Tuesday, September 02, 2008

Coleguinhas

- Você fez o trabalho?
- Sim, eu fiz!!! Fiquei até as 5h da manhã fazendo, mas tá aqui! E você fez?
- Não... eu não sabia o que escrever. Ei, M***, você fez o trabalho?
- Não, não consegui. Minha melhor amiga sumiu.
- Sumiu, como assim sumiu?

Há menos de uma semana, esse menino, desempregado, do nada quase ficou na rua depois que o primo devolveu a casa onde eles viviam e foi pra Sidney. Tudo o que faltava era a melhor amiga do coitado desaparecer.

- É, sumiu... eu fui na biblioteca e ela não tava lá. E eu fui lá tendo certeza que era só que pedir ela ia me ajudar no meu trabalho de networking. Então, não fiz.

Ele falava isso dando risada. Terminou a frase e continuou sorrindo pra mim. Não só ele como todos na roda. Eu tentava entender. Alguns segundos depois, caiu a ficha.

- Ahhh, eu sou sua melhor amiga???

Como já disse, eu tinha dormido só duas horas, depois de passar a madrugada fazendo um trabalho monstruoso que deixei pro último dia. A lerdeza de pensamento tinha desculpa.

- hahaha é, eu não tava na biblioteca. Ontem fiquei fazendo o trabalho em casa.
- Se eu soubesse onde é tua casa, teria aparecido pra você me ajudar.

E pior é que não era difícil. Como disse uma amiga, tem algumas coisas que nunca mudam. Uma delas é que eu não durmo. A outra, que atraio gente estranha.

O cara em questão é um zambiano de 21 anos, mas que parece ter 18. Apesar de estarmos no mesmo grupo, sentados lado a lado, a gente só começou a conversar depois de quase uma semana. Ele é meio arisco no começo. Evita dizer que veio de Zâmbia, já que ninguém sabe onde fica e aparentemente australiana não morre de amores por negros e/ou africanos. Como eu vim do Brasil e sabia (vagamente) onde é Zâmbia, ele meio que abaixou a guarda. Do nada, passou a vir a todo instante pedir minha ajuda com os trabalhos, com o computador e até me chamou pra sair. Era tão dependente que quase o mandei à merda várias vezes. Xaveco? ? Não. Simples indolência.

Depois de duas semanas de aula ele me ligou desesperado porque o primo com quem ele morava foi viajar. Ele precisava entregar a casa e não tinha onde ficar. "Oi, Patty? Aqui é M***. Onde você está? Uma pergunta: o quão grande é sua casa?" - como a maioria do povo que vem morar aqui, ele antes de dar oi te faz um interrogatório, O "onde você está?" é sempre a primeira pergunta e vem antes até do "tudo bem?". É quase invasivo. As pessoas que vem pra cá ficam carentes, precisam de amigos e às vezes ultrapassam os limites do aceitável. Pelo menos do brasileiramente aceitável - Ele queria ficar em casa por um tempo, pelo menos o final de semana, e eu tinha acabado de mudar com a minha amiga.

Por mais que tenha ficado com pena do menino, não deixei ele dormir lá. Um porque não acreditava que ele sairia depois Dois porque naquele final de semana já tinha marcado de sair sexta e sábado. Não ia ficar me preocupando com alguém semi-estranho em casa. Nem eu nem minha amiga queríamos ninguém lá, mas não deu muito certo. Meia hora depois uma menina de Fiji da sala dela ligou. Como sempre, "onde você está?". As duas só tinham conversado uma vez na vida, mas ela queria sair. A irmã foi viajar, ela não pretendia ficar em casa nem dormir sozinha. Eu e minha ainda brincamos que poderíamos apresentar o meu amigo pra amiga dela. Os dois resolveriam seus problemas e quem sabe até arranjavam mais um. Mas isso ficou só nos planos, já que a cara de pau não foi tanta. Lógico, ela podia sair com a gente, mas não foi suficiente. A menina queria ir naquele momento pra nossa casa e ficar por lá. Insistiu muito pra isso. De novo, fiz o papel de chata e não deixei. A gente precisava descansar, fazer compras, lavar roupa...

Nos encontramos à noite. Ela saiu conosco, perdeu o ônibus e acabou dormindo em casa, mas ninguém achou ruim. Mesmo forçando a convivência, foi divertidíssima. Dançando a la EUA, quase esfregou a bunda nos caras da balada. Pagação de mico à parte, deu pra dar muita risada.

Entre os coleguinhas, uns são mais perdidos, outros menos. Eu tenho imã pros mais. E no fundo, gosto. Engraçados ou não, eles sempre são diferentes, têm algo de especial. Durante as aulas, além de M***, normalmente estou com duas mulheres. A primeira é uma indiana de 25 anos, casada, com filho. Ela fala baixinho, baixinho e pede ajuda pra tudo, já não entende muito bem inglês e muito menos de informática (no primeiro dia de aula eu tive que mostrar como se faz pra colocar underline em um endereço de e-mail). A outra é uma filipina de provavelmente 30 e tantos anos (ela se recusou a me dizer a idade certa). Depois ter fugido de homens a vida inteira "por medo de sofrer", ela veio há dois meses pra cá pra se casar com um australiano que só tinha visto uma ou outra vez. Em comparação com a outra, essa entende um pouco menos de inglês e um pouco mais de informática, visto que já sabia como colocar o underline. A diversão foi perceber que ele desaparece quando você sublinha a frase ou e-mail. "Olha, olha! Agora você vê... agora você não vê! Percebeu? De novo...".

4 comments:

Lucy Jones said...

Continua cercada de loucos, né?! ... e eu?! Adivinha!!!

hahahaha

Muda o país, mas não muda o magnetismo! Só você!

Ariel Jones said...

Sinto que alguém está se divertindo com a diversidade do país... Isso é bom, né amiga...

E não é que vc está se saindo uma heartbreaker de primeira? E eu achando que eu é que tinha jeito pra dar foras nas pessoas. Que nada! Vc me colocou no chinelo, hehehe...

E a perna eihn?!?

Anonymous said...

Preciso aprender uas licoes de "como dizer nao" `as pessoas folgadas...rs
To aprendendo, to aprendendo...ontem rolou um perrengue, uma discussao boa aqui em casa...

Anonymous said...

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