Saturday, July 12, 2008

A sanidade sem sair pra rua

Lucy me diz que essa minha fase em casa a faz lembrar constantemente do filme 28 Dias, com a Sandra Bullock, que coincidentemente eu adoro.

Na trama, que ainda não vi, a protagonista tem que ficar por quatro semanas em uma clínica de reabilitação e fica repetindo que é um ser humano e que um ser humano tem que conseguir ficar sozinha dentro de um quarto sem enlouquecer.

A minha pretensão é menor. Tenho certeza que só de ficar em um quarto com um monte de gente eu enlouqueceria e que só de ficar sozinha numa casa enorme eu enlouqueceria; nem precisava juntar os dois.

Na verdade, nesse exato momento eu tento me convencer que ficar dois finais de semana sem sair de casa já não são suficientes para me fazer surtar.

Pouco mais de dez da noite e eu controlava aquele desejo tentando simplesmente não pensar nele. Saí durante a tarde e apenas quatro quarteirões conseguiram me deixar cansada, ou melhor, sentindo um pouco.

A cicatrização está melhor, então aquela dor que me consumia na quinta-feira quase já não existe. Mesmo assim, ontem preferi ficar em casa. O médico foi enfático ao dizer que se eu andar muito, vaza hemoglobina. Se vazar hemoglobina, o ferro das células mancha a minha pele. E mancha de ferro não sai. Então, melhor eu também não sair.

Ontem nem reclamei muito. Os programas disponíveis não eram aquilo que mais gostaria de fazer, mesmo em dias saudáveis. O templo do rock só costuma ter graça com uma boa dose de veneno, senão estressa, e meu principal parceiro de Butantã está a milhares de quilômetros.

Outra opção seria um barzinho simples, com conversa boa e gente divertida, mas o frio e a impossibilidade de dirigir tornaram essa escolha menos atraente. Me contentei em ir prum bar com meus pais, frango a passarinho e batata frita com milk shake, bem criança.

Hoje, pelo contrário, bati perna razoavelmente. Apesar de ter me cansado só com aqueles quatro quarteirões, depois ainda saí de novo e até paramos o carro em vaga de deficientes, o que faz todo sentido nesse caso.

De volta, troquei os curativos, tirei nova foto da perna sem pele (prometi que só termino essa seqüência quando tiverem sumido todas as manchas) e entrei no msn. No fundo, sabia que mesmo que me chamassem não deveria sair, mas não custa matar o tempo.

Duas horas na internet, várias fotos distribuídas, todo mundo vai embora, eu fico. Minha mãe pergunta se minha perna dói e em seguida dá risada. Se doesse pelo menos um pouco, não ficava com tanta vontade de sair.

Apesar de tudo, a razão ainda comanda. Eu até poderia ligar, mas se recebesse o convite, seria sensato sair? E se não saísse, pra que dar sinal de vida?

Quase entrei em crise duas vezes ao ter que escolher uma roupa simples. A bota aperta a perna, a calça não passa por causa das ataduras e nenhuma blusa ou sapato combina com uma calça de malha fria. O que faria então se tivesse que me arrumar de verdade?

Já estava me contentando em desistir da rua quando o telefone toca. A bolsa, como sempre, tá lá longe e a música pára antes de atender o aparelho. O número, privado. Vou entender isso como um sinal.

Hoje deveria ser minha última balada de sábado, mas pelo jeito não era mesmo dia de sair. Como consolo, algum martírio está chegando ao fim. Essa é a minha última chance de não ver Zorra Total. Com toda certeza, algumas horas desse programa são suficientes para deixar qualquer um louco.

1 comment:

Lucy Jones said...

Zorra Total ninguém merece, amiguinha!!!

:D