Sunday, January 11, 2009

Um Natal para relembrar (de outro Natal)

Fim de noite do dia 25 de dezembro. Por fim, meu carro tinha voltado a funcionar. Eu já achava que essa história de ciclos era uma verdade irritante. Há dois anos, em 2006, tinha passado a minha véspera de Natal trabalhando e a meia-noite em si no carro, indo pra casa do meu avô. Essa véspera de Natal eu também passei trabalhando, como bartender numa balada - meu novo e possivelmente último emprego em Perth antes de mudar pra outra costa. A meia-noite em si passei no trem, a caminho de casa, já que o lugar estava mega vazio.

Desde que minha amiga soube que seria transferida de dezembro a janeiro para o sul, a principal preocupação (dela) era onde eu ia passar o Natal. Mas aqui ninguém tem família, então festa é que não faltou. Eu é que tinha preferido trabalhar. Pena que foi só por duas horas, mas sem grandes dramas. Esse ano parece que o Natal não aconteceu. Mandei presentes pra casa, tirei fotos com chapéu de ajudante de Papai Noel, a cidade estava - e quase um mês depois continua - enfeitada, mas os três fantasminhas de Charles Dickens não foram bater na minha porta e a data passou como outra qualquer.

O dia 25 passei com uma família australiana, família do namorado de uma amiga. Daí, tudo bem parecido com os brasileiros. Muita, mas muita comida. Carneiro, batata, salada, e não lembro mais o que. As sobremesas, por sua vez... Cheese Cake, Sticky Toffee Pudding, frutas e uma casinha de biscoito de gengibre com balas de goma e MMs da qual eu comi grande parte.

A tradição daqui é a bombom box. Parece um bombom enorme (eu fiquei aguada quando vi no supermercado), mas é vazio. Eles fazem parte da decoração da mesa de Natal, e ficam em cima de cada prato. Na hora de sentar, antes de comer, cada um pega o seu. Uma pessoa puxa um lado da embalagem, a outra puxa o outro. Faz um estalinho, estoura a embalagem. Dentro tem uma coroa de papel fininho, meio crepom, um brinquedinho tosco e uma piada sem graça. Mas pelo menos as fotos ficam bonitinhas quando todo mundo usa o chapéu, até eles rasgarem.

Amigo secreto também tem, sob o nome de Secret Santa. Mas pelo menos na família onde eu estava, foi tudo mais simples. As pessoas escreveram o que gostariam de ganhar e em determinado momento, houve a troca de presentes. Cada um procurou o seu par e "oi, tá aqui o seu presente, eu sou seu amigo secreto". Nada de discurso, adivinhar quem é a pessoa... se não fosse pela dona da casa ter feito confusão e colocado duas vezes o nome dela e nenhuma o do filho, ninguém teria dado risada (num milagre de Natal, a irmã dele, por concidência, viu o mesmo cd que o moço tinha pedido, e comprou pro aniversário dele, que era um dia antes, então nem sem presente ele ficou). Outro ponto alto foi o kit retirement, que todos os filhos deram pro dono de casa, recém-aposentado. Vara de pesca, camiseta, livro, brinquedo... tudo dentro de uma mala. O problema é que a maioria das coisas era só emprestada pra brincadeira, nem sempre com o consentimento dos donos, o que fez um dos moços protestar indignado ao ver sua camisa nova dentro do tal kit.

Como em todo bom Natal, lá naquele tinha uma velhinha simpática, com quem conversei por muito tempo. Ela até foi me mostrar a casa dela, the nana house ou algo assim. É a casa dela, dentro da casa deles. Quarto, sala, banheiro, cozinha separados por uma porta no fim do corredor.

No fim do dia, depois da minha dose de desprendimento de ter dado o meu chapéu de duende pras crianças da casa, fui com o carro alugado (o mesmo da viagem, já que por dez minutos tinha pego a agência fechada) pra Fremantle, dar feliz natal pros meninos. Parei o carro, vi que tinha dois quarteirões ainda. Tentei sair com ele, não consegui. Meia hora depois, meu amigo fuçando no motor, nada. Resolvi desencanar e tomar uma cerveja. Quem sabe mais tarde ele resolvesse sozinho. Foi assim todo o final de semana. Descontados uma ou outra confusão, dirigir do lado contrário tinha sido fácil. O problema foi a seta, também do outro lado, o que me fez perder a conta de quantas vezes eu liguei o pára-brisa por engano. Outro problema era que o carro, apesar de só com 4800 km, nem sempre ligava de primeira. Tentava uma, duas vezes, de repente ele funcionava. Então achei que ele só precisava de um tempinho. Uma hora depois, me despedi e fui preparada pra tentar de novo e chamar o seguro.

Há dois anos, no mesmo Natal de 2006 eu fiquei da meia-noite às 3h da manhã com o mecânico na frente do trabalho pra conseguir fazer meu carro funcionar. Por sorte, dessa vez funcionou sozinho. Voltei pra casa dos meninos, deixei o carro na garagem compartilhada com o vizinho. Mais uma cerveja, mais uma hora. Fui embora torcendo pro carro funcionar. Nada. Meu amigo perguntou se algum segredo. Eu não sabia de nada. Em todo caso, por instrução dele, tentei ligar pisando no freio. Em seguida, na embreagem. E daí ligou. Desligada que sou, não lembrei da mulher da agência me dizendo que tinha que pisar na embreagem pra ele funcionar. Também não percebi que durante os últimos 3 dias o carro só ligou quando pisava na embreagem. Acontece que na primeira tentativa, tranquila, tentava sair no ponto morto e nada. Na segunda ou terceira, já estressada e pronta pra forçar o motor, colocava a primeira, pisava na embreagem e o carro ligava. Temperamental era eu e não o carro.

Por fim, fiquei satisfeita ao perceber que a vida não é feita de tantos ciclos. Ou então até é, afinal, naquele Natal o problema também era o segredo. Tinha acabado a pilha do chaveirinho que libera a injeção eletrônica - mesmo mecanismo da embreagem. Em todo caso, é sempre bom perceber que a gente pode aprender com os erros. Dessa vez, meu amigo descobriu o segredo antes de um novo mico com a seguradora. Não fui bem eu, mas tá valendo. Quem sabe da próxima.

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