Monday, February 25, 2008

Pane no HD, lapso da memória

Lembro que quando estava no colégio me impressionei quando um menino tinha me tido que o computador dele tinha um gigabite de HD (o chamado disco rígido do computador), o que significa mil megabites, ou seja, um milhão de quilobites (kb), que nem ao menos é a menor unidade de medida da informação dos computadores - mas menos do que isso a gente nem conta, seria quase como centésimos de Real. A questão, voltando, é... meus Deus, pra que tudo isso? Eu tinha apenas algumas dezenas de megas e já me sentia uma pessoa mais do que feliz. Naquela época ainda não existia mp3, câmera digital era uma raridade, os jogos eram mais simples (lembro da sensação que era Full Throttle) e os computadores, por sua vez, não precisavam de tanto espaço.

Hoje, até o email tem um giga - dois, na verdade - e os equipamentos demandam cada vez mais recursos. Um amigo, pra comprar uma placa de vídeo realmente boa, resolveu primeiro comprar o game mais pesado que existe no mercado, para em seguida comprar a placa que o suportasse. Certeza de boa compra, por mais que - até então - ele não precisasse de tudo isso. Agora, viciou no joguinho, que a princípio ele nem queria.

O computador vira um companheiro e ganha a personalidade do dono. Acho lindo quando vou usar o micro de alguém e vejo os favoritos todos organizados, em pastas. A área de trabalho só com os itens que se tem uso constante. Meus documentos, minhas imagens, minhas músicas, tudo em perfeita ordem. Normalmente esse tipo de pessoa é organizado também longe da telinha.

Já... eu (pra não entrar naquela de "pessoas como eu", simplesmente pra dividir a culpa com desconhecidos) não posso ser considerada um primor de organização nem no meu quarto, que dirá com um monte de dados dentro de uma caixinha. De vez em quando eu faço uma limpa no meu armário. Dôo as roupas que não quero mais, reorganizo as gavetas, passo a guardar blusas enroladinhas e divididas por cor. Também de vez em quando eu limpo os links salvos, deleto arquivos desnecessários, organizo pastas de fotos, músicas e textos. Nenhuma das duas arrumações dura mais do que seis meses. Porém, meu guarda-roupa nunca explodiu de tanta coisa e nem meu computador ficou por muito tempo com arquivos inúteis. Isso, aliado ao fato de eu não ter a menor paciência pra baixar músicas e muito menos vídeos na internet, fez com que meus arquivos, mesmo acumulados ao longo dos anos não ocupassem um espaço muito grande.

Outra coisa que me ajudou a ser mais... desapegada - com os arquivos, e não com as roupas - é a minha vocação natural para tester. Segundo meu pai, que trabalha com desenvolvimento, pra ter certeza de que o programa está perfeito, é só dá-lo na minha mão. Se ele tiver qualquer defeito que seja eu descubro em menos de cinco minutos. Lógico que não do jeito convencional, mas dando pau no bicho mesmo. A minha adolescência, quando trabalhava com ele, foi repleta de telas pretas de DOS com um quadradinho em vermelho escrito "ERROR BASE" com um número em seguida. O problema é que eu não quebrava só os programas desenvolvidos por ele. De alguma forma, que até hoje eu não sei, já cheguei a ter mais de mil vírus no meu computador, que infectaram uma quantidade não sei quantas vezes maior de arquivos, o que prova que eu e as máquinas nunca demos muito certo. Era uma relação constante, intensa, mas cheia de altos e baixos. E eis que no meio do ano passado troquei meu computador antigo por um que já veio com o maldito windows vista basic, que é mais confuso, pesado, não me deixa abrir mais de três programas de uma vez e, pior de tudo, não é compatível com o joystick que uso pro emulador do super nintendo. Só que isso eu só fui descobrir quando estava tudo instalado.

Depois de seis meses enrolando, resolvi fazer o tal backup para colocar o windows xp, azulzinho, simples de mexer, compatível com meu jogo, uma graça. Na primeira tentativa, não havia espaço suficiente pra todos os arquivos no disco que me foi emprestado. Na segunda, eu mandei copiar, colar. Meia hora depois, desconecto e começa a formatação. Na verdade, eu estava tão preocupada em achar as milhares de coisas que precisaria em outros site para concluir o processo que nem pensei em conferir. Quando já estava tudo pronto, percebo que nenhum dos meus arquivos está onde deveria.

Mais de 6 gigas!!! Sim, pouco em comparação ao que a maioria das pessoas tem, mas eram os meus seis gigas, fotos, textos, músicas. O melhor de tudo que já passou pelo meu login e que sobreviveu a inúmeras seleções ao longo dos anos. Algumas coisas estavam lá desde a época do colegial. Uma década de memórias perdidas em apenas alguns minutos. Como tudo já havia sido reinstalado, não havia nem mesmo a possibilidade de recuperar os dados. Fiquei desolada.

Tinha coisa importante?

Não sabia o que responder. Ah, depende... o que é importante? Tinham meus textos, mas a maioria foi publicada também na internet. Tinham fotos, mas algumas eu posso conseguir com amigos, com o resto da família. Eu mesma, faz tempo que não tiro... as músicas são irrelevantes... alguns arquivos de cursos, mas isso ok... talvez nunca fosse olhar de novo mesmo. Não sei. É tanta coisa e ao mesmo tempo é nada. É currículo, é... não sei - da última vez que tive problema desses jurei que nunca mais ia usar outlook na vida. Tinha perdido emails importantíssimos, muito mais porque eu gostava deles do que porque era realmente importantes - Realmente não sei. Melhor não pensar... depois eu vejo isso.

De repente, um grito no outro canto da casa. Por sorte, o primeiro backup, feito em agosto, quando troquei de computador, continuava no tal hd. Meu pai, mais preocupado do que eu, talvez pensando nos não sei quantos mil gigas que ele não pode perder de jeito algum, se compadeceu da filha avoada e estava procurando. Até que achou. Em vez de seis gigas perdidos, agora era apenas um e meio.

Voltei a pensar... o que é esse um e meio? O que é que eu posso ter feito em seis meses? Fotos. Do Natal talvez meu irmão tenha. Se não tiver, minha tia tem e não eram fotos tão importantes. Foi o primeiro sem meu avô, mas isso não é coisa de se lembrar. Se ainda fosse o último com ele, talvez. As de ano novo e carnaval os outros têm cópia, posso pegar de volta. O que mais eu fiz nesses últimos seis meses? Um bilhão e meio de bites que podem ser tanta coisa, mas que também podem não ser nada. É possível que esta história estivesse contada em pequenos fascículos, dentro do HD. Ele, se foi, a memória se deteriora. A minha, não a do computador. Então, como eu não lembro, melhor acreditar que não era nada.

2 comments:

Lucy Jones said...

Filosófico isso!

Legal pensar que associamos nossa memória a coisas materiais... fotos, arquivos... Afinal, história só é história quando tá escrita, certo?!

Pena que, em alguns casos, quando a gente apaga os arquivos, ainda sobra um lembrete na memória... às vezes até mesmo uma sensação que a gente não lembra como foi...

bjinhos!

Fábio said...

Como disse o meu amigo "tech geek": "Nossos átomos foram transformados em bits".

É curioso pensar o quanto de nossas vidas deixamos aqui dentro desta caixinha. Também sofri imensamente (por medo de me desfazer de arquivos importantes) nos últimos meses... Duas vezes ainda...

É um fato, estamos na era dos registros... acho que temos, na realidade, que refletir sobre o que isso significa...

Beijos...