Wednesday, September 23, 2009

Surfando no sofá

Três garrafas de vinho, uma de vodka, um monte de salgadinho. Drinking games, jogo da verdade. Como as meninas de Perth disseram no dia seguinte, "uma noite bem divertida" e o melhor de tudo, pelo menos pra mim, a constatação de que o esquema de acomodação gratuita realmente funciona.

Aquela era a minha primeira parada no roteiro a caminho de casa. Brisbane, capital de Queensland, pra onde fui de avião encontrar com as meninas de Perth. Os nossos companheiros eram um alemão, dono do apartamento, e um inglês, amigo dele.

Fui parar lá por insistência de uma outra amiga. Ainda em Townsville, só faltou ela ter ligado o meu computador e me cadastrado ela mesma, ali, na hora.

Acredita em mim - ela dizia -, eu não colocava muita fé, mas foi a melhor coisa, foi assim que consegui minha casa aqui e foi assim que fomos pra Magnetic Island. Você viu, né? Oito pessoas com acomodação gratuita. As pessoas são legais, todas com aquele espírito aventureiro e aquela vontade de conhecer gente nova. Vale muita a pena, acredita!

O discurso dela era tão enfático quanto o de um pastor fazendo pregação, mas o que a austríaca vendia não era a salvação da alma, mas um site de relacionamento mundial, onde as pessoas oferecem e buscam um sofá, uma cama sobrando ou mesmo um lugarzinho no chão para os viajantes deixarem seus sacos de dormir.

O nome dessa maravilha é couch surfing e foi assim que eu fiz a maior parte da minha viagem até chegar no Brasil.

No dia seguinte do cadastro, seguindo as instruções da tal amiga, mandei a mesma mensagem para várias pessoas procurando um sofá para mim e para as duas de Perth no dia em que estivéssemos em suas cidades. A viagem de Brisbane a Sydney ia servir como teste. Se tudo desse certo, repetiria a idéia na Nova Zelândia, quando minha viagem seria sozinha de tudo.

O negócio é que só fui avisar as meninas depois de entrar em contato com meus possíveis hospedeiros. A morena, quando soube, se segurou pra não surtar. Segundo ela, muito melhor pagar albergue do que correr o risco de ficar em casa de gente estranha, carente de companhia e que ia achar que nós tínhamos obrigação de andar com eles. Já a loira se matava se dar risada. Um porque achou o esquema de acomodação gratuita com o bônus de conhecer gente nova a minha cara. Dois porque tinha certeza da reação da terceira.

Conforme fui descobrir depois, couch surfing é sorte. Sorte de achar casas nas cidades pra onde você está indo, sorte das pessoas pra quem você mandou a mensagem te responderem e sorte delas serem legais.

Na viagem pela Austrália, tudo de bom. Depois de passarmos essa noite no quarto de hóspedes de M. em Brisbane e passar três dias em albergues em Gold Coast e Byron Bay, voltamos ao surfe no sofá. Dessa vez, por quatro noites seguidas, na casa de outro M., esse austríaco, e que junto com uns amigos nos apresentaram todos os pontos turísticos e baladas de Sydney.

Na Nova Zelândia, pra onde iria depois, entre os três ou quatro couch surfings, experiências boas e nem tanto, mas que valem como aprendizado para uma próxima viagem. Eu nunca tinha imaginado, mas sofás podem ser extremamente desconfortáveis, principalmente se ele for tão velho quanto a casa da tal república de estudantes. Outra coisa é que, por mais simpático que seja o casal, se a distância do terminal de ônibus até a casa custar 30 dólares de táxi, vale mais a pena um albergue. Por fim, tem gente que eu não sei porque decide hospedar os outros, mas se o quarto é bom, a economia de dinheiro compensa o mau humor.

No comments: