Três garrafas de vinho, uma de vodka, um monte de salgadinho. Drinking games, jogo da verdade. Como as meninas de Perth disseram no dia seguinte, "uma noite bem divertida" e o melhor de tudo, pelo menos pra mim, a constatação de que o esquema de acomodação gratuita realmente funciona.
Aquela era a minha primeira parada no roteiro a caminho de casa. Brisbane, capital de Queensland, pra onde fui de avião encontrar com as meninas de Perth. Os nossos companheiros eram um alemão, dono do apartamento, e um inglês, amigo dele.
Fui parar lá por insistência de uma outra amiga. Ainda em Townsville, só faltou ela ter ligado o meu computador e me cadastrado ela mesma, ali, na hora.
Acredita em mim - ela dizia -, eu não colocava muita fé, mas foi a melhor coisa, foi assim que consegui minha casa aqui e foi assim que fomos pra Magnetic Island. Você viu, né? Oito pessoas com acomodação gratuita. As pessoas são legais, todas com aquele espírito aventureiro e aquela vontade de conhecer gente nova. Vale muita a pena, acredita!
O discurso dela era tão enfático quanto o de um pastor fazendo pregação, mas o que a austríaca vendia não era a salvação da alma, mas um site de relacionamento mundial, onde as pessoas oferecem e buscam um sofá, uma cama sobrando ou mesmo um lugarzinho no chão para os viajantes deixarem seus sacos de dormir.
O nome dessa maravilha é couch surfing e foi assim que eu fiz a maior parte da minha viagem até chegar no Brasil.
No dia seguinte do cadastro, seguindo as instruções da tal amiga, mandei a mesma mensagem para várias pessoas procurando um sofá para mim e para as duas de Perth no dia em que estivéssemos em suas cidades. A viagem de Brisbane a Sydney ia servir como teste. Se tudo desse certo, repetiria a idéia na Nova Zelândia, quando minha viagem seria sozinha de tudo.
O negócio é que só fui avisar as meninas depois de entrar em contato com meus possíveis hospedeiros. A morena, quando soube, se segurou pra não surtar. Segundo ela, muito melhor pagar albergue do que correr o risco de ficar em casa de gente estranha, carente de companhia e que ia achar que nós tínhamos obrigação de andar com eles. Já a loira se matava se dar risada. Um porque achou o esquema de acomodação gratuita com o bônus de conhecer gente nova a minha cara. Dois porque tinha certeza da reação da terceira.
Conforme fui descobrir depois, couch surfing é sorte. Sorte de achar casas nas cidades pra onde você está indo, sorte das pessoas pra quem você mandou a mensagem te responderem e sorte delas serem legais.
Na viagem pela Austrália, tudo de bom. Depois de passarmos essa noite no quarto de hóspedes de M. em Brisbane e passar três dias em albergues em Gold Coast e Byron Bay, voltamos ao surfe no sofá. Dessa vez, por quatro noites seguidas, na casa de outro M., esse austríaco, e que junto com uns amigos nos apresentaram todos os pontos turísticos e baladas de Sydney.
Na Nova Zelândia, pra onde iria depois, entre os três ou quatro couch surfings, experiências boas e nem tanto, mas que valem como aprendizado para uma próxima viagem. Eu nunca tinha imaginado, mas sofás podem ser extremamente desconfortáveis, principalmente se ele for tão velho quanto a casa da tal república de estudantes. Outra coisa é que, por mais simpático que seja o casal, se a distância do terminal de ônibus até a casa custar 30 dólares de táxi, vale mais a pena um albergue. Por fim, tem gente que eu não sei porque decide hospedar os outros, mas se o quarto é bom, a economia de dinheiro compensa o mau humor.
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