Monday, August 17, 2009

O tal do cachecol

"Então, tá, não pode desistir. Essa é a meta do jogo. A gente tem que conhecer dois gatinhos e levar o cachecol pra casa, como recordação, fechado?"

Era uma sexta-feira de footy. Milhares de pessoas foram ao jogo ostentando camisetas, casacos e, principalmente, naquele frio de Melbourne, cachecóis de seus times. A ponte que liga o centro da cidade ao estádio estava linda, com aquela massa de pessoas todas fardadas, mas cada um por si. Aqui não tem torcida organizada. O mais perto que se chega disso são umas meninas sentadas nas arquibancadas atrás dos gols e levantavam e abaixavam umas plumas toda vez que o seu time pontuava. É bom que não dá briga, mas... ô meu Pai.... como é sem graça, viu?

Pra não dizer que nenhuma das duas entendia nada daquele esporte, eu sabia o básico, mas tive que aprender o resto. No Australian Footy vale jogar com o pé e com a mão, mas na maior parte do tempo eles passam chutando pra cima, bem alto. O campo é oval e não se faz try, se faz gol. São quatro postes. Se a bola entrar entre os do meio vale seis pontos. Se entrar entre os dos lados vale dois e se bater na trave, um (ahhh se isso fosse no basquete, meu ex-time tava feito!).

Perguntar sobre o jogo pode ser irritante para alguns, mas é sempre uma boa maneira de começar um papo. Por isso, a gente rodou bem aquele andar, mas não achou em todo o setor 3 de arquibancadas um único doador de cachecol compatível de quem pudéssemos sentar perto. Daí, na falta de algo mais interessante pra prestar atenção, resolvemos nos focar no jogo. A amiga carioca, esportista, mas de parede (não corre, escala), logo me deu o título de "a do estádio" e, como conseqüência, a responsabilidade de escolher os assentos.

No estádio do Dockers (com o nome de Etihad Stadium por causa do patrocínio da companhia aérea) cabem 55 mil torcedores, apesar do campo parecer bem menor do que um de futebol. Moderno, novinho, o Etihad tem quatro andares de arquibancadas e setor VIP. Ali não tem essa de distância segura separando torcida do campo. Pra quem tá no primeiro andar tudo acontece bem pertinho, quase como no jogo dos meninos na USP, mas, também, nem precisa. Os torcedores são fanáticos, mas a rivalidade não é suficiente nem pra demandar uma separação de torcidas. Os supporters de North Melbourne e Carlton, dois times locais, ficavam sentados lado a lado, em plena harmonia.

Quanto a nós - uma torcendo pelo N. Melbourne porque é bonitinho (azul e branco e com um canguru como mascote) e outra pelo Carlton, porque é preto e branco, assim como o Botafogo, acabamos ao lado de um grupinho de duas senhoras e um homem, todos acima dos 60. Quando já estava no meio, percebemos que Carlton na verdade era azul marinho e branco, e não preto, mas daí já era tarde.

A senhora do meu lado era Carlton e, apesar de ser toda simpática quando eu fazia perguntas sobre o jogo, acho que ficou meio irritada pelo meu suporte ao time adversário. Em certo momento, não se conteve e me disse, ainda que de uma forma muito educada, que eu não deveria torcer daquele jeito. Antes que eu pudesse ficar sem graça, fui socorrida pela moça da frente, mais nova, que, sorrindo muito, se meteu na conversa pra pedir, por favor, pra eu continuar, sim, torcendo, porque era divertido. Na dúvida, sorri pras duas, continuei gritando, mas parei de cantar, mesmo que baixinho, as músicas brasileiras de estádio.

Até mais ou menos o primeiro quarto de jogo, a gente não tinha idéia de quem estava ganhando. Os vários telões mostram o jogo ao vivo, o replay - já que o formato do campo nem sempre deixa visível o que acontece na lateral - e o placar, mas isso não é assim tão simples. Embaixo do nome de cada time tinha um número decimal e um entre parênteses, por exemplo: 6.4(40) ou 4.11(35). Conforme fui aprender depois, isso significa que o primeiro time fez 6 gols valendo 6 pontos e 4 pontuações (o que pode ser golzinhos ou chutes na traves), enquanto o segundo vez quatro gols valendo 6 pontos e 11 pontinhos. A soma de tudo isso, e o que realmente vale no final do jogo, é o número entre parênteses.

Agora, tudo parece simples, mas até a gente entender foram várias fotos e filminhos. Nessas, a gente conheceu os meninos de duas filas atrás, interessantes até, mas o papo não fluiu o suficiente, visto que tanto eles quanto a gente estávamos realmente concentrados na partida, que - infelizmente - teve vitória de Carlton.

Disputadíssimo o tempo todo, o jogo conseguiu quebrar a apatia da torcida, que já estava barulhenta como toda torcida deve ser. N.M. bem que fez mais gols, mas de um ponto só, o que me lembrou de novo o basquete casperiano - de que adianta jogar bem se perde de tanto errar lances livres? Saí do estádio tentando não ficar chateada. Era só um jogo de AFL e até três horas antes eu nem conhecia o time. Mesmo assim, virei N.M. de coração.

Quanto à minha amiga, bem... ela ganhou o tal cachecol. Não de um gatinho como ela queria, mas da mulher do meu lado, que, felicíssima com a vitória, deu o cachecol do Carlton para a nova companheira de time.

1 comment:

Laís said...

Ah nao...coo assim vc vai num estadio enao ganha um cachecol, Patty...hahahahahaha
Aqui tb tem um jogo local estranho, que até agora eu nao entendi - mas ainda nao tive vontade de pagar 60 eurosprar assistir ao vivo e a cores.
Bjjj