Monday, July 06, 2009

Um aniversário diferente

Todo ano, à meia-noite do dia 4 pro dia 5 de maio, meu pai vinha me dar um beijo de feliz aniversário, estivesse eu dormindo ou não. Nesse ano, primeiro longe de casa, calhou da minha landowner viajar na mesma época. A única que poderia me dar parabéns à meia-noite ou no outro dia cedo seria a gata, mas por mais que de vez em quando ela aparecesse no meu quarto, eu e Missy não éramos de muita conversa.

Por isso, quando soube que ficaria sozinha, até cheguei a cogitar que aquilo fosse destino. Já tinha passado a meia-noite do Natal dentro do trem, a meia-noite do ano novo servindo tequila, vai ver era parte das novas experiências passar o aniversário by myself. Mas o pensamento não durou mais de um momento. Aproveitando que o marido da minha amiga tinha ido por uma semana pro Brasil, resolvi ignorar a ordem natural das coisas e dormir alguns dias na casa dela - sempre voltando de manhã e à noite para alimentar a tal da gata.

A véspera do dia 5 foi quase como uma festa de pijama. Eu, ela e minha atual roommate, também brasileira. Fizemos bolo e brigadeiro pro dia seguinte, que ainda ia ter pão de queijo e bolinho de chuva. À meia-noite ganhei meus parabéns, ao vivo e pela internet, já que passei a noite acordada, estudando. No dia seguinte, quando todo mundo foi pra aula, eu voltei pra casa pra dar comida pra gata que, como previa, não me deu os parabéns.

Superstição ou não, parece que as mudanças estão sempre relacionadas a épocas ou datas específicas e, por isso, eu já esperava que as coisas começassem a dar certo depois do aniversário, em especial com relação a trabalho, o que realmente aconteceu. Porém, a mudança de fuso horário deve ter deixado as minhas energias de aniversário tão perdidas quanto meus amigos. Recebi parabéns por até uns três dias depois, mesmo período em que foi vítima de uma sucessão de trapalhadas.

1) O emprego: a vaga foi anunciada no domingo. Bartender pruma balada super movimentada. Tinha que ligar na 3a-feira, dia 5, ou mandar currículo. Eu enviei o e-mail no final de semana e ia ligar na 3a. Esse era certeza que ia conseguir. Não é qualquer um que dá conta de balada busy e eu já tinha boa experiência nisso. Antes que ligasse, a gerente me ligou. Consegui um teste pra dali a dois dias e em seguida fui contratada. Único problema, não explicitado no anúncio: a vaga era prum strip-club.

2) O bolo: eu e a cozinha nunca fomos muito próximas, exceto por um item: bolo de chocolate, coisa que faço desde meus 10 anos, quando - criança gordinha - minha aptidão culinária era movida principalmente pela possibilidade de raspar o resto da massa. No dia 4, o bolo ficou gostoso, mas era pequeno demais. No dia seguinte, comprei um fermento novo e fiz uma nova receita. Na hora de colocar o fermento, em vez de usar a colher, resolvi dar uma batidinha no pote, o que me fez derrubar metade do pozinho branco em cima da massa. Dessa vez, o bolo ficou lindo, mas com tanto gosto de bicarbonato de sódio que foi pro lixo antes mesmo de esfriar. E faltava só uma hora pro povo chegar.

3) A bike, o telefone, o carro e o pneu: já aceitando que aquele não era um bom dia pra cozinhar, resolvi parar de ser cabeça dura e comprar o bolo. Peguei a bike nova e saí. Minha amiga me liga com problemas sentimentais. O menino que se mostrava super a fim estava na verdade a usando pra aprender como lidar com mulheres, segundo uma amiga dos dois. Eu pedalava e escutava o caso complexo quando encontrei um amigo e também atual roommate vindo na direção contrária. Pra não perder tempo, passei a falar com ele, gesticulando do outro lado da rua, ouvir minha amiga no telefone e andar de bicicleta, tudo ao mesmo tempo. Fui parar na contra-mão, mas por sorte o sinal estava fechado. Ele, preocupado de que minha imprudência não me deixasse completar outro aniversário, foi na minha frente até o supermercado. De repente, olhou pra trás e me viu parada no meio da avenida, lá atrás, dando risada. Enquanto pedalava e falava no celular, ouvi um estouro e a parte de trás da bicicleta desceu. Conforme fui descobrir depois, uma pequena chave em L entrou no pneu da minha bike fazendo um rombo tão grande que nem o kit de borracheiro pôde reparar. Melhor rir do que chorar, ainda mais porque no dia seguinte acabaria voltando 11km a pé, empurrando a outra bike até em casa, depois de ignorar os conselhos desse tal amigo que era melhor não sair com a bike, porque ela não estava em condições (como meu pai diz... se você não vai ouvir, por que pede opinião?).

Na festinha, só o povo de sempre, os brasileiros e a alemã. Muita, mas muita comida e vinho, em vez de cerveja. Prova de amadurecimento ou simples economia, já que a caixa com dois litros de vinho custa 11 dólares, enquanto o pack com seis stubies (a nossa long neck) de cerveja não é menos de $14 e acaba muito mais rápido. Ô saudade de engradado de 600 ml.

Se no Brasil o problema do dia 5 de maio era ser entre o feriado do dia 1o e o dia das mães, na Austrália esse é justamente o mês de mais trabalhos da faculdade, o que deixou as comemorações ainda mais difíceis. De festa, com bolo e velinhas, foi só isso. Três dias depois, quando, por conta da diferença de horário com o Brasil, os desejos de feliz aniversário pararam de chegar, a minha vida voltava ao normal, o pneu da bike estava trocado e eu já nem lembrava que a data era recente. Em compensação, a mudança de casa, 20 dias depois, eliminou a necessidade do aniversário como uma desculpa para reunir amigos. Entre os acessíveis, a maioria ficou ali, a um quarto de distância, e os outros são visita constante.

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