Wednesday, February 20, 2008

A tal da TPM

Enquanto comia aquela mistura estranha - gelatina de uva, leite condensado e sucrilhos - só conseguia pensar "meu deus, mulher... coitado do pai do teu filho. Se em dias relativamente normais você já é assim, imagina quando tiver realmente com desequilíbrio hormonal". Mas a dor na consciência não durava muito, não. Por mais incrível que pareça, aquilo era bom e ajudava em cheio na ansiedade causada pela tal TPM. Pelo menos, era nisso que eu acreditava.

O processo por trás dessas três letrinhas é simples. O corpo da mulher tem como intuito básico a reprodução. Por isso, nos primeiros 14 dias ele direciona grande parte dos seus esforços para deixar a pele, o cabelo, tudo mais bonito. Nesse período é dever da criatura em questão usar desses artifícios para arranjar alguém que a fecunde. Já nos 14 dias seguintes, a preocupação é com o possível feto. No final dos 28, o organismo tira a prova se sua dona teve ou não a capacidade de engravidar e, em caso negativo, joga tudo o que não foi usado fora para começar de novo.

A TPM inicia no instante em que o nosso corpo se preocupa mais com a criança que não existe do que com nós mesmas, mas normalmente só é percebida nos últimos dias, quando o déficit de hormônios está no seu maior nível. É nessa hora que a gente sente aquele vazio no peito, uma vontade fazer alguma coisa que nem mesmo sabemos o quê. É como se faltasse alguma coisa.

No fundo, falta. Faltam hormônios, mas a aparência é de que falta atenção, sentimento, reconhecimento, carinho e até mesmo um objetivo na vida. Basta qualquer fato mais relevante - como o fim do relacionamento entre os mocinhos da novela ou o nascimento de um jacaré, exibido no National Geographic - para que o olho se encha de lágrimas. A gente pensa "tadinhos" ou "ah, que lindo"! Mas só pensa, porque a garganta está travada demais para emitir qualquer som.

Por outro lado, comentários até mesmo sutis de outras pessoas significam agressões sem tamanho. Em resposta, tem mulher que chora, tem mulher que explode. E como explode. Há algum tempo, a TPM deixou de ser um mito. Mulheres que cometeram crimes passionais já tiveram a pena reduzida ao provarem que estavam nesse período complicado.

No trabalho, a sensibilidade tanto pode ser um fato positivo quanto negativo, já que, por conta dela, a mulher tende a ser mais instável. Regras de beleza e boa forma ajudam nessa tendência de ficarmos cada vez mais frias, racionais. Todos os dias há aquela preocupação em manter o peso, se controlar emocionalmente, ser profissional, não dar escândalos por besteira. Enfim... esquecer todo o nosso lado "menininha". Até que, por apenas uma semana, menos até, a gente se dá o direto de surtar, chorar, gritar.

Beber muita água, fazer exercícios, tudo isso ajuda, mas com toda certeza a melhor forma de diminuir os sintomas é se matar de tanto comer chocolate, sorvete, gelatina com leite condensado, manga com doce de leite - coisas que só fazem sentido em picos de ansiedade. O vazio existencial é curado com milhares de calorias.

Se é sempre a falta de hormônios ou se já virou costume, não importa. A questão é que a TPM se tornou a chance do mundo feminino se libertar daquele monte de regras que nos impomos. É o nosso corpo que arranjou uma desculpa pra gente ser mais humana.

2 comments:

Lucy Jones said...

hahaha

que bonitinho!

é, acho que, às vezes, o corpo se revolta contra o que a gente faz com ele!

bjinhos

Fábio Félix said...

Hummmm... TPM, TPM, que carta na manga...rs