Tuesday, February 24, 2009

Yes, man!

A proposta era boa. Quem fosse trabalhar naquele dia trabalharia o dia todo, o que significa quase dez horas por dia. Além disso, os shows eram bons e tinha camping gratuito e exclusivo pra staff. Era um festival enorme no sul do estado que parecia durar vários dias, considerando o que você podia assinalar como disponível – de 19 de dezembro a 23 de janeiro. O único problema é que não tinha ninguém pra ir comigo. As meninas (em outra cidade) no sul e o resto tudo trabalhando em empregos fixos. Mas, entre ficar em casa sozinha e ficar numa barraca sozinha, muito melhor a barraca, cujo pacote inclui ver gente diferente, conhecer o festival e ainda ganhar dinheiro.

Preenchi a application form enquanto lembrava de Paullette-Lana Banger e seu Universo Paralelo. Pode até ser que tenha algo semelhante, mas o da Western Australia, conforme descobri depois, é menor. Tem gente boa. Pra quem gosta, Franz Ferdinand foi uma das atrações, mas de show mesmo são só dois dias. O resto era escala pra quem fosse trabalhar na estruturação dos palcos, o que – ainda, pelo menos – não é o meu caso.

O evento todo foi intenso, no sentido inconstante da coisa. Por indicação da própria empresa, tentei conseguir carona por um site x, especializado nisso, mas não deu certo. Vai ver fui a única a me cadastrar. Depois, reservei pra em seguida desistir de alugar carro. Comprei a passagem pra ir de ônibus, assim não tinha data pra volta e podia visitar as meninas. Por fim, perdi o ticket ao ganhar uma carona do namorado de uma amiga que decidiu trazê-la pra cidade no final de semana, depois dela ter se machucado. Com a segunda amiga, combinei de jantar depois que fosse liberada. O problema é que o celular não funcionava, eu trabalhava o dia todo e o show ficava longe da cidade, num descampado onde não tinha nem sombra de telefone público. Eu sabia só o nome da cidade. Era uma cidade pequena, mas mesmo assim.

Uma terceira amiga tinha me avisado em cima da hora que trabalharia no 2º dia e, pra passar as coordenadas de onde minha barraca estava, acabei aceitando dois celulares emprestados de dois caras que encontrei na rua, um com que deixei mensagem de voz e outro pelo qual mandei sms.

No dia seguinte cedo resolvi comprar a passagem de volta. Tinha desistido de visitar as meninas pra aceitar trabalhar no domingo, em Perth. Quando cheguei, descobri que estava tudo esgotado. Se fosse no Brasil as empresas colocariam ônibus extras, mas aqui eu só teria como voltar na 3ª. Pedi carona pra umas 4 pessoas que trabalhavam comigo, mas todas tinham algum problema, o que contraria totalmente a experiência que vinha tendo com caronas. No meu último intervalo, já meio desolada, satisfeita com a idéia de ficar dois dias num camping qualquer, achei uma configuração em que meu celular funcionava. Falei com minha amiga que já armava uma carona pra mim – não porque ela soubesse que não tinha ônibus, mas porque eu tava no sul, uma outra amiga nossa também estava no sul, não tinha porque eu voltar de ônibus. Na verdade, quando souberam da falta de ônibus, ela e o namorado de dispuseram a me buscar de carro, o que significaria cerca de seis horas dirigindo, contando ida e volta.

Quando cheguei no camping naquela noite, já toda feliz, vejo uma barraca no meio do caminho e um bilhete enganchado no meu zíper. A tal terceira amiga entendeu as coordenadas e conseguiu chegar. Pra melhorar, ela tinha uma carona pras nós duas no dia seguinte. Ela estava com os meninos na cidade do lado e eles estavam voltando com exatamente um lugar a mais no carro.

No tal dia seguinte ligamos e eles iam deixar a cidade, mas pruma outra praia. Voltar pra Perth só no final do dia. Depois de esperarmos por cerca de uma hora o ônibus, pedimos informação prum grupo e ganhamos uma carona com uma moça loirinha, cara de 20 aninhos, mas que tinha uma filha de 15 e que esperava a outra, de três, ser devolvida da casa do pai. Já que não tinha jeito, liguei pro trabalho, disse que não ia porque não tinha ônibus e fomos encontrar o povo pra ir pra praia.

Conheci os amigos da minha amiga – um grupo de umas 8 pessoas. Peguei o biquíni na mochila, me troquei no banheiro – já aqui todas as praias tem uma casinha com banheiro limpo e chuveiro – e passei o dia tomando sol. Já estava escuro quando cheguei finalmente em casa.

Cerca de um mês depois, na saída do cinema, minha nova amiga comenta “cara, eu acho que eu preciso começar a falar mais ‘yes’ nessa vida”. Segundo o filme, novo do Jim Carrey, se você falar “sim” pras coisas o mundo vai se abrir pra você. Durante o filme eu já tinha feito uma reflexão similar, e, com base nesse e em outros eventos, respondi: “é, já eu acho que falo yes demais, mas tá bom!”.

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