Tuesday, February 24, 2009

Farewell week

No exato momento em que eu colocava a última leva de garrafas de cerveja no latão de lixo eu vi a dona da casa saindo do carro. Oito e quarenta da manhã de um domingo, quase uma sacanagem, mas a gente avisou que não ia renovar o contrato só duas semanas antes de sair e ela sempre foi tão solícita que valia um esforço pra conseguir logo alugar a tal da unit.

O problema é que a noite anterior tinha sido a minha festa de despedida e, consequentemente, despedida da casa. O povo até que se comportou, mesmo porque grande parte deles eu já tinha visto naquela semana nas minhas outras despedidas, mas mesmo assim tinha garrafinha de cerveja e cidra pra tudo quanto é lado, além de salgadinho, patê, queijo, copos com resto de caipirinha dentro e umas duas ou três garrafas de vodka vazias. Mesmo que a gente tivesse um lixo decente não caberia tudo. No balde vermelho que desde que chegamos usávamos como lixo, então, nem se fala. O povo tinha um porquê de deixar tudo espalhado.

Até a semana anterior eu não sabia que dia ia embora de Perth sentido Townsville, mas a falta de emprego pós-Bali (quando em vão resolvi ser sincera e avisar na balada que ia ficar as próximas duas semanas fora, mas que queria voltar a trabalhar mais dois finais de semana pra então ir embora de vez) me fez adiantar os planos. Comprei a passagem pra quarta de madrugada e na terça anterior ao vôo começou meio que inconscientemente a semana de despedidas.

O primeiro dia foi de salsa, em um dos bares do primeiro final de semana em Perth. No comecinho tem aula e depois o povo dança. Mas aparentemente só dança mesmo quem veio com seu par ou já é conhecido na casa. A gente ficou ali, olhando, mas australiano nenhum chamou qualquer das meninas pra dançar, o que me fez lembrar, saudosa, do Conexion em São Paulo. O nosso australiano bem que era esforçado e estava fazendo consideráveis melhorias no forró, mas salsa ainda era pedir demais. No meio da noite uma das amigas cariocas some e depois de quase uma hora volta trazendo um colombiano junto. O senhorzinho pagou bebida e dançou com quase todas as meninas, mais com o menino, pra tentar ensiná-lo a dançar com a gente.

Na quarta, a idéia era ir para o forró, mas quando ainda a gente ainda se arrumava os amigos pontuais avisaram que o negócio tinha sido cancelado por falta de quórum, atribuída ao intenso calor. Daí, foi todo mundo pra casa. Na quinta, a tradicional baladinha brasileira. Um dos meninos de Fremantle não conseguiu entrar porque tinha perdido o passaporte no Ano Novo e o documento não tinha chegado ainda. Mesmo com B.O. e sorrisinho pro segurança não teve jeito e o moço ficou pra fora. Na volta, a carona acabou levando a gente pra casa de uns amigos, onde continuamos até as quatro e tantas da manhã.

Na sexta, jantar pras poucas pessoas na casa da amiga quase-chef. Em seguida fui ganhar uma bebida de graça na balada por devolver minhas credenciais e pistola, ou seja, meu uniforme e pulseirinha de identificação.

Por fim, no sábado, depois de 9 horas de trabalho, que terminei distribuindo bebida com minha roommate em um Hotel que deve ter sido a inspiração para a música dos Eagles, começamos a tal festa oficial.

Chegamos em casa às 8h25 da noite. Tinha marcado pras pessoas chegarem às 9h, 9h30. Brasileiro, lógico, chegou às 10, 11h, meia-noite. O resto tudo chegou antes.

A nossa organização se resumiu a mudar o sofá de lado, abrir a porta de vidro e comprar frutas, copos, canudinhos e ralos salgadinhos. Duas garrafas de vodkas tinham vindo do free shop pós-Bali. Uma outra metade mofava no freezer. Os franceses trouxeram o resto de mais uma. Isso além das cervejas, vinhos e cidras pra consumo individual que o povo trouxe graças a esse bendito esquema de "bring your own booze", em que cada um se responsabiliza pela própria bebida.

Na lista de presença, um monte de brasileiros, um venezuelano, três australianos (sendo um falando português e outra, francês), uma de Fiji, uma x, uma coreana, dois franceses, um indiano, dois malasianos, uma sul-africana. A mudança de móveis deu certo e trouxe até o novo gato do novo vizinho pra dentro da sala. Algumas horas depois foi o próprio vizinho quem surgiu, tão sorrateiro quanto o bichano. Como em toda boa festa, essa terminou com muita gente chorando de bêbada, outros consolando e uma terceira parte alheia a tudo o que acontecia ao redor.

Três da manhã minha roommate foi trabalhar e a festa rapidamente acabou. Os remanescentes, incluindo essa dona da casa, foram pra outra festa, na vila brasileira, mas que já estava miada. Ali dei o tchau derradeiro e choroso pra amiga de Fiji, umas das que sei que dificilmente verei de novo - por mais que ela fale que vai casar com um brasileiro. "That is the problem of being attached to tourists", alguém me disse recentemente.

Às 6h30 da manhã estava na minha cama. Às 10h, depois de um rápido intervalo em que duas pessoas consideraram alugar a minha casinha, lá estava eu de volta. Nesse meio tempo, como não tinha dado pra arrumar tudo, a dona da unit me ajudou a limpar, recolhendo canudinhos e passando um pano molhado na mesa, toda grudenta de vodka e açúcar. Quase rolou uma vergonha, mas eu tinha avisado que ia dar um jantar de despedida na noite anterior. Só dei graças aos céus pela tampa do lixo estar virada para o outro lado, impedindo a visão de quem vinha da rua, ou meu depósito da casa já era.

Às 8h da noite do mesmo dia estava de volta à mesma vila prum churrasco na nova casa da minha antiga roommate. Lá, mais tchaus. Na segunda, só pra fechar, um cinema com as meninas. "He just not that into you" me fez lembrar Lucy, Ariel e tantas outras amigas, apesar de achar que foi alguém de outro grupinho que me disse ter lido o livro.

Pro bem ou pro mal, parece que estou me acostumando a despedidas. Por mais gay que seja dizer isso, as pessoas que realmente importam continuam contigo por mais longe que se esteja. Mas é lógico que isso não tira de forma alguma a necessidade de festas. No menor dos casos, elas são importantes pra se tirar muitas fotos, colocar pela casa inteira, publicar em Orkut, Facebook e mostrar pro povo que não teve paciência de ler esse texto todo.

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