Sunday, November 02, 2008

Com ou sem festa, it is halloween

A tradição mesmo vem dos Estados Unidos. Quer dizer, eu acho, já que nunca vi nenhum filme de crianças londrinas brincando de trick ou threat. Mesmo assim, halloween já virou coisa comum no Brasil. É lógico que tem a galera contra e que, pra fortalecer a cultura brasileira, resolveu fazer do dia 31 de outubro o Dia do Saci. Eu, na melhor atitude antropofágica, não teria o menor problema em celebrar os ícones nacionais, mas como ainda não inventaram nenhuma atração extramemente divertida, como futebol pulando de uma perna só ou festas com pessoas vestidas de saci ou curupira, continuo indo a comemorações ao Dia das Bruxas.

E se eu fazia isso no Brasil, na Austrália não ia ser diferente. Infelizmente, não tenho a desculpa de estar no Hemisfério Norte, já que continuo abaixo da linha do Equador, mas eles falam inglês, então deve ter alguma coisa a ver.

Procurei mais ou menos, mas nenhum club grande de Perth fez propaganda de noite à fantasia - ao contrário dos de São Paulo, que me mandaram mil e-mails. As melhores festas eram as particulares e a gente acabou confirmando presença na dos meninos de Fremantle. Como acontece na maioria das vezes, sobre a festa mesmo, não tem muito o que contar. O melhor é a preparação.

Apesar de adorar bruxas, só fui vestida assim uma ou duas vezes. Sempre acho sem cratividade. Mas em outro país, halloween, resolvi arriscar. Comprei um chapéu laranja numa lojinha tipo Armarinhos Fernando que tem aqui. Paguei 3 dólares, mas não tava feliz. Num dia em que terminamos a aula mais cedo, fomos eu e minha roommate pra Second Hand shop - meu lugar favorito pra fazer compras. Levei entre outras coisas um vestido verde água mega curto de 12,50 (que pretendia usar pra ir de fadinha) e um chapéu preto, diferente, que não tinha o menor porque além de ficar legal com meu cabelo novo, acima do ombro.

Chegando em casa, depois de muito pensar, deu um clique e resolvi ir de leprechaun, em homenagem à loira irlandesa. Na verdade, percebi que era uma leprechaun e não sabia. Tinha todas as coisas que precisava, mesmo sem ter trazido nada de especial do Brasil. Peguei minha camisa branca, decotada e de babado, minha saia pregueada, o casaco verda compridinho, um cinto preto usado do lado contrário, a meia verde limão até o joelho que ganhei de uma amiga dois meses antes e que nunca tinha usado, meu chapéu novo customizado com um trevo de quatro folhas e um quadradinho laranja recortados do EVA que sobrou do meu mural e meu sapato de trabalho.

Um dia antes da festa, guardei tudo na bolsa, já que iria direto do trabalho pra lá.

No próprio 31 de outubro, parecia realmente que a bruxa estava solta. Quebrei o negocinho de dosar bebidas quando queria trocar a garrafa de Canadian Club, fiz confusão com os números do restaurante e ainda quebrei dois pratos quando fiz uma pilha maior do que deveria em cima da mesa. Meu novo chefe, um japonês estressado gerente de uma taverna na City, disse que se eu quebrasse mais alguma coisa ele me mandava pra casa. Eu cheguei a cogitar que talvez fosse melhor mesmo. Além do que, se fosse, conseguiria ir com as meninas pra festa, em vez de sozinha. Mas, depois do meu break, tudo melhorou e quando ele me perguntou se eu tinha quebrado mais alguma coisa eu respondi toda orgulhosa "não!!! Nem mais um único copo!!!". No final do dia quebrei mais um copo, mas foi quase dentro da lava louças, então ele não viu e nem eu me senti culpada.

Aquele dia o bar ficou vazio na hora do almoço, cheio no happy hour e vazio de repente. Melhor pra mim, que fui dispensada às 9h e consegui ir pra casa pra me trocar e ir com as meninas - minha sharemate, vestida de vampira, e a amiga dela de Fiji, se fantasia - pra estação de trem. Já na ida pra casa, fiquei feliz ao ver umas pessoas fantasiadas. Tem gente que pareceu que nasceu pra Halloween, como um casal que parece ter vindo do mesmo lugar que os caras do Manifesto, inclusive a mesma idade (uns 15, 17 anos), e que estavam todos de preto, maquiagem perfeita. A bolsa da menina era um caixão com corrente de prata e eles ainda levavam uma aranha de pelúcia como marionete.

As nossas fantasias, por sua vez, não chamavam menos a atenção e a gente ainda contribuiu tirando mil fotos dentro da estação. Um velhinho, sentado na cadeirinha da plataforma, disse ter adorado as nossas roupas e perguntou se a gente era turista, já que só foi lembrar ue era halloween uns 15 minutos depois. O cara nasceu no Canadá. Quando tinha os seus 20 e tantos anos resolveu fazer um tour pela Europa. Acabou o dinheiro, ele não queria voltar pra casa, comprou a passagem mais barata que tinha e que era pra Perth, Australia, um lugar onde nem café café decente tinha. Isso foi há mais de 30 anos. Desde então ele fica um pouco em cada lugar. Já morou em vários estados da Austrália, Europa, Ásia. Ultimamente, vive em uma casa paga pela Seguridade Social australiana. Casa boa, comida, tudo pago pelo governo, mas o lugar é tranqüilo demais, segundo ele. Dois australianos e um aborígene também vieram puxar assunto. Todo mundo adorando os lookings.

Encontramos a outra amiga na estação de Perth, demos meu chapéu laranja pra ela e rumamos pra Fremantle.

Em dias normais em Fremantle você já conseguiria ver pessoas fantasiadas. Ela é uma cidade pequeninha, cheia de europeus - ao contrário de Perth, que tem muito mais asiático - e, por causa disso, com muito mais gente louca. Quando íamos da estação pra lá, vimos uma festa de Halloween num club famoso e conhecemos algumas pessoas no meio da rua. Um menina, bem gordinha e vestida de fada, viu a gente de longe, veio correndo, parou na noss frente e, extremamente feliz, gritou "happppyyyyy hallooooweeeeeeeennnnnn", a quem eu correspondi com o mesmo entusiasmo. Uma outra apontou pra mim e disse, toda meiga, "look... a leprecoun", o que me deixou felícissima, afinal, minha fantasia tinha sido reconhecida.

Na festa mesmo, ficamos uma hora. Pouco antes da gente chegar, alguém derramou cerveja no computador do dono da casa. Isso junto com um desentendimento com outros brasileiros fez com que o clima não estivesse dos melhores. Os únicos que não deram o menor sinal de estresse eram os árabes, amigos deles, que não desempolgam por nada desse mundo e se divertiam absurdos colocando e dançando aquelas músicas esquisitas deles.
Na verdade, se a gente não tivesse chegado tão tarde, a festa estaria perfeita. Mas como à meia-noite nós éramos umas das únicas sóbrias do lugar, preferimos voltar à 1h30, pegar o último trem e voltar de táxi de Perth, o que daria $12 em vez de $50, $60.

Na volta, perdemos uma das meninas, que acabou não pegando o trem depois de demorar demais no Hungry Jacks. No caminho de volta, conhecemos o guardinha do trem, indiano, com quem conversamos o caminho todo e que nos deu uma carona pra casa. Economia de 4 dólares e mais um motivo pra adorar festas à fantasia.

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