Tuesday, September 25, 2007

O dia em que Lucy incorporou a pilar

Trânsito pesado às 20h horas em São Paulo. Eu, de carro, tinha acabado de pegar Lucy na Cidade Jardim, esquina com a Faria Lima. Descemos em direção à Marginal Pinheiros. Próximo à saída do túnel, a pista fica única. Eu, que ia pegar a próxima saída, já fico à direita. Como fui descobrir depois, talvez à direita demais. O trânsito pára, eu paro. De repente... pof! A traseira do lado direito do carro abaixa. Olho pra Lucy, que ensaia a risada. Tento sair uma vez, duas, o carro morre.

Lucy abre a porta e diz "bom, acho que se a gente empurrar dá". Eu olho pra minha amiga loira, cujo avatar é uma criança de chiquinhas e penso "tá o carro vai ter que sair". Lucy desce, analisa e dá a sentença: "ih, amiga, você caiu no bueiro. Liga o pisca pra gente ver o que faz".

Se o carro está no bueiro, perto da guia, ele não vai sair com o carro indo pra frente, mas se eu girar a direção, quem sabe vai. Liguei o pisca, tento mais uma, duas, três vezes. Nada. O pneu canta, exala cheiro de borracha queimada, a fumaça sobe e o carro no máximo dá um tranco insignificante.

Começa a primeira buzina. Lucy, do lado de fora, me pede pra ligar o pisca, mas, apesar dela não ver, o pisca já estava ligado. "Ah, então manda ele à merda. Cara chato."

À medida que eu saio do carro pelo lado do passageiro, no pequenino espaço que a caçamba de lixo da calçada me deixou para abrir a porta, o moço do carro ao lado resolve perceber que ele também consegue passar e vai embora.

Ao chegar atrás do carro, vejo o problema: quando a roda de trás do meu carro ficou em cima do bueiro, a grade quebrou e roda afundou, muito. Não ia conseguir sair dali. Mil pensamentos passam pela minha cabeça. Lembrei do post de Lucy "a chave, o celular e o bueiro", ou algo assim, e pensei "onde estão os meninos pra levantar o carro?" Lembrei da minha época de reportagens trash e de quando fui mandada tirar foto de um táxi ali perto, na Faria Lima, quando o asfalto cedeu e engoliu totalmente um dos pneus. Então, pensei "ah, que graça, agora é comigo". Graças à insistência da feliz Lucy de que deveríamos empurrar, também lembrei de quando bati eu carro em plena Avenida Palista e metade do time feminino de basquete, que estava a bordo, já uniformizado, desceu para empurrar. Por fim, após os 10 segundos em que tudo isso passou pela minha cabeça, cheguei à conclusão "ah, que saco, tenho que ligar pro seguro, mas eu não sei o número, vou ter que ligar pros meus pa... na verdade, de que adianta seguro? Aqui é pista única, fechada pelo meu carro. O guincho nunca ia conseguir chegar."

Olho de novo pro buraco... as pedrinhas do começo ainda faziam uma rampa, já a parte da frente impossível passar. "Lucy, será que não dá pra sair de ré?" "É parece, mas eu preferia tentar empurrar". Chega um ônibus. Lucy me avisa, já prevendo que esse não passa pelo meu lado. Seria o caos completo. Eu entro no carro. Ela faz sinal pro ônibus parar antes que não haja mais espaço nem pra eu dar ré e também entra.

Dou ré. O carro sai. Viro o máximo possível para a esquerda, primeira, enfim, saímos. Do lado de fora, olhando pela minha janela do passageiro, motorista e cobrador do ônibus só esperavam a empreitada não dar certo para tentarem levantar o veículo. Não sei se ia dar certo. Tão magrinhos os dois.

Já na marginal, mais tranqüila, me junto a Lucy na gargalhada. "Só com a gente que acontece essas coisas mesmo, né?" "hahaha, é só com a gente. Mas sabe que fiquei frustrada? Não, eu gostei de ter tirado o carro, mas foi..." "muito fácil?" "é... foi muito fácil. Eu já tava pronta pra empurrar o carro e nem precisou" "é, mas não ia ser só empurrar. Íamos ter que levantar o carro. Nossa, a gente podia ter usado o macaco né?" "É, eu pensei nisso" "Pensou?" "Pensei... mas não ia ter graça. Pensei se eu falar, a gente vai usar o macaco e vai acabar rápido. Vamos tentar empurrar primeiro" "hahahaha, ok".

Coincidência ou não, no dia em que Lucy não vê a luz do pisca aceso e só pensa em resolver as coisas do jeito mais ogro possível, foi justo o lado dela que afundou. Dois dias depois de jogar como fullback, para desmentir a fama de frágil, Lucy virou pilar.

2 comments:

Lucy Jones said...

Hahahaha...

Essa vai ficar pra história! Talvez seja até mais engraçada pra gente que lembra porque estava lá!

Pois é... virei pilar indo pro treino de rugby... cheguei lá e, na indecisão do destino de decidir se eu era mesmo scrum ou linha, virei meio-scrum!

Mas que eu ainda acho que a gente empurrava o carro... eu acho. Quão pesado pode ser um carro?!?

bjos

Ariel Jones said...

Haha, muito muito bom... É assim que eu gosto de ver a Lucy --- bem disposta.

Nada que passar do inferno astral não resolva.

That's the spirit girl!!!

Bjs