Monday, October 20, 2008

Fim do tempo de experiência

Nesse domingo, dia 19, fez três meses que estou na Austrália. Já? Ainda? Não sei qual a sensação mais apropriada. Nesses 90 e... dois dias que estou aqui aconteceu muita coisa, mas pouco a pouco tudo começa a entrar numa rotina, então vale a pena relembrar. A maioria dos eventos eu já relatei aqui de uma forma ou outra, então vou tentar não me estender muito, mas duvido que consiga.

Cheguei em Perth, fui pra homestay, comecei o curso de inglês, comecei a procurar casa, fui informada que estava no curso errado, troquei pra Management, arranjei uma casa, fui morar com minha amiga. No curso, já passei por cinco grupos, escrevi dois artigos de jornal, quase demiti uma menina, aprendi a desenhar usando vetores e voltei pra programas com mais recursos que o Paint, pra satisfação de Lucy.

A casa
Aqui fiz as maiores faxinas da minha vida (não que eu tenha muita experiência nisso, mas a casa estava realmente suja). Logo no primeiro final de semana passei mais de três horas limpando o banheiro. A janela tava emperrada de tanta sujeira. Delicada como sempre, acabei quebrando o vidro enquanto tentava abri-la. Já a cor da madeira mudou de cinza quase preto pra branco, na hora que saiu todo o pó impregnado.

Equipando mesmo, a gente foi aos poucos. A primeira compra foi de comida (pão, presunto e queijo), pratos (de papel) e produtos de limpeza. Com alguns dias de casa, recebi pelo correio um dvd player de presente do meu pai. Mas a TV é tão antiga que não tinha entrada de três fiozinhos, só aquela de tv a cabo. Comprei o tal Radio Frequence Modulator (cujo nome aqui é de verdade, sem nada a ver com organizações Tabajara), mas daí o dvd foi quem pifou. Passamos um mês assistindo filmes no note, até que hoje, depois de não aguentar mais ver propaganda e música alternativa durante a madrugada, fiz a reposição por outro aparelho, de 39 dolares, da marca Palsonic e que veio até com pilha pro controle remoto. A proximidade da China tem suas vantagens.

A casa é grande, bonita, mas no começo estava meio impessoal. Comecei a sentir que era realmente minha quando comprei meus vasinhos de flores e enchemos o lugar de fotos. No meu quarto, dois murais enormes. Um com fotos do Brasil (despedida e aniversário) e outro com fotos daqui. Na sala, uma da Coca e na geladeira, minhas e de minha roomate.

Contrariando a indignação do chinês, dono da loja, que insistiu que aquilo era coisa pra criança e não pra gente, o relógio vermelho do Patinho Feio deu todo o toque na parede da cozinha. Os pratos de louça (três no total), liquificador e batedeira a gente comprou relativamente rápido, já que minha amiga queria fazer sopas no liquidificador e eu bolos com a batedeira. A lava-roupa também não demorou muito pra chegar, graças ao vendedor solícito que trouxe a gente e o bicho pra casa. Ele, aliás, voltou aqui na semana passada. Bateu na porta do nada e perguntou se a máquina - de segunda-mão - estava funcionando bem. Não sei se ele estava esperando um convite pra entrar e tomar um café (cujo funil até hoje é a parte de cima de uma garrafa d'água cortada), mas chegou no pior dia possível. Eu estava no quarto, acabando a segunda mega faxina dessa casa, na qual fiquei três horas só tirando as três mãos de tinta do exaustador, já que os donos acharam mais fácil pintar o negócio toda a vez que pintavam a parede em vez de simplesmente limpá-lo de vez em quando. Minha amiga, por sua vez, se entretia tentando carregar três pratos de uma só vez, por conta do trabalho. No way da gente parar pra dar atenção pra ele.

Por fim, o rádio, cor de rosa, veio depois de um mês, como presente de aniversário pra ela.

Nessa semana, minha ex-homestay e as suas novas estudantes vêm comer aqui e a grande preocupação é comprar mais pratos, já que três pratos definitivamente não são suficientes. Quando os meninos vieram fazer feijoada aqui, um deles teve que usar prato cor de rosa de plástico pra poder comer todo mundo ao mesmo tempo. Por sorte, a outra amiga chegou mais tarde e pôde lavar um deles pra almoçar.

Com comida a gente se vira. Meu arroz com brócolis tem ficado cada dia melhor e o da minha amiga nem queima mais. Fora isso, macarrão (básico), linguiça, purê de batata, salada, muita comida semi-pronta, batatas, frango assado, grelhado, bife simples e a cavalo. A lista tem ficado cada dia maior e melhor. Mas como eu não tenho que provar nada pra ninguém e cozinhar pra muita gente dá trabalho, nessa quarta-feira vamos acabar na pizza mesmo.

