Saturday, July 26, 2008

Estréia na balada

Era mesmo uma cena esquisita. Na hora que minha amiga chegou na porta do bar, eu estava com a câmera empunhada, tentando deixar a foto tão boa quanto a história. A modelo era minha outra amiga, que chegou junto comigo aqui na Austrália e que nesse momento, meio que contra a vontade, sustentava um periquito branco, uma cracatua, talvez, em cima da cabeça.

O bicho tentava se segurar no cabelo loiro enquanto ela, depois fui saber, só torcia pra que o passarinho não resolvesse transformá-la em seu banheiro particular.

A outra amiga, a morena, chegou, olhou aquilo, deu risada, mas desencanou de tentar entender. Ficou ali, parada no canto, conversando sobre qualquer outro assunto com as duas outras que vieram com ela, enquanto a ave era transportada pro meu ombro para mais uma foto; essa não tão legal.

O dono da passarinha (sim, ele garantiu que era fêmea e que era sua melhor amiga) era um cara quase gordo, meio sujo, loiro de cabelo enrolado e com seus 30 e muitos anos. Chegou ali, de repente, enquanto eu e minha amiga esperávamos o resto do grupo no local combinado, um dos vários bares do North Bridge, a Vila Olimpia - ou talvez Vila Madalena - da cidade.

A primeira frase eu entendi. "Ah... eu sei, vai, pode falar! Eu sei que você (ou vocês) tá louca pra passar a mão no meu passarinho". Eu olhei, dei aquele suspiro meio risada pensando que eu realmente só atraio louco. Minha amiga olhou pra mim com aquela mesma cara de surpresa. E o cara continuou. Falou por uns 2, 3 minutos. Só parava de vez em quando, esperando uma reação, que não acontecia, já que a gente estava parada, só olhando e esperando o fim da história ou alguma frase compreensível, mas ele deve ter achado que eu tava simplesmente concordando. Por fim, ele pediu uma manifestação sobre tudo aquilo. Eu fiz aquela cara de "é, não rolou" e emendei com um "sorry, we didn't get it".

Em vez do cara ficar puto, ele abriu um sorriso daqueles de orelha a orelha e perguntou da onde a gente era. Brasileiras??? E fez algum outro comentário que a gente também não entendeu. Se ele não tivesse dançando praticamente, trocando o pé de apoio a cada dois segundos e cambaleando pra frente e pra trás, poderia ter ficado meio preocupado, mas ele foi o primeiro com quem não consegui conversar, então tá tudo ok. E já que papos normais não deram muito certo, ele começou a puxar assunto sobre a passarinha dele, cujo nome, se não me engano é Eagle. Se não for isso, é o mesmo nome de uma águia famosa. De toda forma, um tanto quanto paradoxo prum passarinho de menos de 20 centímetros de altura e que não machuca ninguém, mesmo sendo muito corajosa. Essas duas últimas afirmações, lógico, foram o dono que fez, eu só repito.

E pra mostrar que ela era boazinha, ele pediu pra minha amiga estender a mão. Ela, com medo, hesitou umas três vezes, então, ele, delicamente, agarrou o bicho e quase o amassou no ombro dela. Eu adorei a cena e peguei o celular pra tirar a foto. Ela me deu sua câmera e o cara, que gostou ainda mais da idéia, resolveu trocar o lugar da ave, pra dar uma foto mais legal. Foi nessa hora que minha amiga chegou. Conversamos mais um pouco com o cara e fomos embora. Ele chamou a gente pra ir prum bar e, depois de ter ficado meio bravo com a recusa, minha amiga disse que ele deveria dormir um pouco. "É, quem sabe amanhã", e foi beber mais um pouco. Dizem os boatos que Perth é cheio de loucos. Não sei se é verdade, mas esse foi meu primeiro.

Todas reunidas, fomos caçar um lugar pra ir. Nas redondezas, um monte de pubs. Em todos você entra de graça, mas ontem tava muito frio, chovendo e por isso ninguém sai. Uma professora disse que Perth é guiado pelo tempo. No frio, nada acontece, no verão, isso ferve. Não sei quanto a segunda parte, mas sobre o frio ela estava certa. Dez horas, passamos em três bares e os três vazios. Acabamos ficando em um com um ótimo aquecedor. A bebida da Austrália é o Lemon Limon Bittar. Algo tão alcóolico que você pode tomar uns 10 e continuar de pé, mas é bom. Tomei um só. Começou a banda, mas mesmo antes disso uma loira de vestido vermelho e um mega salto já tinha caído duas vezes no meio do salão e em todas as ocasiões foi acudida pelo moço que tava com ela. Segundo as meninas, esse é o normal. Australianas saem de micro vestido mesmo no frio. Bebem demais e nem sentem. Saem carregadas, tiram a roupa no meio da rua... mas tudo isso é só fofoca. Eu só vi a parte do beber demais mesmo.

Esperávamos dar umas dez horas pra gente trocar de bar. Em uma das músicas, eu e uma das meninas lembrávamos dos nossos tempos de show de rock todo mês, pelo menos. Ela na grade e eu lá no fundo, com os meninos, como sempre, no meio das rodinhas. Achei muita coincidência quando, uma meia hora depois desse assunto, a amiga loira (mais fácil diferenciar assim) me puxou pra longe da confusão. Só consegui ver um cara abaixado e correndo dando socos. Pensei... "nossa... rodinha aqui? E, depois de estar muito perto da mão fechada dele, saí de perto porque não tava mais na idade dessas coisas. Foi então, pela cara das pessoas, que entendi que era briga de verdade. Quer dizer, mais ou menos de verdade, né... porque com um soco daquele acho que não se consegue machucar ninguém. Seguranças, ele vai embora, se solta, volta pra tentar bater mais... aquela coisa de sempre. Mas foi a nossa desculpa pra dizer que tava na hora de mudar de bar.

O outro era um pub maior, também com música ao vivo. Na entrada, além deles checarem seu passaporte ou ID, carimbam um "ID checked" na seu pulso. Dizem que esse é o lugar onde vão os australianos mais sem noção, lesados mesmo. o que foi justificado pela criatura esquisita, loira e bêbada que veio dançar na nossa roda mas que foi logo dispensado.

Outra coisa bem diferente é o tamanho do decote da maioria das meninas; às vezes tão grande que o peito pula. Como resultado, freqüentemente elas tinham que arrumá-lo de volta no sutiã. Segundo minha amiga, a preocupação tão grande com a comissão de frente é pra compensar a falta de bunda. Não vou comentar... falar mal de mulher parece despeito.

Já de briga, o máximo foi um cara sendo carregado por um segurança e com mais dois acompanhando - o que foi um pouco de exagero, já que meio segurança já seria suficiente pra conter o pequeno encrenqueiro.

Se teve mais coisa, não sei. Em algumas das mil televisões do pub passava rugby. Em outras o tal footeball e numa única solitária, tênis. Amanhã faz um mês que não jogo. Terminou minha temporada com a final do campeonato paulista. Única partida em que acho que joguei bem. Olhava fascinada pras telinhas, mesmo sem entender o porquê de não existir rucks - o jogador caía, matava a bola no chão, o jogo recomeçava com uma saída simples. Mesmo scrum era difícil de se ver.

Voltamos pra casa um pouco antes da uma - penúltimo trem de final de semana. Nos vagões, um monte de australianas com micro vestidos e pernas de fora, extremamente bêbadas. Mais uma lenda que parece ser verdadeira.

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