Wednesday, April 01, 2009

A ameaça vem do ar (e pelo mar)

Amanheeece na cidaaaade de Toooownsville...

O sol apareceu nesse pedacinho do assim chamado Sunshine State, trazendo mais um dia de calor absurdo. Às 8h da manhã já fazia mais de 20 graus, os passarinhos cantavam e havia em média de uma lagartixa por metro quadrado, como acontece sempre.

Entretanto, nem tudo era estava tão calmo quanto parecia. A notícia divulgada na noite anterior de que Queensland estava na rota de um recém-detectado ciclone tropical deixou a população um pouco apreensiva.

Ciclones e furacões são fenômenos atmosféricos causados pela diferença de pressão em alto mar - num esquema e com algumas diferenças que eu tentei entender mais ou menos pra explicar aqui, mas não deu muito certo. Na prática, ambos são compostos por ventos circulares e chuvas muito fortes. Um ciclone tropical categoria 5 (a mais alta delas) pode ter ventos com velocidade acima de 249 km/h. O menor dos ciclones, de categoria 1, tem ventos de 118 a 152 km/h.

No Brasil, de vez em quando acontece uma tragédia ou outra, tipo as tempestades no sul, os alagamentos em São Paulo e em outras grandes cidades, mas nada assim. Foi por isso que eu arregalei o olho e comecei a dar risada de nervoso quando o moço da faculdade me falava, na maior naturalidade, que logo iam começar as novas temporadas de bush fires (os incêndios florestais, que há cerca de um mês mataram mais de 150 pessoas no sul do país) e de ciclones.

Os bush fires eu não sei, mesmo porque ainda não chegou a hora, mas duas semanas depois do moço ter me falado dos ciclones o primeiro apareceu. Por sorte, nessa época já tinha arranjado um lugar pra ficar e não estava mais em albergue. Daí fiquei mais tranqüila, já que a dona da minha casa, agora com 71 anos, já estava mais do que acostumada, depois de passar por muitos e muitos ciclones nessa vida.

Ela, assim como ele, na maior tranqüilidade do mundo, veio me explicar que os ciclones acontecem direto. Por sorte, já faz algumas décadas que Townsville não era atingida seriamente. "O que acontece são chuvas fortes, ventos, nada demais. Quer dizer, de vez em quando você vê umas telhas, umas árvores voando, sim, mas isso é porque com as chuvas a terra fica enxarcada, deixa as raízes expostas e daí fica mais fácil do vento arrancar as árvores do chão". Enquanto ela explicava eu só me imaginava andando na rua nesse mesmo momento. Com chuva ou sem chuva, se o vento era capaz de arrancar uma árvore do chão, as chances de eu sair voando feito Mary Popins sem guarda-chuva (já que os guarda-chuvas comprados em supermercado quebram em cinco minutos) eram muito grandes. Mas ela continuou e explicou que para evitar esse problema, os moradores quando vêem uma árvore já meio morta ligam pra prefeitura que faz a retirada, evitando que ela seja levada com o vento. Antes de ciclones, eles também revisam telhados e tiram as telhas velhas antes que a Natureza o faça, daquele jeito bem de mãe mesmo, que faz, a contragosto e reclama (ou cobra as conseqüências) depois.

O mocinho da faculdade também tinha me aconselhado a "seguir os locais". Enquanto o povo daqui não estivesse preocupado, eu não tinha porque me preocupar. Mesmo assim, o noticiário continuava alertando e pedindo pras pessoas começarem ou manterem os preparativos pré-ciclone. O problema é que "quais eram essas medidas" nunca estava na mesma reportagem, o que ratifica a minha versão de que, depois do tal incêndio em Victoria, quando as autoridades foram acusadas de demorar demais em dar o aviso, todo mundo entrou na onda do prevenir é melhor do que remediar e mesmo sem acreditar que o tal ciclone Hamish fosse atingir o litoral da cidade eles preferiram dizer que mandaram a população tomar providências. Mas não adiantou muito. A dona daqui foi uma das que perdeu a fé em ciclones. Por anos ela se preparou para cada um deles e nada acontecia, o que fez com que nesse ela ficasse bem displicente.

Enquanto eu tentava levar minha vida normal (já que a dona da minha casa garantiu que ninguém ia me deixar na rua sozinha em meio a um ciclone), o tal do Hamish, que começou com categoria 1, passou pra 2, 3, 4 e chegou a 5! Mas ele estava longe, indo pro sul e sempre na mesma distância da costa.

No sábado à noite, vi umas velas e um isqueiro no meu quarto. Só precaução, caso o ciclone resolvesse mudar de rota e a gente ficasse sem energia. Eu estava pronta, de micro vestido e maquiada, mas até pensei em desistir de sair. Isso até ouvir o conselho de minha experiente sharemate, segundo a qual se isso realmente acontecesse eles iriam fechar o bar e eu iria me divertir muito mais com todo mundo lá dentro do que sozinha em casa, o que fez sentido.

Mal sabíamos nós que naquela hora ele há tinha passado. Depois da garoa e dos ventos dos últimos dois dias, domingo amanheceu belo novamente. Segundo a senhora daqui de casa, Townsville é protegida por morros, o que segundo meu amigo oceonógrafo não faz sentido, já que o ciclone vem do mar. Por isso, vamos deixar as teorias de lado.

O importante é que no final, com ou sem a ajuda das meninas suuuper poderoosas, a paz voltou à cidaaaade de Towwwwnsssville. Mas, assim como acontece sempre em desenhos animados, nem todo mundo ficou 100% feliz com o final dessa história. "Um ciclone enorme passando aqui do lado, ventos de mais de 200km/h e o máximo que a gente tem essa chuvinha. Me senti deixada de fora", reclamou, dando risada, a senhora do quarto ao lado.

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