Wednesday, October 25, 2006

Verdades, mentiras e enganos

Uma das coisas mais legais de se freqüentar diferentes lugares é que cada um tem seus tipos habituais de pessoas e um ou outro que destoa, seja por roupas ou atitudes. Aliás, só isso já é um bom roteiro pra balada: a gente sai, bebe, conversa, vê pessoas novas. Algumas bonitas, outras nem tanto. O ego aumenta. Às vezes diminui. Daí você olha pro lado e repara naquela menina praticamente pelada se jogando em cima dos caras. As costas doem só de ver o quanto da bunda dela está empinada. Será que ela é? E o papo continua. Nesses casos, é fácil esteriotipar e ser esteriotipada.

Semana passada fui com uma amiga a um desses barzinhos do Itaim. Como era 5a-feira e estava garoando, todas as outras meninas desistiram e a gente resolveu sair só pra beber e papear. Não nos falávamos há um bom tempo e por isso teve assunto suficiente pra pelo menos uma hora.

Já era e as pessoas foram rapidamente embora. Terminada a música ao vivo, teve a pagação básica de mico da gente dançando meio sem graça no centro da pista quase vazia - só pra não dizer que não dançamos. Já nos preparávamos para ir embora quando surge alguém com o famoso "Do you speak english?"

Ele tinha bem cara de gringo e aparentava uns 60 anos. Mas um velho conservado. Ótima pessoa para se conversar, o moço nem tão moço disse se chamar Tony. É irlandês e veio para o Brasil ver a final da Fórmula 1. (Aliás, aqui cabe um parênteses para mostrar como estamos realmente fadadas ao rugby. O cara não era jogador, mas é irlandês, ou seja, britânico. Inglaterra... rugby... quer coincidência maior?)

Conversamos o suficiente para perceber que meu inglês está muito aquém do desejado. Eu e minha amiga falamos sobre pontos turísticos de São Paulo e indicamos uma balada pós-balada. Duas na verdade. Ela sugeriu a Love Story, afinal, fecha tarde e tá cheia de mulheres. Eu pensei no pobre velhinho chegando na balada / puteiro e sendo atacado pelas primas, fiquei com pena e, antes que ele entendesse o que estávamos sugerindo, propus um pub. O bom é que ainda consegui a resposta para uma dúvida antiga. O'Malleys se pronuncia como em português: o maleis, e não o meleis. Para chegar a essa conclusão tive que escrever o nome do até então incompreensível pub e depois ouvir "Ah, omaleis, era isso que você estava dizendo?".

Já que eu não tinha caneta ou papel, pedi empretado para o garçom e fiquei meio sem graça com a cara de repreensão dele enquanto eu escrevia o endereço. Ainda perguntei se ele sabia o endereço do lugar, como quem diz "não estou dando meu telefone pro velhote, só fazendo uma boa ação" mas parece que a história não colou.

Várias pessoas de longe também tinham aquele olhar "será que elas são?". Talvez pensasse o mesmo. Afinal, duas meninas bem mais novas conversando com um turista sozinho, fazendo anotações em um papel. Se não são profissionais, pelo menos, pessoas muito dadas.

Mas tudo bem. A conversa estava divertida. Tony tinha vindo pra São Paulo para assistir o GP de Interlagos e sua primeira parada foi no túmulo de Senna. Até eu que adoro programas de índio não imagino passeio mais sem graça. Não sei o que fazia da vida ou fez quando era mais novo. Tony nos contou apenas que lutou na Guerra das Malvinas. Uma guerra inútil segundo disse.

Cinco minutos depois dele ter começado a falar a respeito nós nos despedimos com um cordial aperto de mão, pagamos a comanda e deixamos o bar. Sabia que se ficasse mais, logo desistiria de ir embora só pra ouvir algumas histórias. Além disso, já era mais de 3h da manhã.

Na volta para o carro eu e minha amiga chegamos à conclusão de que a Guerra das Malvinas aconteceu há muito tempo e por mais velho que Tony fosse, seria quase impossível dele ter participado. Provavelmente estaria inventando só para impressionar. Agora, pesquisando, descobri que o conflito aconteceu em 1982.

Nossa vez de errar no julgamento.

4 comments:

Lucy Jones said...

hahaha... mto bom! Só com vc pra acontecer essas coisas Patty!
Adorei a associação com o rugby... imaginário coletivo, talvez?!
Já me equivoquei muitas vezes com pré-julgamentos... mas, será que é possível evitá-los?! Mean Girls que somos?!

hahaha

bjinhos

Lina Jones said...

gringos.. outro dia conheci um grego, e sabe o q foi mais esquisito? me dei mt bem com ele, qdo vi já estava conversando sobre assuntos q falo com amigos.. nos demos mt bem ou sou mt receptiva? de qualquer forma, isto me fez pensar em como mesmo sendo de países diferentes, ou do outro lado do mundo, podemos conhecer pessoas bem parecidas conosco..

hey, adorei o texto! e, põe fé nas pessoas. o tiozão não ia mentir q participou da Guerra das Malvinas..rs Achei bem interessante^^

Anonymous said...

E, no final das contas, o cara te ligou ou não?...HAHAHAHAHAHA...Brincadeira, brincadeira

Anna said...

Hahahaha...eu não consigo para de rir quando visualizo a cena: um veterano de guerra "tentando impressionar" duas jovens donzelas, alegando que lutou na Guerra das Malvinas! Se essa realmente era a intenção dele, vocês tinham que ter dado valor. A minha avó era xavecada assim, pô!
Depois dizem que não existem mais homens como antigamente... tsc, tsc...
Hahahahahaha....