Saturday, September 13, 2008

Impotência, again

Sei que tudo tem um começo e tudo tem um fim, mas não sei se um dia vou ser suficientemente madura pra aceitar. Ao mesmo tempo que queria estar com você, sei que não adiantaria muita coisa. A cabeça já não funciona direito. Há dois meses, o rabo mal abanava quando me via. Agora, parece que está na mesma ou pior. Cada vez mais no seu próprio mundinho e menos no nosso. É triste, no mínimo.

Estar aí, com você no meu colo seria quase que como um reconhecimento por todos esses quase 15 anos que a gente tem passado juntas. Quinze anos. Mais do que muitos casamentos. Uma vida inteira, literalmente.

Dizem que depois de um tempo só vemos as coisas boas nos outros. O rosto de um bom velhinho esconde tudo o que ele já fez de ruim na vida. Bem, quando jovem você foi tudo, menos bobinha. Nem parece que essa senhora de idade, com pêlo todo branco e que anda curvadinha, batendo a cabeça nas paredes, já caçou tantos bichos, já arranjou tantas brigas (com outros bichos, somente). Em todas as vezes, por mais que soubesse que seria punida, voltava com aquele ar de missão cumprida.

É a minha menina mais velha, primeira e mais forte de todas. Cada uma tinha seu jeito especial, personalidade mesmo, e todas vão ficar pra sempre no meu coração. Uma mais quietinha, a outra mais arteira, a quarta ainda uma criança. Você é a mais parecida comigo. Orgulhosa, por vezes arrogante, mas sempre amigável, feliz.

Muitas vezes fiquei com medo de que o goodbye fosse acontecer logo, mas a gente superou juntas. Calcificação da medula, câncer de mama, diabetes. Agora, essa espécie de Alzheimer. Doença horrível que degenera aos poucos, fazendo os pacientes perderem lentamente a contato com o mundo.

Tem gente que não entende como alguém pode se apegar tanto assim a um bicho. Bem, só o que posso dizer é que toda a dedicação valeu mais do que a pena. Toda criança precisa de um animal de estimação. Com eles a gente aprende a ter responsabilidade, a dar e receber carinho, a não acumular sentimentos ruins (ou esquece ou vai lá e resolve, mesmo que resolver signifique fazer xixi no meio da sala, só pra descontar). No fundo, crescemos as duas juntas.

Dizem que você nem sabe se estou ou não do seu lado. Sei que estão te tratando muito bem. Mas queria eu estar cuidando de você. Me sinto culpada por não ter feito mais. Faltou muita coisa. Você é a minha menina. Agora, já que eu não posso estar contigo, a única coisa que peço é que você fique bem.

2 comments:

Ariel Jones said...

Eu sou uma dessas pessoas que não conseguem entender direito a relação do homem com o animal.

Não entendo porque não me imaginaria vivendo isso, brinco, sacaneio, mas respeito. Respeito muito.

Nessas horas o importante é que o amor seja tão grande que a gente saiba a hora em que o sofrimento tenha de ter um fim. Porque se a gente ama, a gente não quer que sofra tanto.

É muito mais fácil falar, claro...

Bjs

Lucy Jones said...

Não sei o que dizer... mas... apesar de ter algumas coisas que você não pode fazer, pense que fez tudo o que podia, se dedicou, se preocupou, brincou com ela, deu colo, deu injeção... enfim...

Aceitar perder é uma coisa muito complicada... ao mesmo tempo que pode facilitar sua vida, pode tirar o que ela tem de bom.

bjinhos