Os australianos
É meio difícil definir um povo inteiro, então vou usar o mesmo texto, assim não fico tentada a entrar em detalhes. Na primeira balada que fui, passamos do lado de um grupo de australianos e minha amiga comentou "bonitos né, mas é só pra olhar". A maioria dos australianos, de Perth, pelo menos, não é de chegar e conversar. Principalmente não em balada. As australianas, pra compensar, são mega atiradas, dançam se esfregando nos moços e eles ficam numa boa. O problema - ou a solução - é quando elas fazem isso com brasileiros.

Aussies são muito de sair entre amigos. Fazem muito barulho e bebem muita cerveja. Nenhuma crítica nessa sentença, mesmo porque rola uma certa identificação. Já quando eles ficam bêbados, se tornam as pessoas mais sociais e explosivas do mundo. Puxam assunto mas também brigam muito - entre eles. O lado bom é que eles brigam só de soco. Ninguém usa arma de fogo ou mesmo faca. O lado ruim é que eles sabem onde bater. O tema de uma das propagandas governamentais que mais passa na TV diz "um soco pode matar", porque realmente tem gente que morreu com um soco dado no lugarzinho certo, entre o queixo e o pescoço, acho.

Por conta dessa insegurança, grande parte dos relacionamentos aqui começa pela internet. O da minha ex-homestay é só um exemplo. Por outro lado, é difícil ver australiano meeeesmo por aqui. Segundo estatísticas coletadas numa mesa de bar, só 30% de Perth é constutuída por aussies e a cada semana chegam cerca de 2000 estrangeiros na cidade. Até agora não conheci nenhum aussie antipático, principalmente entre os homens. "Friendly but not your friend", eles são legais, conversam, mas são poucos os que ficam realmente próximos de estudantes internacionais. Normalmente eles ficam no grupinho de conterrâneos deles. Por outro lado, há aqueles que tentam se relacionar quase que só com gente de fora e aprender o máximo de línguas possível. Esses são figuras.

O clima
Todo mundo diz que a Austrália parece com o Brasil, mas eu sou de São Paulo e vim pra Perth. Há três meses era comum a temperatura mínima ser 4 graus. Já essa noite, depois de um dia torrando (com protetor solar) na praia, eu não consegui dormir por conta do calor. Às 3h da tarde de hoje fazia 35 graus na cidade. E isso que nem chegou o verão. Não é à toa que essas meninas andam quase peladas.

Os bichos
Minha sharemate disse que vai fazer um álbum chamado "Patty e os bichos", de tanto que tirei (ou tentei tirar) foto com cavalo, ovelha, porco, rato e mais um monte de animais que encontramos numa feira de agropecuária daqui (o país muda, mas os programas de índio permanecem). Em homenagem a ela, resolvi incluir esse item no texto. Um dos maiores motivos pra eu ter vindo pra Austrália é por conta da preocupação do país com o meio ambiente. Estava certa. Em Perth ninguém fala em poluição (coisa que não acontece em Sydney, mas eu tô no interior, vou falar daqui) e pelo menos uma vez a cada quinze dias tem alguma notícia relacionada a bichos nos jornais. Já foi um tubarão que apareceu perto da costa, um bebê baleia que confundiu um navio cargueiro com sua mãe (e por isso ficou atrás dele por mais de uma semana, até que, quando estava quase morrendo de fome, foi morto pela Guarda Costeira), um canguru que foi torturado por um cara, que depois foi preso e um crocodilo gigante que engoliu um turista. Por mais que tenham procurado, só acharam a máquina fotográfica dele, na beira do lago.

Na nossa própria casa de vez em quando aparece umas aranhas. Já pesquisei e não se tem registro da última pessoa que morreu de uma picada de aranha por aqui, então, não mato, mas também não ajudo. Ontem uma delas morreu afogada enquanto eu tomava banho. Mas foi burra ela de querer passar debaixo do chuveiro. Em toda a cidade, calçada é só uma faixa de concreto no meio da grama que fica frente das casas. Na maioria das ruas elas ficam só em um dos lados. Só as avenidas têm calçada dos dois lados. Quando o dia está frio e úmido, os caracóis que ficam de um lado da calçada resolvem atravessar por outro de madrugada e a gente, indo ou voltando da balada, tem que ficar desviando pra não pisar. As lesminhas são tão grandes que minha sharemate brinca que é a invasão alienígena. Já a outra amiga, quando vai dormir em casa, prefere andar no meio da rua pra não correr o risco de ouvir aquele creck nojento. Das aranhas não tirei foto, mas se alguém quiser, dá pra ver até a gosminha que caracol deixa por onde passa. Qualquer dia faço um vídeo.

1 comment:

Anonymous said...

eu raramente passo por aqui, mas quando vi que o post era seu, não resisti.
perfeito, adorei. MUITAS SAUDADES, QUERIDA.
adoro todas.
beijos