Sunday, August 10, 2008

Impotência

Eu não deixo de viajar por conta disso, mas tenho que admitir que não sou a pessoa que mais adora aviões nesse mundo. Concordo que a chance de um avião cair é não sei quantas mil vezes menor do que eu bater um carro. Só que a batida de carro faz menos estrago.

Por tudo isso, pelo medo de pensar que vou ficar tanto tempo sem ver pessoas de que tanto gosto e até por rejeitar a idéia que talvez nunca mais veja alguma delas, demorou pra me emocionar por conta da viagem.

Tinha certeza que ia começar a chorar no arraial, quando estivesse reunida com todo mundo, amigos e família, pela última vez em quase dois anos. Mas acontece que a festa julina passou a ser só para alguns, meus pais não foram e eu queimei minha perna. Acontecimentos que anularam qualquer possibilidade de introspecção. Na verdade, acho que até parei de pensar nela com medo de que o médico vetasse os planos. A preocupação era só em ficar boa logo.

Mesmo aqui, o trauma não foi tão grande. Vim viajar com duas amigas, quase que irmãs, então aquela saudade absurda de carinho, de família, foi meio que suprida. Até nos piores dias aqui, aqueles em que tudo dá errado e a única coisa que você quer é um colo, a gente encontra paz só de ver um rosto querido e poder falar português. O meu problema, então, não é o presente, mas o futuro.

Ainda no Brasil, fui sentir o primeiro aperto mesmo quando me despedi da minha cachorra, bem velhinha já. Diabética, ceguinha e tomando um monte de remédios neurológicos, dá medo pensar no que pode acontecer em um ano e meio. Com o resto dos amigos, é simples. Por tudo isso é que fiquei tão chocada com o que aconteceu.

A mãe da minha amiga disse pra minha mãe que, pelo meu e-mail, parecia que eu estava com medo e acho que estava mesmo. Menos de um mês depois de eu ter queimado minha perna, meu irmão quebra duas vértebras do pescoço. Como o médico tem feito questão de relembrar, ele podia ter morrido, ter ficado paralítico, mas por sorte foi muito menos do que isso. Já fez uma operação, em breve fará a segunda, só pra ajeitar os pinos que seguram os pedaços de osso do quadril implantados na coluna.

Era de noite, ele estava no sítio, pulou na piscina, bateu a cabeça. Dormiu lá fora porque não conseguia andar. No dia seguinte, um pouco melhor, foi levado pro hospital e da lá, de ambulância, até São Paulo.

Não é à toa que fiquei assustada. Quando deixei o Brasil estava com medo de tudo o que poderia acontecer em um ano e meio. Meus pais, minha avó, minha cachorra, até mesmo eu, em meio àquela turbulência horrível entre São Paulo e Joanesburgo. Meu irmão, meus amigos, jovens, fortes, a gente nunca pensa.

5 comments:

Lucy Jones said...

Por isso que eu acredito que é sempre bom estar com o coração leve... não deixar nada para trás.Dizer quando ama, quando ficou magoada, quando sente falta...

bjinhos!

Anna said...

Nossa, Bru! Que barra....Nem sei o que falar... quer um chocolate?!

Pedritamix said...

'E o bom e velho medo do desconhecido - e do que vamos perder ao estarmoslonge...
Tem coisas que nao se pode evitar nem estando perto (como a morte de alguem, por exemplo),mas para as outras a solucao 'e simples. Por mais que Australia, rlanda, Londres, Rio de Janeiro ou JUndiai sejam longes,'e so pegar o caminho de volta pra casa caso o problema seja mto grande, as coisas nao deem tao verto ou mesmo se a saudade for grande demais...

Pedritamix said...

...a viagem nao 'e para sempre, 'e passageira, e os amigos continuarao sendo os mesmos, preentes (ao vivo, por email telefone, msg ou wherever) nos momentos de entusiasmo, tristeza, comemoracao, apoio moral e para jogar papo pro ar).
Saudade? Sim, saudade bate forte e as vezes parece ser insuportavel, mas 'e mto bom saber que tem alguem com quem contar. Love you, jones da minha vida!

Ariel Jones said...

Ter medo é normal. Sentir falta, nem se fala. O importante é não parar de viver, de descobrir, de aprender... E que todos saibam o quanto o amamos.

Love ya!

Bjs