Tuesday, February 24, 2009

Packing again

Pra que dia você quer?
Terça ou quarta da semana que vem
Townsville, né? Quantas pessoas?
Uma!
Ida e volta ou ida?
Só ida!!!



(após um breve silêncio, com um sorriso ainda maior no rosto)
É... tô deixando tudo pra trás!

***

Agora, lembrando da cena eu posso dizer que só não esperava que esse tudo significasse tanta coisa, esquecida ou descartada mesmo.

***

O aeroporto doméstico de Perth não tem aquela sanfoninha que liga a aeronave ao prédio, então saí correndo pela pista em direção à escadinha. Não tinha dado mais do que dez passos quando levei uma bronca do comandante que vinha logo atrás de mim. Parei, me ajeitei, passei a só andar rápido, apreensiva, só esperando pra ver se levava uma segunda bronca, mas ele só ria. Afinal, foi ele mesmo quem disse que, sim, eu tava muuuuito atrasada, e ainda mais que eu já tava meio traumatizada de termos sido encaradas pelo avião inteiro quando atrasamos a volta de Bali - mas ele não sabia disso. Ele também não sabia o porque do meu atraso, senão talvez não tivesse me deixado embarcar.

No saguão, 10 minutos antes, o moço da companhia me dizia, sorrindo “você esteve muito perto de perder esse vôo”. “Você não tem idéia do quão perto eu estive de perder esse vôo”, respondi, rindo, ainda meio nervosa e tentando não pensar que talvez tivesse algum motivo pra não viajar aquele dia, ainda mais com tanta gente pedindo pra ficar um tempo a mais, ir só na semana seguinte. Eu não podia. Tinha que resolver as coisas antes de começar as aulas, mas só ficava imaginando a cara das pessoas “tá vendo, eu falei que ela devia ter ido na semana seguinte” se algo acontecesse. Será que não era um monte de sinais?

Já não tinha conseguido resolver o que queria em Perth, faltou um monte de lugar que queria visitar, meu trabalho de DP tava errado. E ainda tinha mais essa agora: depois de um dia inteiro arrumando a mala e me desfazendo de todos os itens não-fundamentais à minha existência até chegar aos 23 quilos de bagagem pra ser despachada mais 7 quilos de bolsa de mão permitidos em viagem doméstica (o que resultou num monte de presente pras minhas amigas), resolvi checar minha bolsa e bateu o desespero.

Já eram mais de 11 da noite. O vôo saía às 00h40. Tentei resolver, mas não consegui. Faltando 10 minutos pra meia-noite deixei a maior zona da história daquela casa pra minha roommate arrumar e fomos embora. Graças às mil conversões proibidas do meu amigo, chegamos no aeroporto antes do avião decolar, mas não antes do check-in ter fechado. O moço do guichê foi mega simpático, religou a maquininha e me deixou embarcar.

A indicação de que deveria ir pro portão 4 veio quase ao mesmo tempo em que a mocinha do auto-falante chamava meu nome dizendo que aquela era a minha última chance. Eu tava louca pra entrar, reclamando que ia perder o avião, mas o outro moço encanou que queria que eu o autorizasse a passar o tal do segundo raio-x. “There is no problema”, ele repetia todo feliz de saber uma palavra em português. Eu replicava que se perdesse o avião teria, sim, muito “problema”. No fundo só pensei que pra gostar de falar “problema” tinha mesmo que ser segurança; “tudo bem” é tão mais bonito...

Na pressa, me despedi correndo de todo mundo e entrei pelo tunelzinho que ia me levar à pista onde levei a tal bronca. Segundo minha amiga, cuja câmera acabou a memória de tantas fotos e vídeos que ela fez enquanto arrumava a mala e corríamos pro aeroporto, a cena foi quase poética, com a porta fechando atrás de mim. Ela tinha pedido pra mandar uma mensagem quando estivesse sentada, mas o comissário me viu com o celular e me deu outra bronca, ainda sorrindo. E eu, com o coração disparado ainda, só dava graças aos céus que tudo deu certo e ninguém nem percebeu a falta do passaporte.

Único documento oficial, como gosta de relembrar meu pai, sem ele, não se pode nem entrar em balada, como comprovou o amigo do carro, e eu consegui perder o meu no dia da viagem. Na verdade, até então eu não sabia disso, mas um dia antes, ao despachar uma mala pro Brasil, deixei meu passaporte no Post Office (correios).

Isso muito podia ser um sinal que eu não deveria viajar, que alguma coisa iria acontecer com o avião. Mas, na pressa de me despachar, o moço não pesou minha mochila ou a bagagem de mão nem muito menos olhou o papel do vôo ou qualquer identificação. Só conferiu o nome e boa viagem. Daí, depois que eu cheguei, inteira, tudo vez um pouco de sentido. Talvez minha aflição estivesse certa. Se eu tivesse chegado antes eles talvez eles tivessem sido mais rígidos. Talvez o motivo pra eu quase não viajar era pra acabar viajando.

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