mary... ADOREI!!!

Da mesma maneira que a gente descobre que mãe é tudo igual, a gente descobre também que os pais, filhos, amigos, são iguais, afinal, todo mundo tem sonhos, ambições, interesses... E todo mundo quer ser feliz.

E sobre reparar... É, ok, sou de uma classe intermediária. Não posso dizer que sou tão distraída quanto minhas amiguinhas, mas também não consigo ser tão atenta a tudo. Até gostaria de ser, mas ainda não encontrei o botãozinho pra ligar.

Bjs

PS: Vergonha alheia na história do moço... Coitado, ele deve ter pensado "essa é louca mesmo"!

Fábio said...

Bom, é um tema que demorou para aparecer em um dos seus posts, Patty. Como sempre, um texto perfeito e fechado, com um desfecho quase profético.

E, logicamente, os clássicos comentários de "é, típico da Patty, mesmo!", quando isso acontece...

Muito divertido...
Beijocas...

Anonymous said...

Quem não te conhece que te compre, Srta. Marie!

beijocas estaladas
;)
do anônimo mais fajuto da blogosfera.