Monday, January 05, 2009

Muito mico pra pouca praia

Mudar de país normalmente significa uma redescoberta. A comida tem que mudar já nem tudo se encontra aqui; a fruta até tem a mesma, mas custa caro e o sabor é diferente, a roupa tem outro estilo (a das australianas é larga na cintura e apertada na coxa, o que obiviamente não funciona pra mim e minhas pernas delicadas). Sendo assim, então por que não começar do zero e se reiventar?

É com esse pensamento que, dando risada, encarei a faca enorme pra cortar limões em fatias no meu primeiro dia no bar. Foi com esse pensamento que me permiti ser prendada. Tento cozinhar, lavo minha roupa e carrego três pratos com comida de uma vez com perfeição (um em cada mão e um último no antebraço). Por fim, foi com esse pensamento que eu quase aceitei desistir da barraca e pagar 150 dólares a mais pra ficar no caravan park (um trailerzinho fixo, que funciona como um chalé).

A gente já estava há mais de uma hora tentando montar aquela barraca enorme, que minha nova amiga tinha pego emprestada. Ela tentou montar em casa e não acabou. Daí foi me mostrar até onde tinha ido, mas não rolou muita melhora. Os pauzinhos não ficavam direito, pareciam menores do que deveriam e tinha alguma coisa de errada com a a tenda. Como estava escurecendo, cedi. Em último caso a gente dormia no carro.

Nós duas não nos conhecíamos muito bem. Nos apresentamos um dia procurando emprego, marcamos de sair algumas vezes, mas só nos encontramos uma ou outra vez na baladinha brasileira. Como ela estava com 4 dias de folga, me chamou pra viajar. Como eu também estava, aceitei. Ainda mais agora com minha roommate longe. Combinamos na 5a, demos certeza no sábado, alugamos carro, decidimos a cidade e saímos na 2a. O camping mesmo, só quando chegamos lá. Não deu tempo pra nada. Eu não sabia que ela se estressava. Ela não sabia que eu sou teimosa.

No fim, tudo certo, nenhuma briga. Mas pra não causar mais estresse e tentar evoluir espiritualmente, cogitava desistir da barraca antes que ficasse tarde demais. "Eu não preciso ser assim, eu posso desistir das coisas", repetia comigo mesmo, me recusando a acreditar. Foi aí que os meninos apareceram. Um loiro, cara de australiano do interior, meio chucro, cabelo raspado na lateral com um tufo atrás, uns 17 anos. O outro da mesma idade, moreno, simpático. Os dois viviam na região, sul do estado mais deserto da Austrália. O sotaque então, fortíssimo. Mas a gente conseguiu entendê-los o suficiente pra aceitar a ajuda. Minha amiga ainda ficou meio reticente. Não era possível que eles conseguissem montar antes de escurecer de vez. Eu só estava feliz de não ficar com aquela marca de impotência na testa. Tudo bem que eu não montei, mas a idéia de pagar a mais por que não consegui era frustrante.

Passei um tempinho analisando a bola de rugby que eles deixaram no chão. "Reds" - aparentemente, o nome do time daqui. Pensava em como a vida é feita de coincidências, já que com aquele bando de homens olhando, foram justo os que brincavam com a bola de rubgy que vieram nos ajudar e o nome então... Daí lembrei do moleque da recepção, zuando que com toda certeza teria algum homem forte pra nos ajudar caso a gente não conseguisse montar a barraca. No fim, olha quem foram os nossos homens fortes... de nada adiantou escolher o camping porque era uma praia de surf (e surfistas).

De repente, olhei pro pano no chão e levei um susto. A cor não era a mesma. Eles estavam montando outra coisa. Ou melhor, eles estavam montando a coisa certa. Chamei minha amiga. Meio desacreditada, meio com vergonha, mostrei o erro. O que a gente estava montando não era a barraca, era a cobertura dela!

Sim, mesmo com sete Jucas nas costas eu tive a capacidade de perder uma hora e meia da minha vida tentando montar a cobertura da barraca! Não é a toa que nunca ia dar certo. Minha amiga, que foi quem começou a montar, disse que nao tinha nem reparado naquela parte dentro da sacola.

Antes de começarem, os meninos disseram, meio timidos, que montariam em 20 minutos. Fizeram em 5. No fim, os cerca de quinze caras que assistiam a mim e minha amiga pelos últimos 90 minutos sem levantar a bunda da cadeira desmontável por outro motivo se não pegar outra cerveja, bateram palmas. Um xingamento foi a única coisa que me ocorreu naquele momento.

Pros nossos heróis, prometemos uma cerveja na tarde seguinte, mas pra fugir do frio que passamos na primeira noite, bebemos duas garrafas de vinho e mas não vimos mais os tais.

Na volta pra cidade, 2 dias depois, mais uma pra contar. Meu celular não pegava e minha roomate, a la minha mãe, ligou pra todos os nossos conhecidos tentando me encontrar, com medo de que alguma coisa tivesse acontecido.

Os meninos de Fremantle foram em casa à 1h da manhã. Lá encontraram o namorado da minha amiga que foi fazer a mesma coisa. No carro, um monte de indianos esperava a carona pra casa. Por fim, meus amigos conseguiram o número de uma menina que tinha o telefone de outra que tinha o telefone da minha companheira de viagem. Foi no celular dela que minha amiga conseguiu me encontrar. Seria vergonhoso, mas vai ver já acostumei.

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