Sunday, September 14, 2008

As pedras e o mato deles

A primeira vez que ouvi falar de Pinacles foi quando ainda estava em homestay. A outra estudante que morava comigo ia fazer uma excursão pra lá no mesmo dia em que eu me mudava. Por isso, quando eu e minha amiga vimos que a nossa escola oferecia esse passeio - a um preço bem menor do que as agências comuns - logo nos animamos. Nem mesmo o trabalho atrapalhou, já que a princípio, nenhuma das duas trabalhava naquele sábado (no fim, ela acabou trabalhando, mas à noite, só). Em compensação, trabalhamos na sexta até as 2h da manhã. Quatro horas depois já estávamos (tentando nos manter) de pé pra pegar o ônibus.

Pinacles é um dos locais turísticos mais famosos da Western Australia. A imagem típica é uma foto alaranjada de uma rocha enorme no meio do deserto. Isso era tudo o que a gente sabia. O que a gente não sabia é que o lugar fica a 280 quilômetros da cidade, o que, com a velocidade reduzida do ônibus, fez a gente andar mais de quatro horas pra chegar no lugar. Grande parte do tempo passamos conversando com o nosso guia, um decendente de polonês que trabalha no setor de estudantes internacionais da escola e cuja idade eu não tenho idéia.

Ele aparenta não ter mais do que quinze, mas sei que tem mais. É loiro, baixinho, sem barba alguma mas já terminou a faculdade. A contar pelas milhares de dicas (escritas todas em post-its) que já nos, parece ser um exímio conhecedor das baladas e pubs de Perth. De tão simpático, talvez perca o emprego. Na hora de não efetivá-lo, o pessoal da escola reclamou que ele dá atenção demais aos estudantes e que deveria ser mais burocrático. Felizmente, ele não levou o conselho a sério.

No começo da viagem, ele só conhecia nós duas e o motorista. Na volta, era praticamente amigo de todos os alunos do ônibus. Um deles ele não só conheceu como nos apresentou. Era venezuelano. Está aqui há um ano e meio e ficou com os olhinhos brilhando quando minha amiga começou a puxar assunto em espanhol. Aparentemente, os resto dos latino-americanos não gostam tanto da Austrália como os brasileiros e por isso, ele largou os amigos indianos e passou o dia conosco, matando a saudade da lengua madre. Os dois falavam espanhol, o que eu até achei divertido, já que conseguia entender perfeitamente. Já na hora de responder, me confundi toda e alternava entre o inglês e uma tentativa de espanhol - "pra não quebrar o grupo" - misturada com português e italiano. A minha cabeça ficou numa zona tão grande que por vezes saía, dentro da mesma frase, uma palavra em cada língua.

Saímos às 8h. Meio-dia e tanto, depois de uma parada pro toilet, uma pra comer e alguns poucos minutos de sono, estávamos num parque pequeninho, de 5 km e cuja única atração - como bem definiu o motorista - eram pedras.

Um monte de pedras de formatos diferentes no meio do deserto, algumas de pouco mais de dois metros, outras ainda menores, o que me faz entender porque nenhuma das fotos tinha gente do lado. Se as pessoas soubessem o real tamanho dos Pinacles, ninguém perderia seu dia pra isso.

Já que não tinha muita graça ficar olhando, tiramos fotos. Um monte delas. Mais divertido do que tirar a foto era subir nas pedras. Com o tempo, foi-se criando quase que degraus nelas. Mais fácil que subir em árvores.

Passamos assim uma hora e meia. Depois, hora de enfrentar o caminho de volta. Quando a gente pensava que o programa de índio tinha acabado, voltamos à parada do toilet. Lá, nosso guia (que no começo da viagem me perguntou se eu sabia alguma coisa sobre o lugar pra onde estávamos indo, já que tinham perguntado e ele tava com vergonha de não saber) fez questão de nos mostrar as wild bushes, ou seja, a vegetação nativa da Austrália, o que, em trocando em miúdos, significa "mato". Pura e simplesmente mato.

A vegetação australiana, pelo menos a daquela região, é muito seca. As plantas não têm a cor viva do Brasil. São baixinhas, na sua maioria, têm folhas pequenas e por vezes fininhas, pra não perder água (se estivessem num jardim, minha mãe arrancaria todas). Uma coisa realmente interessante é que tem uma planta que precisa de fogo pra florescer. A semente fica dentro de um fruto seco e meio poroso. Pra liberá-la, os aborígenes (os índios deles) colocavam fogo perto da árvore - isso quando o fogo não acontecia naturalmente. Outra coisa diferente é que os mesmos aborígenes usavam a seiva de uma planta pra fazer uma cola mega poderosa. Mas isso os nossos índios também faziam.

Me senti meio idiota tirando foto daquilo tudo. Nunca que eu ia tirar foto do mato brasileiro, então por que tirar da versão aussie? Mas o moço é todo simpático, tinha resolvido incentivar. Isso até o momento em que ele foi mostrar o cocô de canguru, daí eu desencanei - o bicho mesmo a gente não viu, mas os vestígios dele estavam lá. E teve gente que ainda tirou foto.

De todas as plantas, só duas se destacavam pela beleza. As duas que não eram da Austrália. Foram trazidas pelos europeus e os passarinhos se encarregaram de espalhar. Nativo mesmo era tudo pequenininho, fragilzinho, feinho. Atração só pra turista.

1 comment:

Ariel Jones said...

É normal amiga. Quando a gente é turista a gente faz pose no metrô, tira foto de placa de trânsito, e até de guardinha parado na esquina.

Ainda mais na era digital...

E tem outra. Por mais que eu fique imaginando do que se trata o que vc descreve, se tiver foto é ainda melhor.

Se não tem utilidade pra vc, tem pras amiguinhas aqui no Brasil, hehehe.

Bjs