Tuesday, June 16, 2009

Pior que vilão em filme de terror

Nunca achei que fazer a tal da pós seria fácil, ainda mais uma voltada pra Ciências e em inglês. Antes de vir pra Austrália o moço da primeira agência já tinha me dito que possivelmente nem conseguiria trabalhar, mas se eu trabalhava e estudava no Brasil, aqui não seria desculpa.

Na verdade, acho que normalmente nem é mesmo tão difícil. O problema é que eu aparentemente tive o dom de escolher justo as matérias com mais trabalhos em tooooda a faculdade. Nenhum dos meus amigos teve tanto. Em seis meses, foram 16 assignments, apresentações e essays, cada um com não menos do que 2500 palavras, o que dá umas 8, 9 páginas em letra 12 mais as malditas referências, que até hoje eu não sei fazer - "é fácil ser jornalista né? Você só rouba a idéia e não dá crédito pra ninguém", alfinetou um dos professores.

Já sobre a quantidade, diferença está possivelmente no tamanho da turma. As minhas aulas não tinham mais do que 50 alunos. Algumas disciplinas, em especial as de 1º ano, têm bem mais de cem. Por isso, o tempo que esses professores e assistentes demoram pra corrigir um trabalho, os meus corrigem 2, 3 ou mesmo 4. Mas foi tanto trabalho que em uma das matérias o professor esqueceu da última parte e deu a nota sem pegar o relatório da apresentação, que aparentemente foi feito à toa.

Por tudo isso, desde o meu aniversário, quando os dead-lines começaram a acumular, eu estava numa loucura sem tamanho. Pra completar, tinha arranjado um trabalho, numa balada, das 8h da noite às 3h, 4h, 5h da manhã de 3a, 5a e sábado. Na semana do dia 25 de maio, quando mudei de casa pra morar com dois amigos brasileiros, mal experimentei minha nova cama. Meus companheiros de madrugada eram o computador e alguns V, uma marca de RedBull que mistura a tal da Taurine, base do energético, com guaraná - o negócio é tão empolgado que eles colocaram um "Uhuuuuu" em vermelho ao lado do Guaraná, na tabela de nutrientes.

Se é pelo guaraná ou não, eu não sei, mas o negócio bem que funciona. Quatro latinhas, uma semana e só 20 horas de sono depois, terminei meus trabalhos. Em compensação, até chegar nesse ponto, meu cabelo caía mais do que o normal, meu olho estava fundo, sem brilho e eu quase não me reconhecia no espelho. Por mais que tentasse ficar acordada, dormia no meio da aula, o que me deixava morrendo de vergonha. Quando tudo foi entregue, me dei uma semana de descanso e começaram as provas. As minhas, por sorte (sem ironia dessa vez, já que não via agora de terminar tudo de uma vez), foram uma em seguida da outra. Na véspera do último exame, contrariando minha decisão de não tomar mais energético, voltei ao V.

O motivo pra ter apelado foi simples: um dia antes recebi um e-mail do professor dessa matéria dizendo que precisava vê-lo pra discutir meu trabalho entregue na semana anterior. A primeira pergunta, sobre qual era o meu background, já mostrou que as coisas não iam muito bem. Ao ouvir que era jornalismo, quase deu pra ver a luz iluminando a cabeça do meu querido pesquisador de savanas (já que apesar do esteriótipo ele detesta florestas tropicais).

"Tá tão ruim assim?" "É, não está muito bom, não."

Já que ia ter que refazer todo o trabalho, era melhor ir muito bem na prova. Cheguei em casa desiludida. Há meses contava os dias pra acabar tudo e se já não bastasse a DP do semestre anterior agora ainda tinha esse mega trabalho pra refazer inteiro. O nick, no msn, foi esse de "pior do que vilão em filme de terror", em relação aos estudos, que por mais que você ache que terminaram, eles sempre acabam voltando; até acabar de vez com ele e descobrir a identidade do assassino demoooora e eu já não aguentava mais.

Já meu adorável roommate, que desde que a gente mudou me chama carinhosamente de "a decoração da sala" devido à minha presença constante estudando no sofá, achou outra interpretação pro mesmo nick. Aos risos, me dizia que eu era o vilão do filme de terror, porque no final o vilão só se fode.

E eu, irremediável rugbeer, mesmo sem querer acabo dando apoio à teoria e depois de um ano sem machucar, sangrei meu joelho três vezes em uma semana (duas caindo de bike por motivos idiotas e outra, já com ele zuado, me jogando na areia durante o vôlei de praia). Realmente, vilão só se fode, mas pelo menos não só estuda.

